Não extingais o Espírito,
não desprezeis as profecias;
mas examinai tudo, retende o bem;
abstende-vos de toda a forma do mal.
não desprezeis as profecias;
mas examinai tudo, retende o bem;
abstende-vos de toda a forma do mal.
(Primeira Carta de Paulo aos Tessalonicenses, 05:19-22)
Há várias décadas, vem aumentando o número de livros referidos como mediúnicos e espíritas. Importante destacar que uma obra se afirmar mediúnica ou de autor encarnado, não implica ser espírita, ou seja, ela não necessariamente está de acordo com os ensinos apresentados pelos Espíritos Superiores e agrupados em corpo de doutrina por Allan Kardec. É preciso fundamentação nas obras básicas, bem como nas subsidiárias amplamente analisadas e tidas à conta de bons complementos à doutrina, a fim de retermos os conhecimentos dos livros que, de fato, agreguem valor.
A questão sobre o que publicar de mensagens foi analisada por Allan Kardec, o Codificador da Doutrina Espírita. Podem-se citar os artigos “Deve-se Publicar Tudo Quanto Dizem os Espíritos?”, na Revista Espírita de novembro de 1859 [1]; e “Exame das Comunicações Mediúnicas que nos são Enviadas”, constante da Revista Espírita de maio de 1863 [2]. Nessa última, Kardec apresentou uma estatística das mensagens que havia recebido até então. Em suma, de 3600 mensagens, 3000 eram de moral elevada; todavia, menos de 100 destas apresentavam mérito fora do comum para serem publicadas.
O termo “básicas”, empregado ao se referir as cinco obras da codificação (“O Livro dos Espíritos”; “O Livro dos Médiuns”; “O Evangelho Segundo o Espiritismo”; “O Céu e o Inferno” e “A Gênese”), indica serem esses os livros que trazem os fundamentos da Doutrina Espírita, e não que sejam básicas em oposição a avançadas. Há muito a estudar nessas obras, as quais abrangem, em grande profundidade, temas científicos, filosóficos e religiosos. Para avançar no estudo doutrinário, requer-se estudo detalhado e continuado dessas obras, o que não implica necessariamente ir atrás de todos os lançamentos mais badalados das editoras. A cada nova leitura das obras básicas, encontramos novos e mais aprofundados entendimentos acerca do que somos, por que e para que estamos neste planeta e o que podemos esperar de nossas vidas futuras.
Uma universidade não permite que se publique, em seu nome, todo e qualquer trabalho de um estudante. É requerida análise prévia da consistência e mérito do artigo por um ou mais professores ou estudantes amplamente familiarizados com o assunto. Igualmente, uma empresa constitui grupos especializados para divulgar adequadamente orientações ou respostas; não é todo funcionário da companhia que detém o mais amplo conjunto de requisitos para transmitir a visão de um grande grupo. De forma similar, uma casa espírita tem o direito e o dever de analisar previamente todo material antes de divulgá-lo, bem como o de não propagar o que se entende como em desacordo com os fundamentos da Doutrina Espírita. Naturalmente, isso não significa que haja obras de leitura “proibida”. O próprio Kardec não proibiu a leitura de nenhuma obra; ao contrário, chegou a incentivar até o estudo comparativo de obras contrárias à Doutrina Espírita, como se vê na publicação “Catálogo Racional: Obras para se fundar uma Biblioteca Espírita” [3], lançada no Brasil em 2004.
Estudo [4] a respeito dessa obra, apresentado por bolsistas de doutorado em Educação do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico), traz as seguintes observações:
A jornalista doutora em educação Dora Incontri, no filme “Allan Kardec, o Educador”, de Edson Audi, apresenta o seguinte depoimento a esse respeito:
É inevitável termos acesso, nem que seja apenas ouvindo comentários, a dados de obras que nem sempre refletem a exatidão dos postulados que a Doutrina Espírita atualmente entende como os corretos. Se apenas repetirmos o que se ouviu dizer, sem análise crítica disso, podemos propagar informações incorretas ou mesmo absurdas, alegadamente como ensinos espíritas. Ter um conhecimento mais avançado nas obras básicas, bem como subsidiárias indicadas como consistentes por estudiosos mais adiantados, nos permite analisar as mais diversas obras sem cairmos em “armadilhas” ou “pedras de tropeço”. Em tempo: essas duas expressões, em grego, significam skándalon, raiz da palavra escândalo, referida por Jesus em Mateus 18:07 e Lucas 17:01, sabedor é Ele que, por nossa condição evolutiva, inevitavelmente tropeçaríamos, algumas vezes, o que serviria para nosso aprendizado.
O Projeto O Bom Leitor [5], de iniciativa do CEERJ (Conselho Espírita do Estado do Rio de Janeiro), apresenta, no documento “Critérios para Divulgação do Livro Espírita” uma série de recomendações quanto à análise e publicação de livros espíritas. No que tange à divulgação de obras espíritas, indica:
A análise e estudo de obras são muito enriquecidos quando feitos em grupo. Um debate maduro e sem “donos da verdade” usualmente traz conclusões mais abrangentes, bem como eventuais incorreções doutrinárias são mais rapidamente identificadas. Naturalmente deve-se propor para estudo em grupo uma obra cujo conteúdo mereça tal investimento de energia e tempo. Importa destacar que a conclusão de um grupo acerca de uma obra é apenas desse grupo, não necessariamente passando a ser a visão “oficial” da Doutrina Espírita. Tal como ocorre com a Ciência terrena, a Doutrina Espírita é essencialmente progressiva; possui estudantes e autores respeitáveis, porém não nomeou nenhum dono da verdade absoluta.
A revista Reformador, em sua edição de abril de 1988, apresentou artigo intitulado “Deve-se publicar tudo, e divulgar tudo que se publica?”, com base nos textos de Kardec acima citados, das Revistas Espíritas de 1859 e 1863. Transcrevemos, a seguir, o texto veiculado há 22 anos.
Leia também, neste blog, as postagens “Espiritismo e Internet”, “Falsos Cristos, falsos profetas e seus seguidores”, “Vigiai e Orai”, “Os opositores da Doutrina Espírita”, “154 anos do Consolador Prometido”, “‘Pequenos’ Erros” e “Hermenêutica, Exegese e Espiritismo”.
Bons estudos!
Carla e Hendrio
Referências:
[1] KARDEC, Allan. “Revista Espírita de novembro de 1859”. Tradução de Evandro Noleto Bezerra. Rio de Janeiro, RJ: FEB, 2004. “Deve-se Publicar Tudo Quanto Dizem os Espíritos?”
[2] KARDEC, Allan. “Revista Espírita de maio de 1863”. Tradução de Evandro Noleto Bezerra. Rio de Janeiro, RJ: FEB, 2004. “Exame das Comunicações Mediúnicas que nos são Enviadas”.
[3] KARDEC, Allan. “Catalogue Raisonné des Ouvrages Pouvant Servir a Fonder une Bibliothèque Spirite”. Segunda edição, agosto de 1869. Disponível em http://www.espirito.org.br/portal/download/pdf/fr/catalogue-raisonne.pdf e http://charles.kempf.pagesperso-orange.fr/Livres/catalogue.pdf. Acesso em 27 de julho de 2010.
[4] CARVALHO, Larissa Camacho; LOUSADA, Vinícius Lima. “Uma História do Livro e de Todos os Livros: Catálogo Racional - Obras Para se Fundar uma Biblioteca Espírita (1869)”. Programa de Pós-Graduação em Educação/UFRGS. Disponível em http://www.febnet.org.br/ba/file/Pesquisa/Textos/UMA%20HIST%C3%93RIA%20DO%20LIVRO%20E%20DE%20TODOS%20OS%20LIVROS.pdf. Acesso em 27 de julho de 2010.
[5] Conselho Espírita do Estado do Rio de Janeiro. Projeto O Bom Leitor. Disponível em http://www.ceerj.org.br/ceerj/index.php?option=com_content&view=article&id=478&Itemid=227. Acesso em 27 de julho de 2010.
A questão sobre o que publicar de mensagens foi analisada por Allan Kardec, o Codificador da Doutrina Espírita. Podem-se citar os artigos “Deve-se Publicar Tudo Quanto Dizem os Espíritos?”, na Revista Espírita de novembro de 1859 [1]; e “Exame das Comunicações Mediúnicas que nos são Enviadas”, constante da Revista Espírita de maio de 1863 [2]. Nessa última, Kardec apresentou uma estatística das mensagens que havia recebido até então. Em suma, de 3600 mensagens, 3000 eram de moral elevada; todavia, menos de 100 destas apresentavam mérito fora do comum para serem publicadas.
O termo “básicas”, empregado ao se referir as cinco obras da codificação (“O Livro dos Espíritos”; “O Livro dos Médiuns”; “O Evangelho Segundo o Espiritismo”; “O Céu e o Inferno” e “A Gênese”), indica serem esses os livros que trazem os fundamentos da Doutrina Espírita, e não que sejam básicas em oposição a avançadas. Há muito a estudar nessas obras, as quais abrangem, em grande profundidade, temas científicos, filosóficos e religiosos. Para avançar no estudo doutrinário, requer-se estudo detalhado e continuado dessas obras, o que não implica necessariamente ir atrás de todos os lançamentos mais badalados das editoras. A cada nova leitura das obras básicas, encontramos novos e mais aprofundados entendimentos acerca do que somos, por que e para que estamos neste planeta e o que podemos esperar de nossas vidas futuras.
Uma universidade não permite que se publique, em seu nome, todo e qualquer trabalho de um estudante. É requerida análise prévia da consistência e mérito do artigo por um ou mais professores ou estudantes amplamente familiarizados com o assunto. Igualmente, uma empresa constitui grupos especializados para divulgar adequadamente orientações ou respostas; não é todo funcionário da companhia que detém o mais amplo conjunto de requisitos para transmitir a visão de um grande grupo. De forma similar, uma casa espírita tem o direito e o dever de analisar previamente todo material antes de divulgá-lo, bem como o de não propagar o que se entende como em desacordo com os fundamentos da Doutrina Espírita. Naturalmente, isso não significa que haja obras de leitura “proibida”. O próprio Kardec não proibiu a leitura de nenhuma obra; ao contrário, chegou a incentivar até o estudo comparativo de obras contrárias à Doutrina Espírita, como se vê na publicação “Catálogo Racional: Obras para se fundar uma Biblioteca Espírita” [3], lançada no Brasil em 2004.
Estudo [4] a respeito dessa obra, apresentado por bolsistas de doutorado em Educação do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico), traz as seguintes observações:
“O Catálogo Racional: Obras para se fundar uma Biblioteca Espírita surgiu em Paris em abril de 1869. Foi distribuído entre os adeptos do Espiritismo e assinantes como suplemento da Revue Spirite. Esgotada essa primeira edição, teve uma segunda ampliada em agosto de 1869.
(...)
O suplemento divide-se em três partes: Obras Fundamentais da Doutrina Espírita, por Allan Kardec; Obras Diversas sobre Espiritismo ou complementares da Doutrina e Obras Feitas Fora do Espiritismo. Também contém uma parte final intitulada Obras contra o Espiritismo.
(...)
Por fim, em Obras contra o Espiritismo encontramos de início uma nota de Kardec onde ele irá escrever:
Proibir um livro é provar que se o teme. O Espiritismo, longe de temer a divulgação dos escritos publicados contra si e proibir-lhes a leitura a seus adeptos, chama a atenção destes e do público para tais obras, a fim de que possam julgar por comparação. As referências à Revista Espírita indicam as obras que foram refutadas.
(...) Não comparece, no catálogo, o que não ler, mas indica muitas leituras. Leitura extensiva, o apoio a uma prática de leitura própria da época em que é escrito o suplemento, de acordo com o conceito de Chartier, ler muitos livros, ler todos os livros. Ao que parece, a ausência de interdição referente às leituras contrárias ao Espiritismo remete ao ponto de vista adotado pelo seu fundador e, proposto para as práticas de leitura espírita, nomeado como livre pensar sem, entretanto, deixar de criar protocolos de leitura, ou seja, regras para ler e compreender as obras que versavam sobre Espiritismo.” [4]
A jornalista doutora em educação Dora Incontri, no filme “Allan Kardec, o Educador”, de Edson Audi, apresenta o seguinte depoimento a esse respeito:
“O Espiritismo entendido como proposta pedagógica, eu acho que é a grande mensagem de Kardec. Aí, nós nos livramos das hierarquias, dos cultos, dos rituais, da fé dogmática, porque ele não queria uma fé dogmática, mas uma fé racional, uma fé pensada e uma fé autônoma, sobretudo. Ele confiava extremamente no ser humano. Isso é uma coisa muito bonita de Kardec.
Recentemente, foi lançado um livro que foi a última obra de Kardec. Poucas pessoas conhecem isso. É o ‘Catálogo Racional das Obras Espíritas’. Foi onde Kardec pretendia fazer uma indicação bibliográfica para a formação básica de uma biblioteca espírita. E o que ele coloca nesse catálogo, nesse índice racional? É muito interessante, porque hoje pouca gente faria uma coisa dessas. Ele coloca indicações bibliográficas de obras espíritas, sim, mas também de obras não espíritas, sobre outras religiões, sobre o islamismo, sobre o hinduísmo etc., e o que é mais interessante: ele coloca obras contra o Espiritismo. Porque ele considerava sagrado o direito de liberdade de consciência e achava que, para a gente inclusive ter uma convicção, precisa conhecer todas as opiniões.
Nunca ele teve uma postura de catequese, de imposição, mas de debate livre de ideias. (...) E o Espiritismo, antes de ser um sistema rígido, fechado de ideias — que, aliás, Kardec sempre advertia que ele não gostava de um pensamento muito sistemático, muito fechado — como dizia Herculano Pires, é um debate filosófico livre de ideias, propostas aí para continuarem a ser debatidas, não para serem tomadas como um corpo dogmático fechado, mas como um corpo de ideias para serem debatidas, vividas, experimentadas, praticadas e, sobretudo, sentidas, e não para serem fechadas num corpo de dogmatismo fanático. É isso que Kardec sempre se preocupou em evitar, tanto que, como última obra dele, e como último item da última obra que ele escreveu, que é esse catálogo racional para a formação de uma biblioteca espírita, ele, no final, colocou obras dos opositores do Espiritismo para que nós lêssemos e julgássemos por nós mesmos. Isso significa o quê? Que Kardec tinha uma profunda confiança no bom senso das pessoas, na capacidade crítica das criaturas. Ele não queria direcionar o que a pessoa deveria ou não deveria ler, deveria ou não deveria pensar. Ele acreditava que as pessoas tinham o direito e o dever de ler, debater todos os tipos de ideia e chegar às suas próprias conclusões. E essa sempre foi a postura dele ao expor o Espiritismo.
Eu acho que esse é um grande exemplo de tolerância, de pluralismo cultural. Hoje em dia se fala tanto em diversidade, pluralismo cultural, e o Kardec já era um exemplo disso em pleno século 19 — aliás, o século dos grandes dogmatismos: dogmatismo do Positivismo; dogmatismo do Marxismo científico; dogmatismo do materialismo científico. E Kardec defendeu uma ideia espiritualista de forma não dogmática.”
É inevitável termos acesso, nem que seja apenas ouvindo comentários, a dados de obras que nem sempre refletem a exatidão dos postulados que a Doutrina Espírita atualmente entende como os corretos. Se apenas repetirmos o que se ouviu dizer, sem análise crítica disso, podemos propagar informações incorretas ou mesmo absurdas, alegadamente como ensinos espíritas. Ter um conhecimento mais avançado nas obras básicas, bem como subsidiárias indicadas como consistentes por estudiosos mais adiantados, nos permite analisar as mais diversas obras sem cairmos em “armadilhas” ou “pedras de tropeço”. Em tempo: essas duas expressões, em grego, significam skándalon, raiz da palavra escândalo, referida por Jesus em Mateus 18:07 e Lucas 17:01, sabedor é Ele que, por nossa condição evolutiva, inevitavelmente tropeçaríamos, algumas vezes, o que serviria para nosso aprendizado.
O Projeto O Bom Leitor [5], de iniciativa do CEERJ (Conselho Espírita do Estado do Rio de Janeiro), apresenta, no documento “Critérios para Divulgação do Livro Espírita” uma série de recomendações quanto à análise e publicação de livros espíritas. No que tange à divulgação de obras espíritas, indica:
- Priorizar a divulgação das obras de Allan Kardec;
- Divulgar as obras espíritas, clássicas, de autores contemporâneos de Kardec (Dellane, Denis, Bozzano, Aksakof e outros), bem como as atuais;
- “Examinar com muita atenção, sob o ponto de vista do embasamento doutrinário, o conteúdo das mensagens recebidas, antes de divulgá-las, mesmo aquelas, que venham assinadas por vultos célebres ou que tragam nomes de médiuns conhecidos”;
- “Selecionar, para fins de divulgação da Doutrina nos meios não espíritas, mensagens que, além do consolo e da orientação que veiculem, esclareçam sobre os princípios básicos do Espiritismo”;
- Submeter os lançamentos de qualquer editora e distribuidora à análise da qualidade doutrinária e literária, não se levando em conta a procura das obras;
- Incentivar o livro infanto-juvenil espírita.
A análise e estudo de obras são muito enriquecidos quando feitos em grupo. Um debate maduro e sem “donos da verdade” usualmente traz conclusões mais abrangentes, bem como eventuais incorreções doutrinárias são mais rapidamente identificadas. Naturalmente deve-se propor para estudo em grupo uma obra cujo conteúdo mereça tal investimento de energia e tempo. Importa destacar que a conclusão de um grupo acerca de uma obra é apenas desse grupo, não necessariamente passando a ser a visão “oficial” da Doutrina Espírita. Tal como ocorre com a Ciência terrena, a Doutrina Espírita é essencialmente progressiva; possui estudantes e autores respeitáveis, porém não nomeou nenhum dono da verdade absoluta.
A revista Reformador, em sua edição de abril de 1988, apresentou artigo intitulado “Deve-se publicar tudo, e divulgar tudo que se publica?”, com base nos textos de Kardec acima citados, das Revistas Espíritas de 1859 e 1863. Transcrevemos, a seguir, o texto veiculado há 22 anos.
1. Não aceitar cegamente textos mediúnicos sem um controle severo. Publicar sem exame, ou sem corretivo, tudo quanto vem dos Espíritos, seria dar prova de pouco discernimento;
2. Ao lado de comunicações francamente más, outras há que são simplesmente triviais ou ridículas. Tais publicações têm o inconveniente de induzir em erro pessoas que não estejam em condições de aprofundar-se e de discernir entre o verdadeiro e o falso;
3. Há comunicações que podem prejudicar gravemente a causa que pretendem defender, em escala muito maior que os grosseiros ataques e as injúrias de certos adversários;
4. A importância que, pela divulgação, é dada às comunicações de Espíritos inferiores os atrai, os excita e os encoraja;
5. Os Bons Espíritos ensinam mais ou menos a mesma coisa por toda parte, porque em toda parte há os mesmos vícios a reformar e as mesmas virtudes a pregar. Por isso, há centenas de lugares onde se obtêm coisas semelhantes, e o que é de poderoso interesse local pode ser banalidade para a massa;
6. Uma coisa pode ser excelente em si mesma, muito boa para servir de instrução pessoal, mas o que deve ser entregue ao público exige condições especiais. Convém, portanto, rejeitar tudo quanto, pela sua condição particular, só interessa àquele a quem se destina. E também tudo quanto é vulgar no estilo e nas ideias, ou pueril pelo assunto;
7. Mesmo a pessoa mais competente pode enganar-se; tudo está em enganar-se o menos possível. Há Espíritos que se comprazem em alimentar, em certos médiuns, a ilusão de que não estão sujeitos a enganos. Por isso, nunca seria demais recomendar a estes não confiar em seu próprio julgamento. Nesse sentido, os grupos são importantes pela multiplicidade de opiniões que neles podem ser colhidas. Aquele que, neste caso, recusasse a opinião da maioria, julgando-se mais esclarecido que todos, provaria superabundantemente a má influência sob a qual se acha;
8. Ao lado de alguns bons pensamentos encontram-se, por vezes, ideias excêntricas e traços inequívocos da mais profunda ignorância. Nesta espécie de trabalho mediúnico é que mais evidentes são os sinais da obsessão, dos quais um dos mais frequentes é a injunção da parte do Espírito de os fazer imprimir;
9. Nenhuma precaução é excessiva para evitar publicações lamentáveis. Em tais casos, mais vale pecar por excesso de prudência, no interesse da causa;
10. Publicando comunicações dignas de interesse, faz-se uma coisa útil. Publicando as que são fracas, insignificantes ou más, faz-se mal em vez de bem;
11. Uma consideração não menos importante é a da oportunidade. Comunicações há cuja publicação é intempestiva e, por isso mesmo, prejudicial. Cada coisa deve vir a seu tempo;
12. Não se trata de desencorajar as publicações. Longe disso. Mas mostrar a necessidade de rigorosa seleção do material. Aplicando estes princípios às comunicações a ele enviadas até maio de 1863, Kardec classificou-as, obtendo as seguintes conclusões:
a. Em 3600, mais de 3000 eram de moralidade irreprochável;
b. Desse número, menos de 300 poderiam ser publicadas (menos de 10%) e
c. Apenas 100 apresentavam-se de mérito inconteste.
Quanto aos originais produzidos por encarnados, em cerca de 30, Kardec encontrou 5 ou 6 de real valor.
Conclusão de Kardec: “No mundo invisível como na Terra, não faltam escritores, mas os bons são raros”.
Estes critérios de Kardec, propostos para análise de viabilidade de publicações espíritas, são perfeitamente aplicáveis aos divulgadores no exame das obras já editadas.
Na verdade, o livro espírita deve ser examinado em diferentes níveis, sendo a passagem para o nível seguinte condicionada à aprovação nos anteriores, até chegar ao leitor. Podem-se citar os seguintes níveis principais:
a) Autor encarnado ou Espírito e médium (autocrítica);
b) Editor (incluindo-se as revisões gramatical e gráfica);
c) Distribuidor;
d) Divulgador.
Esta sequência, entretanto, nem sempre é observada em uma, algumas ou, lamentavelmente, em nenhuma das etapas. Mas como a nossa Doutrina proporciona ampla liberdade à criatura, lembremos o dito do Mestre: “A cada um segundo sua própria consciência”.
Leia também, neste blog, as postagens “Espiritismo e Internet”, “Falsos Cristos, falsos profetas e seus seguidores”, “Vigiai e Orai”, “Os opositores da Doutrina Espírita”, “154 anos do Consolador Prometido”, “‘Pequenos’ Erros” e “Hermenêutica, Exegese e Espiritismo”.
Bons estudos!
Carla e Hendrio
Referências:
[1] KARDEC, Allan. “Revista Espírita de novembro de 1859”. Tradução de Evandro Noleto Bezerra. Rio de Janeiro, RJ: FEB, 2004. “Deve-se Publicar Tudo Quanto Dizem os Espíritos?”
[2] KARDEC, Allan. “Revista Espírita de maio de 1863”. Tradução de Evandro Noleto Bezerra. Rio de Janeiro, RJ: FEB, 2004. “Exame das Comunicações Mediúnicas que nos são Enviadas”.
[3] KARDEC, Allan. “Catalogue Raisonné des Ouvrages Pouvant Servir a Fonder une Bibliothèque Spirite”. Segunda edição, agosto de 1869. Disponível em http://www.espirito.org.br/portal/download/pdf/fr/catalogue-raisonne.pdf e http://charles.kempf.pagesperso-orange.fr/Livres/catalogue.pdf. Acesso em 27 de julho de 2010.
[4] CARVALHO, Larissa Camacho; LOUSADA, Vinícius Lima. “Uma História do Livro e de Todos os Livros: Catálogo Racional - Obras Para se Fundar uma Biblioteca Espírita (1869)”. Programa de Pós-Graduação em Educação/UFRGS. Disponível em http://www.febnet.org.br/ba/file/Pesquisa/Textos/UMA%20HIST%C3%93RIA%20DO%20LIVRO%20E%20DE%20TODOS%20OS%20LIVROS.pdf. Acesso em 27 de julho de 2010.
[5] Conselho Espírita do Estado do Rio de Janeiro. Projeto O Bom Leitor. Disponível em http://www.ceerj.org.br/ceerj/index.php?option=com_content&view=article&id=478&Itemid=227. Acesso em 27 de julho de 2010.
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