Qual a definição de pecado? Quais ações configuram pecados? Em que consistiu e o que traz de impacto a todos nós o assim chamado “pecado original”? Somos pecadores?
Em várias religiões busca-se analisar o tema. A título de exemplo, o Catecismo Maior de Westminster [1], um dos símbolos de fé do Protestantismo Calvinista, indica, à pergunta 24 (“Que é pecado?”): “Pecado é qualquer carência de conformidade com, ou transgressão de qualquer lei de Deus, dada como regra para a criatura racional”. Ocorre, porém, que a visão de “qualquer carência de conformidade” ficou sujeita a diversas interpretações e intenções subjetivas, acabando por banalizar o conceito de pecado.
Em sua acepção original, a expressão hebraica chatta’th, passando para o grego hamartia e depois, para o latim, peccatu, não indicava pecado como ofensa a Deus, mas sim qualquer tipo de erro, como errar o caminho para um endereço ou um lançamento de flecha errar o alvo.
Carlos Torres Pastorino [2] orienta: “Literalmente, ‘hamartia’ é ‘erro’ no sentido de ‘errar o alvo’ ou ‘desviar-se do caminho certo’, isto é, perder-se (no deserto, no mato), enganando-se de rumo (...)”. άµαρτιών (“hamartión”), relacionado a “hamartia”, significa erro em geral, não um pecado na acepção vigente da palavra.
O termo “pecador” (“hamartolós”) tem um sentido próprio em grego: “desorientado”, “errado”, isto é, “o que está fora do caminho certo”. Pastorino, a respeito da tradução dessa palavra, cita [3]: “Não dizemos ‘pecado’, nem ‘pecador’, pois estas palavras assumiram o significado específico de ‘ofensa a Deus’, como se a Divindade fosse uma criatura mutável que pudesse ofender-se, zangar-se com os homens, e depois, perdoasse, quando estes se arrependessem.”
A citação “remissão de pecados”, muito utilizada em várias traduções vigentes da Bíblia (e.g. Marcos 01:04; Lucas 01:77, 03:03 e 24:47; Atos dos Apóstolos 02:38, 05:31 etc.), vem da expressão grega άφεσις τών άµαρτιών (“aphesis tôn hamartíôn”) [4], mais propriamente traduzida por “afastamento dos erros”, e mais coerente com a lógica cristã de autodescobrimento e reforma íntima. A ideia de remir pecados traz um referencial externo, em que Deus escolhe me perdoar ou não, enquanto que me afastar do erro é um referencial interno, em que, parando de cometer um erro, reparando meus erros anteriores e perdoando os erros do próximo, me harmonizo com a Lei Divina.
Pastorino ilustra a ideia acima na interpretação da parábola da dracma perdida [5], como vê-se em Lucas 15:08-10:
Em várias religiões busca-se analisar o tema. A título de exemplo, o Catecismo Maior de Westminster [1], um dos símbolos de fé do Protestantismo Calvinista, indica, à pergunta 24 (“Que é pecado?”): “Pecado é qualquer carência de conformidade com, ou transgressão de qualquer lei de Deus, dada como regra para a criatura racional”. Ocorre, porém, que a visão de “qualquer carência de conformidade” ficou sujeita a diversas interpretações e intenções subjetivas, acabando por banalizar o conceito de pecado.
Em sua acepção original, a expressão hebraica chatta’th, passando para o grego hamartia e depois, para o latim, peccatu, não indicava pecado como ofensa a Deus, mas sim qualquer tipo de erro, como errar o caminho para um endereço ou um lançamento de flecha errar o alvo.
Carlos Torres Pastorino [2] orienta: “Literalmente, ‘hamartia’ é ‘erro’ no sentido de ‘errar o alvo’ ou ‘desviar-se do caminho certo’, isto é, perder-se (no deserto, no mato), enganando-se de rumo (...)”. άµαρτιών (“hamartión”), relacionado a “hamartia”, significa erro em geral, não um pecado na acepção vigente da palavra.
O termo “pecador” (“hamartolós”) tem um sentido próprio em grego: “desorientado”, “errado”, isto é, “o que está fora do caminho certo”. Pastorino, a respeito da tradução dessa palavra, cita [3]: “Não dizemos ‘pecado’, nem ‘pecador’, pois estas palavras assumiram o significado específico de ‘ofensa a Deus’, como se a Divindade fosse uma criatura mutável que pudesse ofender-se, zangar-se com os homens, e depois, perdoasse, quando estes se arrependessem.”
A citação “remissão de pecados”, muito utilizada em várias traduções vigentes da Bíblia (e.g. Marcos 01:04; Lucas 01:77, 03:03 e 24:47; Atos dos Apóstolos 02:38, 05:31 etc.), vem da expressão grega άφεσις τών άµαρτιών (“aphesis tôn hamartíôn”) [4], mais propriamente traduzida por “afastamento dos erros”, e mais coerente com a lógica cristã de autodescobrimento e reforma íntima. A ideia de remir pecados traz um referencial externo, em que Deus escolhe me perdoar ou não, enquanto que me afastar do erro é um referencial interno, em que, parando de cometer um erro, reparando meus erros anteriores e perdoando os erros do próximo, me harmonizo com a Lei Divina.
Pastorino ilustra a ideia acima na interpretação da parábola da dracma perdida [5], como vê-se em Lucas 15:08-10:
“Ou qual é a mulher que, tendo dez dracmas, se perder uma dracma não acende a candieiro, varre a casa e a procura diligentemente até achá-la? E achando-a convoca as amigas e vizinhas, dizendo: alegrai-vos comigo porque achei a dracma que perdera. Assim, digo-vos, há alegria na presença dos mensageiros de Deus por um errado que muda sua mente.”
Na interpretação de Pastorino: “No meio do desconchavo da vida e de seus atropelos, perdemos de vista a moeda preciosa de nossa ligação com o espírito. Quando percebemos — se percebemos — esse extravio, esforçamo-nos em reavê-lo, dando os passos necessários, que foram bem delineados no texto:
1º – acendemos a candeia, gesto indispensável, para quebrar as trevas densas em que estamos mergulhados, e poder vislumbrar o caminho a seguir,
2º – varremos a casa, isto é, procedemos à catarse de nossos veículos personalísticos, a fim de possibilitarmos a procura interna da moeda extraviada sem que nenhum embaraçamento no-la faça perder de vista, sem nenhum véu de poeira a possa isolar de nosso contato.
Os espíritos "Mensageiros de Deus" alegram-se quando um errado (que se extraviou do caminho certo) muda seu modo de pensar (...)”
Allan Kardec pontua, na obra “O Céu e o Inferno” [6], os passos para um efetivo afastamento do erro:
- Arrependimento
- Expiação
- Reparação
Em suas palavras: “Arrependimento, expiação e reparação constituem, portanto, as três condições necessárias para apagar os traços de uma falta e suas consequências. O arrependimento suaviza os travos da expiação, abrindo pela esperança o caminho da reabilitação; só a reparação, contudo, pode anular o efeito destruindo-lhe a causa. Do contrário, o perdão seria uma graça, não uma anulação”.
A respeito do pecado original, há segmentos que afirmam que carrega-se, de geração para geração, o pecado cometido por Adão e Eva. “Adam” se refere aos seres humanos, homens e mulheres (vide “A Gênese”, capítulo XII, itens 16 a 26; e http://licoesdosespiritos.blogspot.com/2009/08/reencarnacao-na-biblia.html); e “Hava”, em hebraico, significa “vida”, não um nome próprio feminino. Em “A Gênese” [7], Kardec orienta: “A raça adâmica apresenta todos os caracteres de uma raça proscrita. Os Espíritos que a integram foram exilados para a Terra, já povoada, mas de homens primitivos, imersos na ignorância, que aqueles tiveram por missão fazer progredir, levando-lhes as luzes de uma inteligência desenvolvida. (...) A doutrina vulgar do pecado original implica, conseguintemente, a necessidade de uma relação entre as almas do tempo do Cristo e as do tempo de Adão; implica, portanto, a reencarnação. Dizei que todas essas almas faziam parte da colônia de Espíritos exilados na Terra ao tempo de Adão e que se achavam manchadas dos vícios que lhes acarretaram ser excluídas de um mundo melhor e tereis a única interpretação racional do pecado original, pecado peculiar a cada indivíduo e não resultado da responsabilidade da falta de outrem a quem ele jamais conheceu. Dizei que essas almas ou Espíritos renascem diversas vezes na Terra para a vida corpórea, a fim de progredirem, depurando-se; que o Cristo veio esclarecer essas mesmas almas, não só acerca de suas vidas passadas, como também com relação às suas vidas ulteriores e então, mas só então, lhe dareis à missão um sentido real e sério, que a razão pode aceitar.”
Em suma, incorremos em erro quando transgredimos nossa consciência, local onde Deus nos equipou com Suas Leis, conforme orientado pelos Espíritos a Allan Kardec à questão 621 de “O Livro dos Espíritos” [8]. Em “O Evangelho Segundo o Espiritismo” [9], um Espírito protetor envia a seguinte mensagem: “(...) Deus, em sua misericórdia infinita, vos pôs no fundo do coração uma sentinela vigilante, que se chama consciência. Escutai-a, que somente bons conselhos ela vos dará. Às vezes, conseguis entorpecê-la, opondo-lhe o espírito do mal. Ela, então, se cala. Mas, ficai certos de que a pobre escorraçada se fará ouvir, logo que lhe deixardes aperceber-se da sombra do remorso. Ouvi-a, interrogai-a e com frequência vos achareis consolados com o conselho que dela houverdes recebido.”
Jesus foi enviado por Deus à Terra para, por seus exemplos e ensinamentos, conforme as traduções mais adequadas do Evangelho, nos afastar do erro e, assim, nos salvarmos, ou seja, evoluirmos.
Leia também, neste blog, as postagens “O Bem e o Mal”, “Maus Pensamentos”, “O amor cobre uma multidão de pecados”, “Amar os inimigos” e “Considerações sobre o aborto induzido”.
Bons estudos!
Carla e Hendrio
Referências:
[1] Catecismo Maior de Westminster. Disponível em http://www.igrejareformada.ca/biblioteca/Catecismo_Maior_Westminster_1.html. Acesso em 20/02/2010.
[2] PASTORINO, Carlos Torres. “Sabedoria do Evangelho”. Rio de Janeiro, RJ: Sabedoria, 1964. Volume 5. “Falar contra o Espírito”.
[3] PASTORINO, Carlos Torres. “Sabedoria do Evangelho”. Rio de Janeiro, RJ: Sabedoria, 1964. Volume 5. “Cego de Nascença”.
[4] PASTORINO, Carlos Torres. “Sabedoria do Evangelho”. Rio de Janeiro, RJ: Sabedoria, 1964. Volume 1. “Ministério do Precursor”.
[5] PASTORINO, Carlos Torres. “Sabedoria do Evangelho”. Rio de Janeiro, RJ: Sabedoria, 1964. Volume 6. “A Dracma Perdida”.
[6] KARDEC, Allan. “O Céu e o Inferno”. 37ª ed. Rio de Janeiro: RJ, FEB: 1991. 1ª parte, capítulo VII, “Código penal da vida futura”, item 16.
[7] KARDEC, Allan. “A Gênese”. 34ª ed. Rio de Janeiro, RJ, FEB. 1991. Capítulo XI, itens 45 e 46.
[8] KARDEC, Allan. “O Livro dos Espíritos”. 1ª ed. Comemorativa do Sesquicentenário (bolso). Rio de Janeiro: RJ, FEB: 2007. Questão 621.
[9] KARDEC, Allan. “O Evangelho Segundo o Espiritismo”. 2ª ed. de bolso. Rio de Janeiro: RJ, FEB: 1999. Capítulo XIII, item 10.
Olá Hendrio e CArla! Muito bem elaborado este estudo, compacto, mas muito esclarecedor para os espíritas e quem quiser ler e compreender, terminando com a "culpa" pelo erro do outro que a maioria dos Cristãos carrega ao longo de sua jornada terrena,por ensinamentos confusos e sem a devida análise das línguas que compuseram os textos Bíblicos. Ah! se fosse possível voltarmos ao tempo do estudo das línguas: latim e grego e aramaico, tantos enganos seriam evitados entre os homens.Mas, o progresso empurra a todos para novos horizontes e nossas origens neste planeta vão caindo no esquecimento do inconsciente coletivo. Mas, nós na CJP também estamos realizando estudos. Assim que tivermos complementado os assuntos que recém iniciamos, trocaremos com vocês, tenha certeza.Obrigada pela possibilidade de socialização que vocês nos oportunizam.
ResponderExcluirPodem continuar dividindo conosco seus estudos. Abraço faterno.Dora Ribeiro-POA