segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Família Espiritual

Nosso núcleo familiar consanguíneo é o primeiro agrupamento em que nos compete fazer o Bem. Mas não é o único, pois nossa família é a Humanidade inteira.

O Dicionário Aurélio define que família diz respeito a laços de parentesco. Contudo, não restringe o conceito a este tipo de afinidade: estipula que, por extensão, família significa “grupo de indivíduos que professam o mesmo credo, têm os mesmos interesses, a mesma profissão, são do mesmo lugar de origem etc.” [1].

Jesus explica o conceito de família espiritual na passagem do Evangelho de Mateus, capítulo 12, versículos 46 a 50:
“Enquanto ele ainda falava à multidão, a mãe e os irmãos dele estavam de fora, procurando falar-lhe. E alguém disse-lhe: ‘olha, tua mãe e teus irmãos estão lá fora e procuram falar-te’. Mas ele respondeu ao que lhe falava: ‘quem é minha mãe e quem são meus irmãos’? E estendendo a mão para seus discípulos, disse: ‘Eis minha mãe e meus irmãos; porque aquele que fizer a vontade de meu Pai que está nos céus, esse é meu irmão, irmã e mãe!’”
Allan Kardec, o Codificador da Doutrina Espírita, no Capítulo XIV de “O Evangelho Segundo o Espiritismo”, assim analisa esta passagem evangélica:
“Os que encarnam numa família, sobretudo como parentes próximos, são, as mais das vezes, Espíritos simpáticos, ligados por anteriores relações, que se expressam por uma afeição recíproca na vida terrena. Mas, também pode acontecer sejam completamente estranhos uns aos outros esses Espíritos, afastados entre si por antipatias igualmente anteriores, que se traduzem na Terra por um mútuo antagonismo, que aí lhes serve de provação. Não são os da consanguinidade os verdadeiros laços de família e sim os da simpatia e da comunhão de ideias, os quais prendem os Espíritos antes, durante e depois de suas encarnações. Segue-se que dois seres nascidos de pais diferentes podem ser mais irmãos pelo Espírito, do que se o fossem pelo sangue. Podem então atrair-se, buscar-se, sentir prazer quando juntos, ao passo que dois irmãos consanguíneos podem repelir-se, conforme se observa todos os dias: problema moral que só o Espiritismo podia resolver pela pluralidade das existências. (Cap. IV, nº 13.)
Há, pois, duas espécies de famílias: as famílias pelos laços espirituais e as famílias pelos laços corporais. Duráveis, as primeiras se fortalecem pela purificação e se perpetuam no mundo dos Espíritos, através das várias migrações da alma; as segundas, frágeis como a matéria, se extinguem com o tempo e muitas vezes se dissolvem moralmente, já na existência atual. Foi o que Jesus quis tornar compreensível, dizendo de seus discípulos: Aqui estão minha mãe e meus irmãos pelos laços do Espírito, pois todo aquele que faz a vontade de meu Pai que está nos céus é meu irmão, minha irmã e minha mãe.” [2]
Carlos Torres Pastorino, analisando o versículo 46 do capítulo 12 do Evangelho segundo Mateus (“Quem é minha mãe, e quem são meus irmãos?”), pondera:
“A pergunta, aparentemente desrespeitosa para com Sua mãe, vem demonstrar que Jesus, em Sua missão, não está preso pelos laços sanguíneos, tão frágeis que só vigoram numa dada encarnação. A família espiritual é muito mais sólida, pois os vínculos são espirituais (sintônicos) e não materiais (sangue e células perecíveis). Jesus não pode subordinar-se às exigências do parentesco terreno, mesmo em se tratando de Sua mãe. Com o olhar benévolo sobre os que O rodeavam, Jesus lança Sua doutrina nítida: o ideal é superior aos laços de sangue; a família espiritual é mais importante que a natural e sobreleva a ela.” [3]
Kardec, no mesmo diapasão, esclarece, no item 18 do Capítulo IV de “O Evangelho Segundo o Espiritismo”:
“No espaço, os Espíritos formam grupos ou famílias entrelaçados pela afeição, pela simpatia e pela semelhança das inclinações. Ditosos por se encontrarem juntos, esses Espíritos se buscam uns aos outros. (...) Se uns encarnam e outros não, nem por isso deixam de estar unidos pelo pensamento.” [4]
Na obra “Entre a Terra e o Céu”, Clarêncio orienta:
“A família espiritual é uma constelação de Inteligências, cujos membros estão na Terra e nos Céus. Aquele que já pode ver mais um pouco auxilia a visão daquele que ainda se encontra em luta por desvencilhar-se da própria cegueira. Todos nós, por mais baixo nos revelemos na escala da evolução, possuímos, não longe de nós, alguém que nos ama a impelir-nos para a elevação. Isso podemos verificar nos círculos da matéria mais densa. Temos constantemente corações que nos devotam estima e se consagram ao nosso bem.” [5]

Foto: Hendrio Belfort

Naturalmente, essas passagens não nos devem jamais levar à conclusão de que a família em que ora encarnamos é de pouca importância. Não nascemos por acaso ou acidente em nenhum círculo familiar. Há pessoas que, em momentos de rebeldia, afirmam que “não pediram para nascer”. Contudo, ainda que não nos lembremos, a maioria da Humanidade terrestre pede novas chances de aprendizado e reparação, dentro de nossas possibilidades de maturidade moral e intelectual. Nascemos onde, quando e com quem precisávamos, como lemos, por exemplo, nas respostas às questões 184, 269, 334, 335, 338, 393, 572, 574, 950 e 986 de “O Livro dos Espíritos”.

Portanto, temos, sim, de investir nosso melhor em nossa família consanguínea, pois certamente temos muito a aprender e muito bem a fazer a esses Espíritos. A lição trazida na passagem evangélica acima citada é que fazemos parte da família das Humanidades, não só de toda a Terra, mas de todo o Universo — e temos o dever de fazer o Bem a todos, a começar pela família que temos em casa, mas não restritos a ela. O Espírito Galileu corrobora essa ideia, no Capítulo VI de “A Gênese”:
“Uma mesma família humana foi criada na universalidade dos mundos e os laços de uma fraternidade que ainda não sabeis apreciar foram postos a esses mundos. Se os astros que se harmonizam em seus vastos sistemas são habitados por inteligências, não o são por seres desconhecidos uns dos outros, mas, ao contrário, por seres que trazem marcado na fronte o mesmo destino, que se hão de encontrar temporariamente, segundo suas funções de vida, e encontrar de novo, segundo suas mútuas simpatias. É a grande família dos Espíritos que povoam as terras celestes; é a grande irradiação do Espírito divino que abrange a extensão dos céus e que permanece como tipo primitivo e final da perfeição espiritual.” [6]
Espíritos de maior elevação moral e intelectual, os quais, por seu empenho no Bem, atingem o direito de viver em mundos mais felizes, não desfazem seus laços de afeição a quem amam e que, temporariamente, seguem vivendo na Terra ou em outros mundos de Espíritos em etapas evolutivas anteriores. Observemos o exemplo do Espírito denominado Samuel Filipe, pessoa sempre empenhada em fazer o melhor por seu semelhante, o que o qualificou a fazer uma transição tranquila para o mundo espiritual. Questionado sobre o local onde habitara quando evocado e sobre sua lembrança de seus entes queridos, assim argumentou:
“P. Esse mundo tão novo e comparado ao qual nada vale o nosso, bem como os numerosos amigos que nele reencontrastes, fizeram-vos esquecer a família e amigos encarnados?
— R. Se os tivesse esquecido seria indigno da felicidade de que gozo. Deus não recompensa o egoísmo, pune-o. O mundo em que me vejo pode fazer com que desdenhe a Terra, mas não os Espíritos nela encarnados. Somente entre os homens é que a prosperidade faz esquecer os companheiros de infortúnio. Muitas vezes venho visitar os que me são caros, exultando com a recordação que de mim guardaram; assisto às suas diversões, e, atraído por seus pensamentos, gozo se gozam ou sofro se sofrem.” [7]
A Terra, apesar de ainda estar longe da condição de mundo feliz, vem demonstrando constante evolução. Kardec comenta a esse respeito em “A Gênese”, lançado em 06 de janeiro de 1868, já observando, há quase 143 anos, movimentos mais comumente divulgados nos dias atuais:
“Hoje, a Humanidade está madura para lançar o olhar a alturas que nunca tentou divisar, a fim de nutrir-se de ideias mais amplas e compreender o que antes não compreendia. (...)
Essa fase já se revela por sinais inequívocos, por tentativas de reformas úteis e que começam a encontrar eco. Assim é que vemos fundar-se uma imensidade de instituições protetoras, civilizadoras e emancipadoras, sob o influxo e por iniciativa de homens evidentemente predestinados à obra da regeneração; que as leis penais se vão apresentando dia a dia impregnadas de sentimentos mais humanos. Enfraquecem-se os preconceitos de raça, os povos entram a considerar-se membros de uma grande família; pela uniformidade e facilidade dos meios de realizarem suas transações, eles suprimem as barreiras que os separavam e de todos os pontos do mundo reúnem-se em comícios universais, para as justas pacíficas da inteligência.
Falta, porém, a essas reformas uma base que permita se desenvolvam, completem e consolidem; falta uma predisposição moral mais generalizada, para fazer que elas frutifiquem e que as massas as acolham. Ainda aí há um sinal característico da época, porque há o prelúdio do que se efetuará em mais larga escala, à proporção que o terreno se for tornando mais favorável.” [8]
Ao estudarmos as palavras de Jesus, assim como analisando, pela História, a redução das fronteiras entre os povos, bem como estudando, pela Física, a interligação de todos pelo Fluido Universal, sempre chegamos à mesma conclusão: todos somos filhos do mesmo Criador, e, portanto, uma única família, à qual nos compete auxiliar levando todo o Bem que sabemos praticar, e aprendendo para praticar todo o Bem que ainda nos caiba aprender.


Leia também, neste blog, as postagens “Tranquilidade no Retorno à Pátria Espiritual”, “Muitas Moradas”, “Amar o Próximo”, “Evangelho no Lar e no Coração”, “Conscientemente”, “Lei do Progresso”, “Fluido Universal” e “A Prova da Escolha das Provas”.


Bons estudos!
Carla e Hendrio — comemorando nossa centésima postagem neste blog! :-)


Referências:

[1] HOLANDA, Aurélio Buarque de. “Novo Dicionário Eletrônico Aurélio”. Versão 5.0 de 2004. Positivo Informática. Família.
[2] KARDEC, Allan. “O Evangelho Segundo o Espiritismo”. 97.ed. Rio de Janeiro, RJ: FEB, 1987. Capítulo XIV, item 8.
[3] PASTORINO, Carlos Torres. “Sabedoria do Evangelho”. Rio de Janeiro, RJ: Sabedoria, 1964. Volume 3. A Família de Jesus.
[4] KARDEC, Allan. “O Evangelho Segundo o Espiritismo”. 97.ed. Rio de Janeiro, RJ: FEB, 1987. Capítulo IV, item 18.
[5] XAVIER, Francisco Cândido. “Entre a Terra e o Céu”. 17.ed. Rio de Janeiro, RJ: FEB, 1997. Cap. 33.
[6] KARDEC, Allan. “A Gênese”. 34.ed. Rio de Janeiro, RJ: FEB, 1991. Capítulo VI, item 56.
[7] KARDEC, Allan. “O Céu e o Inferno”. 37.ed. Rio de Janeiro, RJ: FEB, 1991. Segunda parte, Capítulo II. Samuel Filipe.
[8] KARDEC, Allan. “A Gênese”. 34.ed. Rio de Janeiro, RJ: FEB, 1991. Capítulo XVIII, itens 20 e 21.




quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Cuida de Ti

Pelo Espírito Bezerra de Menezes


Envergaste o uniforme do discípulo do Cristo na ânsia de aprender, servir, progredir, alcançar vitórias espirituais.
Abraçado ao Evangelho do Mestre, guardas no coração a sintonia maior, encantado com as lições, sempre novas, que surgem cada dia para teu entendimento, elucidando-te sobre as questões mais graves do caminho a ser percorrido.
Entretanto, não basta envergar o uniforme ou possuir o título de cristão.
Não só o estudo nos minutos de lazer ou a leitura apressada nas conduções para o trabalho.
Tornar-se discípulo do Mestre Divino requer algo mais do esforço individual.
Mister se torna que cuides de ti.
Uma luz sublime está em teu caminho.
És homem, criatura humana em seu tríplice aspecto, físico, perispiritual, espiritual.
Trazes contigo o sinal do Cristo. Pertences à fileira dos que combatem as sombras e estendem a luz como farol divino, por toda a Terra.
És muito, meu filho! Não te amesquinhes diante de tanta realidade. Não te desprezes ante o lugar que te compete. Ao contrário, faze questão de ser o filho do Alto, o discípulo do Mestre e Senhor, digno da tarefa sagrada da própria redenção.
Sonda o teu íntimo, cuida de ti.
Teu corpo físico é o vaso sagrado por onde flui o pensamento, teu sinal de criatura animada pela vida imortal.
Cuida do vaso sublime que te agasalha os ideais, que te proporciona possibilidades mil de ascensão aos planos mais altos.
Cuida de ti, enobrecendo-te através dos estudos, da prática da caridade.
Recebeste a luz do Pentecoste. Exercita, com ternura, as lições do teu Mestre e aproveita o ensejo que te é proporcionado na existência presente.

Foto: Hendrio Belfort

Eleva tua mente ao Senhor da Vinha, sintoniza-te com a vontade que te dirige os passos, para não te desviares da rota traçada.
Trazes a missão de tua redenção e com ela a grande tarefa de levar adiante o estandarte do Cristo.
Não temas confusões, não te amedrontes, não te deixes abater.
Cuida, pois, de ti. Examina o santuário íntimo, convence-te do bem a fazer e segue sempre, porque “quem perseverar até o fim será salvo”.
Desça sobre teu coração a força do teu Mestre, seja em teu caminho a luz do Eterno.

Bezerra


PAIVA, Maria Cecília. “Garimpeiros do Além”. Pelos Espíritos Bezerra de Menezes e Outros. Juiz de Fora, MG: Instituto Maria, 1985. Primeira Parte. “Cuida de Ti”.

domingo, 21 de novembro de 2010

“Os últimos serão os primeiros, e os primeiros serão os últimos.”

Qual o nosso foco primordial ao realizar todas as atividades do dia-a-dia, sejam elas em casa ou fora, sejam remuneradas ou voluntárias? Riqueza, reconhecimento, status, a alegria de ter feito o Bem?

Jesus faz alusão à expressão “Os últimos serão os primeiros, e os primeiros serão os últimos” em várias passagens:
  • Na parábola dos trabalhadores da vinha (Mateus 20:1-16);
  • Ao explanar os desafios morais dos materialmente ricos (Mateus 19:23-30; Marcos 10:23-31); e
  • Ao se referir à “porta estreita” — ou seja, o caminho da evolução moral e desapego ao material ainda ser escolhido e trilhado por poucos na Terra (Lucas 13:23-30).
Huberto Rohden, em sua obra “Sabedoria das Parábolas” [1], referindo às cinco turmas de trabalhadores que foram à vinha, pondera:
“As quatro primeiras turmas são dos egos virtuosos, recompensados por sua virtuosidade. Os da última turma são os Eus sapientes, não recompensados, mas simplesmente agraciados. O homem virtuoso não é capaz de trabalhar se não receber nada em retribuição, não na vida presente, mas na vida futura, pois ele não é do egoísmo terrestre, mas do egoísmo celeste, como diz Bergson. (...) As quatro primeiras turmas da parábola eram ‘servos úteis’, os da última turma eram ‘servos inúteis’. Estes últimos não trabalharam com intuito lucrativo; se receberam o denário, não o receberam como recompensa, mas como dom gratuito (...). Nenhum homem pode ter direito diante de Deus. Nenhum homem pode ter a pretensão de ser o ‘credor’ de Deus, e considerar Deus como seu ‘devedor’. O Criador não pode dever nada à criatura.” O evangelista Lucas (17:10) cita as palavras de Jesus a respeito: “Assim também vós, depois de haverdes feito tudo o que vos foi ordenado, dizei: Somos servos inúteis, fizemos o que devíamos fazer”.
A disponibilidade para o trabalho no Bem, associada à sua prática, nos proporcionam a Plenitude, uma percepção de si próprio ligado à Luz, finalmente percebendo as bênçãos que os filhos de Deus sempre recebem do Alto, porém somente são usufruídas quando estes se colocam receptivos às mesmas. E tal sensação não é quantificável em tempo ou valores ordenáveis em primeiro ou último.

Independente de sermos materialmente ricos ou pobres, todos temos de buscar ser úteis ao nosso semelhante, em toda atividade que empreendermos. À questão 675 de “O Livro dos Espíritos” [2] lemos que “toda ocupação útil é trabalho”. Com o foco em fazer o Bem, naturalmente entendemos os bens materiais como meios de tornar o mundo um lugar melhor para a coletividade. Assim, abandona-se a preocupação primordial de uma ascensão material, terra-a-terra, horizontal, do mais pobre para o mais rico em posses materiais, que se desgastam com o tempo. Passa-se a buscar uma ascensão moral, vertical, ligada com o Mais Alto, do egoísta (primeiro “eu”) para o altruísta (primeiro o “outro”), uma riqueza que o tempo não consome e que ninguém consegue roubar.


A assertiva de Jesus em Mateus 20:16 (“Os últimos serão os primeiros, e os primeiros serão os últimos.”) expressa a distinção entre a valorização espiritual e material das várias situações da vida. O que parece importante no conceito material é menos importante no conceito espiritual. Assim, aqueles que cuidam de se tornarem últimos no conceito do mundo materialista, ou seja, não valorizando (ainda que, por décadas de algumas encarnações, possuindo) o que o mundo materialista preconiza como importante, tornam-se os primeiros no plano espiritual, plano real da vida. Da mesma forma, aqueles obcecados em se tornar os primeiros no conceito ilusório do mundo das posses materiais, ligando a sua vida a esses valores passageiros, permanecem imaturos, ou seja, últimos no plano espiritual. O importante é considerar que não estamos estanques em nenhuma dessas situações (primeiros ou últimos), mas sempre a caminho para melhorarmos, até que todos sejamos primeiros — não em ordem de chegada, mas em amadurecimento moral.

Foto: Carla Engel

Finalizamos com as palavras do Espírito Verdade [3], lembrando-nos da importância da vitória, em nossa mente e nosso coração, do altruísmo sobre o egoísmo:
“Aproxima-se o tempo em que se cumprirão as coisas anunciadas para a transformação da Humanidade. Ditosos serão os que houverem trabalhado no campo do Senhor, com desinteresse e sem outro móvel, senão a caridade! Seus dias de trabalho serão pagos pelo cêntuplo do que tiverem esperado. Ditosos os que hajam dito a seus irmãos: ‘Trabalhemos juntos e unamos os nossos esforços, a fim de que o Senhor, ao chegar, encontre acabada a obra’, porquanto o Senhor lhes dirá: ‘Vinde a mim, vós que sois bons servidores, vós que soubestes impor silêncio aos vossos ciúmes e às vossas discórdias, a fim de que daí não viesse dano para a obra!’”


Leia também, neste blog, as postagens “A Porta Estreita”, “O amor cobre uma multidão de pecados”, “A riqueza” e “Egos virtuosos e Eus sapientes”.


Bons estudos!
Carla e Hendrio


Referências:

[1] ROHDEN, Huberto. “Sabedoria das Parábolas”. São Paulo, SP: Editora Martin Claret, 2004. “Os trabalhadores na vinha”.
[2] KARDEC, Allan. “O Livro dos Espíritos”. 66ª ed. Rio de Janeiro, RJ: FEB, 1987. Questão 675.
[3] KARDEC, Allan. “O Evangelho Segundo o Espiritismo”. 97ª ed. Rio de Janeiro, RJ: FEB, 1987. Capítulo XX, item 5.




segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Deus ajuda...

“Quando te achares na incerteza, invoca o teu bom Espírito, ou ora a Deus, soberano senhor de todos, e ele te enviará um de seus mensageiros, um de nós.” [1]

Situações surgem em nossas vidas nas quais toda providência possível já foi tomada e, ainda, há incerteza. Momentos de crise, que, na verdade, na acepção do termo grego “krisis”, significam momentos de decisão, de virada, e crescimento. Nesses momentos, em que a alma se abre a Deus, num clamor, tornamo-nos mais receptivos ao bem que constantemente flui sobre nós.

Exemplifiquemos com uma cena do filme “Nosso Lar”: quando André Luiz, desencarnado, em sofrimento no Umbral, finalmente cedeu e pediu ajuda, sinceramente, através de uma prece, teve a possibilidade de ver e ser socorrido pela equipe que já o acompanhava há tempos... e apenas aguardava o seu momento de despertar. Não significa um toque mágico que o tenha transformado. O decorrer do filme, cuja história sugerimos ler, demonstra que ainda houve muitas lutas. Mas aquele momento de “crise” foi superado.

A ajuda do Alto é permanente. Todos temos pelo menos um bom Espírito, o anjo da guarda, a nos orientar no bom caminho. A sintonia com ele depende exclusivamente de nós. Em outra oportunidade, neste blog, já apresentamos o tema Sintonia Espiritual. São os Espíritos São Luís e Santo Agostinho, em resposta à questão 495, proposta por Allan Kardec, na obra “O Livro dos Espíritos”, que nos esclarecem sobre a atuação desse Espírito protetor [2]:
“Aos que considerem impossível que Espíritos verdadeiramente elevados se consagrem a tarefa tão laboriosa e de todos os instantes, diremos que nós vos influenciamos as almas, estando embora muitos milhões de léguas distantes de vós. O espaço, para nós, nada é, e, não obstante viverem noutro mundo, os nossos Espíritos conservam suas ligações com os vossos. Gozamos de qualidades que não podeis compreender, mas ficai certos de que Deus não nos impôs tarefa superior às nossas forças e de que não vos deixou sós na Terra, sem amigos e sem amparo. Cada anjo de guarda tem o seu protegido, pelo qual vela, como o pai pelo filho. Alegra-se, quando o vê no bom caminho; sofre, quando ele lhe despreza os conselhos.Não receeis fatigar-nos com as vossas perguntas. Ao contrário, procurai estar sempre em relação conosco. Sereis assim mais fortes e mais felizes. São essas comunicações de cada um com o seu Espírito familiar que fazem sejam médiuns todos os homens, médiuns ignorados hoje, mas que se manifestarão mais tarde e se espalharão qual oceano sem margens, levando de roldão a incredulidade e a ignorância.”
A vivência do engenheiro Adolfo Celso Guidi está em perfeita consonância a este ensinamento. Segundo reportagem do periódico SEI [3]:
“Ele decidiu não cruzar os braços depois de saber que seu filho Vítor, de 9 anos, teria no máximo seis meses de vida. O menino era portador de gangliosidose GN1, doença rara causada pela falta de uma enzima fundamental à reposição das células cerebrais, a mesma enzima que atua na digestão do leite. Apesar do prognóstico sombrio, Adolfo começou a fazer, por sua própria conta, pesquisas diárias na biblioteca da Faculdade de Medicina do Paraná e, à noite, na internet, à procura de uma solução para o caso de Vítor. Mas, passados oito meses, nada.
“Eu comecei a chorar no meio das prateleiras e a clamar a Deus. Foi então que uma voz falou dentro de mim: pega esse livro” – conta ele. Foi naquela obra que Adolfo descobriu ser possível controlar a gangliosidose por meio da recolocação da enzima no organismo. Iniciou assim uma nova luta: saber onde obter a substância. E passou a escrever para laboratórios de todo o mundo. “Deus falou comigo que em dez dias eu ia receber a enzima” – revelou Adolfo. E de fato, em uma semana recebeu um chamado de um laboratório de Araucária (PR), pois havia chegado uma encomenda, da Europa, para ele. Desta forma, pôde partir para a fabricação do medicamento, que acabou sendo de baixo custo em farmácias de manipulação. “A medicação que eu desenvolvi foi através de processo homeopático. Homeopatia tem domínio público, então, não tem reserva de mercado. Isso foi providencial porque está à disposição da população. Qualquer pessoa que tem alergia ao leite pode se beneficiar dessa medicação, e os casos de gangliosidose também” – informou, acrescentando que o medicamento conseguiu frear bastante o processo de degeneração em Vítor, que é hoje a única pessoa no mundo a superar os 11 anos com a doença.”
Há diversos ângulos a serem analisados nesse emocionante caso, porém, concentremo-nos na atuação dos Espíritos Protetores. Será que seus avisos e conselhos estão relacionados apenas à nossa vida moral, ou também se relacionam à nossa vida particular? Mais uma vez, são os Espíritos Superiores que esclarecem, a Kardec e a nós, explicando-nos que: “Eles se esforçam para que vivais o melhor possível. Mas, quase sempre tapais os ouvidos aos avisos salutares e vos tornais desgraçados por culpa vossa.” [4]. É ainda o mestre lionês, comentando essa resposta, que nos esclarece:
“Os Espíritos protetores nos ajudam com seus conselhos, mediante a voz da consciência que fazem ressoar em nosso íntimo. Como, porém, nem sempre ligamos a isso a devida importância, outros conselhos mais diretos eles nos dão, servindo-se das pessoas que nos cercam. Examine cada um as diversas circunstâncias felizes ou infelizes de sua vida e verá que em muitas ocasiões recebeu conselhos de que se não aproveitou e que lhe teriam poupado muitos desgostos, se os houvera escutado.”
A história do Sr. Adolfo e Vítor ainda nos toca pela gratidão presente em todas as palavras do pai, sempre agradecendo a Deus a assistência recebida em todos os momentos, mormente nos mais críticos. Da mesma forma, os Espíritos Superiores, mais uma vez na obra “O Livro dos Espíritos” [5], instruem que, quando algo venturoso nos acontece, devemos agradecer “primeiramente a Deus, sem cuja permissão nada se faz; depois, aos bons Espíritos que foram os agentes da sua vontade.”

É por isso que a sempre doce Meimei nos recomenda, com carinho:
“Ora em silêncio e confia em Deus, esperando pela Divina Providência, porque Deus tem estradas, onde o mundo não tem caminhos.” [6]

Foto: Hendrio Belfort


Leia também, neste blog, a postagem “Atuação do Espírito Protetor”, “A Prece” e “A Prece (2)”.


Bons estudos!
Carla e Hendrio


Referências Bibliográficas:

[1] KARDEC, Allan. “O Livro dos Espíritos”. 66ª ed. Rio de Janeiro, RJ: FEB, 1987. Resposta à Questão 523.
[2] KARDEC, Allan. “O Livro dos Espíritos”. 66ª ed. Rio de Janeiro, RJ: FEB, 1987. Resposta à Questão 495.
[3] SEI (Serviço Espírita de Informação) de 1-15/8/2010 – no 2186, disponível em http://www.lfc.org.br/sei/boletim/2186.pdf. Acesso em 26.10.2010.

Outras informações sobre Adolfo, Vítor e a gangliosidose:
http://www.youtube.com/watch?v=UmtRu-IPMHE
http://www.youtube.com/watch?v=9Uzjp4jR8_w
http://www.youtube.com/watch?v=d3yw0z3qLzs&feature=relatedSEI

[4] KARDEC, Allan. “O Livro dos Espíritos”. 66ª ed. Rio de Janeiro, RJ: FEB, 1987. Resposta à Questão 524.
[5] KARDEC, Allan. “O Livro dos Espíritos”. 66ª ed. Rio de Janeiro, RJ: FEB, 1987. Resposta à Questão 535.
[6] XAVIER, Francisco Cândido. “Amizade”. Pelo Espírito Meimei. São Paulo, SP: IDEAL, 1977, capítulo 18 – “Ora e Confia”.