terça-feira, 30 de março de 2010

Materialismo, Progresso e Espiritismo – pontos de interseção

O que é o progresso?
Como o progresso se relaciona com as ideias materialistas e espíritas?
Há algum ponto de interseção entre essas doutrinas?

O entendimento do termo “progresso”, à primeira vista, parece de simples compreensão e o é. Segundo o dicionário [1], progresso significa:

1. ação ou resultado de progredir; progressão, progredimento
2. movimento para diante; avanço
3. o fato de se expandir, propagar-se; propagação, expansão
4. mudança de estado (de algo) que o move para um patamar superior; crescimento, desenvolvimento, aumento
5. mudança considerada desejável ou favorável; avanço, melhoria, desenvolvimento
6. incorporação, no dia-a-dia das pessoas, das novas conquistas no campo tecnológico, da saúde, da construção, dos transportes etc.
7. processo de enriquecimento de uma cidade, uma região, um país etc., com a instalação de indústrias e casas comerciais, transporte urbano, estradas, meios de comunicação etc.; desenvolvimento.

Consideremos que o progresso, ou seja, o “movimento para diante, o avanço”, pode ocorrer sob vários aspectos: intelectual, moral, material, social, para citarmos alguns. E a sobreposição desses diferentes tipos de progresso é encarada de modo diferente pelo Materialismo e pelo Espiritismo.

Segundo a visão materialista, em se considerando como Materialismo a doutrina que entende a vida voltada para os bens materiais, ou ainda, que a inteligência do homem é uma propriedade da matéria, que nasce e morre com o organismo [2], nada há antes nem depois da vida física. Dessa forma, o progresso só se realizaria do ponto de vista material/intelectual, sem comprometimento com o progresso espiritual e social. O Materialismo, apresentando os gozos materiais como as únicas coisas reais e desejáveis, tem como consequência lógica o tornar sem fundamento os deveres sociais, o não apresentar outra alternativa senão o suicídio àquele que vivencia sofrimentos (sejam físicos ou emocionais), o tornar sem freios os indivíduos na sociedade, que só visariam o seu próprio bem-estar em detrimento da coletividade.

Já a visão espírita, com uma concepção mais ampla do progresso, não se fixa, como se poderia pensar, a princípio, somente na sua acepção espiritual; contempla ainda, o progresso material/intelectual e bem como o social, todos necessários ao desenvolvimento do Espírito.

Os Espíritos Superiores, esclarecendo a Kardec, e por extensão a nós, respondendo à questão número 168 de “O Livro dos Espíritos” [3], afirmam que “a cada nova existência, o Espírito dá um passo para diante na senda do progresso.” E mais adiante, na questão 365 [4], esclarecem que: “o Espírito progride em insensível marcha ascendente, mas o progresso não se efetua simultaneamente em todos os sentidos. Durante um período da sua existência, ele se adianta em ciência; durante outro, em moralidade.”

Assim, o Espírito, considerado em sua individualidade, progride pouco a pouco e constantemente, e de modo diverso em vários campos: o moral, o intelectual, o social.

Encarnados, os Espíritos, trabalhando pelo seu progresso individual, também concorrem para o progresso da Humanidade, já que “nem todos progridem simultaneamente e do mesmo modo. Dá-se então que os mais adiantados auxiliam o progresso dos outros, por meio do contacto social.” [5]

O progresso não pode ser concebido numa visão simplista, que poderia considerar que os povos mais desenvolvidos intelectualmente também o seriam moralmente (o que nem sempre se observa). Ainda mais uma vez esclarecem os Espíritos que [6]: “O progresso completo constitui o objetivo. Os povos, porém, como os indivíduos, só passo a passo o atingem. Enquanto não se lhes haja desenvolvido o senso moral, pode mesmo acontecer que se sirvam da inteligência para a prática do mal. O moral e a inteligência são duas forças que só com o tempo chegam a equilibrar-se..”

A lei de progresso, como lei natural, estende-se a toda Criação. Os Espíritos da Falange do Consolador Prometido esclarecem que [7], “os mundos também estão sujeitos à lei do progresso. Todos começaram, como o vosso, por um estado inferior e a própria Terra sofrerá idêntica transformação. Tornar-se-á um paraíso, quando os homens se houverem tornado bons.”


São palavras do Codificador, em se referindo ao estudo do Espiritismo [8]: “Esperamos que dará outro resultado, o de guiar os homens que desejem esclarecer- se, mostrando-lhes, nestes estudos, um fim grande e sublime: o do progresso individual e social e o de lhes indicar o caminho que conduz a esse fim.”

Concluindo, há um ponto de interseção na concepção do progresso entre o Materialismo e o Espiritismo, no que concerne ao progresso material e intelectual (embora divirjam quanto a fonte da inteligência). Há de se considerar, no entanto, que o Materialismo não explica de forma racional e lógica o progresso espiritual e social, tal qual faz o Espiritismo, que considera o homem como Espírito encarnado, com uma trajetória evolutiva muito maior do que a de apenas uma existência física.

Bons estudos!

Carla e Hendrio


Referências:
[1] Dicionário eletrônico Houaiss da língua portuguesa Edição especial – março 2002. apud MONEGO, Sonia. “Ideia de Progresso – uma reflexão” Disponível em: www.upf.br/ppgh/download/Sonia%20Monego.prn.pdf .Acesso em: 30.03.2010.
[2] KARDEC, A. “Obras Póstumas.” 27.ed. Rio de Janeiro, RJ: FEB, 1995. As cinco alternativas da Humanidade - § 1º Doutrina materialista.
[3] KARDEC, A. “O Livro dos Espíritos”. 66ª ed. Rio de Janeiro, RJ, FEB: 1987. Questão 168.
[4] Ibidem, Questão 365.
[5] Ibidem, Questão 779.
[6] Ibidem, Questão 780 b.
[7] Ibidem, Questão 185.
[8] Ibidem, Introdução, XVII.


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