domingo, 21 de novembro de 2010

“Os últimos serão os primeiros, e os primeiros serão os últimos.”

Qual o nosso foco primordial ao realizar todas as atividades do dia-a-dia, sejam elas em casa ou fora, sejam remuneradas ou voluntárias? Riqueza, reconhecimento, status, a alegria de ter feito o Bem?

Jesus faz alusão à expressão “Os últimos serão os primeiros, e os primeiros serão os últimos” em várias passagens:
  • Na parábola dos trabalhadores da vinha (Mateus 20:1-16);
  • Ao explanar os desafios morais dos materialmente ricos (Mateus 19:23-30; Marcos 10:23-31); e
  • Ao se referir à “porta estreita” — ou seja, o caminho da evolução moral e desapego ao material ainda ser escolhido e trilhado por poucos na Terra (Lucas 13:23-30).
Huberto Rohden, em sua obra “Sabedoria das Parábolas” [1], referindo às cinco turmas de trabalhadores que foram à vinha, pondera:
“As quatro primeiras turmas são dos egos virtuosos, recompensados por sua virtuosidade. Os da última turma são os Eus sapientes, não recompensados, mas simplesmente agraciados. O homem virtuoso não é capaz de trabalhar se não receber nada em retribuição, não na vida presente, mas na vida futura, pois ele não é do egoísmo terrestre, mas do egoísmo celeste, como diz Bergson. (...) As quatro primeiras turmas da parábola eram ‘servos úteis’, os da última turma eram ‘servos inúteis’. Estes últimos não trabalharam com intuito lucrativo; se receberam o denário, não o receberam como recompensa, mas como dom gratuito (...). Nenhum homem pode ter direito diante de Deus. Nenhum homem pode ter a pretensão de ser o ‘credor’ de Deus, e considerar Deus como seu ‘devedor’. O Criador não pode dever nada à criatura.” O evangelista Lucas (17:10) cita as palavras de Jesus a respeito: “Assim também vós, depois de haverdes feito tudo o que vos foi ordenado, dizei: Somos servos inúteis, fizemos o que devíamos fazer”.
A disponibilidade para o trabalho no Bem, associada à sua prática, nos proporcionam a Plenitude, uma percepção de si próprio ligado à Luz, finalmente percebendo as bênçãos que os filhos de Deus sempre recebem do Alto, porém somente são usufruídas quando estes se colocam receptivos às mesmas. E tal sensação não é quantificável em tempo ou valores ordenáveis em primeiro ou último.

Independente de sermos materialmente ricos ou pobres, todos temos de buscar ser úteis ao nosso semelhante, em toda atividade que empreendermos. À questão 675 de “O Livro dos Espíritos” [2] lemos que “toda ocupação útil é trabalho”. Com o foco em fazer o Bem, naturalmente entendemos os bens materiais como meios de tornar o mundo um lugar melhor para a coletividade. Assim, abandona-se a preocupação primordial de uma ascensão material, terra-a-terra, horizontal, do mais pobre para o mais rico em posses materiais, que se desgastam com o tempo. Passa-se a buscar uma ascensão moral, vertical, ligada com o Mais Alto, do egoísta (primeiro “eu”) para o altruísta (primeiro o “outro”), uma riqueza que o tempo não consome e que ninguém consegue roubar.


A assertiva de Jesus em Mateus 20:16 (“Os últimos serão os primeiros, e os primeiros serão os últimos.”) expressa a distinção entre a valorização espiritual e material das várias situações da vida. O que parece importante no conceito material é menos importante no conceito espiritual. Assim, aqueles que cuidam de se tornarem últimos no conceito do mundo materialista, ou seja, não valorizando (ainda que, por décadas de algumas encarnações, possuindo) o que o mundo materialista preconiza como importante, tornam-se os primeiros no plano espiritual, plano real da vida. Da mesma forma, aqueles obcecados em se tornar os primeiros no conceito ilusório do mundo das posses materiais, ligando a sua vida a esses valores passageiros, permanecem imaturos, ou seja, últimos no plano espiritual. O importante é considerar que não estamos estanques em nenhuma dessas situações (primeiros ou últimos), mas sempre a caminho para melhorarmos, até que todos sejamos primeiros — não em ordem de chegada, mas em amadurecimento moral.

Foto: Carla Engel

Finalizamos com as palavras do Espírito Verdade [3], lembrando-nos da importância da vitória, em nossa mente e nosso coração, do altruísmo sobre o egoísmo:
“Aproxima-se o tempo em que se cumprirão as coisas anunciadas para a transformação da Humanidade. Ditosos serão os que houverem trabalhado no campo do Senhor, com desinteresse e sem outro móvel, senão a caridade! Seus dias de trabalho serão pagos pelo cêntuplo do que tiverem esperado. Ditosos os que hajam dito a seus irmãos: ‘Trabalhemos juntos e unamos os nossos esforços, a fim de que o Senhor, ao chegar, encontre acabada a obra’, porquanto o Senhor lhes dirá: ‘Vinde a mim, vós que sois bons servidores, vós que soubestes impor silêncio aos vossos ciúmes e às vossas discórdias, a fim de que daí não viesse dano para a obra!’”


Leia também, neste blog, as postagens “A Porta Estreita”, “O amor cobre uma multidão de pecados”, “A riqueza” e “Egos virtuosos e Eus sapientes”.


Bons estudos!
Carla e Hendrio


Referências:

[1] ROHDEN, Huberto. “Sabedoria das Parábolas”. São Paulo, SP: Editora Martin Claret, 2004. “Os trabalhadores na vinha”.
[2] KARDEC, Allan. “O Livro dos Espíritos”. 66ª ed. Rio de Janeiro, RJ: FEB, 1987. Questão 675.
[3] KARDEC, Allan. “O Evangelho Segundo o Espiritismo”. 97ª ed. Rio de Janeiro, RJ: FEB, 1987. Capítulo XX, item 5.




3 comentários:

  1. É de uma grandeza as colocações explicativas para nós, orientadores de grupos de estudos,as aulas estão bem motivadas,e esclarecedoras às muitas dúvidas apresentadas pelos participantes

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  2. muito boa a sua explicação de que o amor de deus esta ao alcance de todos nós e temos que aprender a acessa-lo

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  3. A cada dia nos apreendemos os ensinamentos do Cristo e nos iluminamos com o evangelho de Jesus através dos estudo Obrigada a todos por este belíssimo trabalho de amor.

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