domingo, 17 de junho de 2007

Olhai

"E olhai por vós, não aconteça que os vossos corações se carreguem de glutonaria, de embriaguez e dos cuidados desta vida, e venha sobre vós de improviso aquele dia."
Jesus (Lucas, 21:34)

O homem que se renova em Jesus, convertendo-se às luzes da Boa Nova, traça para si mesmo um roteiro de trabalho e de iluminação íntima, de perseverança no Bem e de aperfeiçoamento espiritual, buscando, em tudo e por tudo, atender as recomendações do Divino Amigo.

Distanciado do imediatismo da existência temporal, volta-se, por inteiro, para as necessidades do espírito, sem inquietação nem turbulência.

Esquivando-se às incursões nos planos sombrios dos interesses menos dignos, mostra-se honesto ante a própria consciência que lhe determina construir e avançar.

Procura examinar-se e autodisciplinar-se, forjando o clima pessoal de prece e de meditação, tão necessário à sua saúde integral.

Evita o cipoal das viciações nefastas, fugindo à trama de intrigas e ódios, afastando as sombras destruidoras da inimizade e da perturbação, sempre atento às orientações do Excelso Rabi que lhe oferece um roteiro de equilíbrio, ponderação e paz.

Resguardando-se aos excessos do estômago, equilibra a vontade, debilitando as zonas de influências obsessivas.

Não se perde nos vícios que lhe deslustram o caráter e não se entretece com a preguiça que lhe arrefece o ânimo.

Jamais se escraviza às posses efêmeras, guardando o coração bem longe dos tentáculos da fortuna que, mesmo em suas mãos, será conduzida como um bem transitório e transferível.

Não se envaidece com posições sociais nem se jactancia com os valores ilusórios do poder.

Confiante em Deus, suporta as tribulações terrenas na expectativa de triunfar no Bem.

Busca o dever como norma de vida e sublima a própria vontade na aspiração dos bens espirituais.

Distancia-se da embriaguez dos sentidos, entendo que o mal se utiliza de recursos, os mais variados, para trazer perturbação e sombra, angústia e fel.

"Olhai por vós..." - sentencia Jesus, no afã de que cada criatura no mundo possa estar atenta àquela outra advertência não menos oportuna: "Orai e vigiai".

Naturalmente o cristão sincero há de estar vigilante e otimista, esperançoso e pacificado em todas as suas realizações, sem se importar com as invectivas da crítica mordaz ou dos encômios sorrateiros.

Age por si e para si, reconhecendo-se único agente do próprio aperfeiçoamento.

Fiel ao Bem, nele persevera com denodo e convicção.

Assim, o homem renovado em Jesus, jamais se mostra distraído em caminho, colocando-se a postos na fé, a fim de que as tribulações do carreiro físico não o alcancem de improviso.

Estêvão

Bons estudos!
Carla e Hendrio

Referência:
RIBEIRO, Júlio Cezar Grandi. "Isto vos mando...". Pelo Espírito Estêvão. 2ª ed. Vila Velha, ES: Casa Espírita Cristã. 1985, capítulo 11.

domingo, 3 de junho de 2007

Mediunidade

CONCEITO – Faculdade orgânica, a mediunidade se encontra, em quase todos os indivíduos, não constituindo patrimônio especial de grupos nem privilégio de castas; é inerente ao espírito que dela se utiliza, encarnado ou desencarnado, para ministério do intercâmbio entre diferentes esferas de evolução. A mediunidade tem características próprias por meio das quais, quando acentuadas, facultam vigoroso comércio entre homens e Espíritos, entre as criaturas reciprocamente, bem como entre os próprios Espíritos.
O médium (do latim medium) é aquele que serve de instrumento entre os dois pólos da vida: física e espiritual.
“Médium é o ser, é o indivíduo que serve de traço de união aos Espíritos, para que estes possam comunicar-se facilmente com os homens: Espíritos encarnados”, conforme acentuou o Espírito Erasto, em memorável comunicação sobre a mediunidade dos animais, e inserta em “O Livro dos Médiuns”, capítulo XXII, item 236.
Todavia, entre os Espíritos já desencarnados médiuns também os há, que exercem o labor, facultando que Entidades de mais elevadas Esferas possam comunicar-se com aqueles que se encontram na retaguarda da evolução, e recebam nesses encontros o auxílio, o impulso estimulador para, a seu turno, ascenderem.
Mais difundido o exercício da mediunidade através das comunicações dos desencarnados com os encarnados, tal faculdade se faz a porta por meio da qual se abrem os horizontes da imortalidade, propiciando amplas possibilidades para positivar a indestrutibilidade da vida, não obstante o desgaste da transitória indumentária fisiológica.
Natural, aparece espontaneamente, mediante constrição segura, na qual os desencarnados de tal ou qual estágio evolutivo convocam à necessária observância de suas leis, conduzindo o instrumento mediúnico a precioso labor por cujos serviços adquire vasto patrimônio de equilíbrio e iluminação, resgatando, simultaneamente, os compromissos negativos a que se encontra enleado desde vidas anteriores.
Outras vezes surge como impositivo provacional mediante o qual é possível mais ampla libertação do próprio médium, que, em dilatando o exercício da nobilitação a que se dedica, granjeia consideração e títulos de benemerência que lhe conferem paz.
Sem dúvida, poderoso instrumento pode converter-se em lamentável fator de perturbação, tendo em vista o nível espiritual e moral daquele que se encontra investido de tal recurso.
Não é uma faculdade portadora de requisitos morais. A moralização do médium libera-o da influência dos Espíritos inferiores e perversos, que se sentem, então, impossibilitados de maior predomínio por faltarem os vínculos para a necessária sintonia. Por isso, sendo um inato recurso do espírito, reponta em qualquer meio e em todo indivíduo, aprimorando-se ou se convertendo em motivo de perturbação ou enfermidade, de acordo com a direção que se lhe dê.

DESENVOLVIMENTO – Em todos os tempos a mediunidade revelou ao homem a existência do Mundo Espiritual, donde todos procedemos e para onde, após o fenômeno morte, todos retornaremos.
Nos períodos mais primitivos da cultura ética da Humanidade, a mediunidade exerceu preponderante influência, porquanto, através dos sensitivos, nominados como feiticeiros, magos, adivinhos e mais tarde oráculos, pítons, taumaturgos, todos médiuns, contribuindo decisivamente na formação do clã, da tribo ou da comunidade em desenvolvimento, revelando preciosas lições que fomentavam o crescimento do grupo social, impulsionando-o na direção do progresso.
Nem sempre, porém, eram bons os Espíritos que produziam os fenômenos, o que redundava, por sua vez, demorados estágios na barbárie, no primitivismo dos que lhes prestavam culto...
À medida que os conceitos culturais e éticos evoluíram, a mediunidade experimentou diferente compreensão.
Nos círculos mais adiantados das civilizações orientais e logo depois greco-romana, a faculdade mediúnica lobrigou relevante projeção, merecendo considerável destaque nas diversas comunidades sociais do passado.
No entanto, com Jesus, o Excelso Médium de Deus, que favoreceu largamente o intercâmbio entre os dois mundos em litígio: o espiritual e o material, foi que a mediunidade recebeu o selo da mansidão e a diretriz do amor, a fim de se transformar em luminosa ponte, através da qual passaram a transitar os viandantes do corpo na direção da Vida abundante e os Imortais retornando à Terra, em incessante permuta de informações preciosas e inspiração sublime.
O Cristianismo, nos seus primeiros séculos, desde a Ressurreição até o Concílio de Nicéia (1) se fez um hino de respeito e exaltação à Imortalidade.
Depois, enflorescendo incontáveis apóstolos, encarregados de reacenderem as claridades da fé, a mediunidade foi a fonte inexaurível que atendia a sede tormentosa dos séculos, trazendo a “água viva” da Espiritualidade enquanto ardiam as chamas da inquietação e do despotismo, destruindo esperanças, anatematizando, pervertendo ideais...
Os médiuns experimentaram duro cativeiro, demorada perseguição, e a mediunidade foi considerada maldição, exceção feita apenas a uns poucos dotados que receberam ainda em vida física compreensão e respeito de alguns raros espíritos lúcidos do seu tempo.
Desde que os intimoratos expoentes da Vida jamais recearam nortear o homem, utilizaram-se da mediunidade, às vezes, com o vigor da verdade exprobando os erros e os crimes onde quer que se encontrassem. Todos aqueles, porém, que se encontravam equivocados em relação ao bem e à justiça, por ignorância ou propositadamente, ante a impossibilidade de silenciar o brado que lhes chegava do além-túmulo, providenciavam destruir os veículos, em inútil esforço de conseguirem apoio às irregularidades e intrujices de que se faziam servos submissos.
Hoje, porém, após a documentação kardequiana, inserta na Codificação, a mediunidade abandonou as lendas e ficções, os florilégios do sobrenatural e do miraculoso, superando as difamações de que foi vítima, para ocupar o seu legítimo lugar, recebendo das modernas ciências psíquicas, psicológicas e parapsicológicas o respeito e o estudo que lhe desdobram os meios, contribuindo com abençoados recursos de que a Psiquiatria se pode utilizar, como outros ramos das Ciências, para solucionar um sem-número de problemas físicos, emocionais, psíquicos, sociais que afligem a moderna e atormentada sociedade.

CONCLUSÃO – Ao exercício da mediunidade com Jesus, isto é, na perfeita aplicação dos seus valores a benefício da criatura, em nome da Caridade, é que o ser atinge a plenitude das suas funções e faculdades, convertendo-se em celeiro de bênçãos, semeador de saúde espiritual e da paz nos diversos terrenos da vida humana, na Terra.
Mediumato – eis o ápice do correto exercício da faculdade mediúnica em cuja ação o médium já não vive, antes nele vive o Cristo insculpindo-lhe a felicidade sem jaça de que se adorna, em prol do Mundo Melhor porque todos laboramos.

ESTUDO E MEDITAÇÃO:

“Todo aquele que sente, num grau qualquer, a influência dos Espíritos é, por esse fato, médium. Essa faculdade é inerente ao homem; não constitui, portanto, um privilégio exclusivo. Por isso mesmo, raras são as pessoas que dela não possuam alguns rudimentos. Pode, pois, dizer-se que todos são, mais ou menos, médiuns. Todavia, usualmente, assim só se qualificam aqueles em quem a faculdade mediúnica se mostra bem caracterizada e se traduz por efeitos patentes, de certa intensidade, o que então depende de uma organização mais ou menos sensitiva. É de notar-se, além disso, que essa faculdade não se revela, da mesma maneira, em todos.”

(O Livro dos Médiuns, Allan Kardec, item 159)

*
“A mediunidade é coisa santa, que deve ser praticada santamente, religiosamente.”

(O Evangelho segundo o Espiritismo, Allan Kardec, capítulo XXVI, item 10)

(1) Concílio de Nicéia – Primeiro Concílio ecumênico, realizado no ano 325, na cidade de Constantinopla, que condenou a doutrina arianista, o livre exercício da mediunidade e outros pontos mantidos pelos cristãos primitivos, do que redundou constituir-se marco inicial da desagregação e decomposição do Cristianismo nas suas legítimas bases de que se fizeram paradigmas Jesus, seus discípulos e os seus sucessores – Nota da Autora espiritual.

Joanna de Ângelis

Bons estudos!
Carla e Hendrio

Referência:
FRANCO, Divaldo P. “Estudos Espíritas”. Pelo Espírito Joanna de Angelis. 4ª ed. Rio de Janeiro, RJ: FEB. 1987, capítulo 18 – Mediunidade.