quarta-feira, 28 de abril de 2010

Influência do Meio

Allan Kardec, o Codificador das obras que compõem a Doutrina Espírita, aborda a questão da influência do meio no capítulo XXI de “O Livro dos Médiuns” [1]. Neste capítulo, porém, Kardec não restringe a influência energética do meio a quem possua capacidade ostensiva de percepção de mensagens de planos existenciais diferentes do em que se vive. Em nossa casa, em nossos ambientes de trabalho, estudo ou lazer, somos sempre influenciados e influenciamos a atmosfera — e não estamos simplesmente à mercê de influências alheias à nossa vontade, mas sempre de acordo com o que pensamos, dizemos ou fazemos.

Podemos traduzir meio, no contexto em estudo, como a esfera social ou profissional onde se vive ou trabalha; ambiente; círculo. [2]

No idioma original da Codificação Espírita, o francês [3], o capítulo XXI de “O Livro dos Médiuns” intitulado “Da Influência do Meio” é escrito como “Influence du Milieu”. A fim de verificar se a acepção da palavra “milieu”, traduzida literalmente como meio, era a mesma utilizada hoje, analisamos trechos de “A Revista Espírita” em francês, buscando encontrar o referido verbete. Entendimentos diferentes de palavras levam a conclusões muito distorcidas, como sói ocorrer com diversas traduções divergentes da Bíblia. Felizmente, neste caso, o entendimento do termo é o mesmo, como encontramos nos exemplos abaixo (os grifos são nossos):

“(...) les rayons fluidiques se dispersent, s'absorbent par le milieu ambiant (...)” traduzido como “(...) os raios fluídicos se dispersam e são absorvidos pelo meio (...)” [4]

“(...) il revienne à Paris, il s'y trouvera dans un milieu tout autre que la première fois et qui devra lui paraître nouveau (...)” traduzido como “(...) retorna a Paris e se encontra num meio completamente diverso do da primeira vez, e que lhe parecerá novo. (...)” [5]

Depreendemos que o meio abrange:
  • A atmosfera energética das pessoas, encarnadas ou desencarnadas, foco do capítulo XXI de “O Livro dos Médiuns”;
  • O ambiente, composto pelas matérias densa e quintessenciada, onde o fenômeno em estudo ocorre, foco de diversas obras subsidiárias, nas quais destacamos “Missionários da Luz”, “Nos domínios da Mediunidade” e “Obreiros da Vida Eterna” de André Luiz, recebidas pela mediunidade de Francisco Cândido Xavier.

Kardec pontua, no referido capítulo de “O Livro dos Médiuns”, que é um erro acreditar que é necessário ter e exercer a capacidade ostensiva de comunicação com Espíritos para atraí-los. Em suas palavras e com seus próprios grifos, “Assim, onde quer que haja uma reunião de homens, há igualmente em torno deles uma assembleia oculta, que simpatiza com suas qualidades ou com seus defeitos, feita abstração completa de toda ideia de evocação.” [6]

O que pensamos, dizemos e fazemos atrai nossas companhias, sejam elas visíveis ou não. O apóstolo Paulo já nos havia alertado a respeito em sua carta aos seus patrícios hebreus, nos convidando a nos manter no caminho do Bem: “Portanto também nós, visto que estamos rodeados de uma tão grande nuvem de testemunhas, pondo de lado todo o impedimento, e o erro que se nos apega, corramos com perseverança a carreira que nos está proposta” (Paulo aos Hebreus 12:01)


O ambiente onde se realizam as atividades também é objeto de cuidados pelos Espíritos. A assepsia energética é condição importante para a realização de uma reunião nobre, tanto quanto a assepsia física do campo, seja esta reunião uma cirurgia, uma aula de alfabetização, um seminário científico, uma reunião de planejamento estratégico de uma empresa ou uma sessão mediúnica em um Centro Espírita. Independente de divergências, simpatias ou antipatias, levemos a nossos encontros o que de melhor podemos oferecer, pois somos corresponsáveis pela atmosfera que influiu nas decisões e resultados ocorridos em tais eventos.

Cuidemos, portanto, de nossos pensamentos, palavras e ações. Estes três determinarão que companhia teremos, as quais reforçarão nossas decisões sobre o que pensar, dizer e decidir. Estas três escolhas nossas igualmente irão colaborar na assepsia ou contaminação dos ambientes que frequentarmos.


Leia também, neste blog, as postagens “Falsos Cristos, falsos profetas e seus seguidores”, “Vigiai e Orai”, “Sintonia espiritual”, “A Influência de ‘Maus’ Espíritos”, “Pressentimentos”, “Faixas”, “Maus Pensamentos” e “Inspiração”.


Bons estudos!
Carla e Hendrio


Referências:

[1] KARDEC, Allan. "O Livro dos Médiuns". 55ª ed. Rio de Janeiro: RJ, FEB: 1987. Segunda Parte, capítulo XXI.
[2] HOLANDA, Aurélio Buarque de. “Novo Dicionário Eletrônico Aurélio”. Versão 5.0 de 2004. Positivo Informática. Meio.
[3] Centre Spirite Lyonnais Allan Kardec. “Téléchargements gratuits des ouvrages et des fascicules spirites”. Disponível em http://spirite.free.fr/. Acesso em 27/04/2010.
[4] KARDEC, Allan. “Revista Espírita de janeiro de 1859”. Tradução de Evandro Noleto Bezerra. Rio de Janeiro, RJ. FEB 2004. “Sr. Adrien, Médium Vidente”.
[5] Idem, “Revista Espírita de junho de 1860”. “Conversas Familiares de Além-Túmulo”.
[6] KARDEC, Allan. "O Livro dos Médiuns". 55ª ed. Rio de Janeiro: RJ, FEB: 1987. Segunda Parte, capítulo XXI, item 232.



sábado, 17 de abril de 2010

Chico

Quando admiramos alguém, procuramos incorporar em nossa vida alguns modos de ser que nos façam ficar mais próximos da pessoa admirada. Pode ser imitar o jeito de falar, algumas expressões, alguns gestos e atitudes. Não nos referimos aos especialistas em imitações, que são artistas, mas em mudanças conscientes que vamos fazendo para nos tornarmos mais próximos do ideal que traçamos para nós. Assim, ver o exemplo positivo de alguém, a prática da caridade, se temos olhos de ver, nos estimula a trazer esse exemplo para nosso cotidiano e vivenciarmos também essa situação.

Há, porém, outra forma de admiração, que coloca o ser admirado num "pedestal", tão longe de nós, que se torna impossível imitarmos seu exemplo. Tudo se torna inatingível e uma modéstia nem sempre real nos faz apregoar o quanto estamos distantes de atingir tal objetivo... Ocorre, neste caso, que, por o situarmos tão acima, comodamente nem começamos a dar o primeiro passo para encurtar a distância. Se é inatingível, para que nos esforçarmos? Vamos achar bonito e pronto. Não é para nosso bico... e assim se multiplicam as desculpas que nos fazem ficar parados no mesmo lugar.

Dentre as diversas reflexões que Chico Xavier nos desperta, essa é uma que devemos amadurecer, nestes tempos de homenagens mais que merecidas pelo seu exemplo de vida, que está acima da religião que professava.

O que nos desperta Chico Xavier?


Quando ouvimos histórias de sua vida, nos sentimos estimulados a vencer os desafios que nossa vida nos oferece? Sentimo-nos estimulados a tolerar mais os outros, a sermos mais afáveis, enfim, a mudarmos algo? Ou nos deslumbramos com os fenômenos que ele vivenciou, observando sua vida apenas como mais uma história interessante, que não contribui para nossa modificação íntima?

Francisco Cândido Xavier foi um dedicado e humilde medianeiro, responsável por centenas de mensagens de alento e instrução a milhões de almas. Por executar sua missão com tamanha dedicação, disciplina e renúncia, dedicando-se ao próximo em detrimento de quaisquer vantagens pessoais, agregou valor às elevadas mensagens que trazia do mundo espiritual. Exemplificou as palavras de Paulo na segunda carta aos coríntios: "Vós sois a nossa carta, escrita em nossos corações, conhecida e lida por todos os homens, sendo manifesto que sois carta de Cristo, feita por nosso ministério, escrita não com tinta, mas com o Espírito do Deus vivo, não em tábuas de pedras, mas em tábuas de carne de coração." (Segunda carta de Paulo aos coríntios 03:02-03).

Finalizamos com mais um episódio envolvendo dois Espíritos de escol, relatado por Ramiro Gama [1], para nossa reflexão.

"O Veterinário de Deus...

O nosso caro Chico Xavier, sobre sofrer moralmente, sofre também fisicamente.
Olhamos para sua fisionomia serena e irradiando bom humor e nem de leve sentimos o que lhe vai por dentro da alma cândida e sempre experimentada.
Além dos sofrimentos espirituais, possui uma maquinaria carnal, como a que possuímos, sempre em reparos...
A visão lhe é deficientíssima.
E, uma das vistas, além disto, lhe dói constantemente e, vez por outra, sangra e lacrimeja, trazendo-lhe dores pungentes.
Ao final de uma das Sessões de sexta-feira do Centro Espírita Luiz Gonzaga, em que atendeu, durante cinco horas seguidas, a mais de duas mil receitas, sua vista mais lesada sangrava e doía insuportavelmente.
O Dr. Bezerra, o abnegado Espírito receitista, já havia se ausentado, depois de haver, pelo Chico, respondido a todas as perguntas e solucionado infinidades de problemas íntimos...
Que fazer, pensava o querido Médium, em meio de uma assistência numerosa de Irmãos, que, nem de leve, lhe sentia a prova e que ainda se mostrava desejosa de receber, pelos seus abraços de despedida, mais algum benefício?
Nesta fase crucial, em que sofria material e moralmente, vê a seu lado o Espírito amoroso de Antonio Loreto Flores e lhe suplica humildemente:
- Irmão Flores, você que é um dos abnegados e sinceros pupilos do Dr. Bezerra, pede-lhe um remédio para meus olhos, pois sofro muito...
O Irmão Flores parte incontinente e aflito.
Daí a instantes chega com o Dr. Bezerra, que, olhando o Chico, se surpreende e lhe diz:
- Mas, Chico, por que você não me disse que estava passando mal da vista? Eu lhe teria medicado.
E o humilde Médium, emocionado por ver à sua frente o Espírito querido, todo iluminado, refletindo bondade, lhe pede:
- Dr. Bezerra, eu não lhe peço como gente, mas como uma Besta cheia de pisaduras, que precisa curar-se para continuar seu trabalho e ganhar seu pão de cada dia. Cure, pois, por caridade, os meus olhos doentes...
- Se você, caro Chico, é uma Besta e eu quem sou então? - retrucou-lhe o querido apóstolo.
- O Sr., Dr. Bezerra, exclama o Chico, é o Veterinário de Deus!...
Diante do estimado Médium classificar o Dr. Bezerra de Veterinário de Deus, esse, emocionado e surpreso pela resposta do Chico, volta-se para o lado e sorri... E o Médium conclui:
- Pela primeira vez, desde que trabalho com o Espírito querido do Kardec Brasileiro, vi-o sorrir e fiquei satisfeito.
Depois disto, colocou-me ele as mãos luminosas sobre a vista doente e senti-me, de imediato, melhorado.
Tudo se deu em minutos. Ninguém soube do sucedido.
Os abraços de despedida vieram.
E o Chico conseguiu partir para seu lar e dormir uma noite sem dores e sem lágrimas..."


Bons estudos!

Carla e Hendrio


Referência:
GAMA, Ramiro. "Lindos Casos de Bezerra de Menezes". 12ª ed. São Paulo, SP: LAKE, 1995. cap. 88 e 89.


quinta-feira, 8 de abril de 2010

Brilhe vossa Luz

“De tal modo brilhe a vossa luz diante dos homens, que eles vejam as vossas boas obras e glorifiquem a vosso Pai que está nos céus” (Mateus 05:16)

Fazer brilhar nossa luz é apagar nossas imperfeições e refletir em nossa vida, nos nossos atos e pensamentos, sentimentos e vibrações, a Luz Pura do Cristo. É chegar à condição declarada por Paulo de Tarso: “(...) já não sou eu quem vivo, mas o Cristo que vive em mim” (Gálatas 02:20). Para chegar a esta condição, o caminho é longo e se inicia no autoconhecimento: identificar o que trazemos para melhorar, o que temos de modificar, o que devemos desenvolver. É novamente o trabalho do autoamor, o qual, bem conduzido, nos leva à reforma íntima. Um roteiro prático para tal é sugerido por Santo Agostinho, à questão 919 de “O Livro dos Espíritos”.


O apóstolo Paulo de Tarso, em três cartas a três povos distintos, aponta a necessidade de praticarmos o Bem, fazendo nossa parte para que a porta do Bem seja a “porta larga” da Terra.

Na segunda carta ao povo de Corinto, Paulo lembra a necessidade de levarmos adiante o Bem que recebemos:
“Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai das misericórdias e o Deus de toda consolação, que nos consola em toda a nossa tribulação, para que também possamos consolar os que estiverem em alguma tribulação (...)” (2ª carta de Paulo aos Coríntios 01:03-04)


Em sua carta a seus patrícios hebreus, Paulo alerta que devemos focar nossa atenção em nossa evolução moral, ou nossa salvação:
“Mas de vós, ó amados, esperamos coisas melhores, e que acompanham a salvação (...)” (Carta de Paulo aos Hebreus 06:09)


Escrevendo aos habitantes da Galácia, Paulo esclarece que o foco exclusivo nas ilusões mundanas a nada leva, enquanto que o trabalho pela evolução moral traz benefícios imperecíveis:
“Porque o que semeia na sua carne, da carne ceifará corrupção; mas o que semeia no Espírito, do Espírito ceifará vida eterna.” (Carta de Paulo aos Gálatas 06:08)


Pratiquemos, portanto:

  • Consolar. Consolo é palavra formada pela união de duas palavras do latim: cum + solis (com + sol). Portanto, consolar é levar a Luz e calor ao coração, após as “tempestades” das provas a que todos estamos sujeitos para nosso aprendizado e evolução;
  • Solidariedade. É a ação de solidar, ou oferecer solo para os que, por traumas em sua história de vidas, ficaram “sem chão”, física e/ou emocionalmente;
  • Misericórdia. É a união das palavras do latim misereo (miséria) + cor (coração) sentimento de empatia, de colocar a miséria do próximo em nosso próprio coração.


Leia, também, neste blog, a postagem “A Porta Estreita”.


Bons estudos!
Carla e Hendrio

domingo, 4 de abril de 2010

A Porta Estreita

Buscando correlacionar passagens evangélicas, uma análise precipitada pode indicar incoerências entre os ensinos de Jesus. Se, por exemplo, na passagem sobre o jugo leve (Mateus 11:28-30; vide a postagem “O Jugo Leve”, neste blog), Jesus promete alívio e repouso, por Seu caminho ser o mais suave, a passagem sobre a porta estreita pode levar a crer que o caminho do Bem é difícil. Analisemos esta passagem.

“Entrai pela porta estreita (larga é a porta e espaçosa a estrada que conduz à perdição, e muitos são os que entram por ela), porque estreita é a porta e apertada a estrada que conduz à vida, e poucos são os que acertam com ela.” (Mateus 07:13-14)

Allan Kardec, a respeito dessa passagem, pondera [1]: “Larga é a porta da perdição, porque são numerosas as paixões más e porque o maior número envereda pelo caminho do mal. É estreita a da salvação, porque a grandes esforços sobre si mesmo é obrigado o homem que a queira transpor, para vencer suas más tendências, coisa a que poucos se resignam. É o complemento da máxima: ‘Muitos são os chamados e poucos os escolhidos.’
Tal o estado da Humanidade terrena, porque, sendo a Terra mundo de expiação, nela predomina o mal. Quando se achar transformada, a estrada do bem será a mais frequentada. Aquelas palavras devem, pois, entender-se em sentido relativo e não em sentido absoluto. Se houvesse de ser esse o estado normal da Humanidade, teria Deus condenado à perdição a imensa maioria das suas criaturas, suposição inadmissível, desde que se reconheça que Deus é todo justiça e bondade.”

A “porta larga” é a do Bem ou a contrária às leis de Deus? Isso é decisão que depende da Humanidade que habita um determinado mundo. Assim, em um mundo onde a maioria das pessoas, encarnadas ou não, costuma ceder a suas paixões, pensamentos e ações viciosas, com foco maior em ambições mundanas e menor na caridade e na preocupação com o bem-estar do outro, a “porta larga” é a que leva ao caminho que atrasa sua marcha evolutiva. Ao contrário, em um mundo onde a maioria de seus Espíritos escolhe se esforçar e efetivar a vitória sobre suas más tendências, a “porta larga” é a do Bem. Essa é a transição em que se encontra o planeta Terra atualmente — e depende exclusivamente de nossa decisão por nossa evolução moral, nossa Reforma Íntima.




Sendo nós criaturas em fase de aperfeiçoamento, oscilamos entre a escolha por uma e outra “porta”, às vezes conseguindo vencer nossos maus pendores, outras vezes cedendo às nossas imperfeições. Nosso trabalho de reforma íntima visa a escolher, em definitivo, a “porta” do Bem.

Deus, certamente, não nos condenou à perdição. Todos nós, mais cedo ou mais tarde, dependendo de nossas escolhas, tomaremos o caminho do Bem. Nos ensinos de Jesus, que aprendemos em Mateus, capítulo 18, versículos 12 a 14:

“Que vos parece? se um homem tiver cem ovelhas, e uma delas se extraviar, não deixa as noventa e nove e vai aos montes procurar a que se extraviou? Se acontecer achá-la, em verdade vos digo que se regozija mais por causa desta, do que pelas noventa e nove que não se extraviaram. Assim não é da vontade de vosso Pai que está nos céus, que pereça um destes pequeninos.”

Nossa missão, ou nosso fardo, pode ser executada sob um conjunto de Leis, ou um jugo, que abrevia decepções e desilusões do foco exclusivo na vida material e imediatista. Tudo depende da nossa decisão de seguir o caminho do Bem.

O desapego ao material não implica desprezar nem a vida encarnada na Terra, nem a necessidade de utilizarmos os recursos materiais para executar nossa missão neste Planeta. Os bens materiais, em si, não são bons ou maus; apenas devem servir a nosso propósito de fazer o melhor ao próximo e a nós mesmos. Ser possuidor de dinheiro não implica perdição; o erro é quando não sabemos mais se somos donos do dinheiro ou se ele é nosso dono.

A Boa-Nova é uma mensagem de alegria e esperança, que diz que nossas dificuldades podem ser superadas com uma visão otimista. Apesar de haver a dor da nossa saída da “zona de conforto”, não são necessários o sofrimento e a culpa para que se faça a evolução. A transposição da “porta estreita” não pode ser vista como uma decisão dura, difícil, que exige sofrimento. Exige escolhas conscientes, que levarão a renúncias de hábitos de uma Humanidade ainda infantil, mas não deve ser uma escolha sofrida, do contrário demonstra que ainda não se aprenderam a finalidade e os benefícios de tais renúncias.

Allan Kardec, em mensagem por ele enviada por via mediúnica pouco após seu retorno à Pátria Espiritual, ocorrido em 31 de março de 1869, e registrada na “Revista Espírita” de maio do mesmo ano [2], ressaltou a necessidade do esforço para, pelo Bem, evoluirmos, como vemos abaixo, em trecho dessa mensagem:

“Na fase nova em que entramos, a energia deve substituir a apatia; a calma deve substituir o ímpeto. Sede tolerantes uns para com os outros; agi sobretudo pela caridade, pelo amor, pela afeição. Oh! se conhecêsseis todo o poder desta alavanca! Foi essa alavanca que levou Arquimedes a dizer que com ela levantaria o mundo! Vós o levantareis, meus amigos, e esta transformação esplêndida, que será efetuada por vós em proveito de todos, marcará um dos mais maravilhosos períodos da história da Humanidade.

Coragem, pois, e esperança. Esperança!... esse facho que os vossos infelizes irmãos não podem perceber através das trevas do orgulho, da ignorância e do materialismo, não o afasteis ainda mais de seus olhos. Amai-os; fazei com que vos amem, vos ouçam, vos olhem! Quando tiverem visto, ficarão deslumbrados.

Então, meus amigos, meus irmãos, como eu seria feliz ao ver que os meus esforços não foram inúteis e que o próprio Deus abençoou a nossa obra! Nesse dia haverá no céu uma grande alegria, um grande êxtase! A Humanidade estará livre do jugo terrível das paixões que a acorrentam e oprimem com um peso esmagador. Então não mais haverá na Terra o mal, nem o sofrimento, nem a dor; porquanto os verdadeiros males, os sofrimentos reais, as dores cruciantes vêm da alma. O resto não passa do leve roçar de um espinho sobre as vestes!...

Ao clarão da liberdade e da caridade humanas, todos os homens, reconhecendo-se, dirão: ‘Somos irmãos’ e só terão no coração um mesmo amor, na boca uma só palavra, nos lábios um só murmúrio: Deus!

Allan Kardec”


Leia, também, neste blog, as postagens “O Jugo Leve”, “Brilhe vossa Luz”, “Os últimos serão os primeiros, e os primeiros serão os últimos”, “A Influência de ‘Maus’ Espíritos” e “A riqueza”.


Bons estudos!

Carla e Hendrio


Referências:

[1] KARDEC, Allan. “O Evangelho Segundo o Espiritismo”. 97ª ed. RIO DE JANEIRO, FEB: 1987. Capítulo XVIII (“Muitos os chamados, poucos os escolhidos”), item 5.
[2] KARDEC, Allan. “Revista Espírita de maio de 1869”. São Paulo, SP: IDE, 1993. “Dissertações Espíritas”.