segunda-feira, 31 de agosto de 2009

A Prece

"Pedi, e dar-se-vos-á; buscai, e achareis; batei, e abrir-se-vos-á." (Mateus, 7:7)


A prece é um ato de adoração, que consiste da elevação do pensamento a Deus (“O Livro dos Espíritos”, questões 649 e 659). Allan Kardec esclarece, no item 9 do cap. XXVII e “O Evangelho Segundo o Espiritismo”[1], que “a prece é uma invocação, mediante a qual o homem entra, pelo pensamento, em comunicação com o ser a quem se dirige. Pode ter por objeto um pedido, um agradecimento, ou uma glorificação. Podemos orar por nós mesmos ou por outrem, pelos vivos ou pelos mortos. As preces feitas a Deus escutam-nas os Espíritos incumbidos da execução de suas vontades; as que se dirigem aos bons Espíritos são reportadas a Deus. Quando alguém ora a outros seres que não a Deus, fá-lo recorrendo a intermediários, a intercessores, porquanto nada sucede sem a vontade de Deus.”

Na Obra “Entre a Terra e o Céu”[2], André Luiz ouviu o Ministro Clarêncio apresentando importantes elucidações a respeito da prece, das quais destacamos:

“A prece, qualquer que ela seja, é ação provocando a reação que lhe corresponde. Conforme a sua natureza, paira na região em que foi emitida ou eleva-se mais, ou menos, recebendo a resposta imediata ou remota, segundo as finalidades a que se destina.”
(...)
“Cada prece, tanto quanto cada emissão de força, se caracteriza por determinado potencial de freqüência e todos estamos cercados por Inteligências capazes de sintonizar com o nosso apelo, à maneira de estações receptoras.”

Martins Peralva, na obra “Estudando a Mediunidade”[3], classifica a prece em três grupos, a saber:

“Sendo a prece «um apelo», evidentemente somos levados a, de acordo com as instruções dos Benfeitores Espirituais, classificá-la de vários modos.”

“Em primeiro lugar, teremos a «prece vertical», isto é, aquela que, expressando aspirações realmente elevadas, se projeta na direção do Mais Alto, sendo, em face dos mencionados princípios de afinidade, recolhida pelos Missionários das Esferas Superiores.”

“Em segundo lugar, teremos a «prece horizontal», traduzindo anseios vulgares. Essa prece não terá impulso oblíquo ou vertical, porque encontrará ressonância entre aqueles Espíritos ainda ligados aos problemas terrestres, vivendo, portanto, horizontalmente.”

“Por fim, teremos a descendente. A essa não daremos a denominação de «prece», substituindo-a por «invocação», consoante aconselha o Ministro Clarêncio («Entre a Terra e o Céu» — André Luiz».)”

“Na «invocação», o apelo receberá a resposta de entidades de baixo tom vibratório. São os petitórios inadequados, expressando desespero, rancor, propósitos de vingança, ambições, etc.”


Foto de Alvaro Cordeiro
"Pai, (...) não se faça a minha vontade, mas sim a tua." (Lucas 22:42)


Atendo-nos à prece vertical, conforme definido acima, a prece será eficaz se possuidora de vibrações capazes de atingir o Alto. Kardec, no preâmbulo do capítulo XXVIII de “O Evangelho Segundo o Espiritismo”, afirma que a prece deve ser inteligível; clara; simples; concisa e sem fraseologia inútil — em suma, deve fazer refletir.

A fim de evitar a confusão do entendimento de “prece eficaz” com “atingir o que se quer”, o Codificador informa, no item 12 do capítulo XXVII de “O Evangelho Segundo o Espiritismo”: “Admitamos que o homem nada possa com relação aos outros males; que toda prece lhe seja inútil para livrar-se deles; já não seria muito o ter a possibilidade de ficar isento de todos os que decorrem da sua maneira de proceder? Ora, aqui, facilmente se concebe a ação da prece, visto ter por efeito atrair a salutar inspiração dos Espíritos bons, granjear deles força para resistir aos maus pensamentos, cuja realização nos pode ser funesta. Nesse caso, o que eles fazem não é afastar de nós o mal, porém, sim, desviar-nos a nós do mau pensamento que nos pode causar dano; eles em nada obstam ao cumprimento dos decretos de Deus, nem suspendem o curso das leis da Natureza; apenas evitam que as infrinjamos, dirigindo o nosso livre-arbítrio. (...) É isso o que o homem pode estar sempre certo de receber, se o pedir com fervor, sendo, pois, a isso que se podem sobretudo aplicar estas palavras: ‘Pedi e obtereis.’ (Marcos, cap. XI, v. 24)”

O Espírito V. Monod, no item 22 do capítulo XXVII de “O Evangelho Segundo o Espiritismo”, também recomenda atenção ao tipo de prece que se faz. Em suas palavras:

“A vossa prece deve conter o pedido das graças de que necessitais, mas de que necessitais em realidade. Inútil, portanto, pedir ao Senhor que vos abrevie as provas, que vos dê alegrias e riquezas. Rogai-lhe que vos conceda os bens mais preciosos da paciência, da resignação e da fé. Não digais, como o fazem muitos: ‘Não vale a pena orar, porquanto Deus não me atende.’ Que é o que, na maioria dos casos, pedis a Deus? Já vos tendes lembrado de pedir-lhe a vossa melhoria moral? Oh! não; bem poucas vezes o tendes feito. O que preferentemente vos lembrais de pedir é o bom êxito para os vossos empreendimentos terrenos e haveis com freqüência exclamado: ‘Deus não se ocupa conosco; se se ocupasse, não se verificariam tantas injustiças.’ Insensatos! Ingratos! Se descêsseis ao fundo da vossa consciência, quase sempre depararíeis, em vós mesmos, com o ponto de partida dos males de que vos queixais. Pedi, pois, antes de tudo, que vos possais melhorar e vereis que torrente de graças e de consolações se derramará sobre vós.”


A respeito deste tema, leia também, neste blog, as postagens “A Prece (2)”, “Vigiai e Orai”, “Deus ajuda...”, “O fariseu e o publicano”, “Maus Pensamentos”, “Sintonia espiritual” e “Dia de Finados”.


Bons estudos!
Carla e Hendrio


1. KARDEC, Allan. “O Evangelho Segundo o Espiritismo”. 2ª ed. de bolso. Rio de Janeiro: RJ, FEB: 1999.
2. XAVIER, Francisco Cândido. “Entre a Terra e o Céu”. 17ª ed. Rio de Janeiro: RJ, FEB, 1997. Cap. 1.
3. PERALVA, Martins. “Estudando a Mediunidade”. 12ª ed. Rio de Janeiro: RJ, FEB, 1987. Cap. 33.

sábado, 29 de agosto de 2009

Bezerra de Menezes

Hoje, lembramos os 178 anos da vinda à Terra do benfeitor Adolfo Bezerra de Menezes Cavalcanti.

Espírito de alta envergadura e com muitos talentos, lembrado como o Médico dos Pobres, discorreu sobre a diferença entre o médico e o "negociante da Medicina" (livro "Lindos Casos de Bezerra de Menezes", cap. 33). O diálogo entre Bezerra e um materialista ilustra muito bem a questão dessas diferenças de visão sobre a vida, sob um foco absolutamente prático - o do resultado; ou seja, onde é que aquilo em que acreditamos nos leva. No capítulo 21 do livro "Estante da Vida", de autoria espiritual do Irmão X e psicografado por esse exemplo de Espírita que é Francisco Cândido Xavier, lemos:

"Conta-se que o Dr. Adolfo Bezerra de Menezes orientava, no Rio, uma reunião de estudos espíritas, com a palavra livre para todos os circunstantes, quando, após comentários diversos, perguntou se mais alguém desejava expressar-se nos temas da noite.
Foi então que renomado materialista, seu amigo pessoal, lhe dirigiu veemente provocação:
- Bezerra, continuo ateu e, não somente por meus colegas mas também por mim, venho convidá-lo a debate público, a fim provarmos a inexpugnabilidade de Materialismo contra as pretensões do Espiritismo. E previno a você que o Materialismo já levantou extensa lista de médiuns fraudulentos; de chamados sensitivos que reconheceram os seus próprios enganos e desertaram das fileiras espíritas; dos que largaram em tempo o suposto desenvolvimento das forças psíquicas e fizeram declarações, quanto às mentiras piedosas de que se viram envoltos; dos ilusionistas que operam em nome de poderes imaginários da mente; e, com essa relação, apresentaremos outro rol de nomes que o Materialismo já reuniu, os nomes dos experimentadores que demonstraram a inexistência da comunicação com os mortos; dos sábios que não puderam verificar as fictícias ocorrências da mediunidade; dos observadores desencantados de qualquer testemunho da sobrevivência; e dos estudiosos ludibriados por vasta súcia de espertalhões... Esperamos que você e os espíritas aceitem o repto.



Bezerra concentrou-se em preces, alguns instantes, e, em seguida, respondeu, aliando energia e brandura:
- Aceitamos o desafio, mas tragam também ao debate aqueles que o Materialismo tenha soerguido moralmente no mundo; os malfeitores que ele tenha regenerado para a dignidade humana; os infelizes aos quais haja devolvido o ânimo de viver; os doentes da alma que tenha arrebatado às fronteiras da loucura; as vítimas de tentações escabrosas que haja restituído à paz do coração; as mulheres infortunadas que terá arrancado ao desequilíbrio; os irmãos desditosos de quem a morte roubou os entes mais caros, a a cujo sentimento enregelado na dor terá estendido o calor da esperança; as viúvas e os órfãos, cujas energias terá escorado; para os caluniados aos quais terá ensinado o perdão das afrontas; os que foram prejudicados por atos de selvageria social mascarados de legalidade, a quem haverá proporcionado sustentação para que olvidem os ultrajes recebidos; os acusados injustamente, de cujo espírito rebelado terá subtraído o fel da revolta, substituindo-o pelo bálsamo da tolerância; os companheiros da Humanidade que vieram do berço cegos ou mutilados, enfermos ou paralíticos, aos quais terá tranqüilizado com princípios de justiça, para que aceitem pacificamente o quinhão de lágrimas que o mundo lhes reservou; os pais incompreendidos a quem deu força e compreensão para abençoarem os filhos ingratos e os filhos abandonados por aqueles mesmos que lhes deram a existência, aos quais auxiliou para continuarem honrando e amando os pais insensíveis que os atiraram em desprezo e desvalimento; os tristes que haja imunizado contra o suicídio; os que foram perseguidos sem causa aparente, cujo pranto terá enxugado nas longas noites de solidão e vigília, afastando-os da vingança e da criminalidade; os caídos de toda as procedências, a cujo martírio tenha ofertado apoio para que se levantem...
Nesse ponto da resposta, o velho lidador fez uma pausa, limpou as lágrimas que lhe deslizavam no rosto e terminou:
- Ah! meu amigo, meu amigo!... Se vocês puderem trazer um só dos desventurados do mundo, a quem o Materialismo terá dado socorro moral para que se liberte do cipoal do sofrimento, nós, os espíritas, aceitaremos o repto.
Profundo silêncio caiu na pequena assembleia, e, porque o autor da proposição baixasse a cabeça, Bezerra, em prece comovente, agradeceu a Deus as bênçãos da fé e encerrou a sessão."

~*~*~*~

No município do Rio de Janeiro, a partir de 2009, o dia 29 de agosto foi denominado Dia de Adolfo Bezerra de Menezes.

~*~*~*~

Bons Estudos!
Carla e Hendrio

* XAVIER, Francisco Cândido. "Estante da Vida". Pelo Espírito Irmão X. Rio de Janeiro, RJ: FEB, 1969

quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Considerações sobre o aborto induzido

O que é

Etimologicamente[1], a palavra aborto, isto é, o termo "ab-ortus", traduz a ideia de privar do nascimento, uma vez que "Ab" equivale à privação e "ortus" a nascimento. Afirma-se, também, que o termo aborto provém do latim "aboriri", significando "separar do lugar adequado", e conceitualmente é "a interrupção da gravidez com ou sem a expulsão do feto, resultando na morte do nascituro".


Tipos de abortos

O aborto espontâneo também pode ser chamado de aborto involuntário ou "falso parto". Calcula-se que 25% das gestações terminam em aborto espontâneo, sendo que 3/4 ocorrem nos três primeiros meses de gravidez. A causa do aborto espontâneo no primeiro trimestre, são distúrbios de origem genética, e, no segundo trimestre, causas externas a ele, como incontinência do colo uterino, má formação uterina, insuficiência de desenvolvimento uterino, fibroma, infecções do embrião e de seus anexos. Leia, a respeito do aborto espontâneo, a postagem "Considerações sobre o Aborto Espontâneo", neste blog.

O aborto provocado ou induzido é a interrupção deliberada da gravidez, pela extração do feto da cavidade uterina. É no aborto provocado que o presente trabalho foca.


Quanto ocorre

Um estudo do Instituto Guttmacher[2] e da Organização Mundial de Saúde mostra os dados abaixo. Ocorrem mais de 120 mil abortos por dia no mundo.


Nos Estados Unidos da América do Norte, entre os anos de 1973 e 2007, aproximadamente 48 milhões[3] de abortos ocorreram.


No Brasil, os números que se encontram variam muito. Citam-se de 1.400.000 a 2.500.000 abortos feitos anualmente no País.


O que diz a Lei

Constituição da República Federativa do Brasil de 1988[4]:
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade (...)

Código Penal[5]:
Art. 124 - Provocar aborto em si mesma ou consentir que outrem lho provoque: Pena - detenção, de um a três anos.
Art. 125 - Provocar aborto, sem o consentimento da gestante: Pena - reclusão, de três a dez anos.
Art. 126 - Provocar aborto com o consentimento da gestante: Pena - reclusão, de um a quatro anos. (aplica-se pena do Art. 125 se a gestante não é maior de quatorze anos, ou é alienada ou débil mental, ou se o consentimento é obtido mediante fraude, grave ameaça ou violência)
Art. 128 - Não se pune o aborto praticado por médico:
Aborto necessário
I - se não há outro meio de salvar a vida da gestante;
Aborto no caso de gravidez resultante de estupro
II - se a gravidez resulta de estupro e o aborto é precedido de consentimento da gestante ou, quando incapaz, de seu representante legal.

Convenção Americana Sobre Direitos Humanos[6] (Pacto de San José; Artículo 4. Derecho a la Vida)
Toda pessoa tem direito a que se respeite sua vida. Este direito estará protegido pela lei e, em geral, a partir do momento da concepção. Ninguém pode ser privado da vida arbitrariamente.


Impacto para a gestante

Pesquisas científicas do Plano Físico
Estudos da Organização Mundial de Saúde[7] indicam, por 67 estudos em 17 países, que, em algumas regiões, até 50% das mortes de mães em hospitais decorrem de complicações em abortos. Isso sem contar as mortes ocorridas em instituições que não sejam hospitais. Segmentos da Organização Mundial de Saúde apoiam a liberalização do aborto, a fim de que haja acesso a essa prática por profissionais qualificados e reduzam-se as mortes em clínicas clandestinas.

No Brasil, afirma-se haver cerca de 70 mil mortes anuais em função de complicações em abortos, mas os dados conflitam com os apresentados pelo governo.

Um estudo[8] feito no hospital universitário Malmö, na Suécia, em que acompanharam-se 854 mulheres após fazerem aborto induzido em 1989 (66,5% de todos os abortos induzidos feitos naquela cidade no referido ano), indicou que 50% a 60% das mulheres que fizeram aborto sofreram impacto emocional, das quais 30% considerado grave. Das 854 mulheres entrevistadas, 55% delas afirmaram ter sentido remorso, e 76,1% nunca abortariam se grávidas novamente. O argumento de que o aborto é feito para evitar maiores traumas às gestantes fica comprometido.

A BBC Brasil[9] relatou, em dezembro de 2008, publicação do British Journal of Psychiatry indicando que mulheres que se submetem a abortos têm 30% mais chance de terem problemas mentais do que as mulheres que nunca passaram por isso. Segundo a pesquisa, que acompanhou 500 mulheres, ansiedade e abuso no uso de drogas são os problemas mais comuns verificados em mulheres após um aborto.

Em dezembro de 2005, pesquisadores da Universidade de Oslo[10], na Noruega, publicaram estudo, feito por meio de entrevistas, ao longo de 5 anos, com 40 mulheres que fizeram aborto espontâneo e 80 que fizeram aborto induzido. Concluiu-se que o curso das respostas psicológicas aos abortos espontâneo e voluntário difere durante o período de 5 anos após o evento. Abortos induzidos podem resultar em traumas psicológicos que levam pelo menos cinco anos para serem superados. Aquelas que perderam os bebês em razão de problemas no parto sofreram estresse mental nos seis meses subsequentes. Já as mulheres que praticaram abortos de vontade própria enfrentaram efeitos negativos de duração maior. Ativistas que militam pelo direito ao aborto dizem não haver provas ligando diretamente aborto a trauma psicológico, porém o presente estudo é uma delas.


Pesquisas científicas do Plano Espiritual
Questões de “O Livro dos Espíritos”[11]:
- 880. Qual o primeiro de todos os direitos naturais do homem? “O de viver. Por isso é que ninguém tem o de atentar contra a vida de seu semelhante, nem de fazer o que quer que possa comprometer-lhe a existência corporal.”
- 344. Em que momento a alma se une ao corpo? “A união começa na concepção, mas só é completa por ocasião do nascimento. Desde o instante da concepção, o Espírito designado para habitar certo corpo a este se liga por um laço fluídico, que cada vez mais se vai apertando até ao instante em que a criança vê a luz. O grito, que o recém-nascido solta, anuncia que ela se conta no número dos vivos e dos servos de Deus.”
- 357. Que consequências tem para o Espírito o aborto? “É uma existência nulificada e que ele terá de recomeçar.”
- 358. Constitui crime a provocação do aborto, em qualquer período da gestação? “Há crime sempre que transgredis a lei de Deus. Uma mãe, ou quem quer que seja, cometerá crime sempre que tirar a vida a uma criança antes do seu nascimento, por isso que impede uma alma de passar pelas provas a que serviria de instrumento o corpo que se estava formando.”
- 359. Dado o caso que o nascimento da criança pusesse em perigo a vida da mãe dela, haverá crime em sacrificar-se a primeira para salvar a segunda? “Preferível é se sacrifique o ser que ainda não existe a sacrificar-se o que já existe.”

Encontramos, no livro “Sexo e Evolução”[12], as seguintes informações: “As consequências imediatas do aborto delituoso logicamente se refletem, primeiro e em maior grau, no organismo fisiopsicossomático da mulher, pois abortar é arrancar violentamente um ser vivo do claustro materno. O centro genésico, que é o santuário as energias criadoras do sexo e tem sua contraparte na organização perispiritual da mulher, com a prática do aborto condenável sofre desequilíbrios profundos, ainda desconhecidos da ciência terrena”. A mesma obra indica potencial para consequências desse ato perdurarem na encarnação seguinte, como desequilíbrios psíquicos, enfermidades do útero e infertilidade.

No final do capítulo 15 da obra “Ação e Reação”[13], indica-se a predisposição, pelo importante desequilíbrio no centro genésico da alma de quem pratica o aborto induzido, a diversas enfermidades também no campo físico, bem como possibilidades de regeneração do ato nas suas reencarnações e auxiliando nas de Espíritos em provações que exigem trabalho para levar adiante.


E a gravidez por estupro?
A benfeitora Joanna de Ângelis, no capítulo 12 da obra “Após a Tempestade...”[14], psicografada por Divaldo Pereira Franco, assevera: “Examinando-se ainda a problemática do aborto legal, as leis são benignas quando a fecundação decorre da violência pelo estupro... Mesmo em tal caso, a expulsão do feto, pelo processo abortivo, de maneira nenhuma repara os danos já ocorridos...
Não raro, o Espírito que chega ao dorido regaço materno, através de circunstância tão ingrata, se transforma em floração de bênção sobre a cruz de agonias em que o coração feminil se esfacelou...
A renúncia a si mesmo pela salvação de outra vida concede incomparáveis recursos de redenção para quem se tornou vítima da insidiosa trama do destino...”
Mesmo uma gravidez ocorrida em tal situação não justifica uma nova violência contra a mulher. Caso não haja condições materiais e/ou psicológicas para ficar com a criança, um programa de adoção beneficia o encarnante e viabiliza a não manutenção da criança com a mãe biológica.


Impacto para o feto

Colocações da banda materialista da ciência
No livro “A moralidade do aborto”[15], define-se que "a pessoa é um indivíduo racional", com a formação do córtex cerebral de forma suficientemente completa. Afirma-se que, como isso somente acontece após o terceiro mês de gravidez, então antes desse tempo o embrião não deve ser considerado pessoa humana. A programação inicial do embrião “nada mais é que uma sequência de DNA revestida de proteínas (quer dizer, um pedaço de matéria)”. É indicado que até o 14º dia da fecundação o pré-embrião representaria somente um potencial. Não seria possível distinguir traços de individualidade, ou seja, precisar quantos indivíduos se formariam a partir daquele sistema biológico. O autor confronta o conceito de indivíduo, que se dividido, ou morre ou se dissolve, com a condição do embrião que ainda poderia se fragmentar e produzir mais de um ser.


Relatos do Plano Espiritual
Na obra “Missionários da Luz”[16], verifica-se a narrativa de um desligamento de um feto devido a abusos e prazeres desregrados de uma gestante. Não fora realizada, pela gestante, operação cirúrgica de abortamento, mas seus excessos implicaram a impossibilidade da continuação do retorno do Espírito reencarnante.

Encontra-se, no livro “No Mundo Maior”[17], narrativa de uma operação de abortamento, vista pela ótica do Plano Espiritual, com graves impactos ao reencarnante e à saúde física da gestante.


Ciência do Plano Físico Identifica a Individualidade Embriofetal
Estudos científicos[18] demonstram que há uma individualidade embriofetal muito nítida, tanto imunológica quanto psicológica, a qual pode ser acompanhada, desde muito cedo, através da ultrassonografia. Há um conflito de interesses maternos-fetais, o que prova a personalidade distinta do feto. Por ser corpo estranho no organismo materno, ele tem de lutar para manter-se vivo, para não ser rejeitado.

Uma enzima chamada IDO (indoleamina 2,3 dioxigenase), produzida pelas células dendríticas e macrófagos (células de defesa do organismo), degrada o aminoácido essencial triptofano, sem o qual a ativação e proliferação de linfócitos T e consequentemente mecanismos a eles associados como os de defesa e rejeição podem ser seriamente comprometidos. Neste contexto, tem sido atribuído à IDO expressa na interface materno-placentária papel de relevância na ausência de rejeição fetal pelo organismo materno.

Essas pesquisas colocam em xeque, portanto, o argumento de que a mulher grávida tem o direito de decidir se o embrião deve viver ou morrer, porque este não seria um ser à parte, não teria personalidade própria. Tanto possui que ele é detentor de um patrimônio genético exclusivo. E, desde o período inicial da gestação, extravasa a sua inteligência através da capacidade de autogerir-se mentalmente, de adaptar-se e adequar-se a situações novas. Essa luta do embrião para sobreviver dá-lhe o status de pessoa e demonstra que ele apenas se hospeda no organismo materno. A propalada autonomia da mãe, o seu direito de decidir, portanto, não se sustenta.


Conhecimento médico sobre a lei

Pesquisa[19] feita com 57 médicos de Ribeirão Preto indica que a maioria aceita as condições do aborto legal e o ampliaria para malformação fetal incompatível com a vida, mas é contra a descriminalização do aborto por outros motivos. O baixo conhecimento sobre as leis do aborto revela-se por conceitos errôneos na aplicação prática do aborto legal. Os resultados sugerem fortemente que muitos não sabem aplicar a lei ou teriam dificuldade para tal.


Interesses no uso do material dos corpos abortados

A legislação em alguns países onde o abortamento é legalizado exige que o material retirado seja destruído. O senador americano Brock Adams, portador do Mal de Parkinson, afirmou, sobre tecido fetal: “Podemos usar esse tecido no que entendemos ser salvamento de vidas, ou podemos enterrá-lo. Essa é a escolha.”[20]

Harry Schwartz, um dos editores do periódico The New York Times, afirmou que "Se uma mulher pobre quiser compensação pelo uso do tecido de seu feto abortado, deixem-na tê-lo se alguém necessita desse tecido e está disposto a pagar por ele.”[21]

Uma americana chamada Rae Leith apareceu no programa "Nightline", da rede ABC, e anunciou que ela queria criar um bebê especificamente para abortar, com o propósito de transplantar seu tecido cerebral para seu pai, que sofria do Mal de Parkinson.[20]

Ainda que haja exagero em algumas notícias, a liberalização de um crime como o aborto suscita ideias desprovidas de ética como as supracitadas.


Como deve proceder quem fez um aborto?

Não nos cabe julgar ou muito menos condenar pessoa alguma, pois todos somos Espíritos imperfeitos, com nossa carga de ações menos felizes ao longo de milênios de existências.

Entendendo pecado meramente como um desvio do caminho ideal, sem conotações de culpa, Jesus disse:
- “Qual de vós é o homem que, possuindo cem ovelhas e tendo perdido uma delas, não deixa as noventa e nove no deserto, e não vai em busca da que se havia perdido até achá-la? Quando a tiver achado, põe-na cheio de júbilo sobre os seus ombros; e chegando à casa, reúne os seus amigos e vizinhos e diz-lhes: Regozijai-vos comigo, porque achei a minha ovelha que se havia perdido. Digo-vos que assim haverá maior júbilo no céu por um pecador que se arrepende, do que por noventa e nove justos, que não necessitam de arrependimento.” (Lucas 15, 04:07)

- Falando à mulher tida como adúltera, na iminência de ser lapidada e após Ele lembrar que nenhum ali havia sem pecado e, por isso, não a condenava: “Nem eu tampouco te condeno; vai, e não peques mais.” (João 8:11)

Se o Mestre de nosso planeta, nosso Médico do Mundo, não condena nenhuma alma, por que haveremos nós de nos martirizarmos sem ações objetivas em prol do que aprendemos ser incorreto?

Assumir a responsabilidade pelos nossos atos é ação madura no caminho de repararmos erros cometidos. E responsabilidade é totalmente diferente de sentimentos de culpa ou remorso, que estagnam nossa evolução por não nos perdoarmos e não nos permitirmos seguir em frente, como pontuou André Luiz na obra “Evolução em Dois Mundos”[22].

Allan Kardec, em sua obra “O Céu e o Inferno”[23], apresenta três passos para a efetiva regeneração, fazendo as pazes com a consciência e efetivamente executando ações úteis em prol do Bem do próximo:

- Arrependimento
- Expiação
- Reparação

Em suas palavras: “Arrependimento, expiação e reparação constituem, portanto, as três condições necessárias para apagar os traços de uma falta e suas consequências. O arrependimento suaviza os travos da expiação, abrindo pela esperança o caminho da reabilitação; só a reparação, contudo, pode anular o efeito destruindo-lhe a causa. Do contrário, o perdão seria uma graça, não uma anulação”.

Mais uma vez, nada de martírio ou sofrimento inútil, mas ação objetiva no lugar de lamentação e culpa. Abordando o tema específico do aborto, trazemos o exemplo do dr. Bernard Nathanson[24]. Foi diretor do Centro de Saúde Reprodutiva e Sexual em Nova York, uma clínica obstétrica onde se realizava o maior número de abortos naquela cidade, onde ele foi responsável por mais de 75.000 abortos, na década de 1960, tendo sido 5.000 com as suas próprias mãos. Foi um dos responsáveis diretos pela legalização do abortamento nos EUA.

Tendo tido acesso a maiores informações científicas sobre os fetos devido ao ultrassom, no início da década de 1970, mudou completamente de ideia e atitude. Hoje o dr. Nathanson é um dos maiores defensores da vida, e, juntamente com sua equipe, realiza mais de 50 tipos de cirurgias no interior do útero para salvar e favorecer a vida do feto e acrescenta: “penso que quando se permite o aborto, permite-se um ato de violência mortal, um ato deliberado de destruição e, portanto, um crime.”

Bons exemplos existem para ser seguidos. Nas palavras de Simão Pedro, (também analisadas na postagem "O amor cobre uma multidão de pecados.", neste blog) “Sede, portanto, prudentes e sóbrios para oração, tendo antes de tudo ardente caridade uns para com os outros, porque a caridade cobre a multidão dos pecados; exercitando hospitalidade uns com os outros sem murmuração; cada um de vós, segundo o dom que recebeu, comunicando-o uns aos outros, como bons despenseiros das várias graças de Deus." (I Pedro 4:07-10)


Ações da Federação Espírita Brasileira

A FEB organiza Marchas Nacionais da Cidadania pela Vida, em Brasília, usualmente coletando assinaturas apoiando a causa. Em 30/08/2009 ocorrerá a 3ª edição. Para informações:

- Telefone (61) 3345-0221;
- E-mail pelavidapelapaz@gmail.com;
- Site http://www.brasilsemaborto.com.br;
- Assessoria de Comunicação da FEB (imprensa@febnet.org.br ou (61) 2101-6175).


Leia também, neste blog, a postagens “Considerações sobre o aborto induzido (2)”, “Considerações sobre o aborto induzido (3)” e “Considerações sobre o Aborto Espontâneo”.


Bons estudos!
Carla e Hendrio


Referências

1. PACHECO, Eliana Descovi. “Elucidação sobre o aborto e sua evolução”. Disponível em http://br.monografias.com/trabalhos3/elucidacao-aborto/elucidacao-aborto.shtml. Acesso em 25/08/2009.
2. “Facts on Induced Abortion Worldwide”. Disponível em (http://www.guttmacher.org/pubs/fb_IAW.html). Acesso em 26/08/2009.
3. “Abortion in the United States: Statistics and Trends”. Disponível em http://www.nrlc.org/ABORTION/facts/abortionstats.html. Acesso em 25/08/2009.
4. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constitui%C3%A7ao.htm. Acesso em 26/08/2009.
5. Código Penal (Decreto-Lei No 2.848, de 7 de Dezembro de 1940). Disponível em http://www.planalto.gov.br/CCIVIL/Decreto-Lei/Del2848compilado.htm. Acesso em 26/08/2009.
6. Convención Americana Sobre Derechos Humanos (Pacto de San José). Disponível em http://www.oas.org/juridico/spanish/tratados/b-32.html. Acesso em 26/08/2009.
7. “Complications of Abortion: Technical and managerial guidelines for prevention and treatment”. Disponível em http://www.who.int/reproductivehealth/publications/unsafe_abortion/en/index.html. Acesso em 26/08/2009.
8. “Emotional distress following induced abortion: A study of its incidence and determinants among abortees in Malmö, Sweden”. European Journal of Obstetrics & Gynecology and Reproductive Biology. Volume 79, Issue 2 , 1 August 1998, Pages 173-178. Disponível em http://www.rachelsvineyard.org/PDF/Articles/Emotional%20Distress%20Following%20-%20European%20Journal.pdf. Acesso em 26/08/2009.
9. “Mulheres que fizeram aborto têm 30% mais problemas mentais, diz estudo”. Disponível em http://www.bbc.co.uk/portuguese/reporterbbc/story/2008/12/081201_abortossaudementalrw.shtml. Acesso em 25/08/2009.
10. “The course of mental health after miscarriage and induced abortion: a longitudinal, five-year follow-up study”. Anne Nordal Broen, Torbjørn Moum, Anne Sejersted Bødtker and Øivind Ekeberg. Disponível em http://www.pubmedcentral.nih.gov/articlerender.fcgi?artid=1343574. Acesso em 27/08/2009. Também disponível a reportagem da BBC “Trauma psicológico de aborto 'pode durar 5 anos'”, em http://www.bbc.co.uk/portuguese/ciencia/story/2005/12/051212_abortoms.shtml; acessada em 25/08/2009.
11. KARDEC, Allan. “O Livro dos Espíritos”. 66ª ed. Rio de Janeiro: RJ, FEB: 1987.
12. BARCELOS, Walter. “Sexo e evolução”. 5ª edição. Rio de Janeiro, RJ: FEB, 2002. Capítulo 20 (Aborto e justiça divina).
13. XAVIER, Francisco Cândido. “Ação e Reação”.
Pelo Espírito André Luiz. 19ª edição. Rio de Janeiro, RJ: FEB, 1998. Capítulo 15.
14. FRANCO, Divaldo. “Após a Tempestade”. Pelo Espírito Joanna de Ângelis. 9ª Edição. Salvador, BA: Leal, 1985.
15. MORI, Maurizio. “A moralidade do aborto”. Brasília: UnB, 1997.
16. XAVIER, Francisco Cândido. “Missionários da Luz”.
Pelo Espírito André Luiz. 25ª edição. Rio de Janeiro, RJ: FEB, 1994. Capítulo 15.
17. XAVIER, Francisco Cândido. “No Mundo Maior”.
Pelo Espírito André Luiz. 20ª edição. Rio de Janeiro, RJ: FEB, 1995. Capítulo 10.
18. NOBRE, Marlene. “A vida contra o aborto”. São Paulo: FE Editora Jornalística.
19. "Aborto: conhecimento e opinião de médicos dos serviços de emergência de Ribeirão Preto, São Paulo, Brasil, sobre aspectos éticos e legais". David Câmara Loureiro e Elisabeth Meloni Vieira. Universidade de São Paulo, Ribeirão Preto, Brasil.
20. “Fetal and Newborn Organ Harvesting: Respectable Grave-Robbing”. American Life League. Disponível em http://www.ewtn.com/library/PROLENC/ENCYC074.HTM. Acesso em 25/08/2009.
21. USA Today, February 21, 1990. Página 10A.
22. XAVIER, Francisco Cândido e VIEIRA, Waldo. “Evolução em Dois Mundos”. Pelo Espírito André Luiz. 14ª ed. Rio de Janeiro: RJ, FEB, 1995. 1ª parte, capítulo 16, e 2ª parte, capítulo 19.
23. KARDEC, Allan. “O Céu e o Inferno”. 37ª ed. Rio de Janeiro: RJ, FEB: 1991. 1ª parte, capítulo VII, “Código penal da vida futura”, item 16.
24. “Bernard Nathanson”. Wikipedia. Disponível em http://en.wikipedia.org/wiki/Bernard_Nathanson. Acesso em 26/08/2009.

domingo, 23 de agosto de 2009

Mortes prematuras

Citando o Dicionário Aurélio, prematuro significa que se manifesta ou sucede antes do tempo; precoce.

Uma criança, por exemplo, ao desencarnar, pode parecer morte prematura para os encarnados e não ser prematura do ponto de vista espiritual, por ser exatamente o período necessário para aquela etapa evolutiva. Já alguém que desencarna com mais idade, após uma enfermidade, como foi o caso de André Luiz, pode não ser considerada prematura do ponto de vista material, mas ser prematura do ponto de vista espiritual, pois foi abreviado o tempo de vida programado, neste caso, por mau uso das possibilidades orgânicas, ou seja, um suicídio indireto.

Desta forma, a morte pode ser considerada prematura sob dois pontos de vista:
Do plano material – quando há a desencarnação daqueles ainda em tenra idade ou de jovens e adultos com perspectiva de muitos anos ainda de vida;
Do plano espiritual – quando a desencarnação é prematura em relação ao tempo programado da encarnação. A abreviação do período encarnatório pode ocorrer:
• Por mau uso das possibilidades orgânicas, em suicídio direto ou indireto;
• Por uso excessivo das possibilidades orgânicas, para o bem dos outros – não é considerado suicídio;
• Por misericórdia divina, no caso de comportamento inadequado que levasse a maiores prejuízos.

André Luiz, no livro “Evolução em Dois Mundos”, respondendo à questão “Podemos considerar a desencarnação da alma, em plena infância, como sendo uma punição das Leis Divinas, na maioria das vezes?”, esclarece: “Muitas existências são frustradas no berço, não por simples punição externa da Lei Divina, mas porque a própria Lei Divina funciona em todos nós, desde que todos existimos no hausto do Criador. Frequentemente, através do suicídio, integralmente deliberado, ou do próprio desregramento, operamos em nossa alma desequilíbrios, quais tempestades ocultas, que desencadeamos, por teimosia, no campo da natureza íntima. (...) Segundo observamos, portanto, as existências interrompidas, no alvorecer do corpo denso, raramente constituem balizas terminais de prova indispensável na senda humana, porque, na maioria dos sucessos em que se evidenciam, representam cursos rápidos de socorro ou tratamento do corpo espiritual desequilibrado por nossos próprios excessos e inconsequências, compelindo-nos a reconhecer, com o Apóstolo Paulo (“Acaso não sabeis que o vosso corpo é santuário do Espírito Santo que habita em vós, o qual vos foi dado por Deus, e que não sois de vós mesmos? Porque fostes comprados por preço, portanto glorificai a Deus no vosso corpo.” [I Coríntios, 6:19-20]), que o nosso instrumento de manifestação, seja onde for, é templo da Força Divina, por intermédio do qual, associando corpo e alma, nos cabe a obrigação de aperfeiçoar-nos, aprimorando a vida, na exaltação constante a Deus.”




Na obra “Nosso Lar”, André Luiz, melindrado por ser tachado de suicida, recebe a seguinte orientação: “Os órgãos do corpo somático possuem incalculáveis reservas, segundo os desígnios do Senhor. O meu amigo, no entanto, iludiu excelentes oportunidades, esperdiçando patrimônios preciosos da experiência física. A longa tarefa, que lhe foi confiada pelos Maiores da Espiritualidade Superior, foi reduzida a meras tentativas de trabalho que não se consumou. Todo o aparelho gástrico foi destruído à custa de excessos de alimentação e bebidas alcoólicas, aparentemente sem importância. Devorou-lhe a sífilis energias essenciais. Como vê, o suicídio é incontestável.”

Encontramos, no livro “Obreiros da Vida Eterna”, um caso em que a personagem Dimas não chegou a aproveitar todo o tempo a ele destinado, por sobrecarga física e emocional em tarefas voltadas para o Bem. André Luiz é orientado, a respeito do tema, conforme segue: “Dimas não conseguiu preencher toda a cota de tempo que lhe era lícito utilizar, em virtude do ambiente de sacrifício que lhe dominou os dias, na existência a termo. Acostumado, desde a infância, à luta sem mimos, desenvolveu o corpo, entre deveres e abnegações incessantes. (...) É verdade que não podemos louvar o trabalhador que perde qualquer órgão fundamental da vida física em atrito com as perturbações que companheiros encarnados criam e incentivam para si mesmos; no entanto, faz-se preciso considerar as circunstâncias em jogo. Dimas poderia receber, com naturalidade, semelhantes emissões destrutivas, mantendo-se na serenidade intangível do legítimo apóstolo do Evangelho. Todavia, não se organiza de um dia para outro o anteparo psíquico contra o bombardeio dos raios perturbadores da mente alheia, como não é fácil improvisar cais seguro ante o oceano em ressaca. (...) Segundo observamos, há existências que perdem pela extensão, ganhando, porém, pela intensidade. A visão imperfeita dos homens encarnados reclama o exame acurado dos efeitos, mas a visão divina jamais despreza minuciosas investigações sobre as causas...”

Na obra “Trilhas da Libertação”, o Espírito Manoel Philomeno de Miranda conta o caso do médium Davi, que desencarnou por um fulminante ataque do coração quando intentava assassinar um oponente. “No momento da prece, em rogativa de socorro, o irmão Ernesto, sabendo da deficiência cardíaca de seu pupilo, exortou, sem palavras, a interferência do Pai para evitar uma tragédia mais grave, no que foi atendido.”

Em todos esses casos, não há injustiça de Deus e sim a Sua misericórdia e justiça. A vida verdadeira não é a vida física e sim a vida espiritual. O Espírito Sanson, na obra “O Evangelho Segundo o Espiritismo”; assevera: “Frequentemente, a morte prematura é um grande benefício que Deus concede àquele que se vai e que assim se preserva das misérias da vida, ou das seduções que talvez lhe acarretassem a perda. Não é vítima da fatalidade aquele que morre na flor dos anos; é que Deus julga não convir que ele permaneça por mais tempo na Terra.”

Leia também, neste blog, a postagem “Evolução Espiritual de Longo Prazo”.


Bons estudos!
Carla e Hendrio



XAVIER, Francisco Cândido e VIEIRA, Waldo. “Evolução em Dois Mundos”. Pelo Espírito André Luiz. 14ª ed. Rio de Janeiro: RJ, FEB, 1995. 2ª parte, item 17.
XAVIER, Francisco Cândido. “Nosso Lar”. Pelo Espírito André Luiz. 23ª ed. Rio de Janeiro: RJ, FEB, 1981. Capítulo 04.
XAVIER, Francisco Cândido. “Obreiros da Vida Eterna”. Pelo Espírito André Luiz. 23ª ed. Rio de Janeiro: RJ, FEB, 1998. Capítulo 13.
FRANCO, Divaldo P. “Trilhas da Libertação”. Pelo Espírito Manoel P. de Miranda. Rio de Janeiro, RJ: FEB, 1996. Capítulo “Novos Rumos”.
KARDEC, Allan. “O Evangelho Segundo o Espiritismo”. 2ª ed. de bolso. Rio de Janeiro: RJ, FEB: 1999. Capítulo V, item 21.

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Causa da Obsessão

A causa de todas as obsessões é a imperfeição moral, conforme palavras de Kardec, no capítulo XXVIII de “O Evangelho segundo o Espiritismo”: “do mesmo modo que as doenças resultam das imperfeições físicas, que tornam o corpo acessível às influências perniciosas exteriores, a obsessão é sempre o resultado de uma imperfeição moral, que dá acesso a um Espírito mau.

André Luiz, no livro “Ação e Reação”, explica como se dá esse processo, através das palavras do Espírito Leonel, um obsessor:

“Sim, aprendemos nas escolas de vingadores que todos possuímos, além dos desejos imediatistas comuns, em qualquer fase da vida, um “desejo-central” ou “tema básico” dos interesses mais íntimos. Por isso, além dos pensamentos vulgares que nos aprisionam a experiência rotineira, emitimos com mais frequência os pensamentos que nascem do “desejo-central” que nos caracteriza, pensamentos esses que passam a constituir o reflexo dominante de nossa personalidade. Desse modo, é fácil conhecer a natureza de qualquer pessoa, em qualquer plano, através das ocupações e posições em que prefira viver. Assim é que a crueldade é o reflexo do criminoso, a cobiça é o reflexo do usurário, a maledicência é o reflexo do caluniador, o escárnio é o reflexo do ironista e a irritação é o reflexo do desequilibrado, tanto quanto a elevação moral é o reflexo do santo... Conhecido o reflexo da criatura que nos propomos retificar ou punir é, assim, muito fácil superalimentá-la com excitações constantes, robustecendo-lhe os impulsos e os quadros já existentes na imaginação e criando outros que se lhes superponham, nutrindo-lhe, dessa forma, a fixação mental. Com esse objetivo, basta alguma diligência para situar, no convívio da criatura malfazeja que precisamos corrigir, entidades outras que se lhe adaptem ao modo de sentir e de ser, quando não possamos por nós mesmos, à falta de tempo, criar as telas que desejemos, com vistas aos fins visados, por intermédio da determinação hipnótica. Através de semelhantes processos, criamos e mantemos facilmente o “delírio psíquico” ou a “obsessão”, que não passa de um estado anormal da mente, subjugada pelo excesso de suas próprias criações a pressionarem o campo sensorial, infinitamente acrescidas de influência direta ou indireta de outras mentes desencarnadas ou não, atraídas por seu próprio reflexo. E, sorrindo, o inteligente perseguidor disse, sarcástico: – Cada um é tentado exteriormente pela tentação que alimenta em si próprio.”

É ainda o próprio André Luiz quem nos elucida sobre o início do processo obsessivo, na mensagem Influenciações Espirituais Sutis, do livro Estude e Viva, que transcrevemos:

"Sempre que você experimente um estado de espírito tendente ao derrotismo, perdurando há várias horas, sem causa orgânica ou moral de destaque, avente a hipótese de uma influenciação espiritual sutil.
Seja claro consigo para auxiliar os Mentores Espirituais a socorrer você. Essa é a verdadeira ocasião da humildade, da prece, do passe.
Dentre os fatores que mais revelam essa condição da alma, incluem-se:
• dificuldade de concentrar ideias em motivos otimistas;
• ausência de ambiente íntimo para elevar os sentimentos em oração ou concentrar-se em leitura edificante;
• indisposição inexplicável, tristeza sem razão aparente e pressentimentos de desastre imediato;
• aborrecimentos imanifestos por não encontrar semelhantes ou assuntos sobre quem ou o que descarregá-los;
• pessimismos sub-reptícios, irritações surdas, queixas, exageros de sensibilidade e aptidão a condenar quem não tem culpa;
• interpretação forçada de fatos e atitudes suas ou dos outros, que você sabe não corresponder à realidade;
• hiperemotividade ou depressão raiando na iminência de pranto;
• ânsia de investir-se no papel de vítima ou de tomar uma posição absurda de automartírio;
• teimosia em não aceitar, para você mesmo, que haja influenciação espiritual consigo, mas, passados minutos ou horas do acontecimento, vêm-lhe a mudança de impulsos, o arrependimento, a recomposição do tom mental e, não raro, a constatação de que é tarde para desfazer o erro consumado.
São sempre acompanhamentos discretos e eventuais por parte do desencarnado e imperceptíveis ao encarnado pela finura do processo.
O Espírito responsável pode estar tão inconsciente de seus atos que os efeitos negativos se fazem sentir como se fossem desenvolvidos pela própria pessoa.
Quando o influenciador é consciente, a ocorrência é preparada com antecedência e meticulosidade, às vezes, dias e semanas antes do sorrateiro assalto, marcado para a oportunidade de encontro em perspectiva, conversação, recebimento de carta, clímax de negócio ou crise imprevista de serviço.
Não se sabe o que tem causado maior dano à Humanidade: se as obsessões espetaculares, individuais e coletivas, que todos percebem e ajudam a desfazer ou isolar, ou se essas meio-obsessões de quase-obsidiados, despercebidas, contudo bem mais frequentes, que minam as energias de uma só criatura incauta, mas influenciando o roteiro de legiões de outras.
Quantas desavenças, separações e fracassos não surgem assim?
Estude em sua existência se nessa última quinzena você não esteve em alguma circunstância com características de influenciação espiritual sutil. Estude e ajude a você mesmo."


Leia também, neste blog, a postagem “Pressentimentos”.


Bons estudos!
Carla e Hendrio


KARDEC, Allan. “O Evangelho Segundo o Espiritismo”. 2ª ed. de bolso. Rio de Janeiro: RJ, FEB: 1999, capítulo X, item 5 e capítulo XXVIII, item 81.

XAVIER, Francisco Cândido. “Ação e Reação”. Pelo Espírito André Luiz. 28ª ed. Rio de Janeiro: RJ, FEB, 2007. Cap. 18 e cap 8.

XAVIER, Francisco Cândido e VIEIRA, Waldo. "Estude e Viva". Pelos Espíritos Emmanuel e André Luiz. 6.ed. Rio de Janeiro, RJ: FEB. 1986. Capítulo 35.

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Estas Outras Dores

Estudo: "O Evangelho Segundo o Espiritismo", Cap. XXIV item 19


Quando te preparavas para o labor reencarnacionista e dispunhas de visão lúcida, mediante a qual podias discernir em relação ao próprio futuro, rogaste a soma das aflições redentoras que ora chegam em abençoadas provações.

Não obstante o programa expiatório relativo às arbitrariedades e cometimentos infelizes perpetrados antes, que se faziam imperioso regularizar, solicitaste a oportunidade de sofrer sem revolta nem alucinação novas cargas de padecimentos, como advertências a fim de que não tombasses em resvaladouros mais profundos ou compromissos mais inditosos...

Mesmo depois do mergulho nas vestes físicas, quando em parcial desdobramento pelo sono, ouvindo os nobres Instrutores Desencarnados entretecendo comentários sobre a vida imperecível e feliz, voltaste a instar pelos sofrimentos de que dizias necessitar, para não sucumbires ante o ópio letal das tentações...

Preferiste o auxílio da soledade e da amargura às facilidades perigosas e às plenitudes anestesiantes, no firme propósito de edificação da ventura.

*

Levanta, portanto, o ânimo e faze cantar o amor e luzir a caridade, enquanto te transformes em mensagem viva de otimismo e de esperança para os que se encontram menos aparelhados para o triunfo, quiçá menos sofridos, também, mas que não possuem as tuas fortunas de fé.

Trabalha, infatigavelmente, pelo teu próximo, apesar das rudes ânsias do coração e das duras penas do teu silêncio, vencendo cada dia uma etapa nova, na rota do teu avançar e crescer.

Não são todas as tuas dores expiação lapidante.

São prêmio, também, para a tua ascensão, por enquanto desafio que te compete superar.

Mediante austeras disciplinas da mente, da vontade e do corpo sobrepairarás em todos os impositivos causticantes de agora.

Exulta e não chores mais as provas solicitadas, embora a ausência de lágrimas nos teus olhos requeimados.

Não permitas que te vejam as paisagens íntimas, assinaladas de tristeza.

Quanto mais passamos ignorados melhor crescemos e nos adiantamos.

Foto: Inácio Freitas

Que todos de ti exijam sem dar-te, tornando-se, sem o perceberem, sicários seguros e constantes fiscais que te não desculpam, mas sempre te impõem.

Não reclames, não recalcitres, não os decepciones.

A ti não te permitas vacilações ou desculpas, enquanto que a eles sim, faculta-lhes ser o que são ou preferem ser.

Se te analisam e são severos para contigo, estão no papel que se atribuíram.

Se te perturbam e molestam, desenvolvem o programa com que se afinam.

Se não te amam e te amarguram, são instrumentos do teu aprimoramento, sem o saberem.

Tu, não!

Renasceste para a sinfonia do amor e do trabalho, aliás, como todos, mesmo os que retardam esse momento.

Conheces Jesus!

Segue-O, então, resoluto, sabendo que O encontrarás, após vencida esta etapa com que te apressas a evolução, após superadas as tuas aspirações e estas outras dores que solicitaste resgatar em clima de urgência para a tua mais rápida liberação.



Joanna de Ângelis


FRANCO, Divaldo P. "Rumos Libertadores". Pelo Espírito Joanna de Ângelis. Salvador, BA: LEAL, 1978. Capítulo 53

domingo, 9 de agosto de 2009

A Reencarnação na Bíblia

A reencarnação consiste em admitir para o Espírito muitas existências sucessivas. Tal ideia não é nova e já era crença de indianos, egípcios, gregos e judeus. No próprio Velho Testamento há indicações claras a esse respeito.

No capítulo segundo de “Gênesis”, versículo 9, lê-se : “Fez Deus Jeová brotar do solo toda a sorte de árvores gratas à vista, e boas para comida; também a árvore da vida no meio do jardim, e a árvore do conhecimento do bem e do mal.”, conforme a tradução da Sociedade Bíblica Britânica. Todavia, a melhor tradução, segundo Severino Celestino, um estudioso da língua hebraica, seria: “E fez brotar Deus, da terra, toda árvore atrativa à vista e boa para alimento; e a árvore das vidas, dentro do jardim, e a árvore do conhecimento, do bem e do mal.”, pois a palavra utilizada para representar vida em hebraico significa vidas, sempre no plural. Dessa forma, árvore das vidas explicita a necessidade de mais de uma vida, ou seja, mais de uma encarnação, para o desenvolvimento do Espírito.

Ainda no livro “Gênesis”, no seu capítulo segundo, versículo 7, pela tradução da Sociedade Bíblica Britânica, lê-se: “Do pó da terra formou Deus Jeová ao homem, e soprou-lhes nas narinas o fôlego de vida; e o homem tornou-se um ser vivente.” A tradução feita diretamente do hebraico pelo mesmo estudioso, Severino Celestino, nos esclarece: “E formou Deus o homem do pó da terra. Ele insuflou em suas narinas um sopro de vidas e o homem se tornou alma vivente.”, ou seja, novamente a palavra vida deveria ser utilizada no plural, sopro de vidas. Adamá, em hebraico, é terra. Adão, originariamente Adam, veio da palavra Adamá, e assim, Adão significa "filho da terra", não homem ou mulher, mas ambos, toda a humanidade. Allan Kardec também trouxe essa observação na obra “A Gênese”, em seu capítulo XII, itens 16 a 26. Alma vivente é o Espírito encarnado, conforme a resposta dos Espíritos Superiores a Kardec, à questão 134 de “O Livro dos Espíritos” ("Que é a alma?" Resposta: “Um Espírito encarnado.”).

No livro “Êxodo”, capítulo 20, versículo 5, na versão de Almeida Revisada Imprensa Bíblica, lê-se: “Não te encurvarás diante delas, nem as servirás; porque eu, o Senhor, teu Deus, sou Deus zeloso, que visito a iniquidade dos pais nos filhos até a terceira e quarta geração daqueles que me odeiam.” Conforme está escrito neste trecho, com o uso da preposição até, sem considerar-se o princípio da reencarnação, tem-se a ideia de que netos e bisnetos, inocentes, teriam de pagar por erros que foram cometidos por outros, que não eles, contrariando, assim, o conceito de justiça divina. Na tradução da Sociedade Bíblica Britânica, diferentemente, lê-se: “Não as adorarás, nem lhes darás culto, porque eu, Jeová teu Deus, sou Deus zeloso, que visito a iniquidade dos pais nos filhos, na terceira e na quarta geração daqueles que me aborrecem.” Nessa tradução, verifica-se a utilização da preposição em (na = em + a), de forma que, há possibilidade do mesmo Espírito que se desviou do caminho do bem, tem a chance de, ele mesmo, reencarnado, como seu próprio neto ou bisneto, sofrer as consequências de seus atos, o que é conforme a justiça divina. Tal explicação encontra-se também em nota no capítulo I de “O Evangelho Segundo o Espiritismo”.

No livro “Salmos”, no capítulo 19, versículo 7 (em algumas versões no versículo 8), a tradução sugerida por Severino Celestino, diretamente do texto hebraico, é: “O ensinamento de Deus é perfeito, faz o espírito voltar. O testemunho de Deus é verdadeiro, transforma o simples em sábio.” Nessa tradução, fica clara a reencarnação, pela volta do espírito a um novo corpo, corroborando que esse retorno faz parte da lei divina, do processo evolutivo do Espírito, sendo aplicável para todos. E complementa que, através das vidas sucessivas, o Espírito, inicialmente simples e ignorante, transforma-se em sábio, pelo seu próprio esforço. A palavra retorna, em outras versões, como a da Sociedade Bíblica Britânica, foi traduzida como refrigera: “A lei de Jeová é perfeita, e refrigera a alma; o testemunho de Jeová é fiel, e dá sabedoria ao simples.”

Ainda no livro “Salmos”, o famoso Salmo 23, na versão da Sociedade Bíblica Britânica é: “Jeová é o meu pastor; nada me faltará. Faz-me repousar em pastos verdejantes; conduz-me às águas de descanso. Ele refrigera a minha alma, guia-me nas veredas da justiça por amor do seu nome.”. A tradução sugerida por Severino Celestino é: “Adonai (Senhor) é meu pastor e não me faltará. Em verdes pastagens me fará descansar. Para a tranquilidade das águas me conduzirá. Fará meu espírito voltar ou retornar, e me guiará por caminhos justos, por causa do Seu nome” (Sl, 23:1-3). Dessa tradução destacam-se os pontos de análise:
a) Deus é que não faltará, diminuindo a importância de bens materiais, tradicionalmente indicada pela versão “nada me faltará”;
b) A ideia de volta do espírito conjugada com a tranquilidade das águas do versículo anterior sugere a reencarnação, através da volta do espírito ao corpo físico, protegido no líquido amniótico, a “tranquilidade das águas” (conforme Nascer de Água, neste Blog).

Continuando no livro “Salmos”, lê-se no capítulo 71:20: “Tu, que nos fizeste ver muitas e penosas tribulações, de novo nos restituirás à vida, e das profundezas da terra nos tornarás a trazer.”, segundo a versão da Sociedade Bíblica Britânica. Esta versão já deixa clara a ideia do retorno do Espírito à vida corporal, quando diz: restituirá à vida e das profundezas da terra nos tornarás a trazer, já que o corpo físico está relacionado, desde o Gênesis, com o pó da terra. Outras referências, como a de Almeida, Revisada e Corrigida, de 1995, não demonstram o sentido reencarnacionista do original em hebraico: “{Tu,} que me tens feito ver muitos males e angústias, me darás ainda a vida e me tirarás dos abismos da terra.”

No livro “Jeremias”, capítulo 1, versículo 5, conforme a Sociedade Bíblica Britânica, lê-se: “Antes que eu te formasse no ventre, te conheci; e antes que saísses da madre, te santifiquei: um profeta para as nações te constituí”.

Orígenes
(185 - 253 d.C.)

Orígenes comenta essa passagem, na sua obra “Dos Princípios”, em seu livro 3, capítulo 3, item 5, que: “Isso também, eu penso, deve ser questionado, especificamente, quais são as razões por que uma alma humana age uma vez para o bem e outra para o mal: a base da qual eu suspeito que seja mais antiga do que o nascimento corporal do indivíduo, como João (o Batista) mostrou por pular e exultar no ventre de sua mãe, quando a voz de saudação de Maria chegou aos ouvidos de sua mãe Isabel; e quando Jeremias o profeta declara que era conhecido por Deus antes de ser formado no útero de sua mãe, e antes de ter nascido era santificado por Ele, e enquanto ainda um garoto recebeu a graça da profecia. E outra vez, por outro lado é exibido sem dúvida que alguns foram possuídos por espíritos hostis desde o início de suas vidas; isto é, alguns nascidos com um espírito mau; e outros, de acordo com histórias críveis, praticaram atos divinos desde a infância. (...) Para todas estas instâncias, esses que sustentam que tudo no mundo está sob a administração da Providência Divina (como é também nosso credo), não podem, como parece para mim, dar outra resposta, de forma a mostrar que nenhuma sombra de injustiça se assenta sobre o governo divino, além de sustentar que houve certas causas de existência anterior, em consequência das quais as almas, antes de seu nascimento no corpo, contraíram um certo montante de culpa em sua natureza sensível, ou em seus atos, por conta dos quais eles foram julgados dignos pela Providência Divina de ser alocados nessa condição. Porque uma alma sempre possui o livre-arbítrio, tanto quando está no corpo como quando está sem ele; e liberdade de vontade está sempre direcionada para o bem ou para o mal. Nem pode algum ser racional e consciente, isto é, uma mente ou alma, existir sem algum ato bom ou mau. E é provável que esses atos forneçam bases para mérito mesmo antes de fazerem qualquer coisa neste mundo; de forma que por conta desses méritos ou justificativas eles estão, imediatamente em seu nascimento, e mesmo antes dele, por assim dizer, classificados pela Divina Providência para a jornada do bem ou do mal.” (tradução livre nossa da versão em inglês).

Lucas 1:39-56

A ideia de retorno à vida física após a morte do corpo físico era aceita pelo povo hebreu. Jesus viveu entre os judeus e para entendê-lo, necessário se faz entender sua crença. A primeira passagem encontra-se descrita no Evangelho de Mateus, capítulo 16, versículos 13 e 14, nos quais indica-se que o povo esperava o Messias, pensando que este era João Batista (este ainda encarnado) ou outros, como Elias, Jeremias ou algum dos profetas (estes todos já desencarnados há séculos e que, se voltassem, estariam com outra roupagem física). A segunda passagem, também do Evangelho de Mateus, capítulo 17, versículos 10 a 13, os discípulos perguntaram ao Mestre sobre a volta de Elias a que o Mestre respondeu que o Elias já havia voltado e fizeram com ele como lhes aprouve e os discípulos compreenderam que Elias teria vindo como João Batista. Dessa forma, eles compreendiam que a reencarnação era fato e que o corpo com que o Espírito retornava era diferente do que animava antes.

Na Epístola de Paulo aos Hebreus, capítulo 9, versículo 27, conforme a Sociedade Bíblica Britânica, diz-se: “Porquanto é ordenado aos homens que morram uma só vez (e depois disto vem o juízo),”. Estaria esse versículo contrariando a reencarnação e o próprio ensinamento do Mestre? Decerto que não. O que morre uma só vez é o corpo físico, é a personalidade atual do homem. Conforme Severino Celestino, Paulo não disse que se vive só uma vez, o que realmente iria contra a reencarnação e a conversa de Jesus com Nicodemos, em João, 3:3. Para cada encarnação, com a morte do corpo físico, segue-se uma avaliação dessa sua vivência (um julgamento, não o julgamento final), necessária para a programação de sua próxima encarnação. A tradução de Severino Celestino, diretamente do hebreu, é: “E como é um fato que os homens devem morrer uma só vez, depois do que vem um julgamento.”

A reencarnação, como lei divina, pode ser comprovada nos textos sagrados de diversas culturas, como foi feito, considerando-se como ponto de partida, a Bíblia, compreendendo-se tanto o Velho quanto o Novo Testamento.


Leia também, neste blog, a postagens “Pecado — Hamartia — Peccatu” e “A Reencarnação na Bíblia”.


Bons estudos!
Carla e Hendrio



Baseado em palestra de Severino Celestino da Silva, autor do livro “Analisando as traduções bíblicas”.
As traduções bíblicas foram consultadas no site Bíblia on line (www.bibliaonline.com.br).
A obra "Dos Princípios" foi consultada no site Church Fathers (www.newadvent.org/fathers/0412.htm).

Outros livros:
O Livro dos Espíritos de Allan Kardec
O Evangelho Segundo o Espiritismo de Allan Kardec