quinta-feira, 29 de julho de 2010

Examinai Tudo. Retende o Bem.

Não extingais o Espírito,
não desprezeis as profecias;
mas examinai tudo, retende o bem;
abstende-vos de toda a forma do mal.
(Primeira Carta de Paulo aos Tessalonicenses, 05:19-22)


Há várias décadas, vem aumentando o número de livros referidos como mediúnicos e espíritas. Importante destacar que uma obra se afirmar mediúnica ou de autor encarnado, não implica ser espírita, ou seja, ela não necessariamente está de acordo com os ensinos apresentados pelos Espíritos Superiores e agrupados em corpo de doutrina por Allan Kardec. É preciso fundamentação nas obras básicas, bem como nas subsidiárias amplamente analisadas e tidas à conta de bons complementos à doutrina, a fim de retermos os conhecimentos dos livros que, de fato, agreguem valor.

A questão sobre o que publicar de mensagens foi analisada por Allan Kardec, o Codificador da Doutrina Espírita. Podem-se citar os artigos “Deve-se Publicar Tudo Quanto Dizem os Espíritos?”, na Revista Espírita de novembro de 1859 [1]; e “Exame das Comunicações Mediúnicas que nos são Enviadas”, constante da Revista Espírita de maio de 1863 [2]. Nessa última, Kardec apresentou uma estatística das mensagens que havia recebido até então. Em suma, de 3600 mensagens, 3000 eram de moral elevada; todavia, menos de 100 destas apresentavam mérito fora do comum para serem publicadas.


O termo “básicas”, empregado ao se referir as cinco obras da codificação (“O Livro dos Espíritos”; “O Livro dos Médiuns”; “O Evangelho Segundo o Espiritismo”; “O Céu e o Inferno” e “A Gênese”), indica serem esses os livros que trazem os fundamentos da Doutrina Espírita, e não que sejam básicas em oposição a avançadas. Há muito a estudar nessas obras, as quais abrangem, em grande profundidade, temas científicos, filosóficos e religiosos. Para avançar no estudo doutrinário, requer-se estudo detalhado e continuado dessas obras, o que não implica necessariamente ir atrás de todos os lançamentos mais badalados das editoras. A cada nova leitura das obras básicas, encontramos novos e mais aprofundados entendimentos acerca do que somos, por que e para que estamos neste planeta e o que podemos esperar de nossas vidas futuras.

Fonte: Projeto O Bom Leitor, do CEERJ

Uma universidade não permite que se publique, em seu nome, todo e qualquer trabalho de um estudante. É requerida análise prévia da consistência e mérito do artigo por um ou mais professores ou estudantes amplamente familiarizados com o assunto. Igualmente, uma empresa constitui grupos especializados para divulgar adequadamente orientações ou respostas; não é todo funcionário da companhia que detém o mais amplo conjunto de requisitos para transmitir a visão de um grande grupo. De forma similar, uma casa espírita tem o direito e o dever de analisar previamente todo material antes de divulgá-lo, bem como o de não propagar o que se entende como em desacordo com os fundamentos da Doutrina Espírita. Naturalmente, isso não significa que haja obras de leitura “proibida”. O próprio Kardec não proibiu a leitura de nenhuma obra; ao contrário, chegou a incentivar até o estudo comparativo de obras contrárias à Doutrina Espírita, como se vê na publicação “Catálogo Racional: Obras para se fundar uma Biblioteca Espírita” [3], lançada no Brasil em 2004.

Estudo [4] a respeito dessa obra, apresentado por bolsistas de doutorado em Educação do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico), traz as seguintes observações:

“O Catálogo Racional: Obras para se fundar uma Biblioteca Espírita surgiu em Paris em abril de 1869. Foi distribuído entre os adeptos do Espiritismo e assinantes como suplemento da Revue Spirite. Esgotada essa primeira edição, teve uma segunda ampliada em agosto de 1869.
(...)
O suplemento divide-se em três partes: Obras Fundamentais da Doutrina Espírita, por Allan Kardec; Obras Diversas sobre Espiritismo ou complementares da Doutrina e Obras Feitas Fora do Espiritismo. Também contém uma parte final intitulada Obras contra o Espiritismo.
(...)
Por fim, em Obras contra o Espiritismo encontramos de início uma nota de Kardec onde ele irá escrever:

Proibir um livro é provar que se o teme. O Espiritismo, longe de temer a divulgação dos escritos publicados contra si e proibir-lhes a leitura a seus adeptos, chama a atenção destes e do público para tais obras, a fim de que possam julgar por comparação. As referências à Revista Espírita indicam as obras que foram refutadas.

(...) Não comparece, no catálogo, o que não ler, mas indica muitas leituras. Leitura extensiva, o apoio a uma prática de leitura própria da época em que é escrito o suplemento, de acordo com o conceito de Chartier, ler muitos livros, ler todos os livros. Ao que parece, a ausência de interdição referente às leituras contrárias ao Espiritismo remete ao ponto de vista adotado pelo seu fundador e, proposto para as práticas de leitura espírita, nomeado como livre pensar sem, entretanto, deixar de criar protocolos de leitura, ou seja, regras para ler e compreender as obras que versavam sobre Espiritismo.” [4]

A jornalista doutora em educação Dora Incontri, no filme “Allan Kardec, o Educador”, de Edson Audi, apresenta o seguinte depoimento a esse respeito:
“O Espiritismo entendido como proposta pedagógica, eu acho que é a grande mensagem de Kardec. Aí, nós nos livramos das hierarquias, dos cultos, dos rituais, da fé dogmática, porque ele não queria uma fé dogmática, mas uma fé racional, uma fé pensada e uma fé autônoma, sobretudo. Ele confiava extremamente no ser humano. Isso é uma coisa muito bonita de Kardec.

Recentemente, foi lançado um livro que foi a última obra de Kardec. Poucas pessoas conhecem isso. É o ‘Catálogo Racional das Obras Espíritas’. Foi onde Kardec pretendia fazer uma indicação bibliográfica para a formação básica de uma biblioteca espírita. E o que ele coloca nesse catálogo, nesse índice racional? É muito interessante, porque hoje pouca gente faria uma coisa dessas. Ele coloca indicações bibliográficas de obras espíritas, sim, mas também de obras não espíritas, sobre outras religiões, sobre o islamismo, sobre o hinduísmo etc., e o que é mais interessante: ele coloca obras contra o Espiritismo. Porque ele considerava sagrado o direito de liberdade de consciência e achava que, para a gente inclusive ter uma convicção, precisa conhecer todas as opiniões.

Nunca ele teve uma postura de catequese, de imposição, mas de debate livre de ideias. (...) E o Espiritismo, antes de ser um sistema rígido, fechado de ideias — que, aliás, Kardec sempre advertia que ele não gostava de um pensamento muito sistemático, muito fechado — como dizia Herculano Pires, é um debate filosófico livre de ideias, propostas aí para continuarem a ser debatidas, não para serem tomadas como um corpo dogmático fechado, mas como um corpo de ideias para serem debatidas, vividas, experimentadas, praticadas e, sobretudo, sentidas, e não para serem fechadas num corpo de dogmatismo fanático. É isso que Kardec sempre se preocupou em evitar, tanto que, como última obra dele, e como último item da última obra que ele escreveu, que é esse catálogo racional para a formação de uma biblioteca espírita, ele, no final, colocou obras dos opositores do Espiritismo para que nós lêssemos e julgássemos por nós mesmos. Isso significa o quê? Que Kardec tinha uma profunda confiança no bom senso das pessoas, na capacidade crítica das criaturas. Ele não queria direcionar o que a pessoa deveria ou não deveria ler, deveria ou não deveria pensar. Ele acreditava que as pessoas tinham o direito e o dever de ler, debater todos os tipos de ideia e chegar às suas próprias conclusões. E essa sempre foi a postura dele ao expor o Espiritismo.

Eu acho que esse é um grande exemplo de tolerância, de pluralismo cultural. Hoje em dia se fala tanto em diversidade, pluralismo cultural, e o Kardec já era um exemplo disso em pleno século 19 — aliás, o século dos grandes dogmatismos: dogmatismo do Positivismo; dogmatismo do Marxismo científico; dogmatismo do materialismo científico. E Kardec defendeu uma ideia espiritualista de forma não dogmática.”

É inevitável termos acesso, nem que seja apenas ouvindo comentários, a dados de obras que nem sempre refletem a exatidão dos postulados que a Doutrina Espírita atualmente entende como os corretos. Se apenas repetirmos o que se ouviu dizer, sem análise crítica disso, podemos propagar informações incorretas ou mesmo absurdas, alegadamente como ensinos espíritas. Ter um conhecimento mais avançado nas obras básicas, bem como subsidiárias indicadas como consistentes por estudiosos mais adiantados, nos permite analisar as mais diversas obras sem cairmos em “armadilhas” ou “pedras de tropeço”. Em tempo: essas duas expressões, em grego, significam skándalon, raiz da palavra escândalo, referida por Jesus em Mateus 18:07 e Lucas 17:01, sabedor é Ele que, por nossa condição evolutiva, inevitavelmente tropeçaríamos, algumas vezes, o que serviria para nosso aprendizado.

O Projeto O Bom Leitor [5], de iniciativa do CEERJ (Conselho Espírita do Estado do Rio de Janeiro), apresenta, no documento “Critérios para Divulgação do Livro Espírita” uma série de recomendações quanto à análise e publicação de livros espíritas. No que tange à divulgação de obras espíritas, indica:
  • Priorizar a divulgação das obras de Allan Kardec;
  • Divulgar as obras espíritas, clássicas, de autores contemporâneos de Kardec (Dellane, Denis, Bozzano, Aksakof e outros), bem como as atuais;
  • “Examinar com muita atenção, sob o ponto de vista do embasamento doutrinário, o conteúdo das mensagens recebidas, antes de divulgá-las, mesmo aquelas, que venham assinadas por vultos célebres ou que tragam nomes de médiuns conhecidos”;
  • “Selecionar, para fins de divulgação da Doutrina nos meios não espíritas, mensagens que, além do consolo e da orientação que veiculem, esclareçam sobre os princípios básicos do Espiritismo”;
  • Submeter os lançamentos de qualquer editora e distribuidora à análise da qualidade doutrinária e literária, não se levando em conta a procura das obras;
  • Incentivar o livro infanto-juvenil espírita.

A análise e estudo de obras são muito enriquecidos quando feitos em grupo. Um debate maduro e sem “donos da verdade” usualmente traz conclusões mais abrangentes, bem como eventuais incorreções doutrinárias são mais rapidamente identificadas. Naturalmente deve-se propor para estudo em grupo uma obra cujo conteúdo mereça tal investimento de energia e tempo. Importa destacar que a conclusão de um grupo acerca de uma obra é apenas desse grupo, não necessariamente passando a ser a visão “oficial” da Doutrina Espírita. Tal como ocorre com a Ciência terrena, a Doutrina Espírita é essencialmente progressiva; possui estudantes e autores respeitáveis, porém não nomeou nenhum dono da verdade absoluta.

A revista Reformador, em sua edição de abril de 1988, apresentou artigo intitulado “Deve-se publicar tudo, e divulgar tudo que se publica?”, com base nos textos de Kardec acima citados, das Revistas Espíritas de 1859 e 1863. Transcrevemos, a seguir, o texto veiculado há 22 anos.

1. Não aceitar cegamente textos mediúnicos sem um controle severo. Publicar sem exame, ou sem corretivo, tudo quanto vem dos Espíritos, seria dar prova de pouco discernimento;
2. Ao lado de comunicações francamente más, outras há que são simplesmente triviais ou ridículas. Tais publicações têm o inconveniente de induzir em erro pessoas que não estejam em condições de aprofundar-se e de discernir entre o verdadeiro e o falso;
3. Há comunicações que podem prejudicar gravemente a causa que pretendem defender, em escala muito maior que os grosseiros ataques e as injúrias de certos adversários;
4. A importância que, pela divulgação, é dada às comunicações de Espíritos inferiores os atrai, os excita e os encoraja;
5. Os Bons Espíritos ensinam mais ou menos a mesma coisa por toda parte, porque em toda parte há os mesmos vícios a reformar e as mesmas virtudes a pregar. Por isso, há centenas de lugares onde se obtêm coisas semelhantes, e o que é de poderoso interesse local pode ser banalidade para a massa;
6. Uma coisa pode ser excelente em si mesma, muito boa para servir de instrução pessoal, mas o que deve ser entregue ao público exige condições especiais. Convém, portanto, rejeitar tudo quanto, pela sua condição particular, só interessa àquele a quem se destina. E também tudo quanto é vulgar no estilo e nas ideias, ou pueril pelo assunto;
7. Mesmo a pessoa mais competente pode enganar-se; tudo está em enganar-se o menos possível. Há Espíritos que se comprazem em alimentar, em certos médiuns, a ilusão de que não estão sujeitos a enganos. Por isso, nunca seria demais recomendar a estes não confiar em seu próprio julgamento. Nesse sentido, os grupos são importantes pela multiplicidade de opiniões que neles podem ser colhidas. Aquele que, neste caso, recusasse a opinião da maioria, julgando-se mais esclarecido que todos, provaria superabundantemente a má influência sob a qual se acha;
8. Ao lado de alguns bons pensamentos encontram-se, por vezes, ideias excêntricas e traços inequívocos da mais profunda ignorância. Nesta espécie de trabalho mediúnico é que mais evidentes são os sinais da obsessão, dos quais um dos mais frequentes é a injunção da parte do Espírito de os fazer imprimir;
9. Nenhuma precaução é excessiva para evitar publicações lamentáveis. Em tais casos, mais vale pecar por excesso de prudência, no interesse da causa;
10. Publicando comunicações dignas de interesse, faz-se uma coisa útil. Publicando as que são fracas, insignificantes ou más, faz-se mal em vez de bem;
11. Uma consideração não menos importante é a da oportunidade. Comunicações há cuja publicação é intempestiva e, por isso mesmo, prejudicial. Cada coisa deve vir a seu tempo;
12. Não se trata de desencorajar as publicações. Longe disso. Mas mostrar a necessidade de rigorosa seleção do material. Aplicando estes princípios às comunicações a ele enviadas até maio de 1863, Kardec classificou-as, obtendo as seguintes conclusões:
a. Em 3600, mais de 3000 eram de moralidade irreprochável;
b. Desse número, menos de 300 poderiam ser publicadas (menos de 10%) e
c. Apenas 100 apresentavam-se de mérito inconteste.
Quanto aos originais produzidos por encarnados, em cerca de 30, Kardec encontrou 5 ou 6 de real valor.

Conclusão de Kardec: “No mundo invisível como na Terra, não faltam escritores, mas os bons são raros”.
Estes critérios de Kardec, propostos para análise de viabilidade de publicações espíritas, são perfeitamente aplicáveis aos divulgadores no exame das obras já editadas.
Na verdade, o livro espírita deve ser examinado em diferentes níveis, sendo a passagem para o nível seguinte condicionada à aprovação nos anteriores, até chegar ao leitor. Podem-se citar os seguintes níveis principais:
a) Autor encarnado ou Espírito e médium (autocrítica);
b) Editor (incluindo-se as revisões gramatical e gráfica);
c) Distribuidor;
d) Divulgador.
Esta sequência, entretanto, nem sempre é observada em uma, algumas ou, lamentavelmente, em nenhuma das etapas. Mas como a nossa Doutrina proporciona ampla liberdade à criatura, lembremos o dito do Mestre: “A cada um segundo sua própria consciência”.


Leia também, neste blog, as postagens “Espiritismo e Internet”, “Falsos Cristos, falsos profetas e seus seguidores”, “Vigiai e Orai”, “Os opositores da Doutrina Espírita”, “154 anos do Consolador Prometido”, “‘Pequenos’ Erros” e “Hermenêutica, Exegese e Espiritismo”.


Bons estudos!
Carla e Hendrio


Referências:

[1] KARDEC, Allan. “Revista Espírita de novembro de 1859”. Tradução de Evandro Noleto Bezerra. Rio de Janeiro, RJ: FEB, 2004. “Deve-se Publicar Tudo Quanto Dizem os Espíritos?”
[2] KARDEC, Allan. “Revista Espírita de maio de 1863”. Tradução de Evandro Noleto Bezerra. Rio de Janeiro, RJ: FEB, 2004. “Exame das Comunicações Mediúnicas que nos são Enviadas”.
[3] KARDEC, Allan. “Catalogue Raisonné des Ouvrages Pouvant Servir a Fonder une Bibliothèque Spirite”. Segunda edição, agosto de 1869. Disponível em http://www.espirito.org.br/portal/download/pdf/fr/catalogue-raisonne.pdf e http://charles.kempf.pagesperso-orange.fr/Livres/catalogue.pdf. Acesso em 27 de julho de 2010.
[4] CARVALHO, Larissa Camacho; LOUSADA, Vinícius Lima. “Uma História do Livro e de Todos os Livros: Catálogo Racional - Obras Para se Fundar uma Biblioteca Espírita (1869)”. Programa de Pós-Graduação em Educação/UFRGS. Disponível em http://www.febnet.org.br/ba/file/Pesquisa/Textos/UMA%20HIST%C3%93RIA%20DO%20LIVRO%20E%20DE%20TODOS%20OS%20LIVROS.pdf. Acesso em 27 de julho de 2010.
[5] Conselho Espírita do Estado do Rio de Janeiro. Projeto O Bom Leitor. Disponível em http://www.ceerj.org.br/ceerj/index.php?option=com_content&view=article&id=478&Itemid=227. Acesso em 27 de julho de 2010.


quinta-feira, 15 de julho de 2010

Considerações sobre a pluralidade das existências (2)

Analisaremos se a teoria da unicidade da existência é compatível ou exclui a preexistência do Espírito antes de se tornar alma, ou seja, Espírito encarnado, de acordo com a definição constante à questão 134 de “O Livro dos Espíritos” [1]. Estudaremos, também, de acordo com os preceitos espíritas, a consistência da afirmação de o Espírito ser criado no momento da criação do corpo.

Orígenes, célebre teólogo e estudioso egípcio que viveu entre os anos 185 e 253 da era cristã, entendia, pela interpretação de diversas passagens bíblicas, bem como pela observação da predisposição ao bem ou ao mal em crianças (exemplos apresentados na postagem “A Reencarnação na Bíblia”, neste blog), que o Espírito não é criado no momento da concepção do corpo físico, ou seja, o Espírito preexiste a este último. Tal entendimento implicou, no ano 553, um dos diversos anátemas (excomunhões, maldições) lançados contra Orígenes, no Segundo Concílio de Constantinopla [2], redigido nos seguintes termos: “Se alguém afirmar a fabulosa preexistência das almas, e afirmar a monstruosa restauração que resulta desta: seja anátema.” Dessa forma, alguns segmentos da Igreja, os quais adotaram essa abordagem, trazem uma interpretação fixada como dogma acerca desse tema, não passível de ser discutida.

Consideremos os textos relativos à unicidade da existência, analisados por Allan Kardec, o Codificador da Doutrina Espírita. No item 21 do Capítulo IV de “O Evangelho Segundo o Espiritismo” [3], temos:

“Vejamos agora as consequências da doutrina antirreencarnacionista. Ela, necessariamente, anula a preexistência da alma. Sendo estas criadas ao mesmo tempo que os corpos, nenhum laço anterior há entre elas, que, nesse caso, serão completamente estranhas umas às outras. O pai é estranho a seu filho. A filiação das famílias fica assim reduzida à só filiação corporal, sem qualquer laço espiritual. Não há então motivo algum para quem quer que seja glorificar-se de haver tido por antepassados tais ou tais personagens ilustres. Com a reencarnação, ascendentes e descendentes podem já se terem conhecido, vivido juntos, amado, e podem reunir-se mais tarde, a fim de apertarem entre si os laços de simpatia.”

No item 222 de “O Livro dos Espíritos” [1], encontramos:

“Se não há reencarnação, só há, evidentemente, uma existência corporal. Se a nossa atual existência corpórea é única, a alma de cada homem foi criada por ocasião do seu nascimento, a menos que se admita a anterioridade da alma, caso em que caberia perguntar o que era ela antes do nascimento e se o estado em que se achava não constitua uma existência sob forma qualquer.”

Essas análises partem dos argumentos dos defensores da teoria da existência única, os quais acreditam que a alma é criada no momento da criação do corpo físico e, portanto, forçosamente não se admitiria a preexistência da alma. Não obstante, é possível considerar, por uma abstração, que a alma seja criada e só algum tempo depois venha a encarnar, ainda que seja uma única vez. Dessa forma, mesmo considerando uma só existência, seria possível a alma ter sido criada antes do corpo. Essa possibilidade, no entanto, não se sustenta em relação a outras questões, principalmente o porquê e para que a alma ter sido criada em momento diferente do corpo, já que haveria apenas uma existência.

Foto: Carla Engel Gomes

Kardec traz, à Revista Espírita [4], outro argumento contra a unicidade da existência, analisando a hipótese da criação da alma no momento da concepção do corpo físico:

“Se não se admite que a alma já tenha vivido, é absolutamente necessário que seja criada no momento da formação e para o uso de cada corpo; de onde se segue que a criação da alma por Deus estaria subordinada ao capricho do homem, e na maior parte das vezes é o resultado do deboche. Como! Todas as leis religiosas e morais condenam a depravação dos costumes e Deus se aproveitaria disto para criar almas! Perguntamos a todo homem de bom-senso se é admissível que Deus se contradiga a tal ponto? Não seria glorificar o vício, uma vez que se prestaria à realização dos mais elevados desígnios do Todo-Poderoso: a criação das almas? Que nos digam se tal não seria a consequência da formação simultânea das almas e dos corpos; e seria pior ainda se fosse admitida a opinião dos que pretendem que o homem procria a alma ao mesmo tempo que o corpo. Admiti, ao contrário, a preexistência da alma, e toda contradição desaparece. O homem não procria senão a matéria do corpo; a obra de Deus, a criação da alma imortal, que um dia deve se aproximar dEle, não mais está submetida ao capricho do homem. É assim que, fora da reencarnação, surgem dificuldades insolúveis a cada passo e se cai na contradição e no absurdo quando se quer explicá-las.”


A teoria da unicidade das existências não se sustenta, igualmente, por ser contrária à Justiça Divina, como já citado na postagem “Considerações sobre a pluralidade das existências”, neste blog.


Leia também, neste blog, as postagens “Considerações sobre a pluralidade das existências”, “Evolução Espiritual de Longo Prazo”, “A Reencarnação na Bíblia”, “Por que Deus criou a nós e o Universo?”, “Simples e Ignorantes (1)” e “Simples e Ignorantes (2)”.


Bons estudos!
Carla e Hendrio


Referências:

[1] KARDEC, Allan. “O Livro dos Espíritos”. 66ª ed. Rio de Janeiro, RJ: FEB, 1987. Questões 134 e 222.
[2] New Advent. “Second Council of Constantinople”. Disponível em http://www.newadvent.org/fathers/3812.htm. Acesso em 14/07/2010.
[3] KARDEC, Allan. “O Evangelho Segundo o Espiritismo”. 97ª ed. Rio de Janeiro, RJ: FEB, 1987. Capítulo IV, item 21.
[4] KARDEC, Allan. “Revista Espírita de junho de 1861”. Tradução de Evandro Noleto Bezerra. Rio de Janeiro, RJ: FEB, 2004. “O Deboche.”



sexta-feira, 9 de julho de 2010

Penas “Eternas”

Existem penas eternas? Há episódios difíceis nas vidas das pessoas, os quais sejam sentidos como de duração eterna? Um sofrimento sem fim para criaturas é compatível com a visão de Deus representar o Criador de tudo e todos, a Bondade e a Sabedoria em seu máximo grau? Há uma duração fixa de tempo de sofrimento relativo a cada erro? A reencarnação é compatível com a ideia de penas eternas?


O que significa “eterno”?

Na origem da palavra, do latim aeternalis, eterno é algo que dura por éons (do grego aión — tempo, era, duração da vida), ou seja, por um tempo muito grande ou desconhecido. Não significa duração para sempre, mas algo com duração que parece não ter fim, devido à nossa limitada percepção do tempo.


Penas eternas e a visão sobre Deus

No capítulo VI da obra “O Céu e o Inferno” [1], intitulado “Doutrina das penas eternas”, Allan Kardec discorre detalhadamente acerca desse tema. Nos itens 10 a 17 do mesmo capítulo, o Codificador do Espiritismo apresenta a refutação a argumentos favoráveis à existência de penas eternas. Exemplifiquemos um deles: a visão que se tem sobre Deus. Há duas possibilidades referentes às penas eternas e sua consequente maneira de buscar entender Deus:

  1. As penas eternas existem, pois a gravidade da ofensa é proporcional à qualidade do ofendido. Sendo Deus infinito, também é infinita a ofensa e, por conseguinte, infinita a punição; ou
  2. As penas eternas não existem, pois, se Deus é soberanamente justo e bom, infinito em todas as perfeições, não ofendemos a Deus, mas à nossa própria consciência, a qual reclama entendimento e reparação do erro, condições as quais, uma vez atendidas, fazem cessar o sofrimento advindo de um ato incorreto. Quando uma criança, começando a caminhar, mexe onde não deve, ela não está a ofender aos pais, se eles possuírem a devida maturidade; antes, a criança requer orientação e proteção.

Considerar a existência de penas eternas ofende ao bom senso e ao nosso entendimento de Deus todo bondade, justiça e misericórdia. Neste mesmo diapasão são as palavras de Santo Agostinho, ao responder à questão 1009 de “O Livro dos Espíritos” [2]: “Interrogai o vosso bom-senso, a vossa razão e perguntai-lhes se uma condenação perpétua, motivada por alguns momentos de erro, não seria a negação da bondade de Deus. Que é, com efeito, a duração da vida, ainda quando de cem anos, em face da eternidade? Eternidade! Compreendeis bem esta palavra? Sofrimentos, torturas sem-fim, sem esperanças, por causa de algumas faltas! O vosso juízo não repele semelhante ideia? Que os antigos tenham considerado o Senhor do Universo um Deus terrível, cioso e vingativo, concebe-se. Na ignorância em que se achavam, atribuíam à divindade as paixões dos homens. Esse, todavia, não é o Deus dos cristãos, que classifica como virtudes primordiais o amor, a caridade, a misericórdia, o esquecimento das ofensas. Poderia ele carecer das qualidades, cuja posse prescreve, como um dever, às suas criaturas? Não haverá contradição em se lhe atribuir a bondade infinita e a vingança também infinita? Dizeis que, acima de tudo, ele é justo e que o homem não lhe compreende a justiça. Mas, a justiça não exclui a bondade e ele não seria bom, se condenasse a eternas e horríveis penas a maioria das suas criaturas. Teria o direito de fazer da justiça uma obrigação para seus filhos, se lhes não desse meio de compreendê-la? Aliás, no fazer que a duração das penas dependa dos esforços do culpado não está toda a sublimidade da justiça unida à bondade? Aí é que se encontra a verdade desta sentença: ‘A cada um segundo as suas obras.’”

Kardec, no capítulo VI de “O Céu e o Inferno”, apresenta inclusive citações bíblicas as quais atestam não haver penas eternas, como em Ezequiel, 33:11: “Dize-lhes: Tão certo como eu vivo, diz o Senhor Deus, não tenho prazer na morte do ímpio, mas em que o ímpio se converta de seu caminho, e viva.”

A duração de uma pena, que não é eterna, se baseia no tempo necessário a que o Espírito se melhore. Diz o Espírito São Luís na questão 1004 de “O Livro dos Espíritos” [2]: “Sendo o estado de sofrimento ou de felicidade proporcionado ao grau de purificação do Espírito, a duração e a natureza de seus sofrimentos dependem do tempo que ele gaste em melhorar-se. À medida que progride e que os sentimentos se lhe depuram, seus sofrimentos diminuem e mudam de natureza.”


Distorções na noção da passagem do tempo

O entendimento da passagem do tempo difere entre as pessoas e a condição em que se encontrem (“O Livro dos Espíritos”, questão 240). Um Espírito sofredor percebe uma passagem mais longa do tempo, o que não ocorre com Espíritos mais purificados (“O Livro dos Espíritos”, questão 1005).

Na apresentação da chamada escala espírita, uma classificação didática do grau de adiantamento moral e intelectual dos Espíritos, Allan Kardec estabelece três ordens de Espíritos: imperfeitos, bons e puros. A Humanidade terrestre é composta predominantemente por Espíritos ainda imperfeitos, os quais já superaram as primeiras etapas das existências humanas, mas carentes de elevação moral. Na descrição do perfil geral dos Espíritos ainda imperfeitos, no item 101 de “O Livro dos Espíritos” [2], Kardec pontua uma percepção relativa do tempo dos sofrimentos: “Predominância da matéria sobre o espírito. Propensão para o mal. Ignorância, orgulho, egoísmo e todas as paixões que lhes são consequentes. (...) Conservam a lembrança e a percepção dos sofrimentos da vida corpórea e essa impressão é muitas vezes mais penosa do que a realidade. Sofrem, pois, verdadeiramente, pelos males de que padeceram em vida e pelos que ocasionam aos outros. E, como sofrem por longo tempo, julgam que sofrerão para sempre.”

A percepção do tempo varia de acordo com o que se está experimentando. Não raro, vivenciando momentos agradáveis, não se sente o tempo passar. Situações difíceis, muitas vezes, causam uma sensação de demora. Estudo [3] feito com pacientes em UTI (Unidade de Terapia Intensiva) de hospitais indica haver, nas pessoas internadas nesses locais, uma distorção da noção de tempo, a qual traz ansiedade e sofrimento além daqueles causados pela enfermidade que os levou a necessitar desses cuidados médicos.

(...) “a questão da temporalidade é complexa, representa algo além da perda do referencial do dia e da noite e aspectos de iluminação. A noção de tempo/espaço representa uma maneira simbólica de reorganizar-se, reestruturar-se, enfim, de reconhecer-se diante da vida.”

O filósofo alemão Martin Heidegger, em seu livro “Ser e Tempo” [4], publicado em 1927 e considerado, por profissionais da área, um dos trabalhos mais importantes em filosofia do século XX, afirma que a compreensão de que existimos, bem como a do tempo, é ligada ao porvir. Segundo este autor, perceber a sequência do tempo é se ver em algo que está por vir.

“‘Pre’ e ‘preceder’ indicam o porvir que, como tal, os possibilita, de maneira a que possa se dar um ente em que está em jogo seu poder ser. O projetar-se em ‘função de si mesmo’, fundado no porvir, é um caráter essencial da existencialidade. O seu sentido primordial é o porvir. (...) A temporalidade originária e própria se temporaliza a partir do porvir em sentido próprio, de tal modo que só no vigor de ter sido, vigente e no porvir, é que ela desperta a atualidade. O porvir é o fenômeno primordial da temporalidade originária e própria.”

Essa visão é coerente com a assertiva abaixo, de Joanna de Ângelis [5]:

“A consciência do vir-a-ser proporciona uma mente aberta, com capacidade para considerar com clareza e saúde todos os fatos da existência, comportando-se de maneira tranquila, com possibilidades de conquistar o infinito.”

Dessa forma, tal como ocorre com um paciente em uma UTI, um Espírito, encarnado ou desencarnado, em sofrimento físico e/ou moral, pode sofrer uma distorção em seu entendimento de tempo; dias podem parecer meses ou anos; a falta de clareza no porvir afeta a compreensão de sua existência, e o sofrimento é percebido como interminável, uma “pena eterna”, ainda que dure alguns dias ou meses. Não se está buscando fazer pouco do sofrimento de ninguém, mas sim trazer base para o entendimento do fato de sofrimentos intensos parecerem durar muito mais do que o seu tempo medido no relógio e no calendário.



Duração das penas

Ainda a respeito do tempo, Kardec orienta, à elucidativa obra “O Que É o Espiritismo”, que a duração de uma expiação devida a um erro não é condicionada a tempo, mas a uma efetiva evolução, ao aprendizado e superação da lição [6]:

“A duração do castigo é subordinada ao melhoramento do Espírito culpado. Nenhuma condenação por tempo determinado é pronunciada contra ele. O que Deus exige, para pôr um termo aos sofrimentos, é o arrependimento, a expiação e a reparação; em uma palavra, um melhoramento sério e efetivo, uma volta sincera ao bem. O Espírito é assim o árbitro de sua própria sorte; sua pertinácia no mal prolonga-lhe os sofrimentos; seus esforços para fazer o bem os minoram ou abreviam. Sendo a duração da pena subordinada ao arrependimento, o Espírito culpado, que não se arrependesse e nunca se melhorasse, sofreria sempre, e para ele então a pena seria eterna. Essa eternidade de penas deve ser entendida no sentido relativo e não no absoluto. Uma condição inerente à inferioridade do Espírito é não ver o termo da sua situação e crer que há de sofrer sempre — o que é para ele um castigo. Desde que, porém, sua alma se abra ao arrependimento, Deus lhe faz entrever um raio de esperança.”

Mesmo o que foi programado para nossa reencarnação pode ser melhorado ou dificultado por nossas escolhas e ações positivas ou menos felizes (leia, neste blog, a postagem “O amor cobre uma multidão de pecados.”).


Reencarnação desfaz o mito das penas eternas

Como já abordado acima, considerar a existência de penas eternas é contrário ao bom senso e ao nosso entendimento de Deus todo bondade, justiça e misericórdia. Os Espíritos nos orientam, à questão 617 de “O Livro dos Espíritos” [2] (leia, neste blog, a postagem “Considerações sobre a pluralidade das existências”), que um aprendizado pleno não pode ser concluído em apenas uma existência.

Em relação a esse tema, Kardec apresenta, na Revista Espírita [7], mensagem mediúnica relatando: “Estando admitido que a justiça de Deus não pode se misturar com as penas eternas, a razão deve concluir pela necessidade: 1ª de um período de tempo durante o qual o Espírito examina o seu passado, e forma as suas resoluções para o futuro; 2ª de uma existência nova em harmonia com o adiantamento desse Espírito.” Esta observação é coerente com a citação bíblica de Paulo, em sua carta aos Hebreus, capítulo 9, versículo 27: “É ordenado ao homem morrer uma vez, e após isso um julgamento”. No texto em grego, do qual surgiram as traduções para o latim e, após, para o português, o termo traduzido por julgamento era o substantivo krisis, derivado do verbo krino, sendo que este último significa “eu decido”. Da palavra krisis provêm os termos crise e crítica. Crise diz respeito a um ponto de virada, uma oportunidade de análise para melhoramento. Muitas traduções desse trecho bíblico referem krisis como julgamento. Assim podemos entender, desde que compreendamos que se trata de um ponto de decisão, de análise de suas escolhas, feita entre o Espírito, sua consciência e Deus, e não um julgamento por qualquer “juiz” externo a essa tríade. Esta passagem bíblica indica, portanto, que a personalidade que o Espírito temporariamente anima deixará de existir na Terra com a morte do corpo físico, quando então o Espírito analisará o que há de avanços ou oportunidades de melhoria para as existências corpóreas seguintes. Quando atingir-se o nível devido de evolução moral e intelectual, não mais serão necessários estágios na matéria densa, advindo aí novas e superiores etapas de nosso caminho rumo à perfeição.

O Codificador, corroborando essa ideia, na obra “O Céu e o Inferno” [1], no item 19 do Capítulo VI da sua primeira parte, afirma: “Para estar de acordo com a rigorosa justiça, chegaremos, pois, à conclusão de que as almas mais adiantadas são as atrasadas de outro tempo, com progressos posteriormente realizados. Mas, aqui atingimos a questão magna da pluralidade das existências como meio único e racional de resolver a dificuldade.”


Leia, também, neste blog, as postagens “O Céu e o inferno”, “Evolução Espiritual de Longo Prazo”, “O amor cobre uma multidão de pecados.”, “Expiação, Prova e Missão”, “Tranquilidade no Retorno à Pátria Espiritual” e “A Reencarnação na Bíblia”.


Bons estudos!
Carla e Hendrio


Referências:

[1] KARDEC, Allan. “O Céu e o Inferno”. 37ª ed. Rio de Janeiro: RJ, FEB: 1991. 1ª parte, capítulo VI.
[2] KARDEC, Allan. “O Livro dos Espíritos”. 66ª ed. Rio de Janeiro, RJ: FEB, 1987. Questões 101, 617, 1004 e 1009.
[3] STUMM, Eniva Miladi Fernandes et al. “Estressores Vivenciados por Pacientes em uma UTI”. Revista Cogitare Enfermagem, nº 4 de 2008. Curitiba, PR: Sistema Eletrônico de Revistas da UFPR. Disponível em http://ojs.c3sl.ufpr.br/ojs2/index.php/cogitare/article/viewFile/13108/8866. Acesso em 06/07/2010.
[4] HEIDEGGER, Martin. “Ser e Tempo”. 13ª ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2005. Parte II, terceiro capítulo, § 65.
[5] FRANCO, Divaldo Pereira. “O Homem Integral”. Pelo Espírito Joanna de Ângelis. 14ª ed. Salvador, BA: Centro Espírita Caminho da Redenção, 1990. Capítulo 6.
[6] KARDEC, Allan. “O Que É o Espiritismo”. 53ª ed. Rio de Janeiro, RJ: FEB, 2005. Capítulo I, Terceiro diálogo — O padre.
[7] KARDEC, Allan. “Revista Espírita, outubro de 1860”. São Paulo, SP: IDE, 1993. Dissertações Espíritas.