segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

Êxito

Com as edificantes palavras da mensagem do Espírito Emmanuel, desejamos a todos que simplifiquemos o caminho.



“Se vós estiverdes em mim e as minhas palavras estiverem em vós, pedireis tudo o que quiserdes, e vos será feito.” — Jesus.
(JOÃO, 15:7)

Muitos companheiros perdem recurso, oportunidade, tempo e força na preocupação desmedida em torno do êxito.

Sonhando realizações mirabolantes, acabam frustrados na mania de grandeza.

Dizem-se interessados na lavoura do bem, mas, para cultivá-la, esperam a execução de negócios imaginários, a aquisição de poder, a posse de ouro fácil ou a chegada de prêmios fortuitos... E, complicando a própria estrada, observam-se, de chofre, em presença da morte, quando menos contavam com semelhante visita.

Entretanto, o conquistador do maior êxito de todos os tempos não se ausentou do mundo como quem triunfara...

Não recebeu heranças amoedadas, não governou princípios políticos, não escreveu livros, não se enfileirou entre os maiorais de sua época...

Aprisionado como vulgar malfeitor, foi sentenciado à morte e passou como sendo vítima de pavoroso fracasso.

Contudo, as sementes de amor puro que colocou na alma do povo transformaram o mundo.

Repara Jesus e perceberás que o nosso problema não é de ganhar para fazer, mas de fazer para ganhar.

A colheita não precede a sementeira, tanto quanto o teto não se antepõe à base.

Sirvamos ao bem, simplificando o caminho, de vez que a vitória real é a vitória de todos, convictos de que não precisamos gastar as possibilidades da existência em expectativa e tensão, porquanto, se estivermos em Cristo, tudo quanto de que necessitamos será feito em nosso favor, no momento oportuno.



Foto: Hendrio Belfort


Feliz 2014! Bons estudos,
Carla e Hendrio


XAVIER, Francisco Cândido. “Palavras de Vida Eterna”. Pelo Espírito Emmanuel. 8.ed. Uberaba, MG: Comunhão Espírita Cristã, 1986. Mensagem 64 — “Êxito”.

terça-feira, 24 de dezembro de 2013

O aconchego do Senhor

 "Aquele que vem a mim, de maneira nenhuma lançarei fora."
Jesus (João, 6:37)

A postura de Jesus primava pelo bom senso, em cada atitude, em cada palavra, em cada recomendação marcada por extrema lucidez.

Por mais que a alma se decida por usar sua liberdade para o gozo das fantasias dissolventes, um dia chega em que o cansaço a dobra.

Por mais que a criatura se dedique ao armazenamento das coisas perecíveis, que será compelida a deixar, junto com o casulo carnal esgotado, vem o momento da reflexão que lhe permite a mudança.

Por mais que a pessoa se rebele contra a vida, crendo que a culpa dos seus fracassos e torturas interiores está nas leis de Deus, advém o instante no qual eclode a claridade do bom senso, que a dor propicia, e tudo começa a se refazer.

Em qualquer situação que esteja, guarde a certeza de que você pertence ao grande rebanho do Bom Pastor, mesmo quando se ache na posição de ovelha desgarrada ou travestido de lobo devorador, mais carente, inseguro e amedrontado do que propriamente lobo rapace.

Ao considerar isso, não dê mais ouvido ao orgulho insensato, tampouco à acomodação paralisante. Venha ao encontro Dele e deixe-se aconchegar nos Seus braços de ternura, sempre abertos para os que O buscam.

Não acredite em castigos do Céu para os equívocos humanos. Para o Pai que ama perfeitamente, você será sempre um plano de amor a desenvolver-se, passo a passo, em plena vida cósmica. Erros e acertos, quedas e levantares fazem parte desse importante movimento evolutivo, em que todos nos encontramos, até superarmos as conjunturas inferiores.

Jamais creia que você é uma indefesa vítima de demônios cruéis. Para quem procura o Senhor, disposto a transformar as próprias sombras em estuante luminosidade, cada insinuação perturbadora ou cada tentação no caminho representa importante desafio a sua capacidade de lutar e lutar para vencer.

Nunca se admita esquecido pela Divindade, assemelhando-se à criança que se afirma não amada pelos genitores cada vez que esses não lhe atendem a vontade infantil.

O formidável fato da sua presença no mundo, tendo ensejo de viver como pode ou como gosta, de trabalhar onde pode ou quer, de viver nos lugares e com as pessoas que prefere ou precisa, num perfeito encaixe de causas e efeitos, próximos ou distantes, é a demonstração palpável do amor divino a envolvê-lo e sustentá-lo continuadamente.

Perante todo situação da vida em que você esteja necessitando de um braço ou de um abraço que agasalhe o seu coração, busque Jesus. É certo que Ele poderá chegar ao seu caminho através de um familiar atencioso ou de um amigo compreensivo. No entanto, se essas almas não surgirem na sua trilha, não se entristeça, nem desanime. Abra a janela e sorva o hálito do dia ou os aromas da noite; recolha-se, por um momento, em oração; comungue com as vibrações felizes do além, registrando os murmúrios da paz.

Tão logo lhe seja possível, vai você mesmo ao encontro de algum coração, seja uma criança ou um idoso; seja um afeto sadio ou algum enfermo; um familiar ou algum vizinho. Enfim, procure alguém com a sua vibração de alegria e agradecimento a Deus, e porque você a ninguém despreza e a todos envolve com o melhor que tem, já se acha envolvido pelo Sublime Amigo, com possibilidades de superar seus próprios dramas.

Sim, quando saímos ao encontro dos irmãos da nossa via evolutiva, dispostos a amá-los e a servi-los, mais próximos ficamos de Jesus, usufruindo da Sua aura de harmonia.

Jesus Cristo, dessa forma, é aquele Amigo que sempre espera a nossa decisão de buscá-Lo, de ir até Ele, abrindo mão de tudo o que nos agrilhoa no mundo a fim de nos aconchegarmos em Seus braços. Ele nunca nos indagará por que demoramos tanto. Esse dia da busca é também o dia da maturidade nossa e da aceitação do Senhor.
Francisco de Paula Vítor

TEIXEIRA, José Raul. “Quem é o Cristo?”. Pelo Espírito Francisco de Paula Vítor. Niterói, RJ: Fráter, 1997, cap. 16.

Desejando a todos os nossos leitores um Feliz Natal!
Fraternalmente,
Carla e Hendrio

sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

Reflexões sobre Transfiguração


Segundo o dicionário [1], transfiguração vem do latim transfiguratione, e significa ato ou efeito de transfigurar(-se). Decompondo a palavra, temos o prefixo trans, que significa [2] além de, para além de, em troca de, através e o radical figuração, também do latim, figuratio, significando configuração, forma, figura. Assim, o termo “transfiguração” traduziria a ideia de uma forma que vai além, que vai através, que vai em troca de.

O dicionário ainda [1] nos esclarece que o termo transfiguração é “uma mudança radical na aparência, no caráter, na forma; transformação, metamorfose. Transformação espiritual que exalta ou glorifica. Estado glorioso em que apareceu Cristo aos apóstolos sobre o monte Tabor”.

A transfiguração, portanto, traduz tanto uma transformação física (mudança na aparência, na forma) como uma mudança mais sutil, no caráter, na parte espiritual, e neste caso, uma transformação para o bem, que exalta ou glorifica. Destaca-se ainda nesta definição a passagem evangélica da Transfiguração de Jesus, que veremos oportunamente neste texto.

Em O Livro dos Médiuns [3], no item 122, Allan Kardec nos define transfiguração como fenômeno que “consiste na mudança do aspecto de um corpo vivo”.

Pela definição de Kardec, a transfiguração é uma mudança de aspecto que pode ser bem pequena, quase imperceptível ou ainda muito grande, como a de Jesus, registrada pelos evangelistas.

Definido o termo, observa-se que a transfiguração pode ter efeitos diferentes e, portanto, causas diversas. Neste estudo, sugerimos uma classificação do fenômeno da transfiguração, baseada no critério da causa.

Sobre as causas da transfiguração
Os sistemas de classificação surgiram para organizar o conhecimento e são baseados em determinado critério, que, dentro do nosso nível de conhecimento, não pode ser considerado como absoluto.

Neste estudo sobre transfiguração utilizamos como critério classificatório a causa, ou seja, o que está promovendo a mudança do aspecto de um corpo vivo, relembrando a definição de Kardec.

Encontramos assim três causas, que descrevemos a seguir.

Primeira causa: corpo físico
A primeira causa foi descrita por Kardec, no item 123 de O Livro dos Médiuns [3], como sendo “simples contração muscular, capaz de dar à fisionomia expressão muito diferente da habitual, ao ponto de tornar quase irreconhecível a pessoa”.

Esse tipo de transfiguração baseado apenas em mudanças musculares no corpo físico é a mais conhecida. Ao observarmos uma pessoa muito feliz, costumamos utilizar a palavra “radiante”. Todo o semblante da pessoa se modifica... É possível constarmos essa mudança registrada em fotos de momentos muito felizes de nossa vida. Há que se considerar também que nem sempre nossas emoções são tão sublimes; quando ficamos enfurecidos há também mudança de fisionomia a ponto de nos tornarmos irreconhecíveis. Naturalmente, esse tipo de mudança de aspecto para uma aparência negativa, que assusta, devemos evitar.

Segunda causa: perispírito
A segunda causa para a transfiguração foi apresentada pelo Codificador em O Livro dos Médiuns [3], ainda no item 123, e também em A Gênese [4]: trata-se da teoria do perispírito ou a irradiação fluídica do perispírito.

O que é perispírito?
Encontramos o termo “perispírito”, palavra criada por Allan Kardec, em muitas obras da Codificação, aparecendo pela primeira vez em O Livro dos Espíritos [5]. Nesta obra, os Espíritos Superiores informam que o perispírito é “uma substância, vaporosa para os teus olhos, mas ainda bastante grosseira para nós (...). Tem a forma que o Espírito queira.” Allan Kardec, comentando esta resposta, nos diz que o perispírito “serve de envoltório ao Espírito propriamente dito”; e que, do mesmo modo que, envolvendo o gérmen de um fruto, há o perisperma, por comparação, envolvendo o Espírito, há o perispírito.

Nós, como encarnados, ou seja, com um corpo físico, somos compostos por três partes – a primeira, nós mesmos (Espírito); a segunda, um corpo menos material que o corpo físico, mas ainda bastante grosseiro (perispírito), e a terceira, o corpo físico. Quando desencarnamos, deixamos o corpo físico e prosseguimos nossa jornada evolutiva sempre sendo Espírito, envolvido por um corpo chamado perispírito.

O perispírito: suas propriedades e modificações
Em O Livro dos Médiuns [6], no seu capítulo VI, que trata das manifestações visuais, no item 100, Allan Kardec propõem, entre outras questões, a de número 21ª - Como pode o Espírito fazer-se visível?
“O princípio é o mesmo de todas as manifestações, reside nas propriedades do perispírito, que pode sofrer diversas modificações, ao sabor do Espírito.”
Na obra A Gênese [7], Kardec nos esclarece que o perispírito é o corpo fluídico dos Espíritos e que a sua natureza está sempre de acordo com o grau de adiantamento moral do Espírito. Este envoltório perispirítico se modifica com o progresso moral que o Espírito realiza em cada encarnação. Assim, esse corpo fluídico vai se modificando de acordo com a elevação moral do Espírito: quanto mais evoluído, mais sutil, menos denso é esse perispírito.

Além da modificação do perispírito de acordo com o seu nível evolutivo, há alterações que podem ocorrer por influência do Espírito, dentro de um mesmo nível evolutivo. Tal o princípio das manifestações físicas, conforme nos esclareceram os Espíritos em O Livro dos Médiuns [6].

O perispírito de encarnados e desencarnados
Em Obras Póstumas [8], que é composto por estudos que Allan Kardec estava fazendo enquanto encarnado e que foram reunidos e publicados após a sua desencarnação, em sua Primeira Parte, abordando o tema Manifestações dos Espíritos, no parágrafo 3º, item 22 – Transfiguração, o Codificador nos diz que:
“O perispírito das pessoas vivas goza das mesmas propriedades que o dos Espíritos. Como já foi dito, o daquelas não se acha confinado no corpo: irradia e forma em torno deste uma espécie de atmosfera fluídica.”
Entendemos que, estando desencarnado, o que envolve o Espírito é o perispírito, que tem diversas propriedades e pode sofrer modificações... Segundo nos esclarece Kardec nesta passagem, o perispírito dos encarnados irradia além do corpo físico e forma em torno deste corpo físico uma espécie de atmosfera fluídica. Allan Kardec, neste mesmo estudo em Obras Póstumas, havia exposto que o perispírito não se acha encerrado nos limites do corpo como numa caixa. Pela sua natureza fluídica, ele é expansível, irradia para o exterior e forma, em torno do corpo, uma espécie de atmosfera, que o pensamento e a força de vontade podem dilatar mais ou menos.

Após esse breve resumo sobreo o perispírito, voltemos a analisar a segunda causa do fenômeno de transfiguração, a teoria do perispírito ou a irradiação fluídica do perispírito. Em O Livro dos Médiuns [3], Capítulo VII, item 123, o Codificador esclarece:
“Está admitido que o Espírito pode dar ao seu perispírito todas as aparências; que, mediante uma modificação na disposição molecular, pode dar-lhe a visibilidade, a tangibilidade e, conseguintemente, a opacidade.”
Da mesma maneira que nós, num laboratório, podemos manipular as substâncias e dar-lhes propriedades diferentes das que tinham antes, o Espírito pode modificar o perispírito, dando-lhe visibilidade, ou seja, tornando-se visível, de acordo com as modificações que o Espírito faça no seu perispírito. Pode também tornar-se tangível, isto é, passível de ser tocado, e pode tornar-se opaco, não deixando que possamos ver através dele.

Ainda no mesmo texto, Kardec nos diz:
“Figuremos agora o perispírito de uma pessoa viva (...) irradiando-se em volta do corpo, de maneira a envolvê-lo uma espécie de vapor. (...) Perdendo ele a sua transparência, o corpo pode desaparecer, tornar-se invisível, ficar velado (...)”       
Quando Kardec refere-se a “uma pessoa viva”, entendemos “um encarnado”. O perispírito do encarnado começa a se irradiar, porque ele não está confinado no corpo físico. Essa irradiação forma, por comparação, uma “nuvem de vapor”, e não conseguimos mais ver o corpo físico, que desaparece no meio daquela “nuvem”.

Continua o Codificador, ainda na mesma referência já citada:
“Poderá então o perispírito mudar de aspecto, fazer-se brilhante, se tal for a vontade do Espírito e se este dispuser de poder para tanto.”
Assim, o fenômeno de transfiguração que tem por causa a irradiação fluídica do perispírito ou a teoria do perispírito se processa da seguinte forma: o perispírito de alguém encarnado se expande, se irradia, cobre o seu corpo físico de modo a deixá-lo invisível e, dependendo da vontade do Espírito e do seu grau evolutivo, o Espírito (mesmo estando encarnado) pode torná-lo brilhante, pois, quanto mais evoluído o Espírito, tanto maior o seu poder para operar modificações no perispírito.

Ainda sobre a teoria do perispírito ou irradiação fluídica do perispírito, Kardec explica, em A Gênese [4], capítulo XIV, que trata dos fluidos, item 39:
“Pode a imagem real do corpo apagar-se mais ou menos completamente sob a camada fluídica, e assumir outra aparência; ou então, vistos através da camada fluídica modificada, os traços primitivos podem tomar outra expressão.”
O corpo físico é envolvido por uma camada fluídica – e utilizamos aqui a comparação com a camada de vapor, e pode assumir outra aparência ou os traços primitivos podem assumir outra expressão, quando olhamos através daquela camada fluídica.

A palavra transfiguração no sentido de “uma forma que vai através”, “que vai em troca de” fica mais compreensível quando entendemos o fenômeno da expansão do perispírito e sua mudança de propriedades.

Ainda em A Gênese [4], Kardec conclui que:
“Se, saindo do terra-a-terra, o Espírito encarnado se identifica com as coisas do mundo espiritual, pode a expressão de um semblante feio tornar-se bela, radiosa e até luminosa; se, ao contrário, o Espírito é presa de paixões más, um semblante belo pode tomar um aspecto horrendo.”
Jesus, na transfiguração descrita nos Evangelhos, e não poderíamos supor de outra maneira, dada a sua evolução, estava nessa condição de Espírito que se identifica com as coisas do mundo espiritual – daí a luminosidade, a transfiguração luminosa!

Do mesmo modo, de acordo com a nossa vontade, se estamos presos a paixões más, tomamos um aspecto horrendo. Neste caso, não mais apenas por uma contração muscular, não apenas um fenômeno do corpo físico, mas temos a participação do perispírito se irradiando e promovendo, de acordo com a vontade do Espírito, o aspecto determinado.

Terceira causa: perispírito, com atuação de outro Espírito
Em o Livro dos Médiuns [3], no Capítulo VII, que fala da Bicorporeidade e da Transfiguração, no item 122 Kardec narra um fato, ocorrido em Saint-Etienne, de 1858 a 1859. Diz ele:
“Uma mocinha, de mais ou menos 15 anos, gozava da singular faculdade de se transfigurar, isto é, de tomar, em dados momentos, todas as aparências de certas pessoas mortas. Tão completa era a ilusão, que os que assistiam ao fenômeno julgavam ter diante de si a própria pessoa, cuja aparência ela tomava, tal a semelhança dos traços fisionômicos, do olhar, do som da voz e, até da maneira particular de falar.”
Aqui observamos um fenômeno um pouco diferente do descrito anteriormente. A mocinha não apenas mudava de aspecto físico, mas tomava tanto o aspecto quanto outras características, como o som da voz e a maneira particular de falar de outras pessoas, que já tinham desencarnado (mortas), conforme o texto.

Kardec continua, na mesma referência já citada [3]:
“Tomou, em várias ocasiões, a aparência de seu irmão, que morrera alguns anos antes. Reproduzia-lhe não somente o semblante, mas também o porte e a corpulência. Um médico do lugar, testemunha que fora, muitas vezes, desses estranhos efeitos, pesou a moça no estado normal e no de transfiguração. (...) Verificou-se que no segundo estado o peso era quase o duplo do seu peso normal.”
Observando a narrativa vemos que ela tomava a aparência do irmão, que tinha desencarnado alguns anos antes – ora, se era alguns anos antes, e ela tinha 15 anos, podemos supor que os dois viveram juntos quando encarnados, eram contemporâneos, não sendo possível que a moça tivesse sido aquele seu irmão em uma encarnação passada. Logo, não era um fenômeno apenas do encarnado, mas havia a interferência de um desencarnado, no caso, seu irmão.

A atitude do médico do lugar, que também assistia ao fenômeno, foi fundamental para nos auxiliar a entendê-lo melhor. Ele teve a ideia de pesar a moça em seu estado normal e pesá-la quando estava transfigurada no irmão e os pesos foram diferentes, de quase o dobro um do outro.

Como se explica isso?

Pela terceira causa do fenômeno da transfiguração que é a teoria do perispírito ou da irradiação fluídica do perispírito com combinação de fluidos de Espíritos diferentes.

Em o Livro dos Médiuns [3], mesmo capítulo, item 123, Kardec nos explica:
“Um outro Espírito, combinando os seus fluidos com os do primeiro, poderá, a essa combinação de perispíritos, imprimir a aparência que lhe é própria, de tal sorte que o corpo real desapareça sob um envoltório fluídico exterior, cuja aparência pode variar à vontade do Espírito.”
Lembremo-nos da teoria do perispírito ou irradiação fluídica do perispírito: o perispírito do encarnado se expande, envolve todo o seu corpo físico e, de acordo com a vontade da pessoa, pode tomar aparência diversa da que tinha antes, pode até tornar-se luminoso. Neste caso, ao expandir seu perispírito, este entra em combinação com o perispírito de um desencarnado (no caso em análise, o perispírito da moça entra em combinação com o perispírito do seu irmão), e o desencarnado passa a assumir o comando da atividade, imprimindo àquela combinação de perispíritos a sua aparência, de acordo com a sua vontade. Daí poder se pesar a moça transfigurada e medir-se o peso do irmão, porque havia combinação de fluidos.

Resumindo, segundo a classificação que se baseia no critério causa do fenômeno de transfiguração, temos três causas diferentes: a simples contração muscular, a irradiação fluídica do perispírito e a irradiação fluídica do perispírito com combinação de fluidos de Espíritos diferentes.

Sobre os tipos de transfiguração
Vale ressaltar que temos tipos, efeitos de transfiguração diferentes – seria um outro tipo de classificação, conforme Kardec nos esclarece na já citada Obras Póstumas [8], no item 22:
“O fenômeno da transfiguração pode operar-se com intensidades muito diferentes, conforme o grau de depuração do perispírito, grau que sempre corresponde ao da elevação moral do Espírito. Cinge-se às vezes a uma simples mudança no aspecto geral da fisionomia, enquanto que doutras vezes dá ao perispírito uma aparência luminosa e esplêndida.”
E é ainda em Obras Póstumas [8] que Kardec vem nos auxiliar na imensidade de questões que surgem quando começamos estudar mais a fundo os fenômenos de transfiguração, quando diz, agora no item 23:
“Estes fenômenos talvez pareçam singulares, mas somente por não se conhecerem ainda as propriedades do fluido perispirítico. Este é, para nós, um novo corpo, que há de possuir propriedades novas e que não se podem estudar senão pelos processos ordinários da Ciência, mas que não deixam, por isso, de ser propriedades naturais, só tendo de maravilhosa a novidade.”
Aí está um novo campo de estudos, o perispírito, que, como disse Kardec, exige os processos ordinários da Ciência – ou seja, da mesma forma que ninguém aprende biologia, ou mecânica quântica apenas por assistir a uma palestra ou ler um livro, é necessário um pouco mais de dedicação, de estudo, de pesquisa, para se aprofundar no conhecimento das propriedades do fluido perispirítico.

Parece maravilhoso, e é algo mesmo de se deslumbrar um fenômeno deste tipo, mas não é sobrenatural, pois está perfeitamente dentro das leis da natureza, que nós ainda não conhecemos em plenitude.

A Transfiguração de Jesus
A Transfiguração mais importante, mais famosa que conhecemos é a narrada pelos Evangelhos, a Transfiguração de Jesus. Este fenômeno é descrito tanto por Marcos, no capítulo 9, versículos 2 a 9, por Lucas, também no capítulo 9, versículos 28 a 36 e por Mateus, que foi a narrativa que escolhemos, no capítulo 17, versículos 1 a 9. Segundo o texto de Mateus, alguns dias antes Jesus começou a preparar os discípulos para os acontecimentos de Jerusalém, e convidou Pedro, Tiago e João a subir a um alto monte e, segundo a narrativa de Mateus:
“E transfigurou-se diante deles; e o seu rosto resplandeceu como o sol, e as suas vestes se tornaram brancas como a luz.” (Mateus 17:2)
Pintura: The Transfiguration. Autor: Carl Heinrich Bloch. Ref.: http://www.carlbloch.org/

Jesus, o ser mais evoluído que já veio à Terra, podia, por sua vontade, atuar no seu perispírito livremente. Neste momento narrado nos Evangelhos, Jesus expandiu seu perispírito, que se mostrou brilhante, tal qual deve ser o natural de todos os Espíritos evoluídos.

Encontramos este comentário em A Gênese [9], capítulo XV – os milagres do Evangelho, item 44:
“(...) De todas faculdades que Jesus revelou, nenhuma se pode apontar estranha às condições da humanidade e que se não encontre comumente nos homens, porque estão todas na ordem da Natureza. Pela superioridade, porém, da sua essência moral e de suas qualidades fluídicas, aquelas faculdades atingiam nele proporções muito acima das que são vulgares.”
Assim, tudo o que Jesus fez, podemos fazer (João 14:12), desde que nos melhoremos, nos aperfeiçoemos, pois tudo o que ele fez, não destruindo a lei, está na lei, está na Natureza.

Outros exemplos de transfiguração
Encontramos ainda outros exemplos de transfiguração na Bíblia.
“E aconteceu que, descendo Moisés do monte Sinai trazia as duas tábuas do testemunho em suas mãos, sim, quando desceu do monte, Moisés não sabia que a pele do seu rosto resplandecia, depois que falara com Ele.” (Êxodo 34:29)
“Assim, pois, viam os filhos de Israel o rosto de Moisés, e que resplandecia a pele do seu rosto; e tornava Moisés a pôr o véu sobre o seu rosto, até entrar para falar com Ele.” (Êxodo 34:35)
Temos aqui um exemplo de transfiguração luminosa e duradoura, pois a luminosidade de Moisés era tão aparente a ponto de ele ter de andar com um véu sobre o rosto. Pela narrativa, após o contato com a Espiritualidade superior, recebendo os dez mandamentos, Moisés estava nessa condição que vimos anteriormente neste estudo, de sair do terra-a-terra e se identificar com as coisas do mundo espiritual.

Transfiguração no plano espiritual
A transfiguração também ocorre no plano espiritual, já que é um fenômeno relacionado ao perispírito e Espírito desencarnado também tem perispírito. Alguns exemplos narrados pelo Espírito André Luiz, pela mediunidade de Francisco Cândido Xavier:

Transfiguração de Alexandre [10]
“Nesse instante, Alexandre silenciou, mantendo-se, então, em muda rogativa. Admirado, comovido, notei que o generoso instrutor se transfigurava, ali, aos nossos olhos. Pela primeira vez, depois de meu retorno ao novo plano, observava acontecimento tão singular. Suas vestes tornaram-se de neve radiosa, sua fronte emitia intensa luz e de suas mãos estendidas evolavam-se raios brilhantes que, caindo sobre nós, pareciam infundir-nos estranho encantamento. Profunda emoção dominou-me o íntimo e quase todos nós, sem definir a causa daquelas divinas vibrações, chorávamos de alegria, contendo o peito opresso de júbilo inesperado.”

Transfiguração de Ismália e outros trabalhadores [11]
“Observando-a, por um momento, reparei que a esposa de Alfredo se transfigurara. Luzes diamantinas irradiavam de todo o seu corpo, em particular do tórax, cujo âmago parecia conter misteriosa lâmpada acesa.”
“Em vista da ligeira pausa que imprimira a oração, observei a nós outros, verificando que o mesmo fenômeno se dava conosco, embora menos intensamente. Cada qual parecia, ali, apresentar uma expressão luminosa, gradativa.”
“As senhoras que acompanhavam Ismália estavam quase semelhantes a ela, como se trajassem soberbos costumes (trajes) radiosos, em que predominava a cor azul. Depois delas, em brilho, vinha a luz de Aniceto, de um lilás surpreendente. (...), Vicente e eu, mostrávamos fraca luminosidade, a qual, porém, nos enchia de brilho intenso, considerando que a maioria dos cooperadores em serviço apresentava o corpo obscuro, como acontece na esfera carnal.”

Transfiguração em nós
Por fim, além de todo o conhecimento que vamos adquirindo a respeito do perispírito, o fenômeno da transfiguração de Jesus traz algum outro ensinamento para nós? Este questionamento foi feito para o benfeitor Emmanuel, nos seguintes termos [12]:
“310 – A transfiguração do Senhor é também um símbolo para a Humanidade?
Todas as expressões do Evangelho possuem uma significação divina e, no Tabor, contemplamos a grande lição de que o homem deve viver a sua existência, no mundo, sabendo que pertence ao Céu, por sua sagrada origem, sendo indispensável, desse modo, que se desmaterialize, a todos os instantes, para que se desenvolva em amor e sabedoria, na sagrada exteriorização da virtude celeste, cujos germes lhe dormitam no coração.”

Almejamos que este estudo sobre a transfiguração nos estimule cada vez mais ao desenvolvimento de nós mesmos, ao nosso aperfeiçoamento, pela prática do bem e do amor, conforme sempre nos ensina Nosso Mestre Jesus.

Bons estudos!
Carla e Hendrio


Referências bibliográficas:
[1] HOLANDA FERREIRA, Aurélio Buarque. “Novo Aurélio Século XXI”. Verbete Transfiguração.
[2] Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [online], 2008-2013, Verbete Trans- Disponíevl em: http://www.priberam.pt/dlpo/trans- .Consultado em 26-09-2013.
[3] KARDEC, Allan. O Livro dos Médiuns. 2ª Parte, Cap. VII, Da bicorporeidade e da transfiguração. Itens 122, 123.
[4] KARDEC, Allan. A Gênese. Parte – Os Milagres. Cap. XIV – Os fluidos. Item 39.
[5] KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. Questões 93 a 95.
[6] KARDEC, Allan. O Livro dos Médiuns. 2ª Parte, Cap. VII, Da bicorporeidade e da transfiguração. Itens 100.
[7] KARDEC, Allan. A Gênese. Parte – Os Milagres. Cap. XIV – Os fluidos. Itens 7 a 12.
[8] KARDEC, Allan. Obras Póstumas. 1ª Parte, Manifestações dos Espíritos. §3º Transfiguração, itens 22 e 23.
[9] KARDEC, Allan. A Gênese. Parte – Os Milagres. Cap. XV – Os milagres do Evangelho. Itens 43-44.
[10] XAVIER, F. C. “Missionários da Luz” Pelo Espírito André Luiz. 25ª ed. Rio de Janeiro, RJ: FEB, 1994, capítulo 9.
[11] XAVIER, F. C. “Os Mensageiros” Pelo Espírito André Luiz. 15ª ed. Rio de Janeiro, RJ: FEB, 1983, capítulo 24.
[12] XAVIER, F. C. “O Consolador”. Pelo Espírito Emmanuel. 18ª ed. Rio de Janeiro, RJ: FEB, 1997, Questão 310.

terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

Espiritismo e Internet

A rede mundial de computadores encurta distâncias; dá acesso a uma gama inaudita de fontes para pesquisa, porém não substitui o estudo minucioso do conteúdo acessado, em todas as áreas do conhecimento, inclusive da Doutrina Espírita.


O que é

A Internet pode ser definida como um sistema global de redes interconectadas de computadores e vários outros tipos de equipamentos. É uma rede de redes, conectadas por tecnologias com ou sem fio, eletrônicas ou ópticas [1].

Os protocolos que deram origem aos atualmente utilizados iniciaram na década de 1960. Houve uma série de avanços nesses protocolos e na tecnologia durante os anos 1970 e 1980, e, com a sua expansão, a Internet exerceu grande impacto na cultura a partir dos anos 1990.

Estima-se que, em meados de 2012, havia, no mundo, mais de dois bilhões e quatrocentos milhões de usuários da Internet [2]. Destes, mais de oitenta e três milhões encontram-se no Brasil [3]. Notemos, por tais números, a responsabilidade com que se deve postar conteúdo na rede: o que escrevemos pode atingir — e efetivamente atinge — um contingente de várias dezenas a vários milhões de pessoas.


Visualização de caminhos de roteamento através de uma porção da Internet. Fonte: Wikipedia [1]. Créditos: The Opte Project [4].


Análise responsável

A facilidade e rapidez com que se encontram dados — embora não necessariamente informações — na Internet pode trazer efeitos indesejáveis, como a presunção de se poder saber tudo sobre tudo com apenas a digitação de uma palavra em um mecanismo de procura e um clique em qualquer um dos links dos resultados da busca, como se todos fossem absolutamente confiáveis.

A benfeitora Joanna de Ângelis, a esse respeito, pondera com sabedoria, em livro lançado trinta anos atrás, época na qual os computadores ainda não eram tão populares:

“Observando as pessoas, tens a impressão de que, nestes dias da Informática, todas se encontram esclarecidas e orientadas a respeito da vida. (...)
Ocorre que as informações que mais se transmitem, raramente são corretas. Elaboradas para atender a determinadas faixas, carregam condicionamentos psicológicos que devem atingir finalidades específicas. Servindo a interesses mui especiais não visam esclarecer nem libertar consciências. (...)” [5]

Muito do que se publica na Internet carece de revisão e, não raro, carece também de objetivos nobres, como seria o da instrução responsável da Doutrina Espírita. Não devemos acreditar cegamente nos dados aos quais temos acesso.


Dado e informação

Podemos entender dado como um conteúdo quantificável, compreensível e ao qual podemos ter acesso, mas não necessariamente analisado ainda, ao passo que informação é o dado processado, o qual permite a tomada de decisões e ações. Vejamos um exemplo:

  • Alguém pode nos dizer que agora são 15 horas. Não sabemos se a pessoa está com seu relógio marcando a hora certa, e esse número isolado não nos leva necessariamente a nenhuma conclusão;
  • Recebendo o dado sobre a hora; conferindo-o com uma fonte confiável e verificando, em nossa agenda, que nessa hora temos de nos dirigir a uma reunião na qual seremos úteis, o dado “15 horas” passou a ser confirmado e nos auxiliou em um plano de ação útil à nossa vida – o dado passou a ser uma informação.

De forma análoga:

  • Um texto que se diga espírita, ao qual tivemos acesso pela Internet ou qualquer outra fonte (visto em um livro ou panfleto; comentado na televisão ou por um amigo etc.), enquanto ainda não tiver estudadas consistência doutrinária, fonte e mérito, é apenas um dado;
  • Caso esse mesmo texto esteja em pleno acordo com os preceitos espíritas; traga esclarecimentos complementares ao entendimento de um ou mais temas e nos ajude a sermos pessoas mais esclarecidas e felizes, esse texto passou a ser uma iluminada informação.


O uso da Internet

A Internet complementa a interação pessoal; jamais a substitui.

Foi publicado, pela Federação Espírita Brasileira (FEB), o “Plano de Trabalho Para o Movimento Espírita Brasileiro (2013-2017)” [6], contendo diretrizes, os objetivos e as sugestões de projetos para promover e realizar o estudo, a divulgação e a prática da Doutrina Espírita. Na terceira de suas oito diretrizes, denominada “A Comunicação Social Espírita”, a FEB sugere, entre outras ações e projetos:

“Ampliação e fortalecimento da divulgação da Doutrina Espírita pela Mídia (Televisão, Internet, Rádio, Cinema, Jornal, Revista, Outdoor etc. Vide Manual de Comunicação Social Espírita. FEB. 2011).”

Verificamos, portanto, que a Federação Espírita Brasileira não apresenta oposição ao uso da Internet para a divulgação doutrinária responsável. Sendo assim, o que devemos publicar ou repassar, seja em um Blog, um site próprio, por e-mail ou por todos os meios de divulgação, da conversa ao livro?


Kardec nos dá o exemplo

Nunca podemos abrir mão da análise da consistência doutrinária, mérito, fonte e autorização para divulgação, antes de divulgar, por qualquer meio, todo e qualquer texto.

Na postagem intitulada “Examinai Tudo. Retende o Bem.”, neste Blog, pudemos verificar que Allan Kardec, o Codificador da Doutrina Espírita, demonstrou, na Revista Espírita de maio de 1863, ter encontrado mérito fora do comum para publicar apenas 100 de 3.600 textos que havia recebido. Essa postura é condizente com o ensino do Espírito Erasto, conforme lemos em “O Livro dos Médiuns”:

“Melhor é repelir dez verdades do que admitir uma única falsidade, uma só teoria errônea.” [7]

Publicando ou simplesmente comentando um texto, podemos vir a influenciar um número inimaginável de pessoas. Por dever de caridade com o próximo e com nossa milenar e imortal consciência, devemos nos esforçar para exercermos uma influência benéfica.

Estudemos, pesquisemos as fontes das mensagens e avaliemos o seu mérito, analisando-as preferencialmente em um grupo de estudos, antes de levá-las adiante, pela Internet ou qualquer meio de comunicação. Não sigamos linhas de pensamento como as abaixo:

  • “Repasso porque recebi” — no momento em que repassamos algum conteúdo, seja ele um texto, uma fofoca etc., tornamo-nos corresponsáveis pelo mesmo e pelas consequências que ele gerar.
  • “Não tenho tempo para conferir as mensagens; se alguém encontrar um problema, que alerte.” — a responsabilidade pela verificação da veracidade do que enviamos não é “dos outros”: é inteiramente nossa. Sobre a frequentemente alegada falta de tempo, Kardec recomenda, no livro “O Que É o Espiritismo”: “(...) quando nos falta o tempo para fazer conscienciosamente uma coisa, é melhor não fazê-la; é preferível produzir um só trabalho bom a fazer dez maus.” [8]
  • “O texto dizia que era do Chico Xavier e tinha umas fotos tão bonitas...” — imagens e músicas bonitas em uma apresentação são forma, e a forma não pode ser mais importante do que o conteúdo. Ademais, há centenas de textos atribuídos a pessoas de renome, como Chico Xavier, e que jamais foram escritas pelas mesmas. A conferência da fonte é imprescindível.

A divulgação responsável de todo conhecimento, incluindo a Doutrina Espírita, demanda estudo e dedicação. A facilidade de um clique de mouse para repassar um e-mail não nos deve induzir ao repasse de mensagens que possam levar muitas pessoas a entendimentos distorcidos e que as façam males que repercutirão em nossa consciência e em nosso planejamento dos próximos anos ou séculos.


Estudar não é ofender

Ao não aceitarmos de pronto uma mensagem, seja comentada verbalmente, seja em um e-mail, corremos o risco de ofender o remetente se nos propusermos a analisá-la primeiramente? Kardec nos orienta:

“(...) os Espíritos verdadeiramente superiores nos recomendam de contínuo que submetamos todas as comunicações ao crivo da razão e da mais rigorosa lógica.” [9]

O Codificador nos instrui, portanto, que Espíritos realmente evoluídos não apenas não se ofendem, como nos recomendam analisar as mensagens antes de as assimilarmos.


Orientações milenares

Os primeiros trabalhadores do Cristianismo já traziam, há dois milênios, orientações sobre a responsabilidade com o que se retransmite a partir dos dados a que temos acesso.

O Evangelista João recomendava, em sua primeira carta:

“Amados, não creiais a todo o espírito, mas provai os espíritos, se vêm eles de Deus; porque muitos falsos profetas têm aparecido no mundo.” (1ª carta de João, 04:01)

A passagem acima ressalta como a interação saudável com o Plano Espiritual nada possuía de anormal ou místico (vide Números, 11:26-29; Marcos, 9:38-40 etc., passagens abordadas em nossa postagem “Mediunidade na Bíblia”, em nosso Blog). As palavras de João também demonstram que o contato irresponsável com a Espiritualidade era tão repreensível àquela época quanto o era por Moisés (vide Deuteronômio, 18:9-14; Levítico, 19:31 etc., também abordados em nossa postagem “Mediunidade na Bíblia”) e o é pela Doutrina Espírita (estudemos “O Evangelho Segundo o Espiritismo”, por exemplo, no capítulo 21, item 7; capítulo 26, itens 8 e 9 etc.).

Estendamos o entendimento desse trecho da primeira epístola de João, considerando que não podemos acreditar cegamente em nenhum Espírito, inclusive nos encarnados. Todos os dados que recebemos devem passar por um estudo criterioso, antes de os podermos repassar de forma responsável.

Consideremos, também, o significado da palavra profeta, utilizada por João Evangelista. Em seu sentido original, profeta significa, simplesmente, porta-voz (vide postagem “Falsos Cristos, falsos profetas e seus seguidores”, neste Blog). Um falso profeta é, assim, quem afirma um conjunto de valores, mas efetivamente segue outro. Sejamos, portanto, porta-vozes de mensagens positivas e coerentes com o nosso credo.

Paulo de Tarso, um dos maiores divulgadores da mensagem do Cristo, também traz preciosas orientações:

“Não extingais o Espírito, não desprezeis as profecias; mas examinai tudo, retende o bem; abstende-vos de toda a forma do mal.” (Primeira Carta de Paulo aos Tessalonicenses, 05:19-22)

O apóstolo dos gentios, em poucas palavras, nos recomenda não vivermos apenas em função dos valores materialistas; não ignorarmos os porta-vozes de mensagens elevadas; estudar — e não aceitar irracionalmente — o que nos chegar de dados e assimilarmos o que estiver de acordo com a Lei Divina, abrindo mão de tudo que faça mal a nós e aos nossos semelhantes.


Comunicação cristã

Independente de termos uma semana ou 70 anos de estudo espírita, tudo o que nós dissermos, escrevermos ou encaminharmos certamente influenciará pessoas, sejam elas de nosso círculo de amizades, sejam elas desconhecidas e residentes a milhares de quilômetros.

Uma comunicação cristã traz o foco no diálogo fraterno, contendo mensagens de cunho positivo, focando no caminho a seguir, e não no caminho a temer. Noticiemos, de forma responsável, o Movimento Espírita; há eventos que nada têm de espíritas, ainda que o digam sê-lo. Colaboremos na divulgação e estudo responsáveis da Doutrina Espírita — todos podemos fazê-lo.

Muita gente diz estar “há poucos anos” frequentando Casa Espírita e, por isso, não sabe ou pode fazer nada ainda, já que ainda não recebeu orientação sobre sua vocação. André Luiz traz conclusão diferente a esse respeito:

“Não viva pedindo orientação espiritual, indefinidamente. Se você já possui duas semanas de conhecimento cristão, sabe, à saciedade, o que fazer.” [10]

O texto que enviarmos pode ser recebido como uma referência pelo destinatário, pois ele pode saber que frequentamos um Centro Espírita — mesmo que há apenas uma semana — e, portanto, devemos saber o que estamos falando. Sempre somos responsáveis pelo que falamos, escrevemos ou encaminhamos.


Situações que merecem atenção

Circulam, pela Internet, dezenas de mensagens apócrifas (que não são do autor a que se atribui) e de textos que se dizem espíritas, mas que não se sustentam pelos preceitos das obras de Allan Kardec. Esses textos e padrões de mensagens se repetem ao longo dos anos; por isso, é importante reconhecê-los. Vejamos alguns exemplos:

  • Mensagens, alegadamente de autores famosos, prevendo catástrofes e/ou aproximação de planetas de vibração negativa e alegando confirmação por entidades científicas. Nosso mundo não está involuindo! A Terra também recebe grande influência de mundos mais evoluídos. A Lei do Progresso impele pessoas e mundos sempre no sentido da sua melhoria; basta comparar a situação da Terra em relação a 1.000 anos atrás. Por isso, Espíritos evoluídos não trazem mensagens deprimentes, difundindo valores como a piora de nosso planeta, pois isso não procede;
  • A respeito dos presságios relatados acima, leem-se vários destes com detalhes de datas, notoriamente sobre eventos como cataclismos, referindo Espíritos de renome como os autores das previsões. Esse tipo de mensagem não é avalizada pelo estudo doutrinário. Allan Kardec ressalta, em “O Livro dos Médiuns”: “A previsão de qualquer acontecimento para uma época determinada é indício de mistificação.” [11]
  • Perfis falsos em redes sociais. Por exemplo: na rede social Facebook, encontram-se “perfis” do conferencista e médium Raul Teixeira. Em seu site (http://www.raulteixeira.com.br/), o próprio Raul, em julho de 2011, esclareceu não ter nada no Facebook. É muito fácil criar um perfil com qualquer nome em uma rede social. Tenhamos atenção para com quem seguimos; o uso de uma identidade falsa, em si, já levanta suspeitas sobre o que será veiculado de mensagens;
  • Textos modificados, com omissões e inclusões de textos em relação ao original. Muitos textos espíritas encontrados na Internet foram digitados por voluntários dedicados, mas que nem sempre contam com uma equipe na qual alguns digitam e outros conferem os textos com os livros originais. Seja por simples engano, seja com interesses escusos, muitos textos encontrados na Internet são diferentes dos originais. Recomendamos não utilizá-los sem antes conferirmos dois aspectos: se estão idênticos aos livros e se não há restrição à sua reprodução;
  • Ataques pessoais a vultos do Espiritismo, frequentemente sem nenhuma base além de suspeitas e boatos. Não devemos ver as pessoas, inclusive os grandes trabalhadores do Movimento Espírita, como santas ou intocáveis; tampouco, porém, devemos dar atenção ao primeiro boato infundado do polemista do momento. Desserviços assim não ocorrem apenas no meio espírita: foram lançados até livros e filmes acusando Madre Teresa de oportunismo e corrupção!


Não alimentemos polêmicas

Polemistas profissionais desejam tomar tempo e energia dedicáveis ao Bem. São pessoas que ainda consomem todo seu tempo e raciocínio a encontrar defeitos nos trabalhos alheios, sem sobrar tempo e energia para buscar fazer algo em prol do bem.

Novamente seguindo o conselho de Paulo de Tarso na Primeira Epístola aos Tessalonicenses, ouçamos as críticas e assimilemos aquelas que sejam construtivas e nos apontem oportunidades de melhoria, sem trazermos para nosso mundo íntimo o lodo das palavras ácidas e inúteis.

Kardec afirma, em “Obras Póstumas”, que a Doutrina Espírita,

“Querendo ser aceita livremente, por convicção e não por constrangimento, proclamando a liberdade de consciência um direito natural imprescritível, diz: Se tenho razão, todos acabarão por pensar como eu; se estou em erro, acabarei por pensar como os outros. Em virtude destes princípios, não atirando pedras a ninguém, ela nenhum pretexto dará para represálias e deixará aos dissidentes toda a responsabilidade de suas palavras e de seus atos.” [12]

Não desperdicemos tempo e energia em debates com seguidores de outras religiões, e mesmo com ateus, para descobrir “quem está com a razão”. Quando perseguimos a resposta a essa inútil pergunta, estamos em busca de quem é o melhor ou o maior, tema muito bem esclarecido por Jesus e relatado pelo evangelista Lucas. Estêvão, um dos cristãos da primeira hora, em debate com Saulo de Tarso antes de sua conversão ao Cristianismo, também traz importante conselho sobre os debates improdutivos, conforme Emmanuel nos relata no livro “Paulo e Estêvão”:

“Jesus teve a preocupação de recomendar a seus discípulos que fugissem do fermento das discussões e das discórdias. Eis por que não será lícito perdermos tempo em contendas inúteis, quando o trabalho do Cristo reclama o nosso esforço.” [13]


Concluindo...

Não fazemos ideia do alcance daquilo que dizemos ou de nossa influência sobre as pessoas. Façamos com que seja uma influência positiva.

Revisemos previamente, em relação ao original, os textos que pretendemos divulgar — seja por e-mail, em uma rede social, Blog, verbalmente, por escrito etc.

Ao encaminhar e-mails, utilizemos cópia oculta para não expor os endereços dos destinatários; não enviemos anexos grandes e procuremos seguir as demais regras de boa convivência da Netiqueta.

Não repassemos trechos de livros, imagens, áudios etc. que informem ter sua reprodução proibida.

Estudemos a Doutrina Espírita em grupo. Ainda não sabemos tudo; podemos deixar passar algum ponto errôneo que outro colega de estudos não deixará.

Há centenas de bons livros para lermos. Em vez de procurar o que ler de texto espírita apenas pela Internet, consultemos a biblioteca do Centro Espírita mais próximo de nossa residência ou local de trabalho.

Joanna de Ângelis recomenda, na mesma mensagem citada anteriormente:

“Aplica bem o tempo de que disponhas, quando a serviço da Mensagem.
Não desperdices oportunidade.
Elucida alguém, quando não o possas fazer a muitos.
O importante é a contribuição, modesta que seja, à obra da libertação espiritual.” [5]

Finalizamos com o sábio aconselhamento de Emmanuel, em mensagem frequentemente encontrada pela Internet com seu texto alterado do original:

“(...) trabalha para que a Doutrina Espírita lhes estenda socorro oportuno. Para isso, estudemos Allan Kardec, ao clarão da mensagem de Jesus-Cristo, e, seja no exemplo ou na atitude, na ação ou na palavra, recordemos que o Espiritismo nos solicita uma espécie permanente de caridade — a caridade da sua própria divulgação.” [14]


Leia também, neste Blog, as postagens “Os opositores da Doutrina Espírita”, “‘Pequenos’ Erros”, “Examinai Tudo. Retende o Bem.”, “Falsos Cristos, falsos profetas e seus seguidores”, “Mediunidade na Bíblia” e “Lei do Progresso”.


Bons estudos!
Carla e Hendrio


Referências:
[1] Wikipedia. Termo pesquisado: Internet. Disponível em http://en.wikipedia.org/wiki/Internet. Acesso em 05 de janeiro de 2013.
[2] Internet Users in the World; 2012-Q2. Disponível em http://www.internetworldstats.com/stats.htm. Acesso em 05 de janeiro de 2013.
[3] Internet Stats and Telecom Market Report for Brazil. Disponível em http://www.internetworldstats.com/sa/br.htm. Acesso em 05 de janeiro de 2013.
[4] The Opte Project. Disponível em http://www.opte.org/. Acesso em 05 de janeiro de 2013.
[5] FRANCO, Divaldo P. “Otimismo”. Pelo Espírito Joanna de Ângelis. 2.ed. Salvador, BA: Livraria Espírita Alvorada, 1983. Capítulo 38 (“Pregando sempre”).
[6] Federação Espírita Brasileira. “Plano de Trabalho Para o Movimento Espírita Brasileiro (2013-2017)”. Disponível em http://www.febnet.org.br/wp-content/uploads/2012/11/Plano-de-Trabalho.pdf. Acesso em 13 de janeiro de 2013.
[7] KARDEC, Allan. “O Livro dos Médiuns”. 55.ed. Rio de Janeiro, RJ: FEB, 1987. Segunda parte, capítulo XX, item 230.
[8] KARDEC, Allan. “O Que É o Espiritismo”. 26.ed. São Paulo, SP: LAKE, 2001. Capítulo I. Primeiro diálogo — O crítico.
[9] KARDEC, Allan. “O Livro dos Médiuns”. 55.ed. Rio de Janeiro, RJ: FEB, 1987. Segunda parte, capítulo X, item 136.
[10] XAVIER, Francisco C. “Agenda Cristã”. Pelo Espírito André Luiz.  2.ed. de bolso. Rio de Janeiro, RJ: FEB, 1998. Capítulo 18 — “Lembranças úteis”.
[11] KARDEC, Allan. “O Livro dos Médiuns”. 55. ed. Rio de Janeiro, RJ: FEB, 1987. Segunda parte, capítulo XXIV (“Da identidade dos Espíritos”), número 267, item 8.
[12] KARDEC, Allan. “Obras Póstumas”. 25.ed. Rio de Janeiro, RJ: FEB, 1990. Segunda parte. “Constituição do Espiritismo”, § II — “Dos cismas”.
[13] XAVIER, Francisco C. “Paulo e Estêvão”. Pelo Espírito Emmanuel. 20.ed. Rio de Janeiro, RJ: FEB, 1993. Capítulo V — “A pregação de Estêvão”.
[14] XAVIER, Francisco C. e VIEIRA, Waldo. “Estude e Viva”. Pelos Espíritos Emmanuel e André Luiz. 6.ed. Rio de Janeiro, FJ: FEB, 1986. Capítulo 40 — “Socorro oportuno”.


domingo, 27 de janeiro de 2013

Estudo Espírita

Mensagem do Espírito Joaquim Travassos, para nossa reflexão.

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Estabelecendo paralelos entre o estudo oficial da cultura terrestre e o estudo voluntário das teses espíritas, repararemos os valores, contradições e consequências de cada um para a criatura encarnada.

Na carreira universitária, o educando frequenta aulas, desde a infância, num total aproximado de dez a dezesseis anos sucessivos de ingentes esforços; no entanto, quando alguém se dedica sozinho ao Espiritismo, durante três meses, em muitas circunstâncias já se julga realizado, sem necessidade de trabalho mais amplo...


Na instrução humana, usam-se técnica especializada, disciplina rigorosa, ordem severa e frequência assídua para todos os estudantes, e surpreendemos companheiros de atividade espírita que após lerem, anotando, aqui e ali, alguns poucos livros, se supõem com a autoridade dos pesquisadores de exceção...


Se para obter diploma de formação superior, a pessoa humana despende energia e dinheiro, submetendo-se a todo tipo de exames, provas e estágios complicados e exaustivos, para o cultivo do Espiritismo não existe nenhuma dessas dificuldades, pois até mesmo os livros são mais baratos e os templos doutrinários não cobram ingressos...


O sistema de educação intelectual experimenta a supervisão constante de inspetores, fiscais e conselhos de ensino que verificam os mínimos incidentes do currículo escolar; entretanto, nas casas espíritas, em muitas ocasiões, se um companheiro de boa-vontade assinala esse ou aquele senão, em favor da segurança da obra, muito dificilmente escapa de ser apontado à conta de elemento indesejável, corroído de obsessão...


Para graduar-se em Direito, Engenharia, Magistério ou Medicina, o aluno aplica a inteligência em observações incessantes, analisando e repetindo, frequentemente, página a página ou frase a frase, centenas de rechonchudos calhamaços, afora inumeráveis apontamentos e resumos, suplementos e apostilas de toda espécie, mas não faltam irmãos nossos que folhearam, descuidosamente, alguns magros volumes e já se sentem detentores de preciosa erudição, estacando no aprendizado...


As aquisições acadêmicas sofrem naturalmente as consequências da evolução, constituindo-se de afirmações provisórias a reclamarem, por vezes, grandes sacrifícios para se fixarem no campo do pensamento; os valores espíritas, ao contrário, vinculam-se às realidades imarcescíveis da alma, com definições morais muito mais fáceis de reter, e muito dificilmente encontram quem lhes dê maior atenção...


O homem concorre a disputadas competições para a obtenção dos títulos de idoneidade técnica que praticamente se anulam com a aposentadoria do interessado aos trinta ou quarenta anos consecutivos de serviço; todavia, quase sempre, apenas de longe em longe, esse mesmo homem encontra quinze minutos no dia para se consagrar ao estudo espírita, tranquilo e fácil, que prosseguirá, imperecedouro, caminho a fora, a iluminar-lhe o imo do próprio ser...


Todos acham vantagens no adestramento do cérebro, o que permite ao Espírito dominar o plano terrestre por algum tempo; raros veem conveniências na assimilação do conhecimento espírita que prepara a alma, a fim de que domine a si mesma, com vistas à Eternidade...

Foto: Hendrio Belfort

Valorizemos, quanto possível, o estudo humano, em louvor dos experimentos, técnicas, profissões e ciências que glorificam a civilização passageira; entretanto, prestigiemos também, e seriamente, o estudo abençoado da Doutrina Espírita, combatendo negligência e dispersão, preguiça e desânimo, destaque de superfície e esforço deficitário, para que possamos entender os Estatutos Divinos da Criação Eterna, de cuja grandeza todos participamos, sob as bênçãos de Deus.


VIEIRA, Waldo. “Seareiros de Volta”. Por diversos Espíritos. 4.ed. Rio de Janeiro, RJ: FEB, 1987. Capítulo “Estudo Espírita”, pp. 118-120.