“Nenhum homem é uma ilha, completa em si mesma, cada homem é um pedaço do continente, uma parte do principal (...)” (John Donne) [1]O que e como pensamos, falamos e agimos, ou seja, as formas pelas quais nos comunicamos, são determinantes de nossas companhias, em ambos os planos da vida. Expressando nossa afinidade por um tipo de atividade profissional, angariamos colegas nesse campo; demonstrando preferência por um estilo musical, atrairemos pessoas que compartilham tal gosto — pessoas essas encarnadas e desencarnadas, independente de se ter ou crer em mediunidade.
Como seres sociais, temos necessidade de nos comunicar com o outro. Através dessa comunicação, visando a fazer o Bem ao próximo, colaboramos não apenas com ele, mas com nossa própria evolução e, por decorrência, com a evolução vibratória da Terra. No sexto e sétimo capítulos da obra “Mecanismos da Mediunidade” [2], André Luiz indica características do fenômeno de comunicação mediúnica, os quais podem ser analisados também para intercâmbios de informação entre encarnados. Tais características são estudadas com analogia em grandezas físicas, modeláveis em fenômenos elétricos ou mecânicos. Vejamos algumas lições que tais análises podem trazer.
Circuito:
Tal como o circuito de uma corrida, um circuito elétrico é um caminho fechado, estabelecido, para a passagem de corrente elétrica. Uma comunicação entre duas pessoas, inclusive uma conversa entre dois encarnados, é um circuito de comunicação, pois cada um, em dado momento, envia suas ideias e, em outro instante, as recebe de seu interlocutor; é um caminho estabelecido de comunicação. Quanto melhor sintonizado esse circuito, com máximos respeito e paciência para ouvir, tanto melhor e com menos esforço fluirá a corrente de ideias.
Nas palavras de André Luiz na obra supracitada, “O circuito mediúnico, dessa maneira, expressa uma ‘vontade-apelo’ e uma ‘vontade-resposta’, respectivamente, no trajeto ida e volta, definindo o comando da entidade comunicante e a concordância do médium, fenômeno esse exatamente aplicável tanto à esfera dos Espíritos desencarnados, quanto à dos Espíritos encarnados, porquanto exprime conjugação natural ou provocada nos domínios da inteligência, totalizando os serviços de associação, assimilação, transformação e transmissão da energia mental.”
Capacitância:
Eletricamente, componentes com essa característica apresentam oposição a variações de potencial, ou tensão (Volts), bem como a possibilidade de armazenar energia sob a forma de campo elétrico. Mecanicamente, uma caixa d’água pode ser comparada a um capacitor: armazena água, a qual pode ser utilizada após, esvaziando ou “descarregando” este reservatório. Eletricamente, um capacitor pode fornecer a energia que armazenara, como uma bateria recarregável, embora a bateria e o capacitor operem por princípios diferentes.
Nosso pensamento demonstra sua capacitância quando uma “torrente” de ideias, externas e/ou de nosso mundo íntimo, parece começar a vir à tona, todas ao mesmo tempo, e necessitamos meditar, em oposição a essa variação ruidosa de potenciais de pensamento. Ao meditarmos, conseguimos organizar, armazenar e trabalhar os pensamentos, “carregando nossas baterias”.
No capítulo 6 de “Mecanismos da Mediunidade”, André Luiz orienta: “Em identidade de circunstâncias, no circuito mediúnico, capacitância exprime a propriedade pela qual se verifica o armazenamento de recursos espirituais no circuito, recursos esses que correspondem à sintonia psíquica. Os elementos suscetíveis de condensar essas possibilidades, no campo magnético da conjunção mediúnica, expressam-se na capacidade conceptual e interpretativa na região mental do médium, que acumulará os valores recebidos da entidade que o comanda, devolvendo-a com a possível fidelidade ao serviço do circuito mediúnico na ação do intercâmbio”.
Indutância:
Representa a oposição a variações de corrente elétrica (Ampères), bem como a possibilidade de armazenar energia sob a forma de campo magnético. Em um tipo de analogia entre fenômeno elétrico e mecânico, é equivalente à inércia de um corpo; por exemplo, é necessário aplicar determinada quantidade de energia para colocar em movimento um veículo parado, ou para freá-lo se estiver rodando. Uma parada brusca pode gerar consequências sérias. A indutância elétrica também podem ser verificada quando se insere ou retira da tomada o plug de um equipamento com chave ligada, e surge uma faísca, eventualmente trazendo danos ao equipamento ou risco físico a quem esteja por perto: é uma reação do circuito para que a corrente elétrica se mantenha como estava antes de intervirmos na tomada.
Bobina de indução, cujo circuito é aberto e fechado periodicamente para produzir faíscas (centelhas azuis na foto).
Em comunicações cotidianas, sentimos os efeitos da indutância da comunicação quando algum evento ou pessoa bloqueia subitamente uma conversa, como não deixando alguém terminar de expor suas ideias, fato usualmente desagradável a quem é interrompido e, não raro, gerador de dissabores e conflitos.
Na obra supracitada de André Luiz, lemos: “(...) o circuito mediúnico, envolvendo implementos fisiopsicossomáticos e tecidos celulares complexos no plano físico e no plano espiritual, mostra-se fortemente indutivo e não deve ser submetido a interrupções intempestivas, sendo necessário atenuar-se-lhe a intensidade, quando se lhe trace a terminação, para que se impossibilite a formação de extracorrentes magnéticas, capazes de operar desajustes e perturbações físicas, perispiríticas e emocionais, de resultados imprevisíveis para o médium, quanto para a entidade em processo de comunicação.” Elisabeth d’Espérance narra, no livro “No País das Sombras” [3], episódio em que, em uma experiência de materialização, um espectador do fenômeno agarrou o Espírito Iolanda, materializado com o uso da energia doada por Elisabeth, a qual se encontrava inclusive em outro cômodo. Assim, interrompeu-se bruscamente o circuito mediúnico e houve grande impacto à energia vital da médium, quase levando Elisabeth d’Espérance à desencarnação.
Resistência:
Observamos que a maioria dos eletrodomésticos, em funcionamento normal, apresenta algum aquecimento, mesmo não sendo aparelhos aquecedores. Em eletrônica, representa-se tal comportamento pela resistência dos circuitos. Seu equivalente mecânico é o atrito, como aquele com o chão, que devemos vencer para empurrar um móvel. Se estivermos andando contra o vento e abrirmos um guarda-chuva, nosso atrito com o ar aumenta, exigindo maior esforço para caminharmos.
Percebemos, numa conversa agradável e fluida que mantenhamos com alguém, uma baixa “resistência” na troca de ideias. Por outro lado, com uma pessoa com quem tenhamos dificuldade de entendimento, até breves conversações são cansativas, parecem consumir energia demasiada e não raro geram mais “calor” do que fluxo de comunicações — é um circuito de comunicação com alta resistência.
Como pontua André Luiz nos capítulos 6 e 7 de “Mecanismos da Mediunidade”, há, no circuito mediúnico, a resistência correspondente a uma “dissipação de energia mental, destinada à sustentação de base entre o Espírito comunicante e o médium”, mas pode também ocorrer um consumo pouco útil de energia, um obstáculo à comunicação, proveniente de “inibições ou desatenções do médium, dificultando o equilíbrio no circuito mediúnico”.
Concluindo...
Evoluir intelectual e moralmente representa elevar nossas comunicações, ou seja, estabelecer os melhores “circuitos”, com ambas as esferas da existência humana. Diminuamos a resistência ao entendimento com nossos opositores; disciplinemo-nos para não causar “faíscas” ao interromper os outros; meditemos a fim de filtrar ruídos transitórios de torrentes de ideias — e estabeleçamos circuitos de comunicação plena de Luz e elevada inspiração com a Espiritualidade Superior, sob a orientação de Jesus.
Bons estudos!
Carla e Hendrio
Referências:
[1] DONNE, John. “Meditation XVII”. Disponível em http://www.luminarium.org/sevenlit/donne/meditation17.php. Acesso em 17/05/2010.
[2] XAVIER, Francisco Cândido e VIEIRA, Waldo. “Mecanismos da Mediunidade”. Pelo Espírito André Luiz. 14ª ed. Rio de Janeiro: RJ, FEB, 1995. Capítulos 6 e 7.
[3] d’ESPÉRANCE, Elisabeth. “No País das Sombras”. Rio de Janeiro, RJ. FEB, 1974. Capítulo XXI.
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