segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Teu recomeço

Mensagem de autoria de Joanna de Ângelis, desejando a todos um 2011 com muita inspiração e amparo da Espiritualidade Superior em nossos constantes recomeços de dia, de ano, de projetos, de vidas.

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A cada momento podes recomeçar uma tarefa edificante que ficou interrompida. Nunca é tarde para fazê-lo; todavia, é muito danoso não lhe dar prosseguimento.

Parar uma atividade por motivos superiores às forças é fenômeno natural. Deixá-la ao abandono é falência moral.

A vida é constituída de desafios constantes. Sai-se de um para outro em escala ascendente de valores e conquistas intelecto-morais.

Sempre há que se começar a viver de novo.

Foto: Carla Engel e Hendrio Belfort

Uma decepção que parece matar as aspirações superiores; um insucesso que se afigura como um desastre total; um ser querido que morreu e deixou uma lacuna impreenchível; uma enfermidade cruel que esfacelou as resistências; um vício que, por pouco, não conduziu à loucura; um prejuízo financeiro que anulou todas as futuras aparentes possibilidades; uma traição que poderia ter-te levado ao suicídio, são apenas motivos para recomeçar de novo e nunca para se desistir de lutar.

Não houvesse esses fenômenos negativos na convivência humana, no atual estágio de desenvolvimento das criaturas, e os estímulos para o progresso e a libertação seriam menores.

Colhido nas malhas de qualquer imprevisto ou já esperado problema aterrador, tem calma e medita, ao invés de te deixares arrastar pela convulsão que se irá estabelecer. Refugia-te na oração, a fim de ganhares força e inspiração divina.

Como tudo passa, isto também passará, e, quando tal acontecer, faze teu recomeço, a princípio, com cautela, parcimonioso, até que te reintegres novamente na ação plenificadora.

Teu recomeço é síndrome de próxima felicidade.



FRANCO, Divaldo Pereira. “Filho de Deus”. Pelo Espírito Joanna de Ângelis. Salvador, BA: Livraria Espírita “Alvorada” Editora, 1986. Capítulo 12.




segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Perante Jesus

Ao lermos a mensagem “Cristo nasceu? Onde? Quando?” (clique aqui para lê-la neste blog), de Vinícius, concluímos que, sempre que abrimos nosso coração e nossa mente para o Bem de nosso semelhante, temos o Natal em nosso Espírito — é o nascimento do Cristo em nossa mente e nosso coração.

Compartilhamos, agora, mensagem de autoria de André Luiz, para reflexão, com votos de um Feliz Natal e muita Paz.




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PERANTE JESUS

Em todos os instantes, reconhecer-se na presença invisível de Jesus, que nos ampara nas obras do Bem Eterno.
Aceitou-nos o Cristo de Deus desde os primórdios da Terra.
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Nos menores cometimentos, identificar a Vontade Superior, promovendo em toda parte a segurança e a felicidade das criaturas.
Cada coração humano é uma peça de luz potencial e Jesus é o Sublime Artífice.
*
Lembrar-se de que o Senhor trabalha por nós sem descanso.
Repouso indébito, deserção do dever.
*
Sem exclusão de hora ou local, precaver-se contra o reproche e a irreverência para com a Divina Orientação.
O acatamento é prece silenciosa.
*
Negar-se a interpretar o Eterno Amigo por vulgar revolucionário terreno.
Reconheçamo-lo como a Luz do Mundo.
*
Renunciar às comemorações natalinas que traduzam excessos de qualquer ordem, preferindo a alegria da ajuda fraterna aos irmãos menos felizes, como louvor ideal ao Sublime Natalício.
Os verdadeiros amigos do Cristo reverenciam-no em Espírito.
*
Identificar a posição que lhe cabe em relação a Jesus, o Emissário de Deus, evitando confrontos inaceitáveis.
O homem que exige seja o Cristo igual a ele, pretende, vaidosamente, nivelar-se com o Cristo.
*
Em todas as circunstâncias, eleger, no Senhor Jesus, o Mestre invariável de cada dia.
Somos o rebanho, Jesus é o Divino Pastor.


“E tudo quanto fizerdes, fazei-o de todo o coração, como ao Senhor, e não aos homens.” — Paulo. (Colossenses, 3:23)




VIEIRA, WALDO. “Conduta Espírita”. Pelo Espírito André Luiz. 22.ed. Rio de Janeiro, RJ: FEB, 2000. Capítulo 47.

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Reclamar menos

Pelo Espírito Emmanuel


“Tudo quanto, pois, quereis que os homens vos façam, assim fazei-o vós também a eles: porque esta é a lei e os profetas.” — Jesus (Mateus, 7:12)

Para extinguir a cultura do ódio nas áreas do mundo, imaginemos como seria melhor a vida na Terra se todos cumpríssemos fielmente o compromisso de reclamar menos.

Quantas vezes nos maltratamos, reciprocamente, tão-só por exigir que se realize, de certa forma, aquilo que os outros só conseguem fazer de outra maneira! De atritos mínimos, então partimos para atitudes extremas. Nessas circunstâncias costumamos recusar atenção e cortesia até mesmo àqueles a quem mais devemos consideração e amor; implantamos a animosidade onde a harmonia reinava antes; instalamos o pessimismo com a formulação de queixas desnecessárias ou criamos obstáculos onde as grandes realizações poderiam ter sido tão fáceis. Tudo porque não desistimos de reclamar — na maioria das ocasiões — por simples bagatelas.

De modo geral, as reivindicações e desinteligências repontam, mais frequentemente, entre aqueles que a Sabedoria Divina reuniu com os mais altos objetivos na edificação do bem, seja no círculo doméstico, seja no grupo de serviço ou de ideal. Por isso mesmo os conflitos e reprovações aparecem quase sempre no mundo, nas faixas de ação a que somos levados para ajudar e compreender. Censuras entre esposo e esposa, pais e filhos, irmãos e amigos. De pequenas brechas se desenvolvem os desastres morais que comprometem a vida comunitária: desentendimentos, rixas, perturbações e acusações.

Foto: Hendrio Belfort

Dediquemos à solução do problema as nossas melhores forças, buscando esquecer-nos, de modo a sermos mais úteis aos que nos cercam, e estejamos convencidos de que a segurança e o êxito de quaisquer receitas de progresso e elevação solicitam de nós a justa fidelidade ao programa que a vida estabelece em toda parte, a favor de nós todos: reclamar menos e servir mais.



XAVIER, Francisco Cândido. “Segue-Me!...”. Pelo Espírito Emmanuel. 7.ed. Matão, SP: Casa Editora o Clarim, 1994. “Reclamar menos”.


segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Família Espiritual

Nosso núcleo familiar consanguíneo é o primeiro agrupamento em que nos compete fazer o Bem. Mas não é o único, pois nossa família é a Humanidade inteira.

O Dicionário Aurélio define que família diz respeito a laços de parentesco. Contudo, não restringe o conceito a este tipo de afinidade: estipula que, por extensão, família significa “grupo de indivíduos que professam o mesmo credo, têm os mesmos interesses, a mesma profissão, são do mesmo lugar de origem etc.” [1].

Jesus explica o conceito de família espiritual na passagem do Evangelho de Mateus, capítulo 12, versículos 46 a 50:
“Enquanto ele ainda falava à multidão, a mãe e os irmãos dele estavam de fora, procurando falar-lhe. E alguém disse-lhe: ‘olha, tua mãe e teus irmãos estão lá fora e procuram falar-te’. Mas ele respondeu ao que lhe falava: ‘quem é minha mãe e quem são meus irmãos’? E estendendo a mão para seus discípulos, disse: ‘Eis minha mãe e meus irmãos; porque aquele que fizer a vontade de meu Pai que está nos céus, esse é meu irmão, irmã e mãe!’”
Allan Kardec, o Codificador da Doutrina Espírita, no Capítulo XIV de “O Evangelho Segundo o Espiritismo”, assim analisa esta passagem evangélica:
“Os que encarnam numa família, sobretudo como parentes próximos, são, as mais das vezes, Espíritos simpáticos, ligados por anteriores relações, que se expressam por uma afeição recíproca na vida terrena. Mas, também pode acontecer sejam completamente estranhos uns aos outros esses Espíritos, afastados entre si por antipatias igualmente anteriores, que se traduzem na Terra por um mútuo antagonismo, que aí lhes serve de provação. Não são os da consanguinidade os verdadeiros laços de família e sim os da simpatia e da comunhão de ideias, os quais prendem os Espíritos antes, durante e depois de suas encarnações. Segue-se que dois seres nascidos de pais diferentes podem ser mais irmãos pelo Espírito, do que se o fossem pelo sangue. Podem então atrair-se, buscar-se, sentir prazer quando juntos, ao passo que dois irmãos consanguíneos podem repelir-se, conforme se observa todos os dias: problema moral que só o Espiritismo podia resolver pela pluralidade das existências. (Cap. IV, nº 13.)
Há, pois, duas espécies de famílias: as famílias pelos laços espirituais e as famílias pelos laços corporais. Duráveis, as primeiras se fortalecem pela purificação e se perpetuam no mundo dos Espíritos, através das várias migrações da alma; as segundas, frágeis como a matéria, se extinguem com o tempo e muitas vezes se dissolvem moralmente, já na existência atual. Foi o que Jesus quis tornar compreensível, dizendo de seus discípulos: Aqui estão minha mãe e meus irmãos pelos laços do Espírito, pois todo aquele que faz a vontade de meu Pai que está nos céus é meu irmão, minha irmã e minha mãe.” [2]
Carlos Torres Pastorino, analisando o versículo 46 do capítulo 12 do Evangelho segundo Mateus (“Quem é minha mãe, e quem são meus irmãos?”), pondera:
“A pergunta, aparentemente desrespeitosa para com Sua mãe, vem demonstrar que Jesus, em Sua missão, não está preso pelos laços sanguíneos, tão frágeis que só vigoram numa dada encarnação. A família espiritual é muito mais sólida, pois os vínculos são espirituais (sintônicos) e não materiais (sangue e células perecíveis). Jesus não pode subordinar-se às exigências do parentesco terreno, mesmo em se tratando de Sua mãe. Com o olhar benévolo sobre os que O rodeavam, Jesus lança Sua doutrina nítida: o ideal é superior aos laços de sangue; a família espiritual é mais importante que a natural e sobreleva a ela.” [3]
Kardec, no mesmo diapasão, esclarece, no item 18 do Capítulo IV de “O Evangelho Segundo o Espiritismo”:
“No espaço, os Espíritos formam grupos ou famílias entrelaçados pela afeição, pela simpatia e pela semelhança das inclinações. Ditosos por se encontrarem juntos, esses Espíritos se buscam uns aos outros. (...) Se uns encarnam e outros não, nem por isso deixam de estar unidos pelo pensamento.” [4]
Na obra “Entre a Terra e o Céu”, Clarêncio orienta:
“A família espiritual é uma constelação de Inteligências, cujos membros estão na Terra e nos Céus. Aquele que já pode ver mais um pouco auxilia a visão daquele que ainda se encontra em luta por desvencilhar-se da própria cegueira. Todos nós, por mais baixo nos revelemos na escala da evolução, possuímos, não longe de nós, alguém que nos ama a impelir-nos para a elevação. Isso podemos verificar nos círculos da matéria mais densa. Temos constantemente corações que nos devotam estima e se consagram ao nosso bem.” [5]

Foto: Hendrio Belfort

Naturalmente, essas passagens não nos devem jamais levar à conclusão de que a família em que ora encarnamos é de pouca importância. Não nascemos por acaso ou acidente em nenhum círculo familiar. Há pessoas que, em momentos de rebeldia, afirmam que “não pediram para nascer”. Contudo, ainda que não nos lembremos, a maioria da Humanidade terrestre pede novas chances de aprendizado e reparação, dentro de nossas possibilidades de maturidade moral e intelectual. Nascemos onde, quando e com quem precisávamos, como lemos, por exemplo, nas respostas às questões 184, 269, 334, 335, 338, 393, 572, 574, 950 e 986 de “O Livro dos Espíritos”.

Portanto, temos, sim, de investir nosso melhor em nossa família consanguínea, pois certamente temos muito a aprender e muito bem a fazer a esses Espíritos. A lição trazida na passagem evangélica acima citada é que fazemos parte da família das Humanidades, não só de toda a Terra, mas de todo o Universo — e temos o dever de fazer o Bem a todos, a começar pela família que temos em casa, mas não restritos a ela. O Espírito Galileu corrobora essa ideia, no Capítulo VI de “A Gênese”:
“Uma mesma família humana foi criada na universalidade dos mundos e os laços de uma fraternidade que ainda não sabeis apreciar foram postos a esses mundos. Se os astros que se harmonizam em seus vastos sistemas são habitados por inteligências, não o são por seres desconhecidos uns dos outros, mas, ao contrário, por seres que trazem marcado na fronte o mesmo destino, que se hão de encontrar temporariamente, segundo suas funções de vida, e encontrar de novo, segundo suas mútuas simpatias. É a grande família dos Espíritos que povoam as terras celestes; é a grande irradiação do Espírito divino que abrange a extensão dos céus e que permanece como tipo primitivo e final da perfeição espiritual.” [6]
Espíritos de maior elevação moral e intelectual, os quais, por seu empenho no Bem, atingem o direito de viver em mundos mais felizes, não desfazem seus laços de afeição a quem amam e que, temporariamente, seguem vivendo na Terra ou em outros mundos de Espíritos em etapas evolutivas anteriores. Observemos o exemplo do Espírito denominado Samuel Filipe, pessoa sempre empenhada em fazer o melhor por seu semelhante, o que o qualificou a fazer uma transição tranquila para o mundo espiritual. Questionado sobre o local onde habitara quando evocado e sobre sua lembrança de seus entes queridos, assim argumentou:
“P. Esse mundo tão novo e comparado ao qual nada vale o nosso, bem como os numerosos amigos que nele reencontrastes, fizeram-vos esquecer a família e amigos encarnados?
— R. Se os tivesse esquecido seria indigno da felicidade de que gozo. Deus não recompensa o egoísmo, pune-o. O mundo em que me vejo pode fazer com que desdenhe a Terra, mas não os Espíritos nela encarnados. Somente entre os homens é que a prosperidade faz esquecer os companheiros de infortúnio. Muitas vezes venho visitar os que me são caros, exultando com a recordação que de mim guardaram; assisto às suas diversões, e, atraído por seus pensamentos, gozo se gozam ou sofro se sofrem.” [7]
A Terra, apesar de ainda estar longe da condição de mundo feliz, vem demonstrando constante evolução. Kardec comenta a esse respeito em “A Gênese”, lançado em 06 de janeiro de 1868, já observando, há quase 143 anos, movimentos mais comumente divulgados nos dias atuais:
“Hoje, a Humanidade está madura para lançar o olhar a alturas que nunca tentou divisar, a fim de nutrir-se de ideias mais amplas e compreender o que antes não compreendia. (...)
Essa fase já se revela por sinais inequívocos, por tentativas de reformas úteis e que começam a encontrar eco. Assim é que vemos fundar-se uma imensidade de instituições protetoras, civilizadoras e emancipadoras, sob o influxo e por iniciativa de homens evidentemente predestinados à obra da regeneração; que as leis penais se vão apresentando dia a dia impregnadas de sentimentos mais humanos. Enfraquecem-se os preconceitos de raça, os povos entram a considerar-se membros de uma grande família; pela uniformidade e facilidade dos meios de realizarem suas transações, eles suprimem as barreiras que os separavam e de todos os pontos do mundo reúnem-se em comícios universais, para as justas pacíficas da inteligência.
Falta, porém, a essas reformas uma base que permita se desenvolvam, completem e consolidem; falta uma predisposição moral mais generalizada, para fazer que elas frutifiquem e que as massas as acolham. Ainda aí há um sinal característico da época, porque há o prelúdio do que se efetuará em mais larga escala, à proporção que o terreno se for tornando mais favorável.” [8]
Ao estudarmos as palavras de Jesus, assim como analisando, pela História, a redução das fronteiras entre os povos, bem como estudando, pela Física, a interligação de todos pelo Fluido Universal, sempre chegamos à mesma conclusão: todos somos filhos do mesmo Criador, e, portanto, uma única família, à qual nos compete auxiliar levando todo o Bem que sabemos praticar, e aprendendo para praticar todo o Bem que ainda nos caiba aprender.


Leia também, neste blog, as postagens “Tranquilidade no Retorno à Pátria Espiritual”, “Muitas Moradas”, “Amar o Próximo”, “Evangelho no Lar e no Coração”, “Conscientemente”, “Lei do Progresso”, “Fluido Universal” e “A Prova da Escolha das Provas”.


Bons estudos!
Carla e Hendrio — comemorando nossa centésima postagem neste blog! :-)


Referências:

[1] HOLANDA, Aurélio Buarque de. “Novo Dicionário Eletrônico Aurélio”. Versão 5.0 de 2004. Positivo Informática. Família.
[2] KARDEC, Allan. “O Evangelho Segundo o Espiritismo”. 97.ed. Rio de Janeiro, RJ: FEB, 1987. Capítulo XIV, item 8.
[3] PASTORINO, Carlos Torres. “Sabedoria do Evangelho”. Rio de Janeiro, RJ: Sabedoria, 1964. Volume 3. A Família de Jesus.
[4] KARDEC, Allan. “O Evangelho Segundo o Espiritismo”. 97.ed. Rio de Janeiro, RJ: FEB, 1987. Capítulo IV, item 18.
[5] XAVIER, Francisco Cândido. “Entre a Terra e o Céu”. 17.ed. Rio de Janeiro, RJ: FEB, 1997. Cap. 33.
[6] KARDEC, Allan. “A Gênese”. 34.ed. Rio de Janeiro, RJ: FEB, 1991. Capítulo VI, item 56.
[7] KARDEC, Allan. “O Céu e o Inferno”. 37.ed. Rio de Janeiro, RJ: FEB, 1991. Segunda parte, Capítulo II. Samuel Filipe.
[8] KARDEC, Allan. “A Gênese”. 34.ed. Rio de Janeiro, RJ: FEB, 1991. Capítulo XVIII, itens 20 e 21.




quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Cuida de Ti

Pelo Espírito Bezerra de Menezes


Envergaste o uniforme do discípulo do Cristo na ânsia de aprender, servir, progredir, alcançar vitórias espirituais.
Abraçado ao Evangelho do Mestre, guardas no coração a sintonia maior, encantado com as lições, sempre novas, que surgem cada dia para teu entendimento, elucidando-te sobre as questões mais graves do caminho a ser percorrido.
Entretanto, não basta envergar o uniforme ou possuir o título de cristão.
Não só o estudo nos minutos de lazer ou a leitura apressada nas conduções para o trabalho.
Tornar-se discípulo do Mestre Divino requer algo mais do esforço individual.
Mister se torna que cuides de ti.
Uma luz sublime está em teu caminho.
És homem, criatura humana em seu tríplice aspecto, físico, perispiritual, espiritual.
Trazes contigo o sinal do Cristo. Pertences à fileira dos que combatem as sombras e estendem a luz como farol divino, por toda a Terra.
És muito, meu filho! Não te amesquinhes diante de tanta realidade. Não te desprezes ante o lugar que te compete. Ao contrário, faze questão de ser o filho do Alto, o discípulo do Mestre e Senhor, digno da tarefa sagrada da própria redenção.
Sonda o teu íntimo, cuida de ti.
Teu corpo físico é o vaso sagrado por onde flui o pensamento, teu sinal de criatura animada pela vida imortal.
Cuida do vaso sublime que te agasalha os ideais, que te proporciona possibilidades mil de ascensão aos planos mais altos.
Cuida de ti, enobrecendo-te através dos estudos, da prática da caridade.
Recebeste a luz do Pentecoste. Exercita, com ternura, as lições do teu Mestre e aproveita o ensejo que te é proporcionado na existência presente.

Foto: Hendrio Belfort

Eleva tua mente ao Senhor da Vinha, sintoniza-te com a vontade que te dirige os passos, para não te desviares da rota traçada.
Trazes a missão de tua redenção e com ela a grande tarefa de levar adiante o estandarte do Cristo.
Não temas confusões, não te amedrontes, não te deixes abater.
Cuida, pois, de ti. Examina o santuário íntimo, convence-te do bem a fazer e segue sempre, porque “quem perseverar até o fim será salvo”.
Desça sobre teu coração a força do teu Mestre, seja em teu caminho a luz do Eterno.

Bezerra


PAIVA, Maria Cecília. “Garimpeiros do Além”. Pelos Espíritos Bezerra de Menezes e Outros. Juiz de Fora, MG: Instituto Maria, 1985. Primeira Parte. “Cuida de Ti”.

domingo, 21 de novembro de 2010

“Os últimos serão os primeiros, e os primeiros serão os últimos.”

Qual o nosso foco primordial ao realizar todas as atividades do dia-a-dia, sejam elas em casa ou fora, sejam remuneradas ou voluntárias? Riqueza, reconhecimento, status, a alegria de ter feito o Bem?

Jesus faz alusão à expressão “Os últimos serão os primeiros, e os primeiros serão os últimos” em várias passagens:
  • Na parábola dos trabalhadores da vinha (Mateus 20:1-16);
  • Ao explanar os desafios morais dos materialmente ricos (Mateus 19:23-30; Marcos 10:23-31); e
  • Ao se referir à “porta estreita” — ou seja, o caminho da evolução moral e desapego ao material ainda ser escolhido e trilhado por poucos na Terra (Lucas 13:23-30).
Huberto Rohden, em sua obra “Sabedoria das Parábolas” [1], referindo às cinco turmas de trabalhadores que foram à vinha, pondera:
“As quatro primeiras turmas são dos egos virtuosos, recompensados por sua virtuosidade. Os da última turma são os Eus sapientes, não recompensados, mas simplesmente agraciados. O homem virtuoso não é capaz de trabalhar se não receber nada em retribuição, não na vida presente, mas na vida futura, pois ele não é do egoísmo terrestre, mas do egoísmo celeste, como diz Bergson. (...) As quatro primeiras turmas da parábola eram ‘servos úteis’, os da última turma eram ‘servos inúteis’. Estes últimos não trabalharam com intuito lucrativo; se receberam o denário, não o receberam como recompensa, mas como dom gratuito (...). Nenhum homem pode ter direito diante de Deus. Nenhum homem pode ter a pretensão de ser o ‘credor’ de Deus, e considerar Deus como seu ‘devedor’. O Criador não pode dever nada à criatura.” O evangelista Lucas (17:10) cita as palavras de Jesus a respeito: “Assim também vós, depois de haverdes feito tudo o que vos foi ordenado, dizei: Somos servos inúteis, fizemos o que devíamos fazer”.
A disponibilidade para o trabalho no Bem, associada à sua prática, nos proporcionam a Plenitude, uma percepção de si próprio ligado à Luz, finalmente percebendo as bênçãos que os filhos de Deus sempre recebem do Alto, porém somente são usufruídas quando estes se colocam receptivos às mesmas. E tal sensação não é quantificável em tempo ou valores ordenáveis em primeiro ou último.

Independente de sermos materialmente ricos ou pobres, todos temos de buscar ser úteis ao nosso semelhante, em toda atividade que empreendermos. À questão 675 de “O Livro dos Espíritos” [2] lemos que “toda ocupação útil é trabalho”. Com o foco em fazer o Bem, naturalmente entendemos os bens materiais como meios de tornar o mundo um lugar melhor para a coletividade. Assim, abandona-se a preocupação primordial de uma ascensão material, terra-a-terra, horizontal, do mais pobre para o mais rico em posses materiais, que se desgastam com o tempo. Passa-se a buscar uma ascensão moral, vertical, ligada com o Mais Alto, do egoísta (primeiro “eu”) para o altruísta (primeiro o “outro”), uma riqueza que o tempo não consome e que ninguém consegue roubar.


A assertiva de Jesus em Mateus 20:16 (“Os últimos serão os primeiros, e os primeiros serão os últimos.”) expressa a distinção entre a valorização espiritual e material das várias situações da vida. O que parece importante no conceito material é menos importante no conceito espiritual. Assim, aqueles que cuidam de se tornarem últimos no conceito do mundo materialista, ou seja, não valorizando (ainda que, por décadas de algumas encarnações, possuindo) o que o mundo materialista preconiza como importante, tornam-se os primeiros no plano espiritual, plano real da vida. Da mesma forma, aqueles obcecados em se tornar os primeiros no conceito ilusório do mundo das posses materiais, ligando a sua vida a esses valores passageiros, permanecem imaturos, ou seja, últimos no plano espiritual. O importante é considerar que não estamos estanques em nenhuma dessas situações (primeiros ou últimos), mas sempre a caminho para melhorarmos, até que todos sejamos primeiros — não em ordem de chegada, mas em amadurecimento moral.

Foto: Carla Engel

Finalizamos com as palavras do Espírito Verdade [3], lembrando-nos da importância da vitória, em nossa mente e nosso coração, do altruísmo sobre o egoísmo:
“Aproxima-se o tempo em que se cumprirão as coisas anunciadas para a transformação da Humanidade. Ditosos serão os que houverem trabalhado no campo do Senhor, com desinteresse e sem outro móvel, senão a caridade! Seus dias de trabalho serão pagos pelo cêntuplo do que tiverem esperado. Ditosos os que hajam dito a seus irmãos: ‘Trabalhemos juntos e unamos os nossos esforços, a fim de que o Senhor, ao chegar, encontre acabada a obra’, porquanto o Senhor lhes dirá: ‘Vinde a mim, vós que sois bons servidores, vós que soubestes impor silêncio aos vossos ciúmes e às vossas discórdias, a fim de que daí não viesse dano para a obra!’”


Leia também, neste blog, as postagens “A Porta Estreita”, “O amor cobre uma multidão de pecados”, “A riqueza” e “Egos virtuosos e Eus sapientes”.


Bons estudos!
Carla e Hendrio


Referências:

[1] ROHDEN, Huberto. “Sabedoria das Parábolas”. São Paulo, SP: Editora Martin Claret, 2004. “Os trabalhadores na vinha”.
[2] KARDEC, Allan. “O Livro dos Espíritos”. 66ª ed. Rio de Janeiro, RJ: FEB, 1987. Questão 675.
[3] KARDEC, Allan. “O Evangelho Segundo o Espiritismo”. 97ª ed. Rio de Janeiro, RJ: FEB, 1987. Capítulo XX, item 5.




segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Deus ajuda...

“Quando te achares na incerteza, invoca o teu bom Espírito, ou ora a Deus, soberano senhor de todos, e ele te enviará um de seus mensageiros, um de nós.” [1]

Situações surgem em nossas vidas nas quais toda providência possível já foi tomada e, ainda, há incerteza. Momentos de crise, que, na verdade, na acepção do termo grego “krisis”, significam momentos de decisão, de virada, e crescimento. Nesses momentos, em que a alma se abre a Deus, num clamor, tornamo-nos mais receptivos ao bem que constantemente flui sobre nós.

Exemplifiquemos com uma cena do filme “Nosso Lar”: quando André Luiz, desencarnado, em sofrimento no Umbral, finalmente cedeu e pediu ajuda, sinceramente, através de uma prece, teve a possibilidade de ver e ser socorrido pela equipe que já o acompanhava há tempos... e apenas aguardava o seu momento de despertar. Não significa um toque mágico que o tenha transformado. O decorrer do filme, cuja história sugerimos ler, demonstra que ainda houve muitas lutas. Mas aquele momento de “crise” foi superado.

A ajuda do Alto é permanente. Todos temos pelo menos um bom Espírito, o anjo da guarda, a nos orientar no bom caminho. A sintonia com ele depende exclusivamente de nós. Em outra oportunidade, neste blog, já apresentamos o tema Sintonia Espiritual. São os Espíritos São Luís e Santo Agostinho, em resposta à questão 495, proposta por Allan Kardec, na obra “O Livro dos Espíritos”, que nos esclarecem sobre a atuação desse Espírito protetor [2]:
“Aos que considerem impossível que Espíritos verdadeiramente elevados se consagrem a tarefa tão laboriosa e de todos os instantes, diremos que nós vos influenciamos as almas, estando embora muitos milhões de léguas distantes de vós. O espaço, para nós, nada é, e, não obstante viverem noutro mundo, os nossos Espíritos conservam suas ligações com os vossos. Gozamos de qualidades que não podeis compreender, mas ficai certos de que Deus não nos impôs tarefa superior às nossas forças e de que não vos deixou sós na Terra, sem amigos e sem amparo. Cada anjo de guarda tem o seu protegido, pelo qual vela, como o pai pelo filho. Alegra-se, quando o vê no bom caminho; sofre, quando ele lhe despreza os conselhos.Não receeis fatigar-nos com as vossas perguntas. Ao contrário, procurai estar sempre em relação conosco. Sereis assim mais fortes e mais felizes. São essas comunicações de cada um com o seu Espírito familiar que fazem sejam médiuns todos os homens, médiuns ignorados hoje, mas que se manifestarão mais tarde e se espalharão qual oceano sem margens, levando de roldão a incredulidade e a ignorância.”
A vivência do engenheiro Adolfo Celso Guidi está em perfeita consonância a este ensinamento. Segundo reportagem do periódico SEI [3]:
“Ele decidiu não cruzar os braços depois de saber que seu filho Vítor, de 9 anos, teria no máximo seis meses de vida. O menino era portador de gangliosidose GN1, doença rara causada pela falta de uma enzima fundamental à reposição das células cerebrais, a mesma enzima que atua na digestão do leite. Apesar do prognóstico sombrio, Adolfo começou a fazer, por sua própria conta, pesquisas diárias na biblioteca da Faculdade de Medicina do Paraná e, à noite, na internet, à procura de uma solução para o caso de Vítor. Mas, passados oito meses, nada.
“Eu comecei a chorar no meio das prateleiras e a clamar a Deus. Foi então que uma voz falou dentro de mim: pega esse livro” – conta ele. Foi naquela obra que Adolfo descobriu ser possível controlar a gangliosidose por meio da recolocação da enzima no organismo. Iniciou assim uma nova luta: saber onde obter a substância. E passou a escrever para laboratórios de todo o mundo. “Deus falou comigo que em dez dias eu ia receber a enzima” – revelou Adolfo. E de fato, em uma semana recebeu um chamado de um laboratório de Araucária (PR), pois havia chegado uma encomenda, da Europa, para ele. Desta forma, pôde partir para a fabricação do medicamento, que acabou sendo de baixo custo em farmácias de manipulação. “A medicação que eu desenvolvi foi através de processo homeopático. Homeopatia tem domínio público, então, não tem reserva de mercado. Isso foi providencial porque está à disposição da população. Qualquer pessoa que tem alergia ao leite pode se beneficiar dessa medicação, e os casos de gangliosidose também” – informou, acrescentando que o medicamento conseguiu frear bastante o processo de degeneração em Vítor, que é hoje a única pessoa no mundo a superar os 11 anos com a doença.”
Há diversos ângulos a serem analisados nesse emocionante caso, porém, concentremo-nos na atuação dos Espíritos Protetores. Será que seus avisos e conselhos estão relacionados apenas à nossa vida moral, ou também se relacionam à nossa vida particular? Mais uma vez, são os Espíritos Superiores que esclarecem, a Kardec e a nós, explicando-nos que: “Eles se esforçam para que vivais o melhor possível. Mas, quase sempre tapais os ouvidos aos avisos salutares e vos tornais desgraçados por culpa vossa.” [4]. É ainda o mestre lionês, comentando essa resposta, que nos esclarece:
“Os Espíritos protetores nos ajudam com seus conselhos, mediante a voz da consciência que fazem ressoar em nosso íntimo. Como, porém, nem sempre ligamos a isso a devida importância, outros conselhos mais diretos eles nos dão, servindo-se das pessoas que nos cercam. Examine cada um as diversas circunstâncias felizes ou infelizes de sua vida e verá que em muitas ocasiões recebeu conselhos de que se não aproveitou e que lhe teriam poupado muitos desgostos, se os houvera escutado.”
A história do Sr. Adolfo e Vítor ainda nos toca pela gratidão presente em todas as palavras do pai, sempre agradecendo a Deus a assistência recebida em todos os momentos, mormente nos mais críticos. Da mesma forma, os Espíritos Superiores, mais uma vez na obra “O Livro dos Espíritos” [5], instruem que, quando algo venturoso nos acontece, devemos agradecer “primeiramente a Deus, sem cuja permissão nada se faz; depois, aos bons Espíritos que foram os agentes da sua vontade.”

É por isso que a sempre doce Meimei nos recomenda, com carinho:
“Ora em silêncio e confia em Deus, esperando pela Divina Providência, porque Deus tem estradas, onde o mundo não tem caminhos.” [6]

Foto: Hendrio Belfort


Leia também, neste blog, a postagem “Atuação do Espírito Protetor”, “A Prece” e “A Prece (2)”.


Bons estudos!
Carla e Hendrio


Referências Bibliográficas:

[1] KARDEC, Allan. “O Livro dos Espíritos”. 66ª ed. Rio de Janeiro, RJ: FEB, 1987. Resposta à Questão 523.
[2] KARDEC, Allan. “O Livro dos Espíritos”. 66ª ed. Rio de Janeiro, RJ: FEB, 1987. Resposta à Questão 495.
[3] SEI (Serviço Espírita de Informação) de 1-15/8/2010 – no 2186, disponível em http://www.lfc.org.br/sei/boletim/2186.pdf. Acesso em 26.10.2010.

Outras informações sobre Adolfo, Vítor e a gangliosidose:
http://www.youtube.com/watch?v=UmtRu-IPMHE
http://www.youtube.com/watch?v=9Uzjp4jR8_w
http://www.youtube.com/watch?v=d3yw0z3qLzs&feature=relatedSEI

[4] KARDEC, Allan. “O Livro dos Espíritos”. 66ª ed. Rio de Janeiro, RJ: FEB, 1987. Resposta à Questão 524.
[5] KARDEC, Allan. “O Livro dos Espíritos”. 66ª ed. Rio de Janeiro, RJ: FEB, 1987. Resposta à Questão 535.
[6] XAVIER, Francisco Cândido. “Amizade”. Pelo Espírito Meimei. São Paulo, SP: IDEAL, 1977, capítulo 18 – “Ora e Confia”.


terça-feira, 19 de outubro de 2010

Vigiai e Orai

“Nem ao menos uma hora pudestes vigiar comigo? Vigiai e orai, para que não entreis em tentação; o espírito, na verdade, está pronto, mas a carne é fraca.” (Mateus 26:40-41)

“Por que dormis? Levantai-vos e orai, para que não entreis em tentação.”

(Lucas 22:46)

“Quantas dissensões e funestas disputas se teriam evitado com um pouco de moderação e menos suscetibilidade!

Quantas doenças e enfermidades decorrem da intemperança e dos excessos de todo gênero!” [1]


Mantermo-nos despertos, e em sintonia elevada, permite estarmos atentos e bem inspirados a toda oportunidade de fazer o Bem, a nosso semelhante e, por decorrência, a nós próprios. Nem sempre o que alguns formadores de opinião ou a mídia tentam ditar como atitudes, comportamentos ou programas da moda, se identificam com esses bons propósitos. Milhares de mentes pouco despertas e sintonizadas com padrões perturbados são, assim, influenciadas coletivamente, atrasando sua marcha evolutiva. Busquemos uma cultura de higiene mental, fazendo, assim, muito Bem a nós mesmos. Este o convite de Jesus nas passagens evangélicas acima destacadas.


Vigiai e orai — Despertai e orai

O escritor Carlos Torres Pastorino entende que um termo mais adequado do que o tradicionalmente traduzido como “vigiai”, na citação acima, do Evangelho segundo Mateus (também encontrada em Marcos 14:37-38), é “despertai”, de forma consistente com a passagem Lucas 22:46. Em suas palavras:
“Não usamos o verbo tradicionalmente empregado aqui: vigiai, porque — embora o latim vigilare signifique “despertar”, e apesar de “estado de vigília” se oponha a “estado de sono” — o “vigiar” dá ideia, atualmente, de “olhar com atenção para ver quem venha”, muitas vezes até chegando a colocar-se a mão em pala acima dos olhos, como natural mímica de “vigiar”... Portanto, DESPERTAR é o que melhor exprime a ideia do texto original: é indispensável acordar, deixar de dormir, a fim de não perder o momento solene e precioso da chegada do Filho do Homem.” [2]

“Quantas vezes aquilo que nos revolta, seria um passo à frente em nossa evolução, e perdemos a oportunidade! Estejamos despertos, atentos, bem acordados, e permaneçamos em oração, para aproveitar todas as ocasiões de subir.” [3]
Os momentos da chegada do Filho do Homem, as ocasiões de subirmos, não são apenas ocorrências místicas ou épicas, mas eventos que surgem diariamente, bastando nossa atenção para vê-los e, quando ocorrerem, seguirmos as inspirações elevadas que Bons Espíritos sempre nos ofertam. Trata-se das oportunidades que se nos oferecem, todos os dias, de fazermos o Bem a nosso semelhante, onde decidimos por atuar efetivamente em seu auxílio. Basta permanecermos vigilantes, como relatado na parábola do bom samaritano (Lucas 10:25-37), e encontraremos tais oportunidades constantemente, em nossa casa e em qualquer local onde estivermos.

Aurora Austral observada da Estação Espacial Internacional (ISS).


Comum, normal e bom

Não é porque algo está na moda, ou porque algum proceder é dito “normal”, que deve ser feito também por nós. O escritor francês Jean Yves Leloup, em 1995 [4], criou o termo “normose” para designar o fenômeno em que algo, por ser feito ou aceito por muitos e, assim, tornado comum, passa a ser visto como normal, tornando aceitável até o moralmente inaceitável. Nas palavras do autor Pierre Weil a respeito desse termo, encontramos:
“Normose é o resultado de um conjunto de crenças, opiniões, atitudes e comportamentos considerados normais, logo em torno dos quais existe um consenso de normalidade, mas que apresentam consequências patológicas e/ou letais. Alguns exemplos de normoses: usos alimentares como o açúcar, o uso de agrotóxicos e inseticidas, o consumo de drogas como o cigarro ou o álcool, o paradigma newtoniano cartesiano e a fantasia dualista sujeito-objeto em ciência, o consumismo associado à destruição da vida no planeta.” [5]
Fiquemos, portanto, atentos para analisar o que recebemos de sugestões de consumo e atitudes, pois nem tudo que se diga normal serve para o nosso bem. Lembremos das sábias palavras do apóstolo Paulo de Tarso:
“Todas as coisas são lícitas, mas nem todas as coisas convêm; todas são lícitas, mas nem todas edificam.” (1 Coríntios 10:23)


Obsessão pandêmica

Em complemento à passagem evangélica acima, o Espírito Manoel Philomeno de Miranda traz importante alerta para as consequências em âmbito pessoal e coletivo de más escolhas. Sintonias menos dignas levam multidões a uma influenciação negativa. Somente com cada um fazendo sua parte, permanecendo despertos e na boa sintonia da prece, evita-se essa pandemia de vibrações de baixa frequência:
“Os estímulos exagerados ao prazer e não ao comedimento abrem as comportas morais para a simbiose emocional e se torna difícil estabelecer a fronteira separativa do que é lícito e se pode fazer em relação ao tudo conseguir devendo o máximo fruir.
O espetáculo, pois, da obsessão pandêmica choca e comove, sensibilizando o inefável amor de Jesus, que promove as reencarnações de nobres Mensageiros para o esclarecimento da sociedade a respeito da angustiante situação, através da reconquista ética do amor, do dever, da fraternidade, do perdão, da oração e da caridade.
(...)
O vigiai e orai torna-se de incomum significado terapêutico, neste momento, a fim de prevenir a sociedade a respeito da infeliz pandemia, assim como para libertar os ergastulados nas amarras e prisões da momentânea enfermidade moral-espiritual.” [6]

O autor espiritual André Luiz ilustra como os Espíritos desencarnados e menos apegados à matéria visualizam a atmosfera de um ambiente contaminado por pensamentos materialistas e egoístas:
“Reconhecia, de longe, o peso considerável do ar que se agarrava à superfície. Tive a impressão de que nadávamos em alta zona do mar de oxigênio, vendo em baixo, em águas turvas, enorme quantidade de irmãos nossos a se arrastarem pesadamente, metidos em escafandros muito densos, no fundo lodoso do oceano. (...)
— Observem os grandes núcleos pardacentos ou completamente obscuros!... São zonas de matéria mental inferior, matéria que é expelida incessantemente por certa classe de pessoas. (...)
— Tanto assalta o homem a nuvem de bactérias destruidoras da vida física, quanto as formas caprichosas das sombras que ameaçam o equilíbrio mental. Como veem, o “orai e vigiai” do Evangelho tem profunda importância em qualquer situação e a qualquer tempo. Somente os homens de mentalidade positiva, na esfera da espiritualidade superior, conseguem sobrepor-se às influências múltiplas de natureza menos digna. (...)
— (...) Não podemos considerar somente, no capítulo das moléstias, a situação fisiológica propriamente dita, mas também o quadro psíquico da personalidade encarnada. Ora, se temos a nuvem de bactérias produzidas pelo corpo doente, temos a nuvem de larvas mentais produzidas pela mente enferma, em identidade de circunstâncias. Desse modo, na esfera das criaturas desprevenidas de recursos espirituais, tanto adoecem corpos, como almas. No futuro, por esse mesmo motivo, a medicina da alma absorverá a medicina do corpo. Poderemos, na atualidade da Terra, fornecer tratamento ao organismo de carne. Semelhante tarefa dignifica a missão do consolo, da instrução e do alívio. Mas, no que concerne à cura real, somos forçados a reconhecer que esta pertence exclusivamente ao homem-espírito.” [7]


Higiene do corpo e do Espírito

Na mitologia grega, Hygia era a filha do deus da Medicina, Asklepios. Hygia era a deusa da saúde e limpeza. De seu nome surgiu o ramo da medicina denominado higiene, o qual visa à prevenção das doenças. Na mitologia romana, Hygia se chama Salus, de onde se origina a palavra “salutar”.

A preocupação com a higiene do corpo é muito importante, usualmente valorizada por religiosos e materialistas. Tão ou mais importante, conquanto de relevância nem sempre tão reconhecida, é a higiene do Espírito, ou seja, a prevenção da ocorrência de pensamentos, palavras e ações doentias, incompatíveis com o Bem de nosso semelhante. O direcionamento de nossos pensamentos e ações para o Bem, é passo fundamental para nossa saúde; para a saúde de nosso próximo e para a saúde de nosso próprio Planeta.


Leia também, neste blog, as postagens “Focos de desequilíbrio espiritual”, “A lei de talião”, “Amar o Próximo”, “Examinai Tudo. Retende o Bem.”, “A Prece 1 e 2”, “Influência do Meio” e “Mens sana in corpore sano”.


Bons estudos!
Carla e Hendrio


Referências:

[1] KARDEC, Allan. “O Evangelho Segundo o Espiritismo”. 97ª ed. Rio de Janeiro, RJ: FEB, 1987. Capítulo V, item 4.
[2] PASTORINO, Carlos Torres. “Sabedoria do Evangelho”. Rio de Janeiro, RJ: Sabedoria, 1964. Volume 7, capítulo “Despertar do sono”.
[3] Ibidem. Volume 8, capítulo “Oração no jardim”.
[4] LELOUP, Jean-Yves e WEIL, Pierre: “Les deux extrêmes de la normose contemporaine, du phantasme de la séparativité au phantasme fusionnel.” Disponível em http://www.revue3emillenaire.com/numerosparus/numerosparus.php?pid=35&numero_affiche=038. Acesso em 18/10/2010.
[5] WEIL, Pierre. “A normose informacional”. Disponível em http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0100-19652000000200008&script=sci_arttext. Acesso em 18/10/2010.
[6] FRANCO, Divaldo Pereira. “Obsessão pandêmica”. Pelo Espírito Manoel Philomeno de Miranda. Revista “Reformador” de junho de 2008. Disponível em http://www.febnet.org.br/reformadoronline/edicoes-anteriores/2008/reformador_06_junho_2008.pdf. Acesso em 17/10/2010.
[7] XAVIER, Francisco Cândido. “Os Mensageiros”. Pelo Espírito André Luiz. 34.ed. Rio de Janeiro: RJ, FEB, 2000. Capítulo 40.


domingo, 3 de outubro de 2010

Jesus, Kardec e Nós

Texto de Emmanuel, em honra aos 206 anos do nascimento do Codificador da Doutrina Espírita.


Se Jesus considerasse a si mesmo puro demais, a ponto de não tolerar o contato das fraquezas humanas; se acreditasse que tudo deve correr por conta de Deus; se nos admitisse irremediavelmente perdidos na rebeldia e na delinquência; se condicionasse o desempenho do seu apostolado ao apoio dos homens mais cultos; se aguardasse encosto dinheiroso e valimento político a fim de realizar a sua obra ou se recuasse, diante do sacrifício, decerto não conheceríamos a luz do Evangelho, que nos descerra o caminho à emancipação espiritual.

°°°

Se Allan Kardec superestimasse a elevada posição que lhe era devida na aristocracia da inteligência, colocando honras e títulos merecidos, acima das próprias convicções; se permanecesse na expectativa da adesão de personalidades ilustres à mensagem de que se fazia portador; se esperasse cobertura financeira para atirar-se à tarefa; se avaliasse as suas dificuldades de educador, com escasso tempo par esposar compromissos diferentes do magistério ou se retrocedesse, perante as calúnias e injúrias que lhe inçaram a estrada, não teríamos a codificação da Doutrina Espírita, que complementa o Evangelho, integrando-nos na responsabilidade de viver.


Refletindo em Jesus e Kardec, ficamos sem compreender a nossa inconsequência, quando nos declaramos demasiadamente virtuosos, ocupados, instruídos, tímidos , incapazes ou desiludidos para atender às obrigações que nos cabem na Doutrina Espírita. Isso porque se eles — o Mestre e o Apóstolo da renovação humana — passaram entre os homens, sofrendo dilacerações e exemplificando o bem, por amor à verdade, quando nós — consciências endividadas, fugimos de aprender e servir, em proveito próprio, indiscutivelmente, estaremos sem perceber, sob a hipnose da obsessão oculta, carregando equilíbrio por fora e loucura por dentro.



XAVIER, Francisco Cândido e VIEIRA, Waldo. “Opinião Espírita”. Pelos Espíritos Emmanuel e André Luiz. 7.ed. Uberaba, MG: Comunhão Espírita Cristã, 1990. Capítulo 4.


Leia, também, neste blog, a postagem “154 anos do Consolador Prometido”.

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Tranquilidade no Retorno à Pátria Espiritual

Somos Espíritos animando, temporariamente, corpos de matéria densa. Nosso corpo físico é instrumento importante para, vivendo na Terra, praticarmos o Bem a quem quer que seja e aprendermos importantes lições para nossa evolução moral e intelectual. Contudo, não somos nosso corpo, como nosso corpo físico não é a roupa que vestimos.

Todos nós, um dia, teremos de deixar esse equipamento de matéria densa, por ocasião da morte do corpo físico. Quanto mais cientes, no raciocínio e no sentimento, de que não somos nosso corpo, mas sim Espíritos imortais; e, principalmente, quanto mais tivermos praticado o Bem ao próximo — também aprendendo, por esse bom hábito, que as pessoas importam mais que as coisas —, mais breve e tranquilo será nosso período de adaptação à vida em ambiente de matéria quintessenciada. E essa prática do Bem independe do credo que se professe, desde que essa crença tenha por princípio a caridade, ou seja, o amor ao próximo na prática, sem impor condições e sem esperar nada em troca.

Foto: Carla Engel

Allan Kardec, o Codificador da Doutrina Espírita, denominou esse período de adaptação, entre a saída da encarnação e o retorno à vida no mundo espiritual, de perturbação. O tema está abordado nas questões 163 a 165 de “O Livro dos Espíritos”. Kardec indaga os Espíritos da Falange do Consolador sobre se o conhecimento do Espiritismo auxilia nesta etapa de adaptação, obtendo as seguintes orientações:
O conhecimento do Espiritismo exerce alguma influência sobre a duração, mais ou menos longa, da perturbação?
“Influência muito grande, por isso que o Espírito já antecipadamente compreendia a sua situação. Mas, a prática do bem e a consciência pura são o que maior influência exercem.” [1]
Considerando que o período de perturbação espiritual guarda estreita relação com o grau de adiantamento do Espírito (“O Livro dos Espíritos”, questão 164), pode-se evidenciar que a prática do Bem, ou seja, da caridade, é ainda mais importante que o saber apenas intelectual. Observemos a situação dos Espíritos Benévolos (quinta classe, item 108 de “O Livro dos Espíritos”, na Escala Espírita, proposta pelo Codificador, entre os itens 100 e 113 de “O Livro dos Espíritos”). Esses Espíritos, classificados como de segunda ordem, ou seja, Espíritos Bons, apresentam como característica o maior desenvolvimento moral do que o intelectual.

Como exemplo, podemos citar o desligamento da personagem Adelaide, narrado por André Luiz no livro “Obreiros da Vida Eterna” [2], que demonstra o quanto a prática da caridade pode auxiliar neste momento:
“Felizmente, porém, nossa querida Adelaide não dará trabalho. O ministério mediúnico, o serviço incessante em benefício dos enfermos, o amparo materno aos órfãos nesta casa de paz, aliados aos profundos desgostos e duras pedradas que constituem abençoado ônus das missões do bem, prepararam-lhe a alma para esta hora...
(...)
– Aliás, cumpre-nos destacar as condições excepcionais em que partirá nossa amiga. Em tais circunstâncias, apenas lastimo aqueles que se agarram em demasia aos caprichos carnais. Para esses, sim, a situação não é agradável, porquanto o semeador de espinhos não pode aguardar colheita de flores. Os que se consagram à preparação do futuro com a vida eterna, através de manifestações de espiritualidade superior, instintivamente aprendem todos os dias a morrer para a existência inferior.”
A Doutrina Espírita propõe desmistificar a morte do corpo físico, demonstrando que já passamos por essa experiência muitas vezes; e, periodicamente, por misericórdia de Deus, recebemos oportunidades de retornar à Terra para apreender lições e auxiliar o próximo, até completarmos nosso aprendizado neste planeta e seguirmos nossa caminhada evolutiva em mundos mais avançados. Contudo, o Espiritismo não professa que só quem for espírita “será salvo”, ou seja, evoluirá.

Na Revista Espírita de outubro de 1866, no item denominado “Os Tempos São Chegados” (comentado na postagem “Amar o Próximo”, neste blog); bem como em “O Evangelho Segundo o Espiritismo”, Capítulo XV (“Fora da Caridade não Há Salvação”), demonstra-se o entendimento da Doutrina Espírita a esse respeito. Kardec ressalta o caráter progressivo do Espiritismo (abordado na postagem “Hermenêutica, Exegese e Espiritismo”, neste blog), como o é a Ciência terrena. É preciso sejamos humildes e conscientes de não possuir o entendimento completo da verdade, da qual somente Deus é pleno possuidor. Devemos sempre buscar aprender e compreender melhor a vida e o Universo. Reproduzimos trecho do capítulo citado de “O Evangelho Segundo o Espiritismo”:
“A máxima — Fora da caridade não há salvação consagra o princípio da igualdade perante Deus e da liberdade de consciência. Tendo-a por norma, todos os homens são irmãos e, qualquer que seja a maneira por que adorem o Criador, eles se estendem as mãos e oram uns pelos outros.
(...)
O Espiritismo, de acordo com o Evangelho, admitindo a salvação para todos, independente de qualquer crença, contanto que a lei de Deus seja observada, não diz: Fora do Espiritismo não há salvação; e, como não pretende ensinar ainda toda a verdade, também não diz: Fora da verdade não há salvação, pois que esta máxima separaria em lugar de unir e perpetuaria os antagonismos.” [3]
O Codificador, questionando objetivamente os Espíritos Superiores acerca deste tema, foi assim esclarecido:
Será necessário que professemos o Espiritismo e creiamos nas manifestações espíritas, para termos assegurada a nossa sorte na vida futura?
“Se assim fosse, seguir-se-ia que estariam deserdados todos os que não creem, ou que não tiveram ensejo de esclarecer-se, o que seria absurdo. Só o bem assegura a sorte futura. Ora, o bem é sempre o bem, qualquer que seja o caminho que a ele conduza.” [4]
Concluímos com o comentário de Kardec sobre a questão acima mencionada, ressaltando a liberdade de consciência e foco no Bem, professados pela Doutrina Espírita.
“A crença no Espiritismo ajuda o homem a se melhorar, firmando-lhe as ideias sobre certos pontos do futuro. Apressa o adiantamento dos indivíduos e das massas, porque faculta nos inteiremos do que seremos um dia. É um ponto de apoio, uma luz que nos guia. O Espiritismo ensina o homem a suportar as provas com paciência e resignação; afasta-o dos atos que possam retardar-lhe a felicidade, mas ninguém diz que, sem ele, não possa ela ser conseguida.”


Leia também, neste blog, as postagens “Família Espiritual”, “O Corpo Físico”, “Amar o Próximo”, “A Influência de ‘Maus’ Espíritos”, “Hermenêutica, Exegese e Espiritismo”, “Considerações sobre a pluralidade das existências”, “O amor cobre uma multidão de pecados” e “Penas ‘Eternas’”.


Bons estudos!
Carla e Hendrio


Referências:

[1] KARDEC, Allan. “O Livro dos Espíritos”. 66ª ed. Rio de Janeiro, RJ: FEB, 1987. Questão 165.
[2] XAVIER, Francisco Cândido. “Obreiros da Vida Eterna”. Pelo Espírito André Luiz. 23ª ed. Rio de Janeiro, RJ: FEB, 1998. Capítulos 11 e 19.
[3] KARDEC, Allan. “O Evangelho Segundo o Espiritismo”. 97ª ed. Rio de Janeiro, RJ: FEB, 1987. Capítulo XV, itens 8 e 9.
[4] KARDEC, Allan. “O Livro dos Espíritos”. 66ª ed. Rio de Janeiro, RJ: FEB, 1987. Questão 982.



quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Pressentimentos

Pressentimento, conforme definição léxica, é um “sentimento intuitivo e alheio a uma causa conhecida, que permite a previsão de acontecimentos futuros; intuição, palpite, presságio” [1].

Como se pode compreender a existência de um pressentimento, de uma ideia acerca do futuro apresentada por outro Espírito? Allan Kardec, o Codificador da Doutrina Espírita, propôs, na obra “A Gênese” [2], uma analogia para a compreensão desse mecanismo, bem como da responsabilidade de um Espírito ao buscar levar, a outro ser, parte do conhecimento sobre eventos ainda não ocorridos:

“Suponhamos um homem colocado no cume de uma alta montanha, a observar a vasta extensão da planície em derredor. Nessa situação, o espaço de uma légua pouca coisa será para ele, que poderá facilmente apanhar, de um golpe de vista, todos os acidentes do terreno, de um extremo a outro da estrada que lhe esteja diante dos olhos. (...) Suponhamos que esse homem desce do seu ponto de observação e, indo ao encontro do viajante, lhe diz: ‘Em tal momento, encontrarás tal coisa, serás atacado e socorrido’. Estará predizendo o futuro, mas, futuro para o viajante, não para ele, autor da previsão, pois que, para ele, esse futuro é presente.
(...)
Os Espíritos desmaterializados são como o homem da montanha; o espaço e a duração não existem para eles. Mas, a extensão e a penetração da vista são proporcionadas à depuração deles e à elevação que alcançaram na hierarquia espiritual.
(...)
Bem se compreende, pois, que, de conformidade com o grau de sua perfeição, possa um Espírito abarcar um período de alguns anos, de alguns séculos, mesmo de muitos milhares de anos, porquanto, que é um século em face do infinito? Diante dele, os acontecimentos não se desenrolam sucessivamente, como os incidentes da estrada diante do viajor: ele vê simultaneamente o começo e o fim do período; todos os eventos que, nesse período, constituem o futuro para o homem da Terra são o presente para ele, que poderia então vir dizer-nos com certeza: Tal coisa acontecerá em tal época, porque essa coisa ele a vê como o homem da montanha vê o que espera o viajante no curso da viagem. Se assim não procede, é porque poderia ser prejudicial ao homem o conhecimento do futuro, conhecimento que lhe pearia o livre-arbítrio, paralisá-lo-ia no trabalho que lhe cumpre executar a bem do seu progresso. O se lhe conservarem desconhecidos o bem e o mal com que topará constitui para o homem uma prova.
(...)
Entretanto, como o homem tem de concorrer para o progresso geral, como certos acontecimentos devem resultar da sua cooperação, pode convir que, em casos especiais, ele pressinta esses acontecimentos, a fim de lhes preparar o encaminhamento e de estar pronto a agir, em chegando a ocasião. Por isso é que Deus, às vezes, permite se levante uma ponta do véu; mas, sempre com fim útil, nunca para satisfação de vã curiosidade. Tal missão pode, pois, ser conferida, não a todos os Espíritos, porquanto muitos há que do futuro não conhecem mais do que os homens, porém a alguns Espíritos bastante adiantados para desempenhá-la.” [2]

Foto: Hendrio Belfort

A título de curiosidade sobre a expressão “levantar uma ponta do véu”, utilizada acima: a palavra grega utilizada para revelação é apokalypsis (ἀποκάλυψις), a qual significa, literalmente, revelar, retirar o véu [3]. Nota-se, portanto, que o termo que dá origem à palavra apocalipse não tem qualquer relação com catástrofes ou fim do mundo, frequentemente associados ao verbete em português. Na Bíblia em inglês, o livro do Apocalipse se chama Revelação.

Os Espíritos Superiores, em resposta à questão 522 de “O Livro dos Espíritos” [4], explicam que o pressentimento tanto pode ser o conselho íntimo e oculto de um Espírito que nos quer bem, como a intuição de uma etapa do plano reencarnatório, quando esta fase está próxima de ocorrer (voz do instinto). Ou seja, existem pressentimentos advindos de um processo mediúnico (por influência de uma inteligência externa) e outros de processo anímico (pela própria alma de quem pressente). Busquemos focar em pressentimentos na qualidade de percepções, inspiradas ou deduzidas, com vistas ao Bem. Kardec esclarece, a respeito dos pressentimentos provenientes de outros Espíritos, nos seguintes termos:

“A inspiração nos vem dos Espíritos que nos influenciam para o bem, ou para o mal, porém, procede, principalmente, dos que querem o nosso bem e cujos conselhos muito amiúde cometemos o erro de não seguir. Ela se aplica, em todas as circunstâncias da vida, às resoluções que devamos tomar. Sob esse aspecto, pode dizer-se que todos são médiuns, porquanto não há quem não tenha seus Espíritos protetores e familiares, a se esforçarem por sugerir aos protegidos salutares ideias. Se todos estivessem bem compenetrados desta verdade, ninguém deixaria de recorrer com frequência à inspiração do seu anjo de guarda, nos momentos em que se não sabe o que dizer, ou fazer. Que cada um, pois, o invoque com fervor e confiança, em caso de necessidade, e muito frequentemente se admirará das ideias que lhe surgem como por encanto, quer se trate de uma resolução a tomar, quer de alguma coisa a compor. Se nenhuma ideia surge, é que é preciso esperar.” [5]

Importa considerar que um aparente pressentimento, mormente o de caráter negativo, também pode ser induzido por Espíritos que desejam o nosso desequilíbrio, conforme se pode inferir da mensagem “Influenciações Espirituais Sutis”, de autoria do Espírito André Luiz [6], da qual transcrevemos o trecho correspondente:

“Sempre que você experimente um estado de espírito tendente ao derrotismo, perdurando há várias horas, sem causa orgânica ou moral de destaque, avente a hipótese de uma influenciação espiritual sutil. (...) Dentre os fatores que mais revelam essa condição da alma, incluem-se:
- (...) indisposição inexplicável, tristeza sem razão aparente e pressentimentos de desastre imediato (...)”

Vemos, portanto, como a Doutrina Espírita aborda de forma responsável a questão dos pressentimentos. Orientados ao Bem, eles surgem apenas nos momentos adequados à nossa evolução moral e intelectual. As interações entre os dois planos da vida — o de matéria densa e o de matéria quintessenciada — devem ser feitas com responsabilidade, pois Espíritos de maior evolução não gastam seu tempo inspirando pressentimentos de adivinhações e assuntos banais. Foi o intercâmbio irresponsável com o plano espiritual que Moisés condenara, em citações como Deuteronômio 18:09-14 e Levítico 19:31. A interação entre os dois planos da vida em prol do Bem era utilizada tanto por Moisés (Números 11:26-29) como pelo Mestre Jesus (Marcos 09:38-40). Kardec, buscando trazer respostas dos Espíritos da Falange do Consolador a questões usuais, ilustra o tema em foco com estes ensinos [7]:

Por que, quando fazem pressentir um acontecimento, os Espíritos sérios de ordinário não determinam a data? Será porque o não possam, ou porque não queiram?
‘Por uma e outra coisa. Eles podem, em certos casos, fazer que um acontecimento seja pressentido: nessa hipótese, é um aviso que vos dão. Quanto a precisar-lhe a época, é frequente não o deverem fazer. Também sucede com frequência não o poderem, por não o saberem eles próprios. Pode o Espírito prever que um fato se dará, mas o momento exato pode depender de acontecimentos que ainda se não verificaram e que só Deus conhece. Os Espíritos levianos, que não escrupulizam de vos enganar, esses determinam os dias e as horas, sem se preocuparem com que o fato predito ocorra ou não. Por isso é que toda predição circunstanciada vos deve ser suspeita.
‘Ainda uma vez: a nossa missão consiste em fazer-vos progredir; para isso vos auxiliamos tanto quanto podemos. Jamais será enganado aquele que aos Espíritos superiores pedir a sabedoria; não acrediteis, porém, que percamos o nosso tempo em ouvir as vossas futilidades e em vos predizer a boa fortuna. Deixamos esse encargo aos Espíritos levianos, que com isso se divertem, como crianças travessas.
‘A Providência pôs limite às revelações que podem ser feitas ao homem. Os Espíritos sérios guardam silêncio sobre tudo aquilo que lhes é defeso revelarem. Aquele que insista por uma resposta se expõe aos embustes dos Espíritos inferiores, sempre prontos a se aproveitarem das ocasiões que tenham de armar laços à vossa credulidade.’” [7]

A benfeitora espiritual Joanna de Ângelis, na obra “Lições para a felicidade” [8], aconselha que analisemos os pressentimentos de forma clara e tranquila, quando ocorram, avaliando qual a mensagem de advertência ou socorro de que se fazem portadores. E conclui que, mantendo-nos em comunhão com os Espíritos Superiores, recebemos deles, por pressentimentos, notícias das ocorrências futuras, de modo a nos preparamos para melhor enfrentá-las e bem conduzi-las.


Leia também, neste blog, as postagens “Influência do Meio”, “Inspiração”, “Mediunidade na Bíblia”, “Causa da Obsessão”, “A Influência de ‘Maus’ Espíritos” e “O Bem e o Mal”.


Bons estudos!
Carla e Hendrio


Referências:

[1] HOLANDA, Aurélio Buarque de. “Novo Dicionário Eletrônico Aurélio”. Versão 5.0 de 2004. Positivo Informática. Pressentimento.
[2] KARDEC, Allan. “A Gênese”. 34ª ed. Rio de Janeiro, RJ: FEB, 1991. Capítulo XVI (Teoria da Presciência), itens 2 a 4.
[3] Wiktionary. Palavra ἀποκαλύπτω (apokalúptō). Disponível em http://en.wiktionary.org/wiki/%E1%BC%80%CF%80%CE%BF%CE%BA%CE%AC%CE%BB%CF%85%CF%88%CE%B9%CF%82. Acesso em 16/08/2010.
[4] KARDEC, Allan. “O Livro dos Espíritos”. 66ª ed. Rio de Janeiro, RJ: FEB, 1987. Questão 522.
[5] KARDEC, Allan. “O Livro dos Médiuns”. 55ª ed. Rio de Janeiro, RJ: FEB, 1987. Segunda Parte, Capítulo XV, item 182.
[6] XAVIER, Francisco Cândido e VIEIRA, Waldo. “Estude e Viva”. Pelos Espíritos Emmanuel e André Luiz. 6ª ed. Rio de Janeiro, RJ: FEB, 1986. Capítulo 35.
[7] KARDEC, Allan. “O Livro dos Médiuns”. 55ª ed. Rio de Janeiro, RJ: FEB, 1987. Segunda Parte, Capítulo XXVI, item 289 (Perguntas sobre o futuro), 11ª questão.
[8] FRANCO, Divaldo P. “Lições para a felicidade”. Pelo Espírito Joanna de Ângelis. Salvador, BA: LEAL, 2003. Capítulo 13 – Pressentimento.


terça-feira, 7 de setembro de 2010

A revolta

Há casos de loucura que não derivam de lesões orgânicas. Em muitos desses casos, jaz escondida uma tentativa de fuga da vida e dos desafios que esta apresenta para nosso aprendizado e evolução. Não falamos apenas da loucura de que são portadoras pessoas como os pacientes de hospitais psiquiátricos, mas de todo tipo de desequilíbrio mental que nos danifica a saúde física, psíquica e espiritual. Tais desarmonias reduzem nossa força vital, e são vistas como formas lentas de colocar fim à própria vida.

A esse respeito, esclarece o instrutor Calderaro, na obra “No Mundo Maior”:

“Excetuados os casos puramente orgânicos, o louco é alguém que procurou forçar a libertação do aprendizado terrestre, por indisciplina ou ignorância. Temos neste domínio um gênero de suicídio habilmente dissimulado, a autoeliminação da harmonia mental, pela inconformação da alma nos quadros de luta que a existência humana apresenta. Diante da dor, do obstáculo ou da morte, milhares de pessoas capitulam, entregando-se, sem resistência, à perturbação destruidora, que lhes abre, por fim, as portas do túmulo. A princípio, são meros descontentes e desesperados, que passam despercebidos mesmo àqueles que os acompanham de mais perto. Pouco a pouco, no entanto, transformam-se em doentes mentais de variadas gradações, de cura quase impossível, portadores que são de problemas inextricáveis e ingratos. Imperceptíveis frutos da desobediência começam por arruinar o patrimônio fisiológico que lhes foi confiado na Crosta da Terra e acabam empobrecidos e infortunados. Aflitos e semimortos, são eles homens e mulheres que desde os círculos terrenos padecem, encovados em precipícios infernais, por se haverem rebelado aos desígnios divinos, preterindo-os, na escola benéfica da luta aperfeiçoadora, pelos caprichos insensatos.” [1]

Muitas pessoas fogem do encontro com sua consciência, na qual Deus inscreveu sua Lei (“O Livro dos Espíritos”, questão 621). Assim procedem porque, nesse encontro, ainda que útil à aceleração do seu processo evolutivo, terão de enfrentar e analisar a forma como procederam ao longo de milênios de existências corpóreas e entre as encarnações. Dessas análises, surgem a satisfação com as ações em prol do Bem, e a dor ao encarar maus procedimentos. A esse respeito, Allan Kardec assim pontua:

“O arrependimento acarreta o pesar, o remorso, o sentimento doloroso, que é a transição do mal para o bem, da doença moral para a saúde moral. É para se furtarem a isso que os Espíritos perversos se revoltam contra a voz da consciência, quais doentes a repelirem o remédio que os há de curar. E assim procuram iludir-se, aturdir-se e persistir no mal.” [2]

Até mesmo a ação da prece, poderosa e cientificamente comprovada em diversos experimentos, é bloqueada por um coração envolto em uma rija muralha de revolta, quando essa parede ainda não apresentar nenhuma brecha aberta por uma semente de arrependimento. São Luís, em mensagem mediúnica, esclarece:

“A prece só aproveita ao Espírito que se arrepende; para aqueles que, arrebatados de orgulho, se revoltam contra Deus e persistem no erro, exagerando-o mesmo, tal como procedem os infelizes; para esses a prece nada adianta, nem adiantará senão quando tênue vislumbre de arrependimento começar a germinar-lhes na consciência.” [3]

Foto: Hendrio Belfort

Importante destacar que tranquilidade íntima e resignação, absolutamente, não são sinônimos de apatia e conformismo. Devemos, sempre orientados ao Bem, buscar modificar o que esteja ao nosso alcance, e estudar as situações com as quais nos confrontemos — o que não significa julgar ninguém —, a fim de aprender o que fazer ou não fazer. Contudo, cabe a nós, ao defrontar os desafios das vidas, não alimentar a ira e a revolta deletérias, as quais só nos farão doentes e, por decorrência, com menos energia para modificar para melhor o que de fato compete a nós. Vejamos as considerações do Codificador a respeito do tema:

“A doutrina de Jesus ensina, em todos os seus pontos, a obediência e a resignação, duas virtudes companheiras da doçura e muito ativas, se bem os homens erradamente as confundam com a negação do sentimento e da vontade. A obediência é o consentimento da razão; a resignação é o consentimento do coração, forças ativas ambas, porquanto carregam o fardo das provações que a revolta insensata deixa cair. O pusilânime não pode ser resignado, do mesmo modo que o orgulhoso e o egoísta não podem ser obedientes.” [4]

A revolta não traz apenas malefícios em existências futuras. Nossa própria saúde física, com a qual se preocupam tanto os ateus como os religiosos, também é afetada, até geneticamente, por nossas emoções, como atestam pesquisas científicas. O renomado geneticista Kazuo Murakami, autor do livro “Código Divino da Vida — ative seus genes e descubra quem você quer ser”, afirma que pesquisas científicas atestam que a atividade de nossos genes pode ser modificada por nossas atitudes. Modificando nossos pensamentos para vibrações de alegria, animação e gratidão, ativamos genes focados na cura de enfermidades. Revolta e tristeza reforçam a atividade de genes afins com doenças. É mais uma evidência do poder do Espírito sobre o corpo que anima, mostrando que o indivíduo não é o corpo, mas deve zelar por seu bom funcionamento, cumprindo melhor sua missão na Terra, banindo o medo e o negativismo de suas emoções usuais.

Quanto mais adiarmos nossa reforma íntima, ou seja, nossa mudança de atitude em relação a pensamentos, palavras e ações sempre identificadas com o Bem do próximo, tanto maiores serão nossas pendências a acertar com nossa consciência. E sempre temos apenas o tempo presente para fazer essa modificação. A crença na multiplicidade de existências corpóreas, de forma alguma, deve ser utilizada como motivo para adiar nossa evolução, como orientam os Espíritos a Kardec à questão seguinte:

A possibilidade de se melhorarem noutra existência não será de molde a fazer que certas pessoas perseverem no mau caminho, dominadas pela ideia de que poderão corrigir-se mais tarde?
‘Aquele que assim pensa em nada crê e a ideia de um castigo eterno não o refrearia mais do que qualquer outra, porque sua razão a repele, e semelhante ideia induz à incredulidade a respeito de tudo. Se unicamente meios racionais se tivessem empregado para guiar os homens, não haveria tantos cépticos. De fato, um Espírito imperfeito poderá, durante a vida corporal, pensar como dizes; mas, liberto que se veja da matéria, pensará de outro modo, pois logo verificará que fez cálculo errado e, então, sentimento oposto a esse trará ele para a sua nova existência. É assim que se efetua o progresso e essa a razão por que, na Terra, os homens são desigualmente adiantados. Uns já dispõem de experiência que a outros falta, mas que adquirirão pouco a pouco. Deles depende o acelerar-se-lhes o progresso ou retardar-se indefinidamente.’” [5]


Leia também, neste blog, as postagens “Loucura sem lesão cerebral”, “Alienação mental nos tempos de Kardec”, “Maus Pensamentos”, “O Bem e o Mal”, “Pecado — Hamartia — Peccatu”, “154 anos do Consolador Prometido” e “A Prece”.


Bons estudos!
Carla e Hendrio


Referências:

[1] XAVIER, Francisco Cândido. “No Mundo Maior”. Pelo Espírito André Luiz. 20ª ed. Rio de Janeiro, RJ: FEB, 1995. Capítulo 16.
[2] KARDEC, Allan. “O Céu e o Inferno”. 37ª ed. Rio de Janeiro, RJ: 1991. 2ª Parte, capítulo VI, “Jacques Latour”, item IV.
[3] Ibidem, “O Espírito de Castelnaudary”, Questão 9.
[4] KARDEC, Allan. “O Evangelho Segundo o Espiritismo”. 97ª ed. Rio de Janeiro, RJ: FEB, 1987. Capítulo IX, item 8.
[5] KARDEC, Allan. “O Livro dos Espíritos”. 66ª ed. Rio de Janeiro, RJ: FEB, 1987. Questão 195.



segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Maus Pensamentos

Cada pessoa é responsável por seus pensamentos, palavras e atos. Um pensamento imbuído de qualquer conotação visando ao mal de alguém ou algo, mesmo que não concretizado, gera efeitos em si e no ambiente, pelos quais a pessoa se torna responsável.

Jesus, na passagem de Mateus 05:27-28, assim se expressa a respeito do adultério:

“Tendes ouvido que foi dito: Não adulterarás. Eu, porém, vos digo que todo o que põe seus olhos em uma mulher, para a cobiçar, já no seu coração adulterou com ela.”

O Mestre, nessa citação, se refere ao adultério já cometido pelo mero pensamento orientado a uma má ação. Analisemos as expressões “mau pensamento” e “adultério”, e posteriormente ponderemos acerca das consequências do pensamento desregrado.

Como podemos entender o que é um mau pensamento? Uma consulta à nossa consciência trará a informação sobre a ideia ser contrária ao bem do próximo e à nossa própria harmonia. Em mensagem mediúnica datada de novembro de 1859 e publicada na Revista Espírita de janeiro de 1860, encontramos a seguinte orientação:

“Distinguem-se os bons dos maus pensamentos, porque os primeiros podem, sem nenhum receio, ser transmitidos a todo o mundo, ao passo que os últimos não poderiam, sem perigo, ser comunicados senão a alguns. Quando vos vier um pensamento, para julgar de seu valor perguntai-vos se podeis torná-lo público sem inconveniente e se não fará mal: se vossa consciência vo-lo autorizar, não temais, vosso pensamento é bom.” [1]

A palavra adultério deriva do termo do latim adulterare, que significa alterar, corromper. Este verbete é formado pela combinação de ad (ir a; direção), e alter (outro). Portanto, a palavra adultério vai além da questão da fidelidade conjugal, mas se refere à traição de quaisquer princípios. Também na Bíblia, essa acepção ampla é utilizada, segundo estudos citados pelo pesquisador Carlos Torres Pastorino:

“Concordam com isso Pirot (...) que diz serem adúlteros ‘os infiéis a seu deus’ (sic); e o jesuíta Padre Max Zerwick (Analysis Philogica Novi Testamenti Graeci, Roma, 1960, pág. 31): defectio a Deo; qui cum populo suo quasi matrimonio se junxit, adulterium in Vetere Testamento appellatur, isto é, o afastamento de Deus que se uniu a seu povo como em matrimônio, é chamado adultério, no Antigo Testamento”. [2]

Allan Kardec também analisou esse termo, no capítulo VIII de “O Evangelho Segundo o Espiritismo”, sobre o qual orientou:

“A palavra adultério não deve absolutamente ser entendida aqui no sentido exclusivo da acepção que lhe é própria, porém, num sentido mais geral. Muitas vezes Jesus a empregou por extensão, para designar o mal, o pecado, todo e qualquer pensamento mau, como, por exemplo, nesta passagem: ‘Porquanto se alguém se envergonhar de mim e das minhas palavras, dentre esta raça adúltera e pecadora, o Filho do homem também se envergonhará dele, quando vier acompanhado dos santos anjos, na glória de seu Pai.’ (S. Marcos, cap. VIII, v. 38.)
A verdadeira pureza não está somente nos atos; está também no pensamento, porquanto aquele que tem puro o coração, nem sequer pensa no mal. Foi o que Jesus quis dizer: ele condena o pecado, mesmo em pensamento, porque é sinal de impureza.” [3]

Encontramos, portanto, no Evangelho, a informação de que apenas um pensamento orientado ao mal já é um erro. Surge, assim, a questão: há consequências de uma ideia má, ainda que não concretizada? A Codificação Espírita orienta que, quanto mais evoluído o Espírito, tanto mais elevada é a vibração de seus pensamentos e, portanto, maus pensamentos são indício de progresso ainda por alcançar. Contudo, a própria constatação de termos elaborado um mau pensamento pode auxiliar na análise da evolução do Espírito, se ele o analisar e repelir. A respeito desse tema, o Codificador da Doutrina Espírita ponderou:

“Esse princípio suscita naturalmente a seguinte questão: Sofrem-se as consequências de um pensamento mau, embora nenhum efeito produza?
Cumpre se faça aqui uma importante distinção. À medida que avança na vida espiritual, a alma que enveredou pelo mau caminho se esclarece e despoja pouco a pouco de suas imperfeições, conforme a maior ou menor boa vontade que demonstre, em virtude do seu livre-arbítrio. Todo pensamento mau resulta, pois, da imperfeição da alma; mas, de acordo com o desejo que alimenta de depurar-se, mesmo esse mau pensamento se lhe torna uma ocasião de adiantar-se, porque ela o repele com energia. É indício de esforço por apagar uma mancha. Não cederá, se se apresentar oportunidade de satisfazer a um mau desejo. Depois que haja resistido, sentir-se-á mais forte e contente com a sua vitória.
Aquela que, ao contrário, não tomou boas resoluções, procura ocasião de praticar o mau ato e, se não o leva a efeito, não é por virtude da sua vontade, mas por falta de ensejo. É, pois, tão culpada quanto o seria se o cometesse.
Em resumo, naquele que nem sequer concebe a ideia do mal, já há progresso realizado; naquele a quem essa ideia acode, mas que a repele, há progresso em vias de realizar-se; naquele, finalmente, que pensa no mal e nesse pensamento se compraz, o mal ainda existe na plenitude da sua força. Num, o trabalho está feito; no outro, está por fazer-se. Deus, que é justo, leva em conta todas essas gradações na responsabilidade dos atos e dos pensamentos do homem.” [4]


Todo pensamento é força criadora; é irradiado no ambiente e, por isso, traz consequências boas ou más e atrai inteligências encarnadas e desencarnadas com ideias semelhantes, de acordo com seu teor orientado ao bem ou ao mal, independente do pensamento ter implicado ações concretas, e sem correlação com haver mediunidade ostensiva. Toda inspiração, positiva ou negativa, que recebermos, provém da sintonia que nós mesmos estabelecermos. Não há privilegiados, que recebam inspirações elevadas imotivadamente; sua boa sintonia, permeada por ações em prol do Bem do próximo, fê-los receptivos a energias positivas. O mesmo raciocínio se aplica a quem fez sintonias indevidas e recebe inspirações não identificadas com o Bem. André Luiz, na obra “Nosso Lar” [5], transmite as palavras da Ministra Veneranda, acerca do tema:

“Todos sabemos que o pensamento é força essencial, mas não admitimos nossa milenária viciação no desvio dessa força. Ora, é coisa sabida que um homem é obrigado a alimentar os próprios filhos; nas mesmas condições, cada espírito é compelido a manter e nutrir as criações que lhe são peculiares. Uma ideia criminosa produzirá gerações mentais da mesma natureza; um princípio elevado obedecerá à mesma lei. Recorramos a símbolo mais simples. Após elevar-se às alturas, a água volta purificada, veiculando vigorosos fluidos vitais, no orvalho protetor ou na chuva benéfica; conservemo-la com os detritos da terra e fá-la-emos habitação de micróbios destruidores. O pensamento é força viva, em toda parte; é atmosfera criadora que envolve o Pai e os filhos, a Causa e os Efeitos, no Lar Universal. Nele, transformam-se homens em anjos, a caminho do céu ou se fazem gênios diabólicos, a caminho do inferno.”

A Lei de Planck da Radiação indica que, quanto mais alta a frequência irradiada, maior a quantidade de energia. Verificamos, assim, que pensamentos orientados ao Bem, possuidores de frequência vibratória mais alta, também nos trazem maior energia. Pensamentos orientados ao mal, portadores de energia inferior, são tóxicos. Mesmo que nenhum encarnado saiba o que estamos pensando, o reforço de pensamentos de energias mais baixas nos intoxica, como se estivéssemos, de forma deliberada e regular, a tomar veneno, o qual nos fará mal, independente de alguém saber que o estamos ingerindo. Vejamos o que Kardec informa acerca da atmosfera espiritual:

“Se agora se considerar que os pensamentos atraem os pensamentos da mesma natureza, que os fluidos atraem os fluidos similares, compreende-se que cada indivíduo traga consigo um cortejo de Espíritos simpáticos, bons ou maus, e que, assim, o ar seja saturado de fluidos em relação com os pensamentos que predominam. Se os maus pensamentos forem em minoria, não impedirão que as boas influências se produzam, pois estas os paralisam. Se dominarem, enfraquecerão a irradiação fluídica dos Espíritos bons, ou, mesmo, por vezes impedirão que os bons fluidos penetrem nesse meio, como o nevoeiro enfraquece ou detém os raios do sol.
Qual é, pois, o meio de se subtrair à influência dos maus fluidos? Esse meio ressalta da própria causa que produz o mal. Que se faz quando se reconhece que um alimento é prejudicial à saúde? É rejeitado e substituído por outro mais saudável. Já que são os maus pensamentos que engendram os maus fluidos e os atraem, devem-se envidar esforços para só os ter bons, repelir tudo o que é mau, como se repele um alimento que nos pode tornar doentes; numa palavra, trabalhar por seu melhoramento moral e, para nos servirmos de uma comparação do Evangelho, ‘não só limpar o vaso por fora, mas, sobretudo, limpá-lo por dentro’.
(...)
Isto é uma utopia, um discurso vão? Não; é uma dedução lógica dos próprios fatos, que o Espiritismo revela diariamente. Com efeito, o Espiritismo nos prova que o elemento espiritual, que até o presente tem sido considerado como a antítese do elemento material, tem com esse último uma conexão íntima, donde resulta uma porção de fenômenos não observados ou incompreendidos. Quando a Ciência tiver assimilado os elementos fornecidos pelo Espiritismo, ela aí colherá novos e importantes elementos para o melhoramento material da Humanidade.” [6]

Creiamos ou não, no mero ato de pensarmos no mal para alguém ou algo, desarmonizamos poderosas energias, as quais poderiam ser destinadas ao auxílio ao próximo e, por decorrência, a nós mesmos. Ponderemos o pensamento do Codificador a esse respeito:

“Se se pudesse suspeitar do imenso mecanismo que o pensamento aciona e dos efeitos que ele produz de um indivíduo a outro, de um grupo de seres a outro grupo e, afinal, da ação universal dos pensamentos das criaturas umas sobre as outras, o homem ficaria assombrado! Sentir-se-ia aniquilado diante dessa infinidade de pormenores, diante dessas inúmeras redes ligadas entre si por uma potente vontade e atuando harmonicamente para alcançar um único objetivo: o progresso universal.
Pela telegrafia do pensamento, ele apreciará em todo o seu valor a lei da solidariedade, ponderando que não há um pensamento, seja criminoso, seja virtuoso, ou de outro gênero, que não tenha ação real sobre o conjunto dos pensamentos humanos e sobre cada um deles. Se o egoísmo o levava a desconhecer as consequências, para outrem, de um pensamento perverso, pessoalmente seu, por esse mesmo egoísmo ele se verá induzido a ter bons pensamentos, para elevar o nível moral da generalidade das criaturas, atentando nas consequências que sobre si mesmo produziria um mau pensamento de outrem.” [7]

A prece é um poderoso auxiliar na busca de melhor orientarmos nossos pensamentos. Orar também é formular um pensamento, e a prece de teor nobre, ou prece vertical, busca uma sintonia de frequência e energia superiores, afastando a sintonia com vibrações de teor energético inferior. No capítulo XXVIII de “O Evangelho Segundo o Espiritismo”, Kardec traz diversos exemplos de prece, dentre as quais algumas destinadas a pedir inspiração para afastar maus pensamentos. Essas preces não se destinam a ser repetidas palavra por palavra. Trata-se de sugestões do teor dos agradecimentos e rogativas que se podem apresentar aos Espíritos Superiores, os quais sempre estão dispostos a nos ajudar, porém só podem fazê-lo se nos fizermos receptivos a tal auxílio. Vejamos dois exemplos de preces sugeridas:

“Espíritos esclarecidos e benevolentes, mensageiros de Deus, que tendes por missão assistir os homens e conduzi-los pelo bom caminho, sustentai-me nas provas desta vida; dai-me a força de suportá-las sem queixumes; livrai-me dos maus pensamentos e fazei que eu não dê entrada a nenhum mau Espírito que queira induzir-me ao mal. Esclarecei a minha consciência com relação aos meus defeitos e tirai-me de sobre os olhos o véu do orgulho, capaz de impedir que eu os perceba e os confesse a mim mesmo.” [8]

“Deus Todo-Poderoso, não me deixes sucumbir à tentação que me impele a falir. Espíritos benfazejos, que me protegeis, afastai de mim este mau pensamento e dai-me a força de resistir à sugestão do mal. Se eu sucumbir, merecerei expiar a minha falta nesta vida e na outra, porque tenho a liberdade de escolher.” [9]

Leia também, neste blog, as postagens “Focos de desequilíbrio espiritual”, “Pecado — Hamartia — Peccatu”, “O Bem e o Mal”, “Influência do Meio”, “Fluido Universal” e “A Prece 1 e 2”.


Bons estudos!
Carla e Hendrio


Referências:

[1] KARDEC, Allan. “Revista Espírita de janeiro de 1860”. Tradução de Evandro Noleto Bezerra. Rio de Janeiro, RJ. FEB 2004. “Conselhos de Família (Segunda sessão)”.
[2] PASTORINO, Carlos Torres. “Sabedoria do Evangelho”. Rio de Janeiro, RJ: Sabedoria, 1964. Volume 5, capítulo “O sinal celeste”.
[3] KARDEC, Allan. “O Evangelho Segundo o Espiritismo”. 97ª ed. Rio de Janeiro, RJ: FEB, 1987. Capítulo VIII, item 6.
[4] Ibidem, item 7.
[5] XAVIER, Francisco Cândido. “Nosso Lar”. Pelo Espírito André Luiz. 23ª ed. Rio de Janeiro: RJ, FEB, 1981. Capítulo 37.
[6] KARDEC, Allan. “Revista Espírita de maio de 1867”. Tradução de Evandro Noleto Bezerra. Rio de Janeiro, RJ. FEB 2004. “Atmosfera Espiritual”.
[7] KARDEC, Allan. “Obras Póstumas”. 34ª ed. Rio de Janeiro: RJ, FEB: 1991. Primeira Parte. “Fotografia e telegrafia do pensamento”.
[8] KARDEC, Allan. “O Evangelho Segundo o Espiritismo”. 97ª ed. Rio de Janeiro, RJ: FEB, 1987. Capítulo XXVIII, item 12.
[9] Ibidem, item 21.