segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Maus Pensamentos

Cada pessoa é responsável por seus pensamentos, palavras e atos. Um pensamento imbuído de qualquer conotação visando ao mal de alguém ou algo, mesmo que não concretizado, gera efeitos em si e no ambiente, pelos quais a pessoa se torna responsável.

Jesus, na passagem de Mateus 05:27-28, assim se expressa a respeito do adultério:

“Tendes ouvido que foi dito: Não adulterarás. Eu, porém, vos digo que todo o que põe seus olhos em uma mulher, para a cobiçar, já no seu coração adulterou com ela.”

O Mestre, nessa citação, se refere ao adultério já cometido pelo mero pensamento orientado a uma má ação. Analisemos as expressões “mau pensamento” e “adultério”, e posteriormente ponderemos acerca das consequências do pensamento desregrado.

Como podemos entender o que é um mau pensamento? Uma consulta à nossa consciência trará a informação sobre a ideia ser contrária ao bem do próximo e à nossa própria harmonia. Em mensagem mediúnica datada de novembro de 1859 e publicada na Revista Espírita de janeiro de 1860, encontramos a seguinte orientação:

“Distinguem-se os bons dos maus pensamentos, porque os primeiros podem, sem nenhum receio, ser transmitidos a todo o mundo, ao passo que os últimos não poderiam, sem perigo, ser comunicados senão a alguns. Quando vos vier um pensamento, para julgar de seu valor perguntai-vos se podeis torná-lo público sem inconveniente e se não fará mal: se vossa consciência vo-lo autorizar, não temais, vosso pensamento é bom.” [1]

A palavra adultério deriva do termo do latim adulterare, que significa alterar, corromper. Este verbete é formado pela combinação de ad (ir a; direção), e alter (outro). Portanto, a palavra adultério vai além da questão da fidelidade conjugal, mas se refere à traição de quaisquer princípios. Também na Bíblia, essa acepção ampla é utilizada, segundo estudos citados pelo pesquisador Carlos Torres Pastorino:

“Concordam com isso Pirot (...) que diz serem adúlteros ‘os infiéis a seu deus’ (sic); e o jesuíta Padre Max Zerwick (Analysis Philogica Novi Testamenti Graeci, Roma, 1960, pág. 31): defectio a Deo; qui cum populo suo quasi matrimonio se junxit, adulterium in Vetere Testamento appellatur, isto é, o afastamento de Deus que se uniu a seu povo como em matrimônio, é chamado adultério, no Antigo Testamento”. [2]

Allan Kardec também analisou esse termo, no capítulo VIII de “O Evangelho Segundo o Espiritismo”, sobre o qual orientou:

“A palavra adultério não deve absolutamente ser entendida aqui no sentido exclusivo da acepção que lhe é própria, porém, num sentido mais geral. Muitas vezes Jesus a empregou por extensão, para designar o mal, o pecado, todo e qualquer pensamento mau, como, por exemplo, nesta passagem: ‘Porquanto se alguém se envergonhar de mim e das minhas palavras, dentre esta raça adúltera e pecadora, o Filho do homem também se envergonhará dele, quando vier acompanhado dos santos anjos, na glória de seu Pai.’ (S. Marcos, cap. VIII, v. 38.)
A verdadeira pureza não está somente nos atos; está também no pensamento, porquanto aquele que tem puro o coração, nem sequer pensa no mal. Foi o que Jesus quis dizer: ele condena o pecado, mesmo em pensamento, porque é sinal de impureza.” [3]

Encontramos, portanto, no Evangelho, a informação de que apenas um pensamento orientado ao mal já é um erro. Surge, assim, a questão: há consequências de uma ideia má, ainda que não concretizada? A Codificação Espírita orienta que, quanto mais evoluído o Espírito, tanto mais elevada é a vibração de seus pensamentos e, portanto, maus pensamentos são indício de progresso ainda por alcançar. Contudo, a própria constatação de termos elaborado um mau pensamento pode auxiliar na análise da evolução do Espírito, se ele o analisar e repelir. A respeito desse tema, o Codificador da Doutrina Espírita ponderou:

“Esse princípio suscita naturalmente a seguinte questão: Sofrem-se as consequências de um pensamento mau, embora nenhum efeito produza?
Cumpre se faça aqui uma importante distinção. À medida que avança na vida espiritual, a alma que enveredou pelo mau caminho se esclarece e despoja pouco a pouco de suas imperfeições, conforme a maior ou menor boa vontade que demonstre, em virtude do seu livre-arbítrio. Todo pensamento mau resulta, pois, da imperfeição da alma; mas, de acordo com o desejo que alimenta de depurar-se, mesmo esse mau pensamento se lhe torna uma ocasião de adiantar-se, porque ela o repele com energia. É indício de esforço por apagar uma mancha. Não cederá, se se apresentar oportunidade de satisfazer a um mau desejo. Depois que haja resistido, sentir-se-á mais forte e contente com a sua vitória.
Aquela que, ao contrário, não tomou boas resoluções, procura ocasião de praticar o mau ato e, se não o leva a efeito, não é por virtude da sua vontade, mas por falta de ensejo. É, pois, tão culpada quanto o seria se o cometesse.
Em resumo, naquele que nem sequer concebe a ideia do mal, já há progresso realizado; naquele a quem essa ideia acode, mas que a repele, há progresso em vias de realizar-se; naquele, finalmente, que pensa no mal e nesse pensamento se compraz, o mal ainda existe na plenitude da sua força. Num, o trabalho está feito; no outro, está por fazer-se. Deus, que é justo, leva em conta todas essas gradações na responsabilidade dos atos e dos pensamentos do homem.” [4]


Todo pensamento é força criadora; é irradiado no ambiente e, por isso, traz consequências boas ou más e atrai inteligências encarnadas e desencarnadas com ideias semelhantes, de acordo com seu teor orientado ao bem ou ao mal, independente do pensamento ter implicado ações concretas, e sem correlação com haver mediunidade ostensiva. Toda inspiração, positiva ou negativa, que recebermos, provém da sintonia que nós mesmos estabelecermos. Não há privilegiados, que recebam inspirações elevadas imotivadamente; sua boa sintonia, permeada por ações em prol do Bem do próximo, fê-los receptivos a energias positivas. O mesmo raciocínio se aplica a quem fez sintonias indevidas e recebe inspirações não identificadas com o Bem. André Luiz, na obra “Nosso Lar” [5], transmite as palavras da Ministra Veneranda, acerca do tema:

“Todos sabemos que o pensamento é força essencial, mas não admitimos nossa milenária viciação no desvio dessa força. Ora, é coisa sabida que um homem é obrigado a alimentar os próprios filhos; nas mesmas condições, cada espírito é compelido a manter e nutrir as criações que lhe são peculiares. Uma ideia criminosa produzirá gerações mentais da mesma natureza; um princípio elevado obedecerá à mesma lei. Recorramos a símbolo mais simples. Após elevar-se às alturas, a água volta purificada, veiculando vigorosos fluidos vitais, no orvalho protetor ou na chuva benéfica; conservemo-la com os detritos da terra e fá-la-emos habitação de micróbios destruidores. O pensamento é força viva, em toda parte; é atmosfera criadora que envolve o Pai e os filhos, a Causa e os Efeitos, no Lar Universal. Nele, transformam-se homens em anjos, a caminho do céu ou se fazem gênios diabólicos, a caminho do inferno.”

A Lei de Planck da Radiação indica que, quanto mais alta a frequência irradiada, maior a quantidade de energia. Verificamos, assim, que pensamentos orientados ao Bem, possuidores de frequência vibratória mais alta, também nos trazem maior energia. Pensamentos orientados ao mal, portadores de energia inferior, são tóxicos. Mesmo que nenhum encarnado saiba o que estamos pensando, o reforço de pensamentos de energias mais baixas nos intoxica, como se estivéssemos, de forma deliberada e regular, a tomar veneno, o qual nos fará mal, independente de alguém saber que o estamos ingerindo. Vejamos o que Kardec informa acerca da atmosfera espiritual:

“Se agora se considerar que os pensamentos atraem os pensamentos da mesma natureza, que os fluidos atraem os fluidos similares, compreende-se que cada indivíduo traga consigo um cortejo de Espíritos simpáticos, bons ou maus, e que, assim, o ar seja saturado de fluidos em relação com os pensamentos que predominam. Se os maus pensamentos forem em minoria, não impedirão que as boas influências se produzam, pois estas os paralisam. Se dominarem, enfraquecerão a irradiação fluídica dos Espíritos bons, ou, mesmo, por vezes impedirão que os bons fluidos penetrem nesse meio, como o nevoeiro enfraquece ou detém os raios do sol.
Qual é, pois, o meio de se subtrair à influência dos maus fluidos? Esse meio ressalta da própria causa que produz o mal. Que se faz quando se reconhece que um alimento é prejudicial à saúde? É rejeitado e substituído por outro mais saudável. Já que são os maus pensamentos que engendram os maus fluidos e os atraem, devem-se envidar esforços para só os ter bons, repelir tudo o que é mau, como se repele um alimento que nos pode tornar doentes; numa palavra, trabalhar por seu melhoramento moral e, para nos servirmos de uma comparação do Evangelho, ‘não só limpar o vaso por fora, mas, sobretudo, limpá-lo por dentro’.
(...)
Isto é uma utopia, um discurso vão? Não; é uma dedução lógica dos próprios fatos, que o Espiritismo revela diariamente. Com efeito, o Espiritismo nos prova que o elemento espiritual, que até o presente tem sido considerado como a antítese do elemento material, tem com esse último uma conexão íntima, donde resulta uma porção de fenômenos não observados ou incompreendidos. Quando a Ciência tiver assimilado os elementos fornecidos pelo Espiritismo, ela aí colherá novos e importantes elementos para o melhoramento material da Humanidade.” [6]

Creiamos ou não, no mero ato de pensarmos no mal para alguém ou algo, desarmonizamos poderosas energias, as quais poderiam ser destinadas ao auxílio ao próximo e, por decorrência, a nós mesmos. Ponderemos o pensamento do Codificador a esse respeito:

“Se se pudesse suspeitar do imenso mecanismo que o pensamento aciona e dos efeitos que ele produz de um indivíduo a outro, de um grupo de seres a outro grupo e, afinal, da ação universal dos pensamentos das criaturas umas sobre as outras, o homem ficaria assombrado! Sentir-se-ia aniquilado diante dessa infinidade de pormenores, diante dessas inúmeras redes ligadas entre si por uma potente vontade e atuando harmonicamente para alcançar um único objetivo: o progresso universal.
Pela telegrafia do pensamento, ele apreciará em todo o seu valor a lei da solidariedade, ponderando que não há um pensamento, seja criminoso, seja virtuoso, ou de outro gênero, que não tenha ação real sobre o conjunto dos pensamentos humanos e sobre cada um deles. Se o egoísmo o levava a desconhecer as consequências, para outrem, de um pensamento perverso, pessoalmente seu, por esse mesmo egoísmo ele se verá induzido a ter bons pensamentos, para elevar o nível moral da generalidade das criaturas, atentando nas consequências que sobre si mesmo produziria um mau pensamento de outrem.” [7]

A prece é um poderoso auxiliar na busca de melhor orientarmos nossos pensamentos. Orar também é formular um pensamento, e a prece de teor nobre, ou prece vertical, busca uma sintonia de frequência e energia superiores, afastando a sintonia com vibrações de teor energético inferior. No capítulo XXVIII de “O Evangelho Segundo o Espiritismo”, Kardec traz diversos exemplos de prece, dentre as quais algumas destinadas a pedir inspiração para afastar maus pensamentos. Essas preces não se destinam a ser repetidas palavra por palavra. Trata-se de sugestões do teor dos agradecimentos e rogativas que se podem apresentar aos Espíritos Superiores, os quais sempre estão dispostos a nos ajudar, porém só podem fazê-lo se nos fizermos receptivos a tal auxílio. Vejamos dois exemplos de preces sugeridas:

“Espíritos esclarecidos e benevolentes, mensageiros de Deus, que tendes por missão assistir os homens e conduzi-los pelo bom caminho, sustentai-me nas provas desta vida; dai-me a força de suportá-las sem queixumes; livrai-me dos maus pensamentos e fazei que eu não dê entrada a nenhum mau Espírito que queira induzir-me ao mal. Esclarecei a minha consciência com relação aos meus defeitos e tirai-me de sobre os olhos o véu do orgulho, capaz de impedir que eu os perceba e os confesse a mim mesmo.” [8]

“Deus Todo-Poderoso, não me deixes sucumbir à tentação que me impele a falir. Espíritos benfazejos, que me protegeis, afastai de mim este mau pensamento e dai-me a força de resistir à sugestão do mal. Se eu sucumbir, merecerei expiar a minha falta nesta vida e na outra, porque tenho a liberdade de escolher.” [9]

Leia também, neste blog, as postagens “Focos de desequilíbrio espiritual”, “Pecado — Hamartia — Peccatu”, “O Bem e o Mal”, “Influência do Meio”, “Fluido Universal” e “A Prece 1 e 2”.


Bons estudos!
Carla e Hendrio


Referências:

[1] KARDEC, Allan. “Revista Espírita de janeiro de 1860”. Tradução de Evandro Noleto Bezerra. Rio de Janeiro, RJ. FEB 2004. “Conselhos de Família (Segunda sessão)”.
[2] PASTORINO, Carlos Torres. “Sabedoria do Evangelho”. Rio de Janeiro, RJ: Sabedoria, 1964. Volume 5, capítulo “O sinal celeste”.
[3] KARDEC, Allan. “O Evangelho Segundo o Espiritismo”. 97ª ed. Rio de Janeiro, RJ: FEB, 1987. Capítulo VIII, item 6.
[4] Ibidem, item 7.
[5] XAVIER, Francisco Cândido. “Nosso Lar”. Pelo Espírito André Luiz. 23ª ed. Rio de Janeiro: RJ, FEB, 1981. Capítulo 37.
[6] KARDEC, Allan. “Revista Espírita de maio de 1867”. Tradução de Evandro Noleto Bezerra. Rio de Janeiro, RJ. FEB 2004. “Atmosfera Espiritual”.
[7] KARDEC, Allan. “Obras Póstumas”. 34ª ed. Rio de Janeiro: RJ, FEB: 1991. Primeira Parte. “Fotografia e telegrafia do pensamento”.
[8] KARDEC, Allan. “O Evangelho Segundo o Espiritismo”. 97ª ed. Rio de Janeiro, RJ: FEB, 1987. Capítulo XXVIII, item 12.
[9] Ibidem, item 21.



sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Falsas Ideias

Pelo Espírito César Gonçalves

— Não me dedico ao bem porque sofro muito.
Claro equívoco.
A provação é inerente ao Planeta e inevitável na vida humana. Urge, no entanto, agir na construção do bem, para que as provas necessárias não nos encontrem desprevenidos, exibindo braços cruzados.
O infortúnio é comparável à tempestade e o crédito de quem vive em serviço assemelha-se à edificação que oferece abrigo contra a intempérie.

*

— Não faço preleções em torno do bem, porque carrego muitas faltas.
Eis o engano.
Aguardar a perfeição para indicar o bem impedir-nos-ia de apregoá-lo, de vez que, por enquanto, ninguém existe perfeito sobre a Terra.
Se as tuas palavras de amor, no conjunto, ainda não te refletem todas as qualidades e sentimentos, pondera que, ensinando, aprendemos, e que, apontando o roteiro correto aos outros, somos especialmente obrigados à retidão.

*

— Não estudo porque tenho dificuldade.
Puro logro.
Obstáculos representam a condição natural de todas as aquisições começantes que, evidentemente, reclamam tempo e abnegação para se afirmarem na vida.
Se a semente dissesse que não tinha vocação para ser planta viva, desistindo de lançar no solo o seu próprio embrião, vencendo largos impedimentos, ninguém encontraria os benefícios da árvore.

*

— Não procuro talentos espirituais, porque já passei por numerosas desilusões.
Erro palmar.
Os outros não podem responder pelo esforço que nos compete no aprimoramento próprio, e, diante de todos aqueles que nos tenham arrojado a desencanto, a nossa atitude somente comporta fraternal compaixão, porquanto, quem busca embaciar a verdade, ensombra a si mesmo.
O ensinamento do Plano Superior exprime apelo a cada um, e, quanto mais generoso o professor, mais vigilante funcionará contra o regime da cola, garantindo o progresso do aluno.

*

— Não oro porque não possuo merecimento.
Mera ilusão.
Decerto que nos mundos sublimes a atividade normal das Inteligências angélicas constitui por si só uma prece constante, mas a oração é recurso mais imediato para as criaturas ainda distantes das esferas propriamente celestiais.
A prece não altera o terreno acidentado ou marginado de abismos em que uma pessoa se encontre; no entanto, é uma luz e a luz aponta o caminho certo.

*

Não te desculpes para fugir do trabalho a fazer: quanto maior o nosso problema, sempre maior a necessidade de solução.

César Gonçalves


VIEIRA, Waldo. "Seareiros de Volta". Por Espíritos Diversos. 4.ed. Rio de Janeiro, RJ: FEB. 1987. p. 79-81.

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Amar o Próximo

“Amai-vos sempre uns aos outros, como irmãos; prestai-vos mútuo auxílio, e que o amor do próximo não vos seja uma palavra vazia de sentido.” [1]

Devemos compreender a necessidade de amar o próximo como a nós mesmos como fazer aos outros aquilo que queríamos que os outros nos fizessem, conforme nos orienta Jesus. O amor em ação pelo Bem do próximo, em suas diversas facetas como o respeito, a tolerância, a cordialidade etc., consiste na caridade. Diversas passagens da Codificação Espírita detalham este mandamento, como, por exemplo, o capítulo XI da obra “O Evangelho Segundo o Espiritismo”, intitulado “Amar o Próximo como a Si Mesmo”.

No item 4 do capítulo supracitado, encontramos as seguintes orientações de Allan Kardec a respeito do tema:

“‘Amar o próximo como a si mesmo: fazer pelos outros o que quereríamos que os outros fizessem por nós’, é a expressão mais completa da caridade, porque resume todos os deveres do homem para com o próximo. Não podemos encontrar guia mais seguro, a tal respeito, que tomar para padrão, do que devemos fazer aos outros, aquilo que para nós desejamos. Com que direito exigiríamos dos nossos semelhantes melhor proceder, mais indulgência, mais benevolência e devotamento para conosco, do que os temos para com eles? A prática dessas máximas tende à destruição do egoísmo. Quando as adotarem para regra de conduta e para base de suas instituições, os homens compreenderão a verdadeira fraternidade e farão que entre eles reinem a paz e a justiça. Não mais haverá ódios, nem dissensões, mas, tão-somente, união, concórdia e benevolência mútua.” [2]

A ideia de amar o próximo é, como se vê, essencialmente prática, e traz diretamente o Bem a nós próprios. O Espírito Sanson, o qual integrava a Sociedade Espírita de Paris quando encarnado, enviou, do Plano Espiritual, a seguinte orientação, reforçando o sentido prático de amar o próximo:

“Amar, no sentido profundo do termo, é o homem ser leal, probo, consciencioso, para fazer aos outros o que queira que estes lhe façam; é procurar em torno de si o sentido íntimo de todas as dores que acabrunham seus irmãos, para suavizá-las; é considerar como sua a grande família humana, porque essa família todos a encontrareis, dentro de certo período, em mundos mais adiantados; e os Espíritos que a compõem são, como vós, filhos de Deus, destinados a se elevarem ao infinito. Assim, não podeis recusar aos vossos irmãos o que Deus liberalmente vos outorgou, porquanto, de vosso lado, muito vos alegraria que vossos irmãos vos dessem aquilo de que necessitais. Para todos os sofrimentos, tende, pois, sempre uma palavra de esperança e de conforto, a fim de que sejais inteiramente amor e justiça.” [3]

O Codificador da Doutrina Espírita reforça a orientação acima, ilustrando que amar o próximo é tratar a todos de forma igualitária, tal como desejamos não ser discriminados, ressaltando que essa forma equilibrada de tratamento acabará com graves problemas sociais, como o da fome.

“Ora, amar o próximo como a si mesmo é não fazer nenhuma diferença entre si mesmo e o próximo; é a consagração do princípio: Todos os homens são irmãos, porque são filhos de Deus.” [4]

“A Terra produzirá o suficiente para alimentar a todos os seus habitantes, quando os homens souberem administrar, segundo as leis de justiça, de caridade e de amor ao próximo, os bens que ela dá.” [5]

Paulo de Tarso, em sua primeira carta aos Coríntios, capítulo 13, informa que a caridade é maior até mesmo do que a fé. Kardec, em “O Evangelho Segundo o Espiritismo”, capítulo XV item 07, comenta essa passagem, argumentando que a caridade está ao alcance de todos, independente de renda, cultura e mesmo credo religioso. O Espiritismo, coerente com seus princípios de liberdade de consciência, sempre ressalta que fora da caridade não há salvação. Como ressaltado por Kardec, o Espiritismo “não diz: Fora do Espiritismo não há salvação, mas, com o Cristo: Fora da caridade não há salvação, princípio de união, de tolerância, que congraçará os homens num sentimento comum de fraternidade, em vez de os dividir em seitas inimigas.” [6]


Encontramos orientações sobre amar o próximo desde o Velho Testamento:

“Amarás, pois, a Jeová teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todas as tuas forças.” (Deuteronômio 06:05)

“Não te vingarás nem guardarás ira contra os filhos do teu povo, mas amarás o teu próximo como a ti mesmo: eu sou Jeová.” (Levítico 19:18)

“Vendo o jumento de teu irmão, ou o seu boi, caídos no caminho, não passarás por eles indiferente; sem falta o ajudarás a levantá-los.” (Deuteronômio 22:04)

“Se encontrares o boi do teu inimigo, ou o seu jumento desgarrado, sem falta lho reconduzirás. Se vires caído debaixo da sua carga o jumento daquele que te aborrece, não o deixarás, certamente com o dono o aliviarás.” (Êxodo 23:04-05)

Jesus, demonstrando não ter vindo destruir a Lei, mas dar-lhe cumprimento (Mateus 05:17), indica serem as essenciais as duas primeiras passagens acima citadas — amar a Deus e o próximo:

“Mestre, qual é o grande mandamento da Lei?
Respondeu-lhe Jesus: Amarás ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma e de todo o teu entendimento.
Este é o grande e primeiro mandamento.
O segundo semelhante a este é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo.
Destes dois mandamentos dependem toda a Lei e os profetas.” (Mateus 22:36-40)

Allan Kardec obteve orientações acerca dessa passagem pelos Espíritos da falange do Consolador prometido:

A lei de Deus se acha contida toda no preceito do amor ao próximo, ensinado por Jesus?
‘Certamente. Esse preceito encerra todos os deveres dos homens uns para com os outros. Cumpre, porém, se lhes mostre a aplicação que comporta, do contrário deixarão de cumpri-lo, como o fazem presentemente. Demais, a lei natural abrange todas as circunstâncias da vida e esse preceito compreende só uma parte da lei. Aos homens são necessárias regras precisas; os preceitos gerais e muito vagos deixam grande número de portas abertas à interpretação.’” [7]

Qual o verdadeiro sentido da palavra caridade, como a entendia Jesus?
‘Benevolência para com todos, indulgência para as imperfeições dos outros, perdão das ofensas.’
O amor e a caridade são o complemento da lei de justiça, pois amar o próximo é fazer-lhe todo o bem que nos seja possível e que desejáramos nos fosse feito. Tal o sentido destas palavras de Jesus: Amai-vos uns aos outros como irmãos.
A caridade, segundo Jesus, não se restringe à esmola, abrange todas as relações em que nos achamos com os nossos semelhantes, sejam eles nossos inferiores, nossos iguais, ou nossos superiores. Ela nos prescreve a indulgência, porque de indulgência precisamos nós mesmos, e nos proíbe que humilhemos os desafortunados, contrariamente ao que se costuma fazer. (...) O homem verdadeiramente bom procura elevar, aos seus próprios olhos, aquele que lhe é inferior, diminuindo a distância que os separa.” [8]

Na parábola do bom samaritano (Lucas 10:25-37), encontramos preciosas lições sobre o amor ao próximo. Um doutor da lei pergunta a Jesus: “quem é o meu próximo?” (Lucas 10:29), ao que o Mestre assim responde:

“Prosseguindo Jesus, disse: Um homem descia de Jerusalém a Jericó, e caiu nas mãos de salteadores que, depois de o despirem e espancarem, se retiraram, deixando-o meio morto. Por uma coincidência descia por aquele caminho um sacerdote; quando o viu, passou de largo. Do mesmo modo também um levita, chegando ao lugar e vendo-o, passou de largo. Um samaritano, porém, que ia de viagem, aproximou-se do homem e, vendo-o, teve compaixão dele. Chegando-se, atou-lhe as feridas, deitando nelas azeite e vinho e, pondo-o sobre o seu animal, levou-o para uma hospedaria e tratou-o. No dia seguinte tirou dois denários, deu-os ao hospedeiro e disse: Trata-o e quanto gastares de mais, na volta eu to pagarei. Qual destes três te parece ter sido o próximo daquele que caiu nas mãos dos salteadores? Respondeu o doutor da lei: Aquele que usou de misericórdia para com ele. Disse-lhe Jesus: Vai-te, e faze tu o mesmo.” (Lucas 10:30-37)

Na passagem acima, Jesus aponta que dois religiosos judeus evitaram auxiliar à pessoa em necessidade, porém um samaritano se dispôs a fazê-lo. Em “O Evangelho Segundo o Espiritismo”, em sua Introdução, item III — “Notícias Históricas”, Kardec traz um breve histórico da animosidade existente entre judeus e samaritanos. Visando a ilustrar a necessidade de se fazer o bem, independente de credo religioso, Jesus utilizou a figura de um oponente ideológico dos judeus nessa parábola. Nosso próximo é, portanto, todo aquele em que esteja a nosso alcance auxiliar, e devemos fazê-lo sempre de forma incondicional. Nossa consciência não cobrará prodígios que beirem ao impossível, mas apenas fazer todo o Bem que podíamos. Assim comenta Kardec a respeito da referida passagem evangélica:

“(...) Jesus coloca o samaritano, considerado herético, mas que pratica o amor do próximo, acima do ortodoxo que falta com a caridade. Não considera, portanto, a caridade apenas como uma das condições para a salvação, mas como a condição única.” [9]

Notemos, também, que Jesus analisa o comportamento dos sacerdotes judeus e também o do samaritano, porém não tece quaisquer comentários sobre a pessoa ferida e que precisava de ajuda. Ela necessitava de auxílio, independente do porquê de assim se encontrar. Verifica-se, aqui também, a lição do auxílio incondicional.

Necessitamos estar conectados ao mundo à nossa volta, vigilantes, a fim de percebermos as tantas oportunidades de auxiliar os outros, as quais surgem todos os dias. A utilização do samaritano na parábola também tem relação com o próprio significado da palavra, segundo apontamentos de Carlos Torres Pastorino: “Samaria, em hebraico (shomron) significa ‘vigilância’” [10]; e foi justamente uma alma vigilante, atenta às oportunidades de fazer o Bem, que cuidou de quem precisava de auxílio. Pastorino comenta, ainda:

“Só mesmo alguém que já tenha sido despertado para a vida maior do Espírito (samaritano – vigilante) é capaz de trazer-lhe efetivo e eficiente socorro, derramando em suas chagas o óleo (bálsamo do conforto e consolação) e o vinho (interpretação e explicações espirituais), e levá-lo, depois, aonde possa ele libertar-se, pela meditação ao lado de um mestre (hospedeiro), dos danosos efeitos e das consequências dos vícios, e poder assim recomeçar, fortalecido, sua evolução, após haver aprendido, em dolorosas experiências, a evitar os perigosos caminhos do mundo, infestados de gozos e paixões traiçoeiras (ladrões e salteadores) procurando manter-se equilibrado no plano espiritual. Atravessará, assim, indene as vicissitudes terrenas e chegará a salvo ao fim da jornada.” [11]

Concluímos nosso breve estudo acerca de tão importante tema, apresentando trecho de discurso de Allan Kardec, incitando-nos à caridade benevolente.

“O campo da caridade é muito vasto; compreende duas grandes divisões que, em falta de termos especiais, podem designar-se pelas expressões caridade beneficente e caridade benevolente. Compreende-se facilmente a primeira, que é naturalmente proporcional aos recursos materiais de que se dispõe; mas a segunda está ao alcance de todos, do mais pobre como do mais rico. Se a beneficência é forçosamente limitada, nada além da vontade poderia estabelecer limites à benevolência. O que é preciso, então, para praticar a caridade benevolente? Amar o próximo como a si mesmo. Ora, se se amar o próximo tanto quanto a si, amar-se-o-á muito; agir-se-á para com outrem como se quereria que os outros agissem para conosco; não se quererá nem se fará mal a ninguém, porque não quereríamos que no-lo fizessem.
Amar o próximo é, pois, abjurar todo sentimento de ódio, de animosidade, de rancor, de inveja, de ciúme, de vingança, numa palavra, todo desejo e todo pensamento de prejudicar; é perdoar aos inimigos e retribuir o mal com o bem; é ser indulgente para as imperfeições de seus semelhantes e não procurar o argueiro no olho do vizinho, quando não se vê a trave no seu; é esconder ou desculpar as faltas alheias, em vez de se comprazer em as pôr em relevo, por espírito de maledicência; é ainda não se fazer valer à custa dos outros; não procurar esmagar ninguém sob o peso de sua superioridade; não desprezar ninguém pelo orgulho.” [12]


Leia também, neste blog, as postagens “Família Espiritual”, “Vigiai e Orai”, “Tranquilidade no Retorno à Pátria Espiritual”, “Amar os inimigos”, “Os opositores da Doutrina Espírita”, “O Bem e o Mal” e “Egos virtuosos e Eus sapientes”.


Bons estudos!
Carla e Hendrio


Referências:
[1] KARDEC, Allan. “Revista Espírita de maio de 1860”. Tradução de Evandro Noleto Bezerra. Rio de Janeiro, RJ: FEB, 2004. “Ditados Espontâneos: ‘Remorso e Arrependimento’”.
[2] KARDEC, Allan. “O Evangelho Segundo o Espiritismo”. 97ª ed. Rio de Janeiro, RJ: FEB, 1987. Capítulo XI, item 4.
[3] Ibidem, item 10.
[4] KARDEC, Allan. “Revista Espírita de março de 1864”. Tradução de Evandro Noleto Bezerra. Rio de Janeiro, RJ: FEB, 2004. “A Jovem Obsedada de Marmande (Continuação)”.
[5] KARDEC, Allan. “O Evangelho Segundo o Espiritismo”. 97ª ed. Rio de Janeiro, RJ: FEB, 1987. Capítulo XXV, item 8.
[6] KARDEC, Allan. “Revista Espírita de outubro de 1866”. Tradução de Evandro Noleto Bezerra. Rio de Janeiro, RJ: FEB, 2004. “Os Tempos são Chegados”.
[7] KARDEC, Allan. “O Livro dos Espíritos”. 66ª ed. Rio de Janeiro: RJ, FEB: 1987. Questão 647.
[8] Ibidem, questão 886.
[9] KARDEC, Allan. “O Evangelho Segundo o Espiritismo”. 97ª ed. Rio de Janeiro, RJ: FEB, 1987. Capítulo XV, item 3.
[10] PASTORINO, Carlos Torres. “Sabedoria do Evangelho”. Rio de Janeiro, RJ: Sabedoria, 1964. Volume 2, capítulo “A Samaritana”.
[11] Ibidem, volume 5, capítulo “O Samaritano”.
[12] KARDEC, Allan. “Revista Espírita de dezembro de 1868”. Tradução de Evandro Noleto Bezerra. Rio de Janeiro, RJ: FEB, 2004. “Sessão Anual Comemorativa do Dia dos Mortos (Sociedade de Paris, 1º de novembro de 1868); Discurso de Abertura pelo Sr. Allan Kardec: O Espiritismo é uma religião?”


sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Fluido Universal

“O vácuo absoluto existe em alguma parte no Espaço universal?
‘Não, não há o vácuo. O que te parece vazio está ocupado por matéria que te escapa aos sentidos e aos instrumentos.’” (“O Livro dos Espíritos”, questão 36)

O fluido universal, também referido por fluido cósmico, é a matéria elementar primitiva. Na obra “Evolução em Dois Mundos” [1], André Luiz assim discorre a seu respeito:
“O fluido cósmico é o plasma divino, hausto do Criador ou força nervosa do Todo-Sábio. (...) na essência, toda a matéria é energia tornada visível e que toda a energia, originariamente, é força divina de que nos apropriamos para interpor os nossos propósitos aos propósitos da Criação, cujas leis nos conservam e prestigiam o bem praticado, constrangendo-nos a transformar o mal de nossa autoria no bem que devemos realizar, porque o Bem de Todos é o seu Eterno Princípio. Compete-nos, pois, anotar que o fluido cósmico ou plasma divino é a força em que todos vivemos, nos ângulos variados da Natureza, motivo pelo qual já se afirmou, e com toda a razão, que ‘em Deus nos movemos e existimos’” (Paulo de Tarso, em Atos 17:28).
Tudo o que existe de matéria, ponderável e imponderável — ou seja, a matéria que forma nossos corpos densos e perispirituais —, é originário do Fluido Universal. Considerando matéria como energia tornada visível, também segundo o mesmo autor e obra acima citados, entende-se que toda energia também advém do Fluido Universal. O Princípio Inteligente, outra criação divina, se utiliza de todas essas formas de energia para se manifestar; não é o Princípio Material, mas faz uso deste.

Como antenas emissoras e receptoras de radiofrequência, emitimos e recebemos pensamentos constantemente. Nossos pensamentos, como energia que são, se propagam por meio do fluido universal, razão pela qual Espíritos podem “ouvir” nossos pensamentos e se afinizar com os mesmos, independente de qualquer conotação de mediunidade ostensiva.

Na obra “A Gênese”, encontramos diversas explanações acerca do fluido universal, como, por exemplo:
“Há um fluido etéreo que enche o espaço e penetra os corpos. Esse fluido é o éter ou matéria cósmica primitiva, geradora do mundo e dos seres. São-lhe inerentes as forças que presidiram às metamorfoses da matéria, as leis imutáveis e necessárias que regem o mundo.” [2]

“A matéria cósmica primitiva continha os elementos materiais, fluídicos e vitais de todos os universos que estadeiam suas magnificências diante da eternidade. Ela é a mãe fecunda de todas as coisas, a primeira avó e, sobretudo, a eterna geratriz. Absolutamente não desapareceu essa substância donde provêm as esferas siderais; não morreu essa potência, pois que ainda, incessantemente, dá à luz novas criações e incessantemente recebe, reconstituídos, os princípios dos mundos que se apagam do livro eterno. A substância etérea, mais ou menos rarefeita, que se difunde pelos espaços interplanetários; esse fluido cósmico que enche o mundo, mais ou menos rarefeito, nas regiões imensas, opulentas de aglomerações de estrelas; mais ou menos condensado onde o céu astral ainda não brilha; mais ou menos modificado por diversas combinações, de acordo com as localidades da extensão, nada mais é do que a substância primitiva onde residem as forças universais, donde a Natureza há tirado todas as coisas. [3]
Pesquisas científicas do final do século XX e primeira década do século XXI indicam que o Universo não é dotado de vácuo, ou seja, não é vazio, em lugar algum. Também se constatou que uma radiação de fundo, existente desde a formação do Universo, está presente em cada canto deste. Foi descoberta uma forma de energia ainda não detectável fisicamente, porém com sua influência verificável de forma teórica e prática. Esta se denomina energia escura. Em nossa interpretação, a partir das constatações de diversos artigos científicos, a energia escura pode ser um componente do fluido universal ainda em seu estado primitivo, ou seja, não transformado em outras formas de energia e matéria.

Vejamos alguns trechos de publicações científicas baseadas em medições de sondas espaciais como WMAP (Wilkinson Microwave Anisotropy Probe) e COBE (Cosmic Background Explorer). Verifica-se, em artigos como os abaixo, que cientistas constatam uma ordem perfeita na distribuição de massa e energia em cada etapa da existência do Universo, incompatível com uma formação “ao acaso”. De fato, uma Inteligência Superior preside a tudo.
“(...) o universo realmente é repleto de uma radiação em microondas (se os nossos olhos fossem sensíveis a essa radiação, veríamos um brilho difuso no espaço à nossa volta) cuja temperatura é de aproximadamente 2,7 graus acima do zero absoluto, o que coincide exatamente com a expectativa da teoria do big-bang. Em termos concretos, em cada metro cúbico do universo — inclusive esse em que você está — existem em média 400 milhões de fótons que compõem coletivamente o vasto mar cósmico da radiação em microondas, o eco da criação.” [4]

“Energia escura: essa é uma forma verdadeiramente estranha de matéria, ou talvez uma propriedade do próprio vácuo, que é caracterizada por uma grande pressão negativa. Esta é a única forma de matéria que pode fazer a expansão do universo acelerar.” [5]

“WMAP mede a composição do universo. A composição varia conforme o universo expande: a matéria escura e átomos tornam-se menos densos à medida que o universo expande (...). Parece que a densidade de energia escura não diminui de forma alguma, então ela agora domina o universo ainda que tivesse uma minúscula contribuição há 13,7 bilhões de anos.” [6]

“(...) WMAP confirmou a existência de uma energia escura que age como uma antigravidade, levando o universo a acelerar sua expansão. Se a energia escura tivesse dominado mais cedo, o universo teria expandido rápido demais para comportar o desenvolvimento de vida. Nosso universo aparenta ter o princípio de Goldilocks [da fábula “Cachinhos Dourados e os Três Ursos”]: nada demais e nada de menos — exatamente a massa e energia suficientes para comportar o desenvolvimento de vida.” [7]

“(...) a densidade de energia do vácuo permanece constante mas a energia total do vácuo cresce conforme o universo cresce (expande). Esta energia adicional provém da energia potencial gravitacional do universo. (...) se a densidade de energia escura mudou, não pode consistir de energia do vácuo. Para solucionar este problema, Robert R Caldwell, Paul J Steinhardt e Rahul Dave, em 1998, propuseram a quintessência: (...) uma forma de energia dinâmica, que evolui com o tempo e depende do espaço, com pressão negativa o suficiente para acelerar a expansão do universo. (...) O nome provém da ideia de um 5º elemento como um tipo especial de matéria que preenche o cosmos introduzida pelos gregos. Na cosmologia aristotélica, por exemplo, o universo seria finito, estático e formado por cinco elementos primordiais: água, ar, terra, fogo e quintessência.” [8]
Graduação colorida de temperaturas do Universo, na faixa de ±200 μK (-273,1498°C a -273,1502°C), ao longo de 13,7 bilhões de anos.
Fonte: NASA / WMAP Science Team

Allan Kardec apresentou, aos Espíritos da falange do Consolador, diversas questões acerca de tal fluido. Vejamos alguns exemplos.
Será o fluido universal uma emanação da divindade?
‘Não.’
Será uma criação da divindade?
‘Tudo é criado, exceto Deus.’
O fluido universal será ao mesmo tempo o elemento universal?
‘Sim, é o princípio elementar de todas as coisas.’
(...)
Já disseram que o fluido universal é a fonte da vida. Será ao mesmo tempo a fonte da inteligência?
‘Não, esse fluido apenas anima a matéria.’
Pois que é desse fluido que se compõe o perispírito, parece que, neste, ele se acha num como estado de condensação, que o aproxima, até certo ponto, da matéria propriamente dita?
‘Até certo ponto, como dizes, porquanto não tem todas as propriedades da matéria. É mais ou menos condensado, conforme os mundos.’
Como pode um Espírito produzir o movimento de um corpo sólido?
‘Combinando uma parte do fluido universal com o fluido, próprio àquele efeito, que o médium emite.’” [9]

Será o fluido universal o veículo do pensamento, como o ar o é do som?
‘Sim, com a diferença de que o som não pode fazer-se ouvir senão dentro de um espaço muito limitado, enquanto que o pensamento alcança o infinito. O Espírito, no Além, é como o viajante que, em meio de vasta planície, ouvindo pronunciar o seu nome, se dirige para o lado de onde o chamam.’” [10]

Como se comunicam entre si os Espíritos?
‘Eles se veem e se compreendem. A palavra é material: é o reflexo do Espírito. O fluido universal estabelece entre eles constante comunicação; é o veiculo da transmissão de seus pensamentos, como, para vós, o ar o é do som. É uma espécie de telégrafo universal, que liga todos os mundos e permite que os Espíritos se correspondam de um mundo a outro.’” [11]

De onde tira o Espírito o seu invólucro semimaterial?
‘Do fluido universal de cada globo, razão por que não é idêntico em todos os mundos. Passando de um mundo a outro, o Espírito muda de envoltório, como mudais de roupa.’
a) — Assim, quando os Espíritos que habitam mundos superiores vêm ao nosso meio, tomam um perispírito mais grosseiro?
‘É necessário que se revistam da vossa matéria, já o dissemos.’” [12]
Ponderando sobre as orientações acima, dentre outras, Kardec assim conclui a respeito do elemento que forma os corpos densos e semimateriais:
“O fluido cósmico universal é, como já foi demonstrado, a matéria elementar primitiva, cujas modificações e transformações constituem a inumerável variedade dos corpos da Natureza (Cap. X). Como princípio elementar do Universo, ele assume dois estados distintos: o de eterização ou imponderabilidade, que se pode considerar o primitivo estado normal, e o de materialização ou de ponderabilidade, que é, de certa maneira, consecutivo àquele. O ponto intermédio é o da transformação do fluido em matéria tangível. Mas, ainda aí, não há transição brusca, porquanto podem considerar-se os nossos fluidos imponderáveis como termo médio entre os dois estados.” [13]

“(...) O corpo perispiritual e o corpo humano têm, pois, sua fonte no mesmo fluido; um e outro são matéria, conquanto em dois estados diferentes. Assim, tivemos razão de dizer que o perispírito é da mesma natureza e da mesma origem que a mais grosseira matéria. Como se vê, nada há de sobrenatural, já que o perispírito se liga, por seu princípio, às coisas da Natureza, das quais não passa de uma variedade.
Sendo o fluido universal o princípio de todos os corpos da Natureza, animados e inanimados e, por conseguinte, da terra, das pedras, razão tinha Moisés quando disse: “Deus formou o corpo do homem do limo da terra.” [Gênesis 02:07] Isto não quer dizer que Deus tomou terra, petrificou-a e com ela modelou o corpo do homem, como se modela uma estátua com argila e como acreditaram os que tomam as palavras bíblicas ao pé da letra; mas, sim, que o corpo era formado dos mesmos princípios ou elementos que o limo da terra.
Moisés acrescenta: “E lhe deu uma alma vivente, feita à sua semelhança.” [Gênesis 05:01] Ele faz, assim, uma distinção entre a alma e o corpo; indica que ela é de natureza diferente, que não é matéria, mas espiritual e imaterial como Deus. Diz: uma alma vivente, para especificar que nela só está o princípio da vida, ao passo que o corpo, formado da matéria, por si mesmo não vive. Estas palavras: à sua semelhança, implicam uma similitude e não uma identidade. Se Moisés houvesse considerado a alma como uma porção da Divindade, teria dito: Deus o anima dando-lhe uma alma tirada de sua própria substância, como disse que o corpo tinha sido tirado da terra.
Estas reflexões são uma resposta às pessoas que acusam o Espiritismo de materializar a alma, porque lhe dá um envoltório semimaterial.” [14]
Outra função do fluido universal é a de veículo do pensamento. Compreendendo tal propriedade, a prece deixa de ser ritual místico e se torna mecanismo lógico de comunicação, como pontua o Codificador da Doutrina Espírita a seguir:
“O Espiritismo torna compreensível a ação da prece, explicando o modo de transmissão do pensamento, quer no caso em que o ser a quem oramos acuda ao nosso apelo, quer no em que apenas lhe chegue o nosso pensamento. Para apreendermos o que ocorre em tal circunstância, precisamos conceber mergulhados no fluido universal, que ocupa o espaço, todos os seres, encarnados e desencarnados, tal qual nos achamos, neste mundo, dentro da atmosfera. Esse fluido recebe da vontade uma impulsão; ele é o veículo do pensamento, como o ar o é do som, com a diferença de que as vibrações do ar são circunscritas, ao passo que as do fluido universal se estendem ao infinito. Dirigido, pois, o pensamento para um ser qualquer, na Terra ou no espaço, de encarnado para desencarnado, ou vice-versa, uma corrente fluídica se estabelece entre um e outro, transmitindo de um ao outro o pensamento, como o ar transmite o som.
A energia da corrente guarda proporção com a do pensamento e da vontade. É assim que os Espíritos ouvem a prece que lhes é dirigida, qualquer que seja o lugar onde se encontrem; é assim que os Espíritos se comunicam entre si, que nos transmitem suas inspirações, que relações se estabelecem a distância entre encarnados.
Essa explicação vai, sobretudo, com vistas aos que não compreendem a utilidade da prece puramente mística. Não tem por fim materializar a prece, mas tornar-lhe inteligíveis os efeitos, mostrando que pode exercer ação direta e efetiva. Nem por isso deixa essa ação de estar subordinada à vontade de Deus, juiz supremo em todas as coisas, único apto a torná-la eficaz.” [15]

O entendimento de que tudo, mundos e criaturas, provêm do mesmo Criador, nos traz a noção de todos sermos irmãos. A compreensão de que, na totalidade do universo, estamos imersos no mesmo fluido universal, interligando tudo e todos, faz perceber que somos irmãos muito próximos, estejamos em lados opostos da Terra ou em mundos sitos a milhões de anos-luz de distância do planeta que ora habitamos.

O que pensamos, dizemos e fazemos, ecoa por todos os mundos; influi nessa teia energética que a todos interconecta e, portanto, faz toda a diferença. Nossa escolha por vencer nossas más tendências, traduzidas por ações em prol do Bem do próximo, irradia vibrações de frequências mais elevadas — e, portanto, de maior energia — nesse fluido. Evolui a atmosfera psíquica ao nosso redor e, por extensão, do próprio Universo. Eis o nosso compromisso.


Leia também, neste blog, as postagens “Família Espiritual”, “O Universo Cíclico”, “Muitas Moradas”, “Maus Pensamentos”, “A Prece”, “A Prece (2)”, “Por que Deus criou a nós e o Universo?”, “154 anos do Consolador Prometido” e “Influência do Meio”.


Bons estudos!
Carla e Hendrio


Referências:
[1] XAVIER, Francisco Cândido. “Evolução em Dois Mundos”. Pelo Espírito André Luiz. 14ª ed. Rio de Janeiro, RJ: FEB, 1995. Primeira Parte. Capítulo 1.
[2] KARDEC, Allan. “A Gênese”. 34ª ed. Rio de Janeiro, RJ: FEB, 1991. Capítulo VI, item 10.
[3] Ibidem, item 17.
[4] GREENE, Brian. “O universo elegante: supercordas, dimensões ocultas e a busca da teoria definitiva”. São Paulo, SP: Companhia das Letras, 2001. Capítulo 14. “O Teste do Big-Bang”.
[5] National Aeronautics and Space Administration (NASA). “Cosmology: The Study of the Universe”. Publicado em 19 de outubro de 2009. Disponível em http://wmap.gsfc.nasa.gov/universe/WMAP_Universe.pdf. Acesso em 03/08/2010.
[6] NASA/WMAP Science Team. “Content of the Universe”. Publicado em 07 de março de 2008. Disponível em http://wmap.gsfc.nasa.gov/news/5yr_release.html. Acesso em 02/08/2010.
[7] National Aeronautics and Space Administration (NASA). “Understanding the Evolution of Life in the Universe”. Disponível em http://map.gsfc.nasa.gov/universe/uni_life.html. Acesso em 02/08/2010.
[8] BERGMANN, Thaisa Storchi. “Constante Cosmológica”. Departamento de Astronomia. Instituto de Física. Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Disponível em http://www.if.ufrgs.br/~thaisa/cosmologia/Constante_Cosmologica1.htm. Acesso em 02/08/2010.
[9] KARDEC, Allan. "O Livro dos Médiuns". 55ª ed. Rio de Janeiro, RJ: FEB, 1987. Segunda Parte, Capítulo IV, item 74, questões I, II, III, VI, VII e VIII.
[10] Ibidem, Capítulo XXV, item 282, questão 5ª-a.
[11] KARDEC, Allan. “O Livro dos Espíritos”. 66ª ed. Rio de Janeiro, RJ: FEB, 1987. Questão 282.
[12] Ibidem, Questão 94.
[13] KARDEC, Allan. “A Gênese”. 34ª ed. Rio de Janeiro, RJ: FEB, 1991. Capítulo XIV, item 2
[14] KARDEC, Allan. “Revista Espírita de março de 1866”. Tradução de Evandro Noleto Bezerra. Rio de Janeiro, RJ: FEB, 2004. “Introdução ao Estudo dos Fluidos Espirituais”, Item VII.
[15] KARDEC, Allan. “O Evangelho Segundo o Espiritismo”. 97ª ed. Rio de Janeiro, RJ: FEB, 1987. Capítulo XXVII, item 10.