terça-feira, 19 de outubro de 2010

Vigiai e Orai

“Nem ao menos uma hora pudestes vigiar comigo? Vigiai e orai, para que não entreis em tentação; o espírito, na verdade, está pronto, mas a carne é fraca.” (Mateus 26:40-41)

“Por que dormis? Levantai-vos e orai, para que não entreis em tentação.”

(Lucas 22:46)

“Quantas dissensões e funestas disputas se teriam evitado com um pouco de moderação e menos suscetibilidade!

Quantas doenças e enfermidades decorrem da intemperança e dos excessos de todo gênero!” [1]


Mantermo-nos despertos, e em sintonia elevada, permite estarmos atentos e bem inspirados a toda oportunidade de fazer o Bem, a nosso semelhante e, por decorrência, a nós próprios. Nem sempre o que alguns formadores de opinião ou a mídia tentam ditar como atitudes, comportamentos ou programas da moda, se identificam com esses bons propósitos. Milhares de mentes pouco despertas e sintonizadas com padrões perturbados são, assim, influenciadas coletivamente, atrasando sua marcha evolutiva. Busquemos uma cultura de higiene mental, fazendo, assim, muito Bem a nós mesmos. Este o convite de Jesus nas passagens evangélicas acima destacadas.


Vigiai e orai — Despertai e orai

O escritor Carlos Torres Pastorino entende que um termo mais adequado do que o tradicionalmente traduzido como “vigiai”, na citação acima, do Evangelho segundo Mateus (também encontrada em Marcos 14:37-38), é “despertai”, de forma consistente com a passagem Lucas 22:46. Em suas palavras:
“Não usamos o verbo tradicionalmente empregado aqui: vigiai, porque — embora o latim vigilare signifique “despertar”, e apesar de “estado de vigília” se oponha a “estado de sono” — o “vigiar” dá ideia, atualmente, de “olhar com atenção para ver quem venha”, muitas vezes até chegando a colocar-se a mão em pala acima dos olhos, como natural mímica de “vigiar”... Portanto, DESPERTAR é o que melhor exprime a ideia do texto original: é indispensável acordar, deixar de dormir, a fim de não perder o momento solene e precioso da chegada do Filho do Homem.” [2]

“Quantas vezes aquilo que nos revolta, seria um passo à frente em nossa evolução, e perdemos a oportunidade! Estejamos despertos, atentos, bem acordados, e permaneçamos em oração, para aproveitar todas as ocasiões de subir.” [3]
Os momentos da chegada do Filho do Homem, as ocasiões de subirmos, não são apenas ocorrências místicas ou épicas, mas eventos que surgem diariamente, bastando nossa atenção para vê-los e, quando ocorrerem, seguirmos as inspirações elevadas que Bons Espíritos sempre nos ofertam. Trata-se das oportunidades que se nos oferecem, todos os dias, de fazermos o Bem a nosso semelhante, onde decidimos por atuar efetivamente em seu auxílio. Basta permanecermos vigilantes, como relatado na parábola do bom samaritano (Lucas 10:25-37), e encontraremos tais oportunidades constantemente, em nossa casa e em qualquer local onde estivermos.

Aurora Austral observada da Estação Espacial Internacional (ISS).


Comum, normal e bom

Não é porque algo está na moda, ou porque algum proceder é dito “normal”, que deve ser feito também por nós. O escritor francês Jean Yves Leloup, em 1995 [4], criou o termo “normose” para designar o fenômeno em que algo, por ser feito ou aceito por muitos e, assim, tornado comum, passa a ser visto como normal, tornando aceitável até o moralmente inaceitável. Nas palavras do autor Pierre Weil a respeito desse termo, encontramos:
“Normose é o resultado de um conjunto de crenças, opiniões, atitudes e comportamentos considerados normais, logo em torno dos quais existe um consenso de normalidade, mas que apresentam consequências patológicas e/ou letais. Alguns exemplos de normoses: usos alimentares como o açúcar, o uso de agrotóxicos e inseticidas, o consumo de drogas como o cigarro ou o álcool, o paradigma newtoniano cartesiano e a fantasia dualista sujeito-objeto em ciência, o consumismo associado à destruição da vida no planeta.” [5]
Fiquemos, portanto, atentos para analisar o que recebemos de sugestões de consumo e atitudes, pois nem tudo que se diga normal serve para o nosso bem. Lembremos das sábias palavras do apóstolo Paulo de Tarso:
“Todas as coisas são lícitas, mas nem todas as coisas convêm; todas são lícitas, mas nem todas edificam.” (1 Coríntios 10:23)


Obsessão pandêmica

Em complemento à passagem evangélica acima, o Espírito Manoel Philomeno de Miranda traz importante alerta para as consequências em âmbito pessoal e coletivo de más escolhas. Sintonias menos dignas levam multidões a uma influenciação negativa. Somente com cada um fazendo sua parte, permanecendo despertos e na boa sintonia da prece, evita-se essa pandemia de vibrações de baixa frequência:
“Os estímulos exagerados ao prazer e não ao comedimento abrem as comportas morais para a simbiose emocional e se torna difícil estabelecer a fronteira separativa do que é lícito e se pode fazer em relação ao tudo conseguir devendo o máximo fruir.
O espetáculo, pois, da obsessão pandêmica choca e comove, sensibilizando o inefável amor de Jesus, que promove as reencarnações de nobres Mensageiros para o esclarecimento da sociedade a respeito da angustiante situação, através da reconquista ética do amor, do dever, da fraternidade, do perdão, da oração e da caridade.
(...)
O vigiai e orai torna-se de incomum significado terapêutico, neste momento, a fim de prevenir a sociedade a respeito da infeliz pandemia, assim como para libertar os ergastulados nas amarras e prisões da momentânea enfermidade moral-espiritual.” [6]

O autor espiritual André Luiz ilustra como os Espíritos desencarnados e menos apegados à matéria visualizam a atmosfera de um ambiente contaminado por pensamentos materialistas e egoístas:
“Reconhecia, de longe, o peso considerável do ar que se agarrava à superfície. Tive a impressão de que nadávamos em alta zona do mar de oxigênio, vendo em baixo, em águas turvas, enorme quantidade de irmãos nossos a se arrastarem pesadamente, metidos em escafandros muito densos, no fundo lodoso do oceano. (...)
— Observem os grandes núcleos pardacentos ou completamente obscuros!... São zonas de matéria mental inferior, matéria que é expelida incessantemente por certa classe de pessoas. (...)
— Tanto assalta o homem a nuvem de bactérias destruidoras da vida física, quanto as formas caprichosas das sombras que ameaçam o equilíbrio mental. Como veem, o “orai e vigiai” do Evangelho tem profunda importância em qualquer situação e a qualquer tempo. Somente os homens de mentalidade positiva, na esfera da espiritualidade superior, conseguem sobrepor-se às influências múltiplas de natureza menos digna. (...)
— (...) Não podemos considerar somente, no capítulo das moléstias, a situação fisiológica propriamente dita, mas também o quadro psíquico da personalidade encarnada. Ora, se temos a nuvem de bactérias produzidas pelo corpo doente, temos a nuvem de larvas mentais produzidas pela mente enferma, em identidade de circunstâncias. Desse modo, na esfera das criaturas desprevenidas de recursos espirituais, tanto adoecem corpos, como almas. No futuro, por esse mesmo motivo, a medicina da alma absorverá a medicina do corpo. Poderemos, na atualidade da Terra, fornecer tratamento ao organismo de carne. Semelhante tarefa dignifica a missão do consolo, da instrução e do alívio. Mas, no que concerne à cura real, somos forçados a reconhecer que esta pertence exclusivamente ao homem-espírito.” [7]


Higiene do corpo e do Espírito

Na mitologia grega, Hygia era a filha do deus da Medicina, Asklepios. Hygia era a deusa da saúde e limpeza. De seu nome surgiu o ramo da medicina denominado higiene, o qual visa à prevenção das doenças. Na mitologia romana, Hygia se chama Salus, de onde se origina a palavra “salutar”.

A preocupação com a higiene do corpo é muito importante, usualmente valorizada por religiosos e materialistas. Tão ou mais importante, conquanto de relevância nem sempre tão reconhecida, é a higiene do Espírito, ou seja, a prevenção da ocorrência de pensamentos, palavras e ações doentias, incompatíveis com o Bem de nosso semelhante. O direcionamento de nossos pensamentos e ações para o Bem, é passo fundamental para nossa saúde; para a saúde de nosso próximo e para a saúde de nosso próprio Planeta.


Leia também, neste blog, as postagens “Focos de desequilíbrio espiritual”, “A lei de talião”, “Amar o Próximo”, “Examinai Tudo. Retende o Bem.”, “A Prece 1 e 2”, “Influência do Meio” e “Mens sana in corpore sano”.


Bons estudos!
Carla e Hendrio


Referências:

[1] KARDEC, Allan. “O Evangelho Segundo o Espiritismo”. 97ª ed. Rio de Janeiro, RJ: FEB, 1987. Capítulo V, item 4.
[2] PASTORINO, Carlos Torres. “Sabedoria do Evangelho”. Rio de Janeiro, RJ: Sabedoria, 1964. Volume 7, capítulo “Despertar do sono”.
[3] Ibidem. Volume 8, capítulo “Oração no jardim”.
[4] LELOUP, Jean-Yves e WEIL, Pierre: “Les deux extrêmes de la normose contemporaine, du phantasme de la séparativité au phantasme fusionnel.” Disponível em http://www.revue3emillenaire.com/numerosparus/numerosparus.php?pid=35&numero_affiche=038. Acesso em 18/10/2010.
[5] WEIL, Pierre. “A normose informacional”. Disponível em http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0100-19652000000200008&script=sci_arttext. Acesso em 18/10/2010.
[6] FRANCO, Divaldo Pereira. “Obsessão pandêmica”. Pelo Espírito Manoel Philomeno de Miranda. Revista “Reformador” de junho de 2008. Disponível em http://www.febnet.org.br/reformadoronline/edicoes-anteriores/2008/reformador_06_junho_2008.pdf. Acesso em 17/10/2010.
[7] XAVIER, Francisco Cândido. “Os Mensageiros”. Pelo Espírito André Luiz. 34.ed. Rio de Janeiro: RJ, FEB, 2000. Capítulo 40.


domingo, 3 de outubro de 2010

Jesus, Kardec e Nós

Texto de Emmanuel, em honra aos 206 anos do nascimento do Codificador da Doutrina Espírita.


Se Jesus considerasse a si mesmo puro demais, a ponto de não tolerar o contato das fraquezas humanas; se acreditasse que tudo deve correr por conta de Deus; se nos admitisse irremediavelmente perdidos na rebeldia e na delinquência; se condicionasse o desempenho do seu apostolado ao apoio dos homens mais cultos; se aguardasse encosto dinheiroso e valimento político a fim de realizar a sua obra ou se recuasse, diante do sacrifício, decerto não conheceríamos a luz do Evangelho, que nos descerra o caminho à emancipação espiritual.

°°°

Se Allan Kardec superestimasse a elevada posição que lhe era devida na aristocracia da inteligência, colocando honras e títulos merecidos, acima das próprias convicções; se permanecesse na expectativa da adesão de personalidades ilustres à mensagem de que se fazia portador; se esperasse cobertura financeira para atirar-se à tarefa; se avaliasse as suas dificuldades de educador, com escasso tempo par esposar compromissos diferentes do magistério ou se retrocedesse, perante as calúnias e injúrias que lhe inçaram a estrada, não teríamos a codificação da Doutrina Espírita, que complementa o Evangelho, integrando-nos na responsabilidade de viver.


Refletindo em Jesus e Kardec, ficamos sem compreender a nossa inconsequência, quando nos declaramos demasiadamente virtuosos, ocupados, instruídos, tímidos , incapazes ou desiludidos para atender às obrigações que nos cabem na Doutrina Espírita. Isso porque se eles — o Mestre e o Apóstolo da renovação humana — passaram entre os homens, sofrendo dilacerações e exemplificando o bem, por amor à verdade, quando nós — consciências endividadas, fugimos de aprender e servir, em proveito próprio, indiscutivelmente, estaremos sem perceber, sob a hipnose da obsessão oculta, carregando equilíbrio por fora e loucura por dentro.



XAVIER, Francisco Cândido e VIEIRA, Waldo. “Opinião Espírita”. Pelos Espíritos Emmanuel e André Luiz. 7.ed. Uberaba, MG: Comunhão Espírita Cristã, 1990. Capítulo 4.


Leia, também, neste blog, a postagem “154 anos do Consolador Prometido”.