quarta-feira, 22 de julho de 2009

O Corpo Físico

“Ao nascer ganhamos um cavalo – o nosso corpo. Só que, com o tempo, se o cavalo adoece e morre, pensamos que somos nós que morremos.”
(José Bento Renato Monteiro Lobato, escritor brasileiro)


A poética narrativa do Espírito Eros ao médium Divaldo Pereira Franco* apresenta-nos mais uma maravilhosa passagem da vida de São Francisco de Assis. Conta ele que, São Francisco e Frei Leão estavam numa gruta, onde terminavam as suas orações. Frei Leão, sentido o amigo cansado e febril, propôs-lhe uma questão:

"- Tenho um amigo, meu Pai, que vive amorosamente. É gentil com todos, com a terra, o céu, o sol, a água. Chama irmãos aos animais. No entanto, possui belo animalzinho, que, sem reclamação, atende-o manso e ao qual nega proteção... O doce jumentinho. Sofre frio, sem protestar; abre-se em feridas, o pobrezinho, sem cansar-se na caminhada. - "Vem aqui, meu animal. Vamos até acolá." Impõe-lhe, sem compaixão. E o pobre serviçal segue em frente, com alegria. Agora, porém, já não mais suporta nem a carga pesada, nem a canga. Está prestes a cair, sem forças, sem repouso, não se atrevendo a pedir ajuda ou piedade."

São Francisco perguntou-lhe quem era o insensato que agia com tanta indiferença e sem compaixão. Frei Leão respondeu com serenidade:

"- Esse animal gentil e pequeno é o vosso corpo, meu Pai, que resignado vos serve e conduz os passos firmes no rumo da Eterna Luz... "

São Francisco, caindo em si, acariciou o corpo, entre lágrimas, e disse:

"- Perdoa-me, jumentinho, a minha falta de carinho... Fui muito ingrato contigo, embora fosse teu amigo... Ajudar-te-ei, agora, ser-te-ei mais reconhecido, e peço-te perdão... "

A noite chegou enquanto São Francisco, de alma serena, prometia ajuda ao corpo enfermo. Não pôde dedicar-se, todavia, porque, no outro dia, doce e suavemente, o jumentinho morria...




Súplica do Corpo**

Amigo,

Ajude-me a ajudá-lo.
Sou o indócil jumentinho*** que o conduz.
É verdade que não viveria sem você; no entanto, convém você lembrar que não cresceria sem mim.
Reconheço ser todo construído de impulsos a lhe vitalizar as lembranças adormecidas na mente. Discipline-me.
Tenho fome e sinto frio, experimento cansaço e me tortura a sede. Ensine-me o equilíbrio, corrigindo-me a insatisfação.
Necessito de asseio para viver. Não me relegue ao descaso.
Minha submissão ou rebeldia dependem da sua condução.
Não lhe poderei servir a contento se me não ensinar a docilidade mediante o exercício da frugalidade.
Recorde-me sempre que devo zelar-me para viver e não viver para cuidar-me.
Nascido na umidade, inclino-me sempre, por capricho de origem, para as baixadas pegajosas. Mostre-me o céu, apresente-me o Sol, aponte-me a Natureza gloriosa, vestida de luz.
Organizado por efeito de nobre instinto, favoreço mais facilmente a sua demora na sensação. Respeite-me a organização e eu o ajudarei na ascensão, sutilizando a minha estrutura.
Não me perverta a finalidade.
Nasci para servi-lo; não desejo ser o seu algoz. Não me algeme ao vício.
Eduque-me na continência da vontade e atenderei prontamente ao seu comando.
Se você me amar sem paixão e me equilibrar sem crueldade, ser-lhe-ei escravo fiel e reconhecido.
E, quando já não o possa ajudar, saberei calar a minha voz, retornando ao pó donde surgi, deixando-o livre como andorinha de luz na perene Primavera do Paraíso.
Amigo, enobreça-me para que eu o possa salvar. Sou o seu corpo, obediente e submisso, necessitado de proteção.

Marco Prisco

*No Longe do Jardim
** FRANCO, Divaldo P. “Ementário Espírita”. Pelo Espírito Marco Prisco. 4 ed. Matão, SP: Casa Editora O Clarim. P. 15-16.
*** Expressão usada por Francisco de Assis.

Leia também, neste blog, as postagens “Influência do Organismo” e “Tranquilidade no Retorno à Pátria Espiritual”.

Bons estudos!
Carla e Hendrio

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