terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Focos de desequilíbrio espiritual

Nossa higiene corporal nos previne de doenças que danifiquem nosso corpo denso por décadas. Nossa atitude mental nos protege de contaminações que se demorem em nosso corpo perispiritual por milênios.

A Ciência terrestre reconhece, desde o século XIX, a necessidade de assepsiar ferimentos e instrumental cirúrgico, a fim de evitarem-se focos de doenças, invisíveis ao olho humano, mas de efeitos severos à saúde física. Esse importante avanço na prevenção de doenças se deve à teoria microbiológica da doença, fundamentada pelo cientista Louis Pasteur no século XIX, aliada ao invento do microscópio, datado do final do século XVI.

Ou seja, antes da invenção do microscópio, no ano de 1590, a existência de micro-organismos seria tachada de crendice infundada, mesmo que se percebessem os efeitos de infecções por bactérias há milhares de anos. Anteriormente às demonstrações, ocorridas na década de 1860, da relação entre micro-organismos e doenças, a Humanidade não levaria a sério avisos sobre o cuidado com a higiene e sobre os devastadores efeitos que formas de vida tão pequenas trazem ao corpo humano.

Também no século XIX, Allan Kardec, codificando a Doutrina Espírita, demonstra, por análise científica, os efeitos do plano espiritual sobre o de matéria densa, bem como a coerência de milhares de comunicações mediúnicas. No livro “O que é o Espiritismo”, recomendado pelo próprio Kardec para iniciarmos o estudo da Doutrina Espírita, o Codificador compartilha conosco as palavras de um médico, antes incrédulo e depois adepto da Doutrina dos Espíritos:

“Antes de inventar-se o microscópio, alguém suspeitava da existência desses milhares de animálculos, que causam tantos estragos à economia? Onde a impossibilidade material de haver no espaço seres que escapem aos nossos sentidos? Teremos, porventura, a ridícula pretensão de saber tudo, e de dizer que Deus nada mais nos pode revelar?” [1]

Um ferimento não tratado é foco de infecções no corpo. De forma análoga, pensamentos, palavras ou atitudes incompatíveis com o Bem de nosso semelhante são compartilhadas por inteligências com os mesmos propósitos desarmônicos, as quais se juntam a nós para colaborar nesses maus projetos. Independente de crença ou de possuir-se ou não mediunidade ostensiva, tais inteligências vivem tanto no plano de matéria densa como no plano de matéria quintessenciada.


Vejamos um exemplo, relatado em “O Livro dos Médiuns”, obra lançada em 15 de janeiro de 1861 e que completou 150 anos há poucos dias. Em pequena localidade, duas irmãs, as quais nunca haviam ouvido falar em Espiritismo, tinham suas roupas depredadas e espalhadas pela casa e até pelos telhados, ainda que tivessem sido guardadas à chave. Muito tempo após o início dessas ocorrências, elas tiveram a indicação de procurar Kardec. O Codificador recebeu, do Plano Espiritual, a seguinte mensagem a respeito dos eventos:

“O que essas senhoras têm de melhor a fazer é rogar aos Espíritos seus protetores que não as abandonem. Nenhum conselho melhor lhes posso dar do que o de dizer-lhes que desçam ao fundo de suas consciências, para praticarem o amor do próximo e a caridade. Não falo da caridade que consiste em dar e distribuir, mas da caridade da língua; pois, infelizmente, elas não sabem conter as suas e não demonstram, por atos de piedade, o desejo que têm de se livrarem daquele que as atormenta. Gostam muito de maldizer do próximo e o Espírito que as obsidia toma sua desforra, porquanto, em vida, foi para elas um burro de carga. Pesquisem na memória e logo descobrirão quem ele é.
Entretanto, se, conseguirem melhorar-se, seus anjos guardiães se aproximarão e a simples presença deles bastará para afastar o mau Espírito, que não se agarrou a uma delas em particular, senão porque o seu anjo guardião teve que se afastar, por efeito de atos repreensíveis, ou maus pensamentos. O que precisam é fazer preces fervorosas pelos que sofrem e, principalmente, praticar as virtudes impostas por Deus a cada um, de acordo com a sua condição.” [2]

Kardec, ponderando o teor da mensagem acima, entende ser dura demais para transmitir às irmãs da forma como fora recebida. Os Espíritos orientaram-no com a seguinte resposta:

“Devo dizer o que digo e como digo, porque as pessoas de quem se trata têm o hábito de supor que nenhum mal fazem com a língua, quando o fazem muitíssimo. Por isso, preciso é ferir-lhes o Espírito, de maneira que lhes sirva de advertência séria.” [2]

Das lições acima apresentadas pelo Plano Espiritual, podemos chegar às seguintes conclusões:
  • Uma enfermidade moral, no caso a maledicência, se tornou um “foco infeccioso” para a ação de um Espírito temporariamente focado na má vibração da vingança;
  • Se, ao perceber a adversidade, as irmãs tivessem mudado de atitude para ações em prol do Bem, igualmente permitiriam a companhia de Espíritos com esse foco. Ações, palavras e pensamentos voltados ao Bem do próximo vibram em frequência superior àqueles voltados aos interesses personalistas e materialistas. Devido a frequências superiores possuírem maior energia do que as frequências inferiores, a presença de Bons Espíritos impediria a ação da entidade vingativa;
  • Não adianta chamarmos “caça-fantasmas”, exorcistas ou executar quaisquer rituais externos. Seria análogo a afastarmos moscas e larvas de uma ferida, sem a desinfetarmos e medicarmos: a lesão só fará piorar. Repelimos más influências externas com efetividade quando modificamos internamente nossa atitude espiritual;
  • Jamais saiamos por aí acusando quem quer que seja de estar em qualquer sofrimento moral porque é uma pessoa má e está cheia de maus Espíritos à sua volta. Toda a mensagem do Evangelho se destina à busca de nossa reforma íntima, e não para sairmos à caça de imperfeições alheias. Lembremos o sábio conselho de Jesus em Lucas 06:37:
“Não julgueis, e não sereis julgados; não condeneis, e não sereis condenados; perdoai, e sereis perdoados.”
  • Ponderemos, como Kardec, o teor de qualquer conselho que pensemos levar a alguém, seja mediúnico ou anímico. Cuidado para não utilizarmos uma comunicação agressiva e devastadora, disfarçada de sinceridade. Ponderemos o prudente conselho de André Luiz:
“Se você acredita que franqueza rude pode ajudar a alguém, observe o que ocorre com a planta a que você atire água fervente.” [3]


Leia também, neste blog, as postagens “Vigiai e Orai”, “Evolução Espiritual de Longo Prazo”, “Maus Pensamentos” e “A Influência de ‘Maus’ Espíritos”.


Bons estudos!
Carla e Hendrio


Referências
[1] KARDEC, Allan. “O Que É o Espiritismo”. Tradução de Evandro Noleto Bezerra. Rio de Janeiro, RJ: FEB, 2009. Capítulo I, segundo diálogo — O cético.
[2] KARDEC, Allan. "O Livro dos Médiuns". 55ª ed. Rio de Janeiro: RJ, FEB: 1987. Segunda parte, capítulo XXIII, item 252.
[3] XAVIER, Francisco Cândido. “Respostas da Vida”. Pelo Espírito André Luiz. 30.ed. São Paulo, SP: Grupo de Ideal Espírita André Luiz, 2009. Capítulo 16.



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