segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

Ao encontro da paz

Ano novo é tempo de renovação de planos e esperanças. E o que desejamos para 2013? Algumas boas sugestões foram dadas por Dias da Cruz, na mensagem intitulada “Ao encontro da paz”, do livro Seareiros de Volta [1], que reproduzimos a seguir:

“Não te escravizes às farpas magnéticas do nervosismo!
Comum ouvir-se a declaração: ─ Quando leio o Evangelho não consigo concentrar-me na leitura!
No entanto, Cristo é o leme nas tempestades emocionais, o ponto de segurança em toda crise da alma.
Para espíritos enfermos não vale tão-só a necessária assistência ao corpo.
Indubitavelmente, a terapêutica tem lugar certo na indicação exata.
Respeita, pois, os notáveis avanços da medicina moderna em todas as nuanças de suas conquistas científicas; contudo, valoriza a farmácia espiritual que te enriquece as mãos.
Não dispenses o auxílio medicamentoso no momento devido, mas não permitas que xaropes e comprimidos te subjuguem a existência.
Antes prevenir que remediar.
Não cultives sintomas de perturbações ou doenças.
Deixa que a oração te regenere todas as forças.
Recorre ao passe curativo que asserena e restaura.
Sedativos aliviam, mas não reajustam. A prece, em razão disso, será sempre calmante eficaz.
Diversões auxiliam, mas não curam; entretanto, a reunião de estudos espíritas é valiosa psicoterapia aplicada em conjunto.
O copo dágua fluida, gratuito e simples, é mais prático de ser usado que a injeção intravenosa.
O culto do Evangelho no lar substitui, muitas vezes, com vantagem, a mais laboriosa sessão de psicanálise.
Perdão e esquecimento de todo mal avantajam-se indiscutivelmente ao relaxe por barbitúricos.
Intimação à própria vontade, para entregar-se ao bem, em muitos casos supera o choque insulínico quanto ao efeito benéfico.
Serviço desinteressado ao semelhante é a melhor terapia ocupacional.
Disciplina no prato, frequentemente, ainda é a receita ideal para perder peso.
Estudo edificante costuma remover a necessidade das internações de repouso.
Em muitas ocasiões, trabalho maciço é pronto-socorro à extinção da insônia.
No labirinto de temores difusos, evita o bloqueio dos próprios pensamentos. Abre o coração à fraternidade.
Comunica-te com alguém e ora convictamente. A fé raciocinada é o primeiro recurso no rumo de toda restauração, mas, quase sempre, é procurada em último lugar.
Ainda assim, controlar a mente, sustentando-se em atitude rígida, não basta por si só; carecemos de pensar no bem, fazendo o bem, para manter a própria harmonia.
É interessante lembrar que Jesus nunca esteve enfermo. Isso nos induz a verificar que ninguém jamais adoece por raciocinar, sentir e agir com o Evangelho, em espírito e verdade.”

Foto: Hendrio Belfort


Renovemos pensamentos, aspirações e atitudes!
Renovemos a nós mesmos!
Pequenas mudanças podem gerar grandes transformações.
Feliz 2013!
Bons estudos!

Carla e Hendrio

[1] VIEIRA, Waldo. “Seareiros de Volta”. Por Diversos Espíritos. 4ª ed. Rio de Janeiro, RJ: FEB, 1987. P. 86-87.

domingo, 14 de outubro de 2012

Homem de Bem

Jesus é a fonte de nossa inspiração, nosso modelo e guia, fato reforçado pela Espiritualidade Superior à questão 625 de “O Livro dos Espíritos” [1]. O Evangelho contém as orientações de Jesus para nossa evolução moral.

Estudemos o tema Homem de Bem com as palavras de Jesus registradas por Mateus em seu capítulo 5, começando pelo entendimento que o Mestre traz sobre Deus.


Um Novo Entendimento sobre Deus

Lemos, nestas anotações do evangelista, que Jesus, vendo as multidões, subiu a um monte e transmitiu sublimes ensinamentos. Ele disse os versos do poema das bem-aventuranças; orientou sermos o sal da terra, a luz do mundo; afirmou não ter vindo destruir a lei ou os profetas, mas demonstrar seu cumprimento, e finalizou dizendo:

“Sede vós, pois, perfeitos, como perfeito é o vosso Pai que está nos céus.” (Mateus 05:48)

Jesus afirmou não ter vindo destruir a lei divina, cujas orientações conhecidas pelo povo judeu Ele cita diversas vezes (exemplos: João 10:34; Lucas 10:26 etc. Por isso Ele reforça a citação da lei moisaica constante do livro Deuteronômio, em seu capítulo 18, versículo 13:

“Perfeito serás, como o Senhor teu Deus.”

Jesus compartilha conosco um novo entendimento sobre Deus. Já não é o Deus terrível, vingativo, ciumento apresentado por Moisés. É um Deus misericordioso, justo e bom, o qual perdoa a quem se arrepende e dá a cada um segundo as suas obras. É o Pai comum do gênero humano; é o Deus que quer ser amado, não temido. Allan Kardec desenvolveu um paralelo entre a ideia de Deus da época de Moisés e aquela que Jesus nos trouxe; esse importante entendimento encontra-se no livro “A Gênese”, quinta obra da Codificação Espírita, em seu capítulo I — “Caráter da Revelação Espírita” —, itens 21 a 25. [2]

A Doutrina Espírita vem ampliar nosso entendimento sobre Deus, partindo das ideias já trazidas por Jesus, nos esclarecendo, na primeira questão de “O Livro dos Espíritos”, que Deus é a inteligência suprema, causa primária de todas as coisas [3]. Deus é infinito em Suas perfeições, e podemos ter uma ideia de algumas dessas perfeições: Deus é eterno, imutável, único, onipotente, soberanamente justo e bom.


“Sermos perfeitos como nosso Pai”

Dentro de nossas possibilidades, podemos entender Deus como o máximo de todas as virtudes imagináveis. Não há bondade nem amor maiores do que os expressos por Deus à Criação.

Todos somos filhos de Deus. Não há como chegarmos à perfeição absoluta de Deus, senão seríamos Deus também; contudo, podemos atingir um grau de perfeição relativa.

Desta forma, quando Jesus nos disse “Sede perfeitos como perfeito é vosso Pai”, Ele nos apresentou um modelo de perfeição que deveríamos nos esforçar para alcançar.

À questão 115 de “O Livro dos Espíritos”, a Espiritualidade Superior nos esclarece que:

“Deus criou todos os Espíritos simples e ignorantes, isto é, sem saber. A cada um deu determinada missão, com o fim de esclarecê-los e de os fazer chegar progressivamente à perfeição, pelo conhecimento da verdade, para aproximá-los de si.” [4]

As orientações acima ilustram a justiça perfeita de Deus, dando a todos nós o mesmo início. Ninguém é criado com privilégios. Através das provas que vivenciamos, tanto no plano espiritual como no plano de matéria densa, vamos aprendendo e desenvolvendo em nós as virtudes latentes que nos aproximam de Deus. Cada um, no entanto, segue o ritmo de sua escolha. Alguns aceleram seu aprendizado, outros temporariamente o adiam. À mesma questão acima, lemos, ainda:

“Nesta perfeição é que eles encontram a pura e eterna felicidade. Passando pelas provas que Deus lhes impõe é que os Espíritos adquirem aquele conhecimento.” [4]

O motivo de buscarmos nos aperfeiçoar é porque, atingindo essa perfeição, encontramos a felicidade. Se desejamos ser felizes, devemos direcionar nossos esforços para evoluirmos moral e intelectualmente.


A Escala Espírita

Allan Kardec perguntou aos Espíritos Superiores, na questão de nº 114, se os Espíritos são bons ou maus por natureza, ou são eles mesmos que se melhoram, recebendo a seguinte orientação:

“São os próprios Espíritos que se melhoram e, melhorando-se, passam de uma ordem inferior para outra mais elevada.” [5]

Concluímos, assim, ser nossa a responsabilidade por passar de uma ordem espiritual para outra, ou seja, progredirmos. Além disso, estamos encarnados neste mundo para colaborar com o progresso de nossos semelhantes e do próprio mundo.

Nos itens 100 a 113 de “O Livro dos Espíritos”, Allan Kardec propõe uma Escala Espírita, na qual os Espíritos estão classificados em três ordens: Espíritos imperfeitos, bons Espíritos e Espíritos puros, sendo que as duas primeiras ordens possuem subdivisões [6].

Como já comentamos em outro estudo neste Blog (postagem “A Influência de ‘Maus
Espíritos), esta escala não serve para rotular ninguém. Utilizemo-la para avaliar nossas próprias conquistas morais e intelectuais e para ver o quanto ainda temos a evoluir.

Para evoluir plenamente, o Espírito também possui lições a vivenciar em mundos de matéria densa, necessitando, portanto, reencarnar. Não é possível aprendermos tudo em apenas uma existência corpórea. Assim, a viagem evolutiva do Espírito se faz em sucessivas reencarnações, na qual, em cada uma, ele evolui em um ou mais aspectos. Também nos desenvolvemos e aprendemos enquanto estamos na erraticidade, ou seja, no Plano Espiritual, no intervalo entre as encarnações, conforme definido à questão 224 de “O Livro dos Espíritos” [7]. Partimos de Deus, simples e sem conhecimentos, e vamos retornar a Deus, aperfeiçoados, como Espíritos Puros, colaborando na Criação, como Jesus nos orientou (João 14:12).

Foto: Carla Engel

 
Perfeição e Imperfeição

Apresentamos, acima, a visão macro da jornada evolutiva a realizarmos. Esta jornada se realiza passo a passo, no dia-a-dia. Devemos perseguir a meta final, chegar à perfeição, como Jesus nos falou. Para tanto, é importante saber como chegar lá: estudemos em que patamar nos encontramos, o que pretendemos melhorar nesta encarnação e o caminho a utilizar para chegarmos a essas metas.

Podemos considerar dois extremos: o que caracteriza a imperfeição e o que caracteriza a perfeição. Iniciemos com a imperfeição.

Encontramos importantes orientações a respeito disso à questão 895 de “O Livro dos Espíritos”, na qual os Espíritos Superiores respondem que o sinal mais característico da imperfeição é o interesse pessoal [8]. Dizem eles ainda que o desinteresse é coisa tão rara na Terra que, quando se patenteia — ou seja, quando se observam ações desprovidas de interesse próprio —, todos o admiram, como se fora um fenômeno.

Vejamos, agora, o que caracteriza a perfeição. Allan Kardec questionou os Espíritos Superiores sobre o tema, à questão 918 de “O Livro dos Espíritos”, obtendo a resposta a seguir:
Por que indícios se pode reconhecer em um homem o progresso real que lhe elevará o Espírito na hierarquia espírita?
‘O Espírito prova a sua elevação, quando todos os atos de sua vida corporal representam a prática da lei de Deus e quando antecipadamente compreende a vida espiritual.’” [9]

Analisemos a primeira parte da resposta: a prática da lei de Deus, ou seja, a Lei Natural, a qual indica o que o homem deve fazer ou deixar de fazer. Afastando-se dela, o homem torna-se infeliz. A prática da lei de Deus representa fazer aos outros aquilo que nós gostaríamos que eles nos fizessem.

Todos podem conhecer a Lei Divina, pois ela está escrita em nossa consciência [10], porém nem todos ainda a compreendem e aplicam. Essa compreensão e prática vão se ampliando à medida da nossa evolução moral e intelectual.

À questão acima referida, ao definirem os indícios pelos quais se reconhece a elevação de uma pessoa, os Espíritos não afirmaram ser quando todos os conhecimentos de sua vida corporal representam a prática da lei de Deus, e sim quando todos os atos de sua vida corporal representam a prática das Leis Divinas.

Ainda analisando a resposta à questão 918 de “O Livro dos Espíritos”, o Espírito prova a sua elevação quando antecipadamente compreende a vida espiritual. Tal condição se verifica quando devotamos aos bens materiais o seu valor real, não os supervalorizando como se estes fossem as últimas ou únicas coisas da Terra ou o que há de mais importante no mundo. Significa sermos um pouco mais pacientes, compreensivos, tolerantes, porque entendemos que tudo o que vivenciamos aqui passa, é uma fase, um aprendizado.

Quando voltarmos à vida espiritual, ou seja, deixarmos aqui nosso corpo físico pela desencarnação, forçosamente retomaremos o contato com este plano da vida. O Espírito André Luiz relata ter vivenciado esta retomada sem preparação para tal no livro “Nosso Lar”. A recomendação dos Espíritos, contudo, é a de dispormos de uma compreensão antecipada da vida espiritual, antes de para lá retornarmos, visando a melhor aproveitar o estágio de aprendizado no mundo de matéria densa.


Caminho Evolutivo: Justiça, Amor e Caridade

Para sabermos o que já conquistamos e o que ainda temos a evoluir em termos morais e intelectuais, é necessário desenvolver, praticar e constantemente aprimorar o autoconhecimento, processo de análise íntima de nós para conosco, realizada de forma particular, honesta, sem condescendência nem crítica destrutiva. Na questão de nº 919-a, em O Livro dos Espíritos, Santo Agostinho nos dá o seu método de análise pessoal. [11]

Reconhecidas oportunidades de melhoria em nosso ser, o caminho para atingi-las só pode ser a prática do bem, pois aprendemos, na Doutrina Espírita, que, fora da Caridade não há salvação, conforme podemos estudar no capítulo XV de “O Evangelho Segundo o Espiritismo” [12].

Assim como precisamos conhecer detalhes do caminho para chegarmos um destino, a fim de mais rapidamente atingi-lo, não basta nos limitarmos a desejar chegar à perfeição, sem conhecimento das características dessa perfeição. Ao estudar os Caracteres do Homem de Bem, à questão 918 de “O Livro dos Espíritos” [9], Allan Kardec enumerou algumas dessas características — ou seja, alguns dos nossos objetivos, caso desejemos nos tornar mulheres e homens de bem.

Em “O Evangelho Segundo o Espiritismo”, Kardec retoma esse assunto no capítulo XVII — “Sede Perfeitos” —, no qual é analisada passagem evangélica de Mateus 05, capítulo 05, versículo 48, citada acima. No item 3 do capítulo “Sede Perfeitos”, sob o título de “O Homem de Bem”, o Codificador amplia o rol de características constante de “O Livro dos Espíritos”:
“O verdadeiro homem de bem é o que cumpre a lei de justiça, de amor e de caridade, na sua maior pureza.” [13]

O dicionário nos orienta que cumprir significa executar com exatidão, obedecer. Assim, o homem de bem é o que executa com exatidão, obedece, pratica a Lei de Justiça, Amor e Caridade, na sua maior pureza.

A Codificação Espírita também analisa o que vem a ser a Lei de Justiça, Amor e Caridade. Kardec dedica o capítulo 11 da 3ª parte de “O Livro dos Espíritos” para estudar essa Lei. [14]

Justiça, conforme o ensino dos Espíritos Superiores à questão 875 de “O Livro dos Espíritos”, consiste em cada um respeitar os direitos dos demais. Kardec então pergunta o que determina tais direitos, e os Espíritos explicam que tais direitos são determinados tanto pela lei humana quanto pela lei divina ou lei natural [15].

A lei humana é mutável, transitória, pois estamos em evolução, e o que achávamos certo em determinada época é compreendido de forma distinta nos dias atuais. Por isso nossas leis devem sofrem melhorias, refletindo o nosso grau de adiantamento. As Leis Divinas, porém, são imutáveis pois Deus é infinitamente perfeito e sábio. As Leis de Deus estão escritas em nossa consciência. É por isso que, mesmo não havendo uma lei que diga que devemos nos entender com nossos familiares, nossa consciência nos indica claramente que esse tipo de comportamento é o adequado. Observamos, mais uma vez, a necessidade de ouvirmos nosso íntimo, de agirmos com mais cuidado e não apenas reagirmos, para que nossos atos sejam de acordo com o que nossa consciência nos indica como mais correto.

Tendo analisado a questão da Justiça, ponderemos brevemente agora sobre o Amor e a Caridade.

Kardec indagou aos Espíritos Superiores sobre o verdadeiro sentido da palavra caridade, conforme a entendia Jesus, tendo recebido a orientação de que caridade é:
“Benevolência para com todos, indulgência para as imperfeições dos outros, perdão das ofensas.” [16]

Kardec, em seu comentário à resposta acima, nos diz que:
“O amor e a caridade são o complemento da lei de justiça, pois amar o próximo é fazer-lhe todo o bem que nos seja possível e que desejáramos nos fosse feito.” [16]

Assim, o homem de bem cumpre integralmente a Lei de Justiça, Amor e Caridade, respeitando os demais e fazendo a eles tudo o que gostaria que os outros lhe fizessem.

O desenvolvimento do texto do comentário de Kardec à questão 918 de “O Livro dos Espíritos” é a explicação de como o homem de bem dá cumprimento à Lei de Justiça, Amor e Caridade em sua vida.     O processo inicia pelo contato consigo mesmo, a autoanálise, interrogando à própria consciência sobre os atos que praticou. É interrogada a consciência, pois ali está escrita a Lei Divina.


Maturidade e Cuidado

Percebe-se também que o homem de bem é sincero, conhece a si mesmo, não precisa tentar esconder de si mesmo atos que tenha praticado, pois periodicamente ele analisa, interroga, observa a si próprio. Isso demonstra maturidade espiritual em progresso. Quando somos crianças, precisamos de alguém para nos dizer quando nos alimentar, tomar banho etc. Quando atingimos a maturidade, entendemos o porquê dessas atividades e nós mesmos nos suprimos, ou seja, cuidamos bem de nós.

O homem de bem cuida da alma e observa seus atos. Ele indaga se não transgrediu a Lei de Justiça, Amor e Caridade; multiplica perguntas para responder a esta primeira. Não fez o mal a ninguém? Neste âmbito, sua análise é aprofundada, porque não se está abordando apenas aquele mal segundo a justiça humana, o que consideramos crimes e/ou o que todos podem ter visto: é o mal em termos de desejar o mal — pode não ser crime para as leis humanas, mas é um mal para as Leis Divinas —; pensar algo negativo; sentir uma alegria mórbida quando sucede algo negativo à pessoa com quem não se simpatiza, ou simplesmente ser indiferente ao sofrimento alheio...

Qual o bem que podemos fazer? Há a caridade material, representada por bens materiais, dinheiro, comida etc., e há a caridade moral, que nada custa e todos podem praticar: saber calar; saber ser surdo a uma palavra zombeteira; relevar o desprezo dos outros e mais atitudes listadas em mensagem mediúnica assinada por Irmã Rosália [17]; ter paciência; sorrir; fazer uma prece; desejar o bem. Nas palavras do Codificador,
“Todo aquele que sinceramente deseja ser útil a seus irmãos, mil ocasiões encontrará de realizar o seu desejo.” [18]

Kardec indica, na listagem dos caracteres do homem de bem, que este último interroga à consciência “(...) se ninguém tem motivos para dele se queixar” [9]. Importa nos questionarmos se o que pensamos ter feito de melhor, de fato o era. Era o de que nosso próximo realmente necessitava? Será que, em determinado momento, demonstramos impaciência; falamos algo que não devia...?

Allan Kardec também cita que o homem de bem se questiona, “enfim, se fez aos outros o que desejara que lhe fizessem.” [9] Aqui, o homem de bem se coloca no lugar do outro, não se limitando a reagir às situações com foco exclusivo em seus valores e situação. São algumas das indagações o homem de bem faz a si mesmo, analisando seu dia.

Na sua interação com os outros, o homem de bem,
“Possuído do sentimento de caridade e de amor ao próximo, faz o bem pelo bem, sem contar com qualquer retribuição, e sacrifica seus interesses à justiça.” [9]

Fazendo o bem pela alegria de fazer o bem, o homem de bem sabiamente não sofre de ingratidão, porque não espera realmente nada em troca. Se alguém não for grato ao bem que ele lhe fez, será apenas uma questão para a consciência do ingrato. O homem de bem não espera retribuição porque sabe que o que está fazendo é o certo, sendo a paz de consciência a melhor retribuição que ele tem.

O homem de bem sacrifica seus interesses pessoais à justiça, não buscando o “jeitinho”, levar vantagem; ele busca apenas o que é justo. Um ser devotado ao bem, nas palavras de Kardec,
“É bondoso, humanitário e benevolente para com todos, porque vê irmãos em todos os homens, sem distinção de raças, nem de crenças.” [9]

O ser no qual desejamos nos tornar, o homem de bem, tanto compreende a Paternidade Divina, que vê, em todos os homens, seus irmãos, sejam eles aqueles que torcem pelo time adversário; aqueles de outro país e, inclusive, aquele vizinho que, por vezes, é um teste à sua paciência...


Constante Evolução

Vejamos mais algumas características do homem de bem:
“Estuda suas próprias imperfeições e trabalha incessantemente em combatê-las. Todos os esforços emprega para dizer, no dia seguinte, que alguma coisa traz em si de melhor do que na véspera.” [13]

Verifiquemos, pela característica acima, que o homem de bem não é um ser plenamente evoluído. Ainda temos imperfeições, as quais precisamos corrigir através do nosso esforço. Como sua avaliação é contínua, o homem de bem sabe se melhorou alguma coisa em relação ao dia anterior, porque presta atenção às suas ações e se avalia periódica e honestamente.

O comprometimento com o progresso do Espírito é atitude muito importante, pois vem contrapor a ideia de que, se a pessoa nasce de um jeito, não é possível melhorá-la. Quem precisa querer modificar-se é a própria pessoa. É possível, sim, mudarmos, evoluirmos. Há pessoas que tinham um mau hábito, como o do fumo; que tomaram a resolução de mudar, e efetivamente largaram esse vício. Algumas vezes, pessoas há que passam por doenças sérias e mudam completamente seu estilo de vida. É possível mudarmos, se assim desejarmos e trabalharmos com determinação em prol dessa mudança.

Reforçando a ideia de podermos nos melhorar se desejarmos e agirmos, Allan Kardec questionou aos Espíritos Superiores, e registrou sua pergunta com o número 909, em “O Livro dos Espíritos”, se poderia o homem, com os seus esforços, vencer as suas más inclinações. E os Espíritos Superiores responderam que sim, e, frequentemente, com esforços muito insignificantes. O que lhe falta, dizem eles, é a vontade. [19]


Transição da Terra e Transição de Sua Humanidade

Estamos em meio a um processo de transição planetária [20]. Nosso planeta, de mundo de provas e expiações, está passando para uma outra categoria, a de mundo de regeneração. Assim, tanto os Espíritos quanto os planetas evoluem. E o que o homem de bem tem a ver com a transição planetária?

Lemos, na 5ª obra da Codificação, “A Gênese”, em seu capítulo XVIII (“São chegados os tempos”), item 27 (“A geração nova”), que:
“Para que na Terra sejam felizes os homens, preciso é que somente a povoem Espíritos bons, encarnados e desencarnados, que somente ao bem se dediquem.” [21]

Assim, é razoável pensar que a geração nova, a qual vem habitar a Terra, seja constituída de homens de bem, os quais, como vimos, não são ainda Espíritos perfeitos, pois ainda têm imperfeições a vencer, mas já estão inclinados à prática do bem. Kardec, no mesmo capítulo supracitado de “A Gênese”, fala sobre a geração nova:
“Não se comporá exclusivamente de Espíritos eminentemente superiores, mas dos que, já tendo progredido, se acham predispostos a assimilar todas as ideias progressistas e aptos a secundar o movimento de regeneração.”  [22]


Conclusão

Fica para nós o convite renovado de Jesus, o Mestre que nos conclama a sermos perfeitos como perfeito é nosso Pai, e nos esforçarmos em nossa melhoria, certos de que, em nos melhorando, estamos contribuindo efetivamente para a chegada desse mundo de paz e amor que tanto desejamos.
 
 
Bons estudos!
Carla e Hendrio


Referências:
[1] KARDEC, Allan. “O Livro dos Espíritos”. 66.ed. Rio de Janeiro, RJ: FEB, 1987. Questão 625.
[2] KARDEC, Allan. “A Gênese”. 34.ed. Rio de Janeiro, RJ: FEB, 1991. Capítulo I (“Caráter da Revelação Espírita”), itens 21 a 25.
[3] KARDEC, Allan. “O Livro dos Espíritos”. 66.ed. Rio de Janeiro, RJ: FEB, 1987. Questão 1.
[4] Ibidem. Questão 115.
[5] Ibidem. Questão 114.
[6] Ibidem. Questões 100 a 113.
[7] Ibidem. Questão 224.
[8] Ibidem. Questão 895.
[9] Ibidem. Questão 918.
[10] Ibidem. Questão 621.
[11] Ibidem. Questão 919-a.
[12] KARDEC, Allan. “O Evangelho Segundo o Espiritismo”. 97.ed. Rio de Janeiro, RJ: FEB, 1987. Capítulo XV.
[13] Ibidem. Capítulo XVII, item 3.
[14] KARDEC, Allan. “O Livro dos Espíritos”. 66.ed. Rio de Janeiro, RJ: FEB, 1987. Terceira parte, Capítulo XI.
[15] Ibidem. Questão 875-a.
[16] Ibidem. Questão 886.
[17] KARDEC, Allan. “O Evangelho Segundo o Espiritismo”. 97.ed. Rio de Janeiro, RJ: FEB, 1987. Capítulo XIII, item 9.
[18] Ibidem. Capítulo XIII, item 6.
[19] KARDEC, Allan. “O Livro dos Espíritos”. 66.ed. Rio de Janeiro, RJ: FEB, 1987. Questão 909.
[20] KARDEC, Allan. “O Evangelho Segundo o Espiritismo”. 97.ed. Rio de Janeiro, RJ: FEB, 1987. Capítulo III, item 19.
[21] KARDEC, Allan. “A Gênese”. 34.ed. Rio de Janeiro, RJ: FEB, 1991. Capítulo XVIII, item 27.
[22] Ibidem. Item 28.
 

quarta-feira, 20 de junho de 2012

5ª Marcha Nacional da Cidadania pela Vida

O Movimento Nacional da Cidadania pela Vida — Brasil Sem Aborto está organizando a 5ª Marcha Nacional da Cidadania pela Vida, a qual ocorrerá em 26 de junho de 2012 na Esplanada dos Ministérios. Assista, abaixo, a um vídeo sobre o evento.

Este Movimento apoia a aprovação do Estatuto do Nascituro (Projeto de Lei 478/2007), atualmente em tramitação na Câmara dos Deputados.

Em seu Artigo 3º, o Estatuto do Nascituro diz que “O nascituro adquire personalidade jurídica ao nascer com vida, mas sua natureza humana é reconhecida desde a concepção, conferindo-lhe proteção jurídica através deste estatuto e da lei civil e penal.” O texto é coerente com as orientações constantes da questão 344 de “O Livro dos Espíritos”: “Desde o instante da concepção, o Espírito designado para habitar certo corpo a este se liga por um laço fluídico, que cada vez mais se vai apertando até ao instante em que a criança vê a luz.”


É, também, alertado que uma comissão de juristas, escolhida pelo Senado para elaborar o anteprojeto do novo Código Penal, aprovou, em março de 2012, propostas de mudanças no artigo que trata do aborto.

O artigo 128 do Código Penal, atualmente, não pune o aborto apenas em dois casos:
  • Se não há outro meio de salvar a vida da gestante;
  • Se a gravidez resulta de estupro e o aborto é precedido de consentimento da gestante ou, quando incapaz, de seu representante legal.

O anteprojeto do artigo 128 passa a excluir a punição ao crime de aborto em cinco casos:
  • Se houver risco à vida ou à saúde da gestante;
  • Quando a gravidez resulta de violação da dignidade sexual;
  • Quando a gravidez resulta do emprego não consentido de técnica de reprodução assistida;
  • Comprovada a anencefalia ou quando o feto padecer de graves e incuráveis anomalias que inviabilizem a vida independente, em ambos os casos atestado por dois médicos;
  • Por vontade da gestante até a 12ª semana da gestação, quando o médico constatar que a mulher não apresenta condições psicológicas de arcar com a maternidade.

O texto desse anteprojeto pode ser lido no site do Ministério Público Federal.

Informe-se através das fontes oficiais; divulgue a informação precisa, e colabore com as iniciativas em favor da Vida.



Leia também, neste blog, as postagens “Considerações sobre o aborto induzido”, “Considerações sobre o aborto induzido (2)”, “Considerações sobre o aborto induzido (3)” e “Considerações sobre o Aborto Espontâneo”.

quarta-feira, 6 de junho de 2012

Na véspera da necessidade

Meditemos a respeito da mensagem da Espiritualidade para todos nós...

~*~*~*~

Diante de algo bom a realizar, não hesites. Faze-o logo.

Não cultives indecisão, em se tratando de concretizar o melhor. Se o homem titubeia, receando edificar o bem que a vida lhe pede, a morte não vacila no horário a que deve atender.

Chegou o momento da visita a alguém que sofre? Vai. Não argumentes contigo contra a resolução.

Sentes-te decidido a doar determinado recurso, em favor dos outros? Dá imediatamente. Segue a boa intenção.

Sê confiante. Ousa construir a fraternidade. Não albergues a irresolução em problemas que se refiram a servir.

No que tange a obrigações nobilitantes, o maior prejuízo da dúvida é a perda de tempo, de vez que as leis do destino não nos desculpam a falta, na execução dos deveres que não admitem demora. Pagaremos pela omissão.

Decide-te, conjugando pensamento e forma, projeto e construção, para que o sonho se faça realidade. Amanhã, os horizontes são outros, os caminhos talvez mais ásperos, as companhias imprevisíveis.
 
Foto: Hendrio Belfort

Não te justifiques, fantasiando a tibieza de precaução. Em todas as épocas da Humanidade, a preguiça e a astúcia têm vestido a túnica da prudência para largar os infelizes. Acolhe o dever de ânimo forte. Lança o primeiro passo no serviço, e depois, se perseveras, o próprio serviço incumbir-se-á de traçar-te orientação na continuidade da obra que te abrilhantará a estrada.

O desânimo geralmente nasce na alma; talvez num caso entre mil, será justo responsabilizar o corpo enfermo pela eclosão desse corrosivo mental. Não aguardes no sofá ou no leito a solução que nunca vem por não te dispores à alegria de auxiliar; resolve agora, ajuda na véspera da necessidade. Quando a ideia edificante brota no cérebro é que a inspiração da Espiritualidade Superior te visita.

Perante o Evangelho, não há situações dilemáticas. “Quem não é por mim, é contra mim”; “seja o teu falar sim, sim, não, não” — ensinou-nos o Cristo de Deus. Hesitar em questões de fraternidade é estagnar-se, paralisando as mais elevadas funções da vida; por isso, frente à caridade, todo impasse é atraso na evolução.

Muita gente afirma temer compromisso na concretização da felicidade do próximo, no entanto pensará de outro modo se observar que a Divina Sabedoria não pede ao capim que produza laranjas, nem acalenta rosas em tratos de areia.

Sigamos pela trilha da decisão. Ninguém é chamado ao serviço que não possa fazer.


Luiz Mariano de Barros Fournier


VIEIRA, Waldo. “Seareiros de Volta”. Por Diversos Espíritos. 4.ed. Rio de Janeiro, RJ: FEB. 1987. p. 56-57.

quinta-feira, 26 de abril de 2012

A Prova da Escolha das Provas

Se, por um lado, há Espíritos que escolhem como prova estar em contato com seus maus hábitos para superá-los, não há outros que desejam estar em contato com eles para continuar a fruí-los? Eis o que Allan Kardec pergunta à Espiritualidade Superior à questão 265 de “O Livro dos Espíritos”[1]:
Havendo Espíritos que, por provação, escolhem o contato do vício, outros não haverá que o busquem por simpatia e pelo desejo de viverem num meio conforme aos seus gostos, ou para poderem entregar-se materialmente a seus pendores materiais?

Necessitamos analisar não apenas as respostas às questões propostas por Kardec, mas também estudar em profundidade as perguntas.

Allan Kardec propõe mais uma questão interessante aos Espíritos Superiores, no capítulo da escolha das provas.

O Codificador considera inicialmente que há Espíritos que escolhem o contato do vício como sendo uma provação, para que esses Espíritos, defrontando seus maus hábitos, demonstrem que podem superá-los, transformando-se em Espíritos melhores. Lemos, às questões 644 e 645 de “O Livro dos Espíritos” [2], que muitos Espíritos escolhem reencarnar expostos às suas más tendências e, amparados pelo Alto — como sempre todos somos amparados — e sintonizando com esse amparo, demonstram, por essa prova, terem superado sua má tendência, seu vício, seu hábito mundano. Isso é vencer o mundo, como Jesus nos recomendou:
“Eu lhes disse essas coisas para que em mim vocês tenham paz. Neste mundo vocês terão aflições; contudo, tenham ânimo! Eu venci o mundo.” (João 16:33)

Por outro lado, Kardec indaga se não há outros Espíritos que buscam este tipo de provação imbuídos de outra intenção que não a de superação, mas sim a de viverem em um meio que seja conforme seus gostos, para se entregarem aos seus pendores, às suas tendências ainda ligadas ao plano material.

Analisemos, ainda, a que Kardec se refere quando aborda o “contato com o vício”. Em francês, o termo “vício” não é utilizado principalmente para referir dependência de drogas. No idioma original das Obras Básicas, vício designa principalmente a “disposição a fazer o mal” [3]. Mesmo no idioma português, é importante considerar que o termo vício é amplo e não apenas restrito aos vícios comumente conhecidos, como vício em álcool ou outras drogas lícitas ou ilícitas. Vício, na definição léxica, consiste em defeito ou imperfeição, hábito inveterado.

Há também referência, na Codificação, a vícios, segundo a acepção de hábitos que destroem o corpo físico. Lemos, à questão 952 de “O Livro dos Espíritos” [4], que isso é considerado, pela Espiritualidade, como um “suicídio moral”, decorrente da falta de coragem e do esquecimento de Deus.

Assim, são exemplos de vícios: o egoísmo, o orgulho, a maledicência, a rebeldia, a queixa, tudo enfim que não constitui os caracteres do homem de bem. Ilustra-se claramente o uso dessa acepção da palavra vício à questão 913 de “O Livro dos Espíritos”:
Dentre os vícios, qual o que se pode considerar radical?
‘Temo-lo dito muitas vezes: o egoísmo. Daí deriva todo mal. (...)’” [5]

Dispondo desse entendimento sobre a questão do contato com os vícios, analisemos a resposta à questão 265:
“Há, sem dúvida, mas tão-somente entre aqueles cujo senso moral ainda está pouco desenvolvido. A prova vem por si mesma e eles a sofrem mais demoradamente. Cedo ou tarde, compreendem que a satisfação de suas paixões brutais lhes acarretou deploráveis consequências, que eles sofrerão durante um tempo que lhes parecerá eterno. E Deus os deixará nessa persuasão, até que se tornem conscientes da falta em que incorreram e peçam, por impulso próprio, lhes seja concedido resgatá-la, mediante úteis provações.” [1]

Foto: Hendrio Belfort

Percebemos que a própria escolha das provas pelas quais o Espírito passará em sua futura encarnação já constitui uma prova em si: pelas suas escolhas o Espírito demonstra a sua maturidade, o seu grau de progresso, a sua compreensão da vida, bem como o conhecimento que já adquiriu de si mesmo.

Aqueles que, como no segundo caso considerado pelo Codificador, desejam estar em contato com o vício para perpetuá-lo, demonstram que são imaturos espiritualmente. São como crianças que não sabem escolher o que seja melhor para si, simplesmente escolhem aquilo que lhes satisfaz momentaneamente, mas que pode trazer prejuízo a longo ou mesmo médio prazo.

Os Espíritos respondem que realmente há aqueles que assim procedem. E esclarecem que "a prova vem por si mesma e eles a sofrem mais demoradamente". Como um mau hábito gera consequências negativas, esses Espíritos terão de suportá-las. E até quando isso ocorrerá? Até que esses Espíritos despertem, percebam que essa escolha não é a melhor para eles e desejem mudar. Deus permite que isso ocorra porque Ele não viola o nosso livre-arbítrio, permitindo que tenhamos a liberdade de escolher nossos caminhos e façamos escolhas conscientes.

Às questões 264 e 265 de “O Livro dos Espíritos” [6], lemos que a natureza de nossos pontos fracos determina as provas que escolheremos. Porém, sabemos, pela orientação constante da questão 393, que Espíritos mais desenvolvidos atuam em nossa programação [7]. Nada do que pensamos fica oculto a Espíritos mais evoluídos. É possível que o reencarnante almeje contato com suas más tendências com a finalidade de fruí-las, e enfrentará as más consequências disso até cansar-se de sofrer. Kardec nos orienta em “A Gênese”, capítulo III, item 7:
“(...) Deus, todo bondade, pôs o remédio ao lado do mal, isto é, faz que do próprio mal saia o remédio. Um momento chega em que o excesso do mal moral se torna intolerável e impõe ao homem a necessidade de mudar de vida.
Instruído pela experiência, ele se sente compelido a procurar no bem o remédio, sempre por efeito do seu livre-arbítrio. (...)” [8]

Nem que seja para “cansarmos do erro”, ou seja, nos tornarmos conscientes de ser esse um caminho inadequado, essa temporária insistência em uma má conduta servirá — e a Espiritualidade Superior sabe disso.

Importante destacarmos que nosso livre-arbítrio está em desenvolvimento; não é ainda pleno [9]. Por isso, nem nossa escolha no mal é feita sem que Deus imponha limites razoáveis. Além disso, não precisamos cometer todos os erros para só então fugirmos deles; lembremos a questão 120 de “O Livro dos Espíritos”:
Todos os Espíritos passam pela fieira do mal para chegar ao bem?
‘Pela fieira do mal, não; pela fieira da ignorância.’” [10]

À questão 470 de “O Livro dos Espíritos”, concluímos que ninguém reencarna com a programação de fazer o mal [11]. Isso seria incoerente com a bondade e justiça de Deus; Ele sempre nos oferece oportunidades de fazer o bem. Kardec nos orienta, no item 872 (“Resumo teórico do móvel das ações humanas”) de “O Livro dos Espíritos”:
“(...) O homem não é fatalmente levado ao mal; os atos que pratica não foram previamente determinados; os crimes que comete não resultam de uma sentença do destino. Ele pode, por prova e por expiação, escolher uma existência em que seja arrastado ao crime, quer pelo meio onde se ache colocado, quer pelas circunstâncias que sobrevenham, mas será sempre livre de agir ou não agir. (...)” [12]


Leia, também, neste Blog, as postagens “Expiação, Prova e Missão”, “Família Espiritual” e “O Bem e o Mal”.


Bons estudos!
Carla e Hendrio


Referências:
[1] KARDEC, Allan. “O Livro dos Espíritos”. 66ª ed. Rio de Janeiro, RJ: FEB, 1987. Questão 265.
[2] Ibidem. Questões 644 e 645.
[3] Le Dictionnaire. Palavra vice. Disponível em http://www.le-dictionnaire.com/definition.php?mot=vice. Acesso em 09 de março de 2012.
[4] KARDEC, Allan. “O Livro dos Espíritos”. 66ª ed. Rio de Janeiro, RJ: FEB, 1987. Questão 952.
[5] Ibidem. Questão 913.
[6] Ibidem. Questão 264.
[7] Ibidem. Questão 393.
[8] KARDEC, Allan. “A Gênese”. 34ª ed. Rio de Janeiro, RJ, FEB. 1991. Capítulo III, item 7.
[9] KARDEC, Allan. “O Livro dos Espíritos”. 66ª ed. Rio de Janeiro, RJ: FEB, 1987. Questão 262.
[10] Ibidem. Questão 120.
[11] Ibidem. Questão 470.
[12] Ibidem. Item 872.

terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Fiel no pouco

“O senhor respondeu: ‘Muito bem, servo bom e fiel! Você foi fiel no pouco; eu o porei sobre o muito. Venha e participe da alegria do seu senhor!’” (Mateus 25:21)
“Quem é fiel no pouco, também é fiel no muito, e quem é desonesto no pouco, também é desonesto no muito.” (Lucas 16:10)
“Se, pois, não podeis fazer nem as coisas mínimas, por que estais ansiosos pelas outras?” (Lucas 12:26)

Quando estamos em meio a quem busque estudar, praticar e divulgar valores cristãos, é mais fácil escolhermos o caminho do Bem. Ao enfrentarmos grandes desafios e dificuldades, é mais comum lembrarmos de pedir auxílio a Deus e a Jesus, melhorando, assim, nossa sintonia com a Espiritualidade Superior e tendo apoio espiritual para darmos nossos testemunhos de fé.


Há, porém, situações intermediárias, nas quais, se não nos mantivermos vigilantes, perdemos preciosas oportunidades de desenvolvimento de nossa fé na prática, no exercício da caridade. Frequentemente, podemos constatar que um colega ou vizinho necessita de uma palavra amiga. Quase todos os dias, pode haver um pequeno desentendimento, o qual pode ser resolvido com um diálogo assertivo e cordial. Amiúde, uma palavra grosseira a nós dirigida na via pública, por alguém em dor espiritual, pode ser perdoada sem mágoa ou vontade de revidar.


Essas pequenas oportunidades diárias de aplicarmos os valores do Cristo são nossos momentos de fidelidade no pouco, os quais nos preparam para missões mais complexas, conforme Jesus nos orienta em várias passagens, como a parábola dos talentos (Mateus 25:14-30) e a parábola das dez minas (Lucas 19:10-26).


Há pessoas que se afirmam perdidas, por não saberem qual é a sua missão na Terra. Nas parábolas acima, Jesus descreve a missão de todos nós: fazer o Bem, sempre. O Espiritismo, buscando os valores cristãos em sua essência, afirma o mesmo:

“As missões dos Espíritos têm sempre por objeto o bem. (...) Alguns desempenham missões mais restritas e, de certo modo, pessoais ou inteiramente locais (...). O Espírito se adianta conforme à maneira por que desempenha a sua tarefa.” [1]
Em que consiste a missão dos Espíritos encarnados?
Em instruir os homens, em lhes auxiliar o progresso; em lhes melhorar as instituições, por meios diretos e materiais. (...) Cada um tem neste mundo a sua missão, porque todos podem ter alguma utilidade.” [2]

Criando o hábito de fazer de cada dia um conjunto de pequenas missões de auxílio a quem cruzar nosso caminho, nossa fidelidade no pouco nos permite perceber o imenso valor de cada dia de nossa encarnação e o quanto temos de oportunidades de evoluir pela prática de todas as formas de caridade, da ajuda material ao perdão, da paciência à disposição em recomeçar.


 Foto: Hendrio Belfort

Deus nos porá nas mãos grandes missões após sabermos nos desincumbir bem de pequenas e por vezes imperceptíveis missões, capazes, no entanto, de fazer valer nosso dia.

Meditemos nas palavras a seguir, de autoria de Emmanuel... [3]



Nos Caminhos da Fé


“Portanto, todo aquele que me confessar diante dos homens, também eu o confessarei diante de meu Pai que está nos céus. – Jesus (Mateus, 10:32)
No mundo, de modo geral, habituamo-nos a julgar que os testemunhos de fé prevalecem tão-só nos momentos de angústia superlativa, quando o sofrimento nos transforma em alvo de atenções públicas.

Evidentemente, na Terra, as crises de aflição alcançam a todos, cada qual no tempo devido, segundo as lutas regeneradoras que se nos façam necessárias, no curso das quais estamos impelidos a entregar todas as energias de nosso espírito nos atos de fé. Entretanto, é preciso ponderar que somos incessantemente chamados a prestar o depoimento de confiança em Jesus, através de reduzidas parcelas de bondade e tolerância, compreensão e paciência diante das ocorrências desagradáveis do cotidiano, tais quais sejam:


a referência desprimorosa;
o olhar de suspeição;
o pedido justo recusado;
o beliscão da crítica;
a desatenção e o desrespeito;
o desajuste orgânico;
o prejuízo inesperado;
a transação infeliz;
o desafio da discórdia.


Impõe-se-nos a obrigação de confessar-nos seguidores do Cristo, por intermédio de definições verbais claras e sinceras, mas somos igualmente convidados a fazê-lo, na superação dos aborrecimentos comuns, porquanto só atravessando as diminutas contrariedades do dia-a-dia, como grandes ocasiões de revelar confiança em Jesus, é que aprenderemos a suportar as grandes provações como se fossem pequenas.




Leia também, neste blog, as postagens “Vigiai e Orai”, “O amor cobre uma multidão de pecados.”, “Espíritos missionários” e  “Amar o Próximo”.



Bons estudos!
Carla e Hendrio


Referências:
[1] KARDEC, Allan. “O Livro dos Espíritos”. 66ª ed. Rio de Janeiro, RJ: FEB, 1987. C
omentários de Allan Kardec à questão 569.
[2] Ibidem. Questão 573.
[3] XAVIER, Francisco Cândido. “Segue-Me!...”. Pelo Espírito Emmanuel. 7.ed. Matão, SP: Casa Editora o Clarim, 1994. Capítulo “Nos Caminhos da Fé”.