Analisaremos se a teoria da unicidade da existência é compatível ou exclui a preexistência do Espírito antes de se tornar alma, ou seja, Espírito encarnado, de acordo com a definição constante à questão 134 de “O Livro dos Espíritos” [1]. Estudaremos, também, de acordo com os preceitos espíritas, a consistência da afirmação de o Espírito ser criado no momento da criação do corpo.
Orígenes, célebre teólogo e estudioso egípcio que viveu entre os anos 185 e 253 da era cristã, entendia, pela interpretação de diversas passagens bíblicas, bem como pela observação da predisposição ao bem ou ao mal em crianças (exemplos apresentados na postagem “A Reencarnação na Bíblia”, neste blog), que o Espírito não é criado no momento da concepção do corpo físico, ou seja, o Espírito preexiste a este último. Tal entendimento implicou, no ano 553, um dos diversos anátemas (excomunhões, maldições) lançados contra Orígenes, no Segundo Concílio de Constantinopla [2], redigido nos seguintes termos: “Se alguém afirmar a fabulosa preexistência das almas, e afirmar a monstruosa restauração que resulta desta: seja anátema.” Dessa forma, alguns segmentos da Igreja, os quais adotaram essa abordagem, trazem uma interpretação fixada como dogma acerca desse tema, não passível de ser discutida.
Consideremos os textos relativos à unicidade da existência, analisados por Allan Kardec, o Codificador da Doutrina Espírita. No item 21 do Capítulo IV de “O Evangelho Segundo o Espiritismo” [3], temos:
No item 222 de “O Livro dos Espíritos” [1], encontramos:
Essas análises partem dos argumentos dos defensores da teoria da existência única, os quais acreditam que a alma é criada no momento da criação do corpo físico e, portanto, forçosamente não se admitiria a preexistência da alma. Não obstante, é possível considerar, por uma abstração, que a alma seja criada e só algum tempo depois venha a encarnar, ainda que seja uma única vez. Dessa forma, mesmo considerando uma só existência, seria possível a alma ter sido criada antes do corpo. Essa possibilidade, no entanto, não se sustenta em relação a outras questões, principalmente o porquê e para que a alma ter sido criada em momento diferente do corpo, já que haveria apenas uma existência.
Kardec traz, à Revista Espírita [4], outro argumento contra a unicidade da existência, analisando a hipótese da criação da alma no momento da concepção do corpo físico:
A teoria da unicidade das existências não se sustenta, igualmente, por ser contrária à Justiça Divina, como já citado na postagem “Considerações sobre a pluralidade das existências”, neste blog.
Leia também, neste blog, as postagens “Considerações sobre a pluralidade das existências”, “Evolução Espiritual de Longo Prazo”, “A Reencarnação na Bíblia”, “Por que Deus criou a nós e o Universo?”, “Simples e Ignorantes (1)” e “Simples e Ignorantes (2)”.
Bons estudos!
Carla e Hendrio
Referências:
[1] KARDEC, Allan. “O Livro dos Espíritos”. 66ª ed. Rio de Janeiro, RJ: FEB, 1987. Questões 134 e 222.
[2] New Advent. “Second Council of Constantinople”. Disponível em http://www.newadvent.org/fathers/3812.htm. Acesso em 14/07/2010.
[3] KARDEC, Allan. “O Evangelho Segundo o Espiritismo”. 97ª ed. Rio de Janeiro, RJ: FEB, 1987. Capítulo IV, item 21.
[4] KARDEC, Allan. “Revista Espírita de junho de 1861”. Tradução de Evandro Noleto Bezerra. Rio de Janeiro, RJ: FEB, 2004. “O Deboche.”
Orígenes, célebre teólogo e estudioso egípcio que viveu entre os anos 185 e 253 da era cristã, entendia, pela interpretação de diversas passagens bíblicas, bem como pela observação da predisposição ao bem ou ao mal em crianças (exemplos apresentados na postagem “A Reencarnação na Bíblia”, neste blog), que o Espírito não é criado no momento da concepção do corpo físico, ou seja, o Espírito preexiste a este último. Tal entendimento implicou, no ano 553, um dos diversos anátemas (excomunhões, maldições) lançados contra Orígenes, no Segundo Concílio de Constantinopla [2], redigido nos seguintes termos: “Se alguém afirmar a fabulosa preexistência das almas, e afirmar a monstruosa restauração que resulta desta: seja anátema.” Dessa forma, alguns segmentos da Igreja, os quais adotaram essa abordagem, trazem uma interpretação fixada como dogma acerca desse tema, não passível de ser discutida.
Consideremos os textos relativos à unicidade da existência, analisados por Allan Kardec, o Codificador da Doutrina Espírita. No item 21 do Capítulo IV de “O Evangelho Segundo o Espiritismo” [3], temos:
“Vejamos agora as consequências da doutrina antirreencarnacionista. Ela, necessariamente, anula a preexistência da alma. Sendo estas criadas ao mesmo tempo que os corpos, nenhum laço anterior há entre elas, que, nesse caso, serão completamente estranhas umas às outras. O pai é estranho a seu filho. A filiação das famílias fica assim reduzida à só filiação corporal, sem qualquer laço espiritual. Não há então motivo algum para quem quer que seja glorificar-se de haver tido por antepassados tais ou tais personagens ilustres. Com a reencarnação, ascendentes e descendentes podem já se terem conhecido, vivido juntos, amado, e podem reunir-se mais tarde, a fim de apertarem entre si os laços de simpatia.”
No item 222 de “O Livro dos Espíritos” [1], encontramos:
“Se não há reencarnação, só há, evidentemente, uma existência corporal. Se a nossa atual existência corpórea é única, a alma de cada homem foi criada por ocasião do seu nascimento, a menos que se admita a anterioridade da alma, caso em que caberia perguntar o que era ela antes do nascimento e se o estado em que se achava não constitua uma existência sob forma qualquer.”
Essas análises partem dos argumentos dos defensores da teoria da existência única, os quais acreditam que a alma é criada no momento da criação do corpo físico e, portanto, forçosamente não se admitiria a preexistência da alma. Não obstante, é possível considerar, por uma abstração, que a alma seja criada e só algum tempo depois venha a encarnar, ainda que seja uma única vez. Dessa forma, mesmo considerando uma só existência, seria possível a alma ter sido criada antes do corpo. Essa possibilidade, no entanto, não se sustenta em relação a outras questões, principalmente o porquê e para que a alma ter sido criada em momento diferente do corpo, já que haveria apenas uma existência.
Kardec traz, à Revista Espírita [4], outro argumento contra a unicidade da existência, analisando a hipótese da criação da alma no momento da concepção do corpo físico:
“Se não se admite que a alma já tenha vivido, é absolutamente necessário que seja criada no momento da formação e para o uso de cada corpo; de onde se segue que a criação da alma por Deus estaria subordinada ao capricho do homem, e na maior parte das vezes é o resultado do deboche. Como! Todas as leis religiosas e morais condenam a depravação dos costumes e Deus se aproveitaria disto para criar almas! Perguntamos a todo homem de bom-senso se é admissível que Deus se contradiga a tal ponto? Não seria glorificar o vício, uma vez que se prestaria à realização dos mais elevados desígnios do Todo-Poderoso: a criação das almas? Que nos digam se tal não seria a consequência da formação simultânea das almas e dos corpos; e seria pior ainda se fosse admitida a opinião dos que pretendem que o homem procria a alma ao mesmo tempo que o corpo. Admiti, ao contrário, a preexistência da alma, e toda contradição desaparece. O homem não procria senão a matéria do corpo; a obra de Deus, a criação da alma imortal, que um dia deve se aproximar dEle, não mais está submetida ao capricho do homem. É assim que, fora da reencarnação, surgem dificuldades insolúveis a cada passo e se cai na contradição e no absurdo quando se quer explicá-las.”
A teoria da unicidade das existências não se sustenta, igualmente, por ser contrária à Justiça Divina, como já citado na postagem “Considerações sobre a pluralidade das existências”, neste blog.
Leia também, neste blog, as postagens “Considerações sobre a pluralidade das existências”, “Evolução Espiritual de Longo Prazo”, “A Reencarnação na Bíblia”, “Por que Deus criou a nós e o Universo?”, “Simples e Ignorantes (1)” e “Simples e Ignorantes (2)”.
Bons estudos!
Carla e Hendrio
Referências:
[1] KARDEC, Allan. “O Livro dos Espíritos”. 66ª ed. Rio de Janeiro, RJ: FEB, 1987. Questões 134 e 222.
[2] New Advent. “Second Council of Constantinople”. Disponível em http://www.newadvent.org/fathers/3812.htm. Acesso em 14/07/2010.
[3] KARDEC, Allan. “O Evangelho Segundo o Espiritismo”. 97ª ed. Rio de Janeiro, RJ: FEB, 1987. Capítulo IV, item 21.
[4] KARDEC, Allan. “Revista Espírita de junho de 1861”. Tradução de Evandro Noleto Bezerra. Rio de Janeiro, RJ: FEB, 2004. “O Deboche.”
Parabéns, bom estudo! Vou aproveitar! Abraços.
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