segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Reconciliação

Jesus recomendou a reconciliação com os inimigos, enquanto estivermos com eles a caminho, nos Evangelhos de Mateus (5:20-26) e Lucas (12:54-59), não somente “objetivando apaziguar as discórdias no curso da nossa atual existência; (...) mas, principalmente, para que elas se não perpetuem nas existências futuras.” Allan Kardec prossegue, em “O Evangelho Segundo o Espiritismo”, explicando que: “(...) Importa, conseguintemente, do ponto de vista da tranqüilidade futura, que cada um repare, quanto antes, os agravos que haja causado ao seu próximo, que perdoe aos seus inimigos, a fim de que, antes que a morte lhe chegue, esteja apagado qualquer motivo de dissensão, toda causa fundada de ulterior animosidade. Por essa forma, de um inimigo encarniçado neste mundo se pode fazer um amigo no outro; pelo menos, o que assim procede põe de seu lado o bom direito e Deus não consente que aquele que perdoou sofra qualquer vingança.” [1] Assim, de nossa parte, ao perdoar, já nos reconciliamos com aquele que nos parece adversário, evitando futuras obsessões.

Carlos Torres Pastorino [2] ressalta que o contexto onde Jesus faz essa citação visa a mostrar a superioridade do amor sobre os sacrifícios, conforme Mateus 09:13 e Oséias 06:06 (leia, também, a respeito dessas duas citações bíblicas, a postagem "O amor cobre uma multidão de pecados", neste blog). Pastorino informa que “diz Jesus que deixe ali sua oferta e vá primeiro reconciliar-se com seu irmão. Mostra-nos isso que a adoração e mesmo a oração não têm efeito, se não estamos vibrando na frequência do amor”. Este autor afirma que devemos nos reconciliar hoje, ou seja, ainda na presente reencarnação, “para que não sejamos entregues ao juiz (nossa consciência liberta, nosso Eu profundo) que nos manterá ‘na prisão’, ou seja, no corpo (nas sucessivas encarnações), das quais não nos libertaremos enquanto não tivermos pago o último centavo. Enquanto não for resgatado todo o carma, não sairemos da roda das reencarnações, a que os hebreus chamava gilgal e os hindus samsara.”

Outro motivo seria a compreensão de que nós mesmos também cometemos erros e precisamos da indulgência alheia para com nossas faltas, conforme comentário de Kardec a respeito das características do homem de bem, à questão 918 de “O Livro dos Espíritos”.


Considerando a assertiva “fora da caridade não há salvação” (“O Evangelho Segundo o Espiritismo”, capítulo XV), o verdadeiro sentido da caridade, segundo a resposta dos Espíritos à questão 886 de “O Livro dos Espíritos”, como entendia Jesus, é “benevolência para com todos, indulgência para as imperfeições dos outros, perdão das ofensas.” Dessa forma, se desejamos evoluir, devemos perdoar.

A respeito do tema, leia também, neste blog, as postagens “Amar os inimigos”, “Egos virtuosos e Eus sapientes” e “Caminha Alegremente”.


Bons estudos!
Carla e Hendrio

Referências:
1. KARDEC, Allan. “O Evangelho Segundo o Espiritismo”. 2ª ed. de bolso. Rio de Janeiro: RJ, FEB: 1999. Capítulo XII, item 6.
2. PASTORINO, Carlos Torres. “Sabedoria do Evangelho”. Rio de Janeiro, RJ: Sabedoria, 1964. Volume 2. “As Ofensas”.

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Pactos

Pacto, segundo o dicionário [1], é um ajuste, convenção ou contrato. Este termo, ao longo da história, tem sido usado, muitas vezes, para designar o contrato com Espíritos maus, de forma fatal, definitiva e irrevogável. Vemos, no entanto, que esta é uma concepção restrita e particular do termo, que não exprime toda a sua significação.

Kardec, considerando essa acepção vulgar, pergunta, em “O Livro dos Espíritos” [2], a questão 549, se há algo de verdadeiro no pacto com os maus Espíritos. Os Espíritos Superiores respondem que o que existe é um ajuste de vontades para a prática do mal, “naturezas más que simpatizam com os maus Espíritos.” Respondendo a questão seguinte, os Espíritos Superiores esclarecem que: “Isto não quer dizer que sua alma fique para sempre condenada à infelicidade. (...) Coloca-se, por amor dos gozos materiais, na dependência de Espíritos impuros, estabelecendo-se entre eles um pacto silencioso que leva à perda do delinquente, mas que lhe será sempre fácil romper com a assistência dos bons Espíritos, desde o queira firmemente.”

Assim, o termo pacto não significa acordo definitivo, irrevogável, mesmo porque, o que é definitivo é o bem.

Por outro lado, na acepção de acordo, há vários exemplos de pactos para o bem. Destacamos um trecho da comunicação do Espírito São José, divulgada por Allan Kardec na Revista Espírita de dezembro de 1863 [3] (grifo nosso): “Eu vos digo, velai, orai, estendei a mão aos infelizes, abri os olhos que estão fechados; que vossos corações e vossos braços a todos se abram, sem exceção. Espíritas, vossa tarefa é bela! Que há de mais belo, de mais consolador que esse pacto de união entre os vivos e os mortos? Que imensos serviços nos poderemos prestar mutuamente! Por vossas preces a Deus, partidas do fundo do coração, muito podeis para o alívio das almas que sofrem e quão suave é o benefício ao coração de quem o pratica! Que tocante harmonia a das bênçãos que houverdes merecido! Ainda uma vez, orai elevando vossa alma ao céu e persuadi-vos de que cada uma de vossas preces será ouvida e atenuará uma dor.”

Outro exemplo de pacto para o bem, desta vez entre encarnados, mas com certeza com o apoio dos desencarnados, é o chamado “Pacto Áureo”, ocorrido em 05 de outubro de 1949, na cidade do Rio de Janeiro e “foi assim designado por representar a oportunidade de ouro para se promover a união e estimular o intercâmbio entre os espíritas. (...). A reunião foi dirigida pelo presidente da FEB Antônio Wantuil de Freitas, com a participação de representantes de Federações e Uniões de âmbito estadual: Federação Espírita Catarinense, Federação Espírita do Paraná, Federação Espírita do Rio Grande do Sul, União Espírita Mineira, União Social Espírita de São Paulo (USE), e também da Liga Espírita do Brasil e da Comissão Executiva do Congresso Brasileiro de Unificação Espírita. Da Ata de 18 itens, destacamos o item 2: “A FEB criará um Conselho Federativo Nacional, permanente, com a finalidade de executar, desenvolver e ampliar os planos da sua atual Organização Federativa”. (...). Nestes 60 anos de “Pacto Áureo” é evidente o aperfeiçoamento do processo de união e de unificação, pois o Conselho Federativo Nacional congrega as Entidades Federativas Estaduais dos 27 Estados e do Distrito Federal e tem experimentado a prática da análise e da discussão para a elaboração de documentos normativos de recomendações ao Movimento Espírita.” [4]


Ainda sobre o Movimento Espírita, leia, neste blog, a postagem “Os Espíritas e o Movimento Espírita”.


Bons estudos!
Carla e Hendrio

Referências:

1. HOLANDA, Aurélio Buarque de. “Novo Dicionário Eletrônico Aurélio”. Versão 5.0 de 2004. Positivo Informática. Pacto.
2. KARDEC, Allan. “O Livro dos Espíritos”. 1ª ed. Comemorativa do Sesquicentenário do lançamento de O Livro dos Espíritos. Rio de Janeiro, RJ: FEB. 2007. Questões 549 e 550.
3. KARDEC, Allan. “Revista Espírita de dezembro de 1863”. Tradução de Evandro Noleto Bezerra. Rio de Janeiro, RJ. FEB 2004. “O Espiritismo na Argélia.”
4. CARVALHO, Antonio Cesar Perri de. “60 Anos de Pacto Áureo”. Seção Movimento Espírita da Página da Federação Espírita Brasileira. Disponível em http://www.febnet.org.br/site/movimento_brasil.php?SecPad=24&Sec=396. Acesso em 08.11.2009.


quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Espíritos missionários

Missão, segundo o dicionário [1], significa “ofício, ministério; obrigação, compromisso, dever a cumprir.” Já o termo Missionário [2], “aquele que foi incumbido de realizar determinada missão”.

Todos os Espíritos têm missão, ou seja, deveres a cumprir, conforme resposta dada pelos Espíritos à questão 559 de “O Livro dos Espíritos”. Carlos Torres Pastorino [3] comenta a esse respeito: “Observemos que a perfeição é de alguns poucos, no sentido religioso. Se todos os homens se dedicassem à perfeição religiosa e à espiritualidade, a evolução planetária ficaria paralisada. Há missionários que vêm com tarefas espirituais e missionários que vêm com tarefas materiais, cuidando da parte econômica e financeira; os que plantam, os que colhem, os que armazenam para a revenda; os que desenham, os que constroem, os que decoram os edifícios; os que fabricam, estocam e distribuem as mercadorias, em troca do dinheiro que lhes possibilite prosseguir na produção de benesses; os que estudam, pesquisam e aplicam o resultado de sua ciência para proveito das criaturas humanas e dos animais e plantas; os que captam a inspiração para compor, os que orquestram e os que executam para deleite dos homens; os que legislam, julgam e governam cidades e povos na manutenção da ordem; os que defendem acusados, os que curam doentes, os que assistem nos templos, todos sem exceção, todas as profissões e trabalhos que apresentam SERVIÇO, dos mais elevados aos mais humildes, podem ser levados à Vida, embora nem todos alcancem a perfeição.”

Todavia, a questão proposta refere-se a atribuições de maior abrangência e relevância. Kardec faz essa distinção na questão 575 de “O Livro dos Espíritos”: “As ocupações comuns mais nos parecem deveres do que missões propriamente ditas. A missão, conforme a ideia associada a esta palavra, tem o caráter de importância menos exclusivo e, sobretudo, menos pessoal. Deste ponto de vista, como se pode reconhecer que um homem tem realmente uma missão na Terra? Resposta: Pelas grandes coisas que realiza, pelo progresso a que conduz os seus semelhantes.”

Comentando ainda o assunto, na Revista Espírita de março de 1868, diz [4]: “Assim, para o Espiritismo, todo Espírito encarnado para cumprir uma missão especial junto à Humanidade é um messias, na acepção geral da palavra, isto é, um missionário ou enviado, com a diferença, entretanto, que o vocábulo messias implica mais particularmente a ideia de uma missão direta da Divindade e, consequentemente, a da superioridade do Espírito e da importância da missão. Daí se segue que há uma distinção a fazer entre os messias propriamente ditos, e os Espíritos simples missionários. O que os distingue é que, para uns, a missão ainda é uma prova, porque podem falir, enquanto para os outros é um atributo de sua superioridade. Do ponto de vista da vida corporal, os messias entram na categoria das encarnações ordinárias de Espíritos, e a palavra não tem qualquer caráter de misticismo.


Todas as grandes épocas de renovação viram aparecer messias encarregados de dar impulso ao movimento regenerador e o dirigir. Sendo a época atual uma das de maiores transformações da Humanidade, terá também os seus messias, que a presidem já como Espíritos, e terminarão sua missão como encarnados. Sua vinda não será marcada por nenhum prodígio, e Deus, para os tornar conhecidos, não perturbará a ordem das leis da Natureza. Nenhum sinal extraordinário aparecerá no céu, nem na Terra, e não serão vistos descendo das nuvens, acompanhados por anjos. Nascerão, viverão e morrerão como o comum dos homens, e sua morte não será anunciada ao mundo nem por terremotos, nem pelo obscurecimento do Sol; nenhum sinal exterior os distinguirá, assim como o Cristo, em vida, não se distinguia dos outros homens. Nada, pois, os assinalará à atenção pública, a não ser a grandeza de suas obras, a sublimidade de suas virtudes, e a parte ativa e fecunda que tomarão na fundação da nova ordem de coisas. A antiguidade pagã deles fez deuses; a História os colocará no Panteão dos grandes homens, dos homens de gênio, mas, sobretudo, entre os homens de bem, cuja memória será honrada pela posteridade.”

Erasto, em mensagem registrada por Kardec na obra “O Evangelho Segundo o Espiritismo” [5] diz que: “os verdadeiros missionários de Deus ignoram-se a si mesmos, em sua maior parte; desempenham a missão a que foram chamados pela força do gênio que possuem, secundado pelo poder oculto que os inspira e dirige a seu mau grado, mas sem desígnio premeditado”, acrescentando que são humildes e modestos. Reconhecem-se, então, os Espíritos Missionários, pelas suas obras, pelo progresso que realizam.

A respeito do tema, veja também as postagens “Expiação, Prova e Missão”, “154 anos do Consolador Prometido”, “Os Espíritas e o Movimento Espírita”, “Muitas Moradas”, “Simples e Ignorantes (1)” e “Programa Evolutivo”, neste blog.


Bons estudos!
Carla e Hendrio


Referências:
1. HOLANDA, Aurélio Buarque de. “Novo Dicionário Eletrônico Aurélio”. Versão 5.0 de 2004. Positivo Informática. Missão.
2. Dicionário Priberam de Língua Portuguesa. Disponível em: http://www.priberam.pt/dlpo/definir_resultados.aspx?pal=mission%E1rio. Acesso em 15.11.2009. Termo procurado: missionário.
3. PASTORINO, Carlos Torres. “Sabedoria do Evangelho”. Rio de Janeiro, RJ: Sabedoria, 1964. Volume 6. “O moço rico”.
4. KARDEC, Allan. “Revista Espírita de Março de 1868”. Tradução de Evandro Noleto Bezerra. Rio de Janeiro, RJ. FEB 2004. “Comentários Sobre os Messias do Espiritismo”, 4° item.
5. KARDEC, Allan. “O Evangelho Segundo o Espiritismo”. 2ª ed. de bolso. Rio de Janeiro: RJ, FEB: 1999. Capítulo XXI, item 9.

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Talismãs, pensamento e atração

Talismã significa “objeto de forma e dimensões variadas, ao qual se atribuem poderes extraordinários de magia ativa, possibilitando a realização de aspirações ou desejos.” [1]. Desta forma, não se pode admitir que um objeto, por si só, tenha esse poder. O próprio Codificador, na questão 554, em “O Livro dos Espíritos” [2], ratifica esse entendimento, ao indagar: “Não pode aquele que, com ou sem razão, confia no que chama a virtude de um talismã, atrair um Espírito, por efeito mesmo dessa confiança, visto que, então, o que atua é o pensamento, não passando o talismã de um sinal que apenas lhe auxilia a concentração?” Os Espíritos superiores responderam que da “pureza da intenção e da elevação dos sentimentos depende a natureza do Espírito que é atraído”. E complementam que “muito raramente aquele que seja bastante simplório para acreditar na virtude de um talismã deixará de colimar um fim mais material do que moral.”


Ainda sobre esse tema, Kardec discorre sobre uma determinada medalha, na “Revista Espírita de setembro de 1858” [3]: “Quem quer que tenha estudado racionalmente a natureza dos Espíritos não poderá admitir que, sobre eles, se exerça a influência de formas convencionais, nem de substâncias misturadas em certas proporções; seria renovar as práticas do caldeirão das feiticeiras, dos gatos negros, das galinhas pretas e de outros sortilégios. Não podemos dizer a mesma coisa de um objeto magnetizado que, como se sabe, tem o poder de provocar o sonambulismo ou certos fenômenos nervosos sobre o organismo. Nesse caso, porém, a virtude do objeto reside unicamente no fluido de que se acha momentaneamente impregnado e que assim se transmite, por via mediata, e não em sua forma, em sua cor e nem, sobretudo, nos sinais de que possa estar sobrecarregado. Um Espírito pode dizer: “Traçai tal sinal e, à vista dele, reconhecerei que me chamais, e virei”; nesse caso, todavia, o sinal traçado é apenas a expressão do pensamento; é uma evocação traduzida de modo material. Ora, os Espíritos, seja qual for a sua natureza, não necessitam de semelhantes artifícios para se comunicarem; os Espíritos superiores jamais os empregam; os inferiores podem fazê-lo visando fascinar a imaginação das pessoas crédulas que querem manter sob dependência. Regra geral: para os Espíritos superiores a forma nada é; o pensamento é tudo. Todo Espírito que liga mais importância à forma do que ao fundo, é inferior e não merece nenhuma confiança, mesmo quando, vez por outra, diga algumas coisas boas, porquanto essas boas coisas freqüentemente são um meio de sedução.”

Kardec continua, em outro trecho do mesmo artigo: “Entretanto, para edificação do proprietário da medalha, e para um melhor aprofundamento da questão, na sessão de 17 de julho de 1858 pedimos a São Luís, que conosco se comunica de bom grado sempre que se trata de nossa instrução, que nos desse sua opinião a respeito. Interrogado sobre o valor da medalha, eis qual foi sua resposta: “Fazeis bem em não admitir que objetos materiais possam exercer qualquer influência sobre as manifestações, quer para as provocar, quer para as impedir. Temos dito com bastante frequência que as manifestações são espontâneas e que, além disso, jamais nos recusamos a atender ao vosso apelo. Por que pensais que sejamos obrigados a obedecer a uma coisa fabricada pelos seres humanos?”

Conclui-se então que os Espíritos são atraídos não por objetos/talismãs e sim pelo pensamento.

A respeito do tema, veja também as postagens Sintonia espiritual, Penetração do pensamento pelos Espíritos, A lembrança dos sonhos, Mediunidade, Inspiração e Faixas, neste blog.


Bons estudos!
Carla e Hendrio


Referências:
1. HOLANDA, Aurélio Buarque de. “Novo Dicionário Eletrônico Aurélio”. Versão 5.0 de 2004. Positivo Informática. Talismã.
2. KARDEC, Allan. “O Livro dos Espíritos”. 1ª ed. Comemorativa do Sesquicentenário do lançamento de O Livro dos Espíritos. Rio de Janeiro, RJ: FEB. 2007. Questão 554.
3. KARDEC, Allan. “Revista Espírita de setembro de 1858”. Tradução de Evandro Noleto Bezerra. Rio de Janeiro, RJ. FEB 2004. "Os Talismãs".

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Egos virtuosos e Eus sapientes

Imaginemos a seguinte situação: você segura a porta para alguém e a pessoa passa sem agradecer. Qual o seu primeiro pensamento? Qual a sua emoção?

Huberto Rohden, explicando a Parábola dos Trabalhadores da Vinha (Mateus 20:01-16) [1], separa os trabalhadores em duas classes: a dos egos virtuosos e a dos eus sapientes. Os primeiros fazem o que é certo, o bem, esperando sua recompensa; os últimos entendem que o bem é a recompensa e fazem-no pelo bem em si mesmo, sem esperar nada em troca.

"A disciplina antecede a espontaneidade" - sábias palavras de Emmanuel [2], que demonstram ser válido o esforço na prática do bem - a disciplina para os egos virtuosos - até que essa prática se torne um hábito salutar - a espontaneidade dos eus sapientes. Convém, no entanto, não nos iludirmos, como o fariseu da passagem evangélica (Lucas 18:09-14), que se julga superior ao publicano devido aos seus atos exteriores de bondade que ainda não tinham se tornado hábito em seu coração.

Estejamos cientes e autoconscientes do que é a prática do bem para nós. Se ainda nos indignamos pela falta de educação de alguém frente a um gesto de gentileza nosso, é provável que mereçamos ouvir, ressoando em nossa consciência, as palavras de Paulo aos Hebreus [3]: "Mas de vós, amados, esperamos coisas melhores".

Comecemos a fazer o Bem, nem que seja, de início, pelo reconhecimento. Porém, trabalhemos nossa evolução interior para fazer o Bem pela alegria e satisfação de fazer o Bem. Esse um dos próximos passos de evolução em nosso Planeta. Como bem pontua a Benfeitora Joanna de Ângelis [4], “quando alguém se eleva, com ele se ergue toda a Humanidade”.


A respeito do tema, leia também, neste blog, as postagens “O fariseu e o publicano”, “Amar o Próximo”, “Os últimos serão os primeiros, e os primeiros serão os últimos”, “Reconciliação”, “Amar os inimigos” e “Caminha Alegremente”.


Bons estudos!
Carla e Hendrio


[1] ROHDEN, Huberto. "Sabedoria das Parábolas". São Paulo, SP: Martin Claret, 2004. Capítulo "Os trabalhadores na vinha".
[2] XAVIER, F. C. "Coragem". Por Diversos Espíritos. Uberaba, MG: CEC. Capítulo 22 - "Quando puderes". Pelo Espírito Emmanuel.
[3] Hebreus, 6:9.
[4] FRANCO, Divaldo P. "Leis Morais da Vida". Pelo Espírito Joanna de Ângelis. 10.ed. Salvador, BA: LEAL. 2000. Capítulo 32.

sábado, 7 de novembro de 2009

Sintonia espiritual

A questão de como nos manter receptivos às inspirações que recebemos dos Espíritos protetores e familiares relaciona-se à questão da sintonia espiritual.

Temos a faculdade de escolher com que faixa desejamos sintonizar, através da escolha de nossos pensamentos. Dessa forma, se escolhemos e mantemos pensamentos de tristeza e desânimo, Espíritos na mesma faixa vibratória sintonizarão conosco, dificultando-nos a recepção de outra faixa, a dos Espíritos protetores que desejam nos animar e incentivar ao bem. Por outro lado, quando escolhemos pensamentos de paz, de alegria, de esperança e otimismo, juntamo-nos, por sintonia, a outros pensamentos semelhantes, e colocamo-nos em faixa apropriada para a recepção dos bons conselhos e orientações daqueles que nos protegem.


Emmanuel, na obra “Roteiro” [1], esclarece que: “Somos obsidiados por amigos desencarnados ou não e auxiliados por benfeitores, em qualquer plano da vida, de conformidade com a nossa condição mental. Daí, o imperativo de nossa constante renovação para o bem infinito.”

O benfeitor finaliza a mensagem, lembrando-nos da importância de trabalhar, servir, aprender e amar, iluminando, assim, a nossa vida íntima.

Entendendo o mecanismo em que se processa o fenômeno da sintonia espiritual, cabe a nós, para que estejamos receptivos às boas orientações, buscá-las, através dos meios disponíveis para tanto, que são: a prece, a boa leitura, a música harmoniosa, a conversa que edifica, a ação no bem, entre outros.

Bons estudos!
Carla e Hendrio

Sobre este assunto, consulte também as postagens A lembrança dos sonhos, Muitas Moradas, Faixas e A Prece neste blog.

Referência:
1. XAVIER, Francisco Cândido. “Roteiro”. Pelo Espírito Emmanuel. 7.ed. Rio de Janeiro, RJ: FEB. 1986. Capítulo 26 – Finalidades.

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Dia de Finados

Em “O Livro dos Espíritos” [1], Kardec pergunta, às questões 321 e 321-a, se o Dia de Finados é, para os Espíritos desencarnados, mais solene do que os outros dias. Os Espíritos Benfeitores respondem nos seguintes termos: “Os Espíritos acodem nesse dia ao chamado dos que da Terra lhes dirigem seus pensamentos, como o fazem noutro dia qualquer. Nesse dia, em maior número se reúnem nas necrópoles, porque então também é maior, em tais lugares, o das pessoas que os chamam pelo pensamento. Porém, cada Espírito vai lá somente pelos seus amigos e não pela multidão dos indiferentes.”

Os Espíritos desencarnados não dão apreço ao dia em si, mas ao pensamento que lhes dirigem. Neste dia, se reúnem em maior número porque maior número de pessoas pensam neles.

O Espírito Charles Nodier, respondendo a questionamentos na Revista Espírita de dezembro de 1860 [2], quanto a se há Espíritos que sofrem por se sentir abandonados enquanto que outros têm amigos e parentes que lhes vêm dar um sinal de lembrança, responde: “Não há pessoas piedosas que oram por todos os mortos em geral? Pois bem! Essas preces retornam ao Espírito esquecido, são para eles o maná celeste que cai para o preguiçoso como para o homem ativo; a prece é para o conhecido como para o desconhecido: Deus a reparte igualmente, e os bons Espíritos que dela não têm mais necessidade a revertem para aqueles que ela pode ser necessária.”


Emmanuel nos brinda, no livro "Retornaram contando" [3], psicografado por Francisco Cândido Xavier, com uma mensagem a respeito do assunto. Reflitamos:

Eles Vivem

Ante os que partiram, precedendo-te na Grande Mudança, não permitas que o desespero te ensombre o coração.
Eles não morreram. Estão vivos.
Compartilham-te as aflições, quando te lastimas sem consolo.
Inquietam-se com a tua rendição aos desafios da angústia, quando te afastas da confiança em Deus.
Eles sabem igualmente quanto dói a separação.
Conhecem o pranto da despedida e te recordam as mãos trementes no adeus, conservando na acústica do Espírito as palavras que pronunciaste, quando não mais conseguiam responder às interpelações que articulaste no auge da amargura.
Não admitas estejam eles indiferentes ao teu caminho ou à tua dor.
Eles percebem quanto te custa a readaptação ao mundo e à existência terrestre sem eles e quase sempre se transformam em cireneus de ternura incessante, amparando-te o trabalho de renovação ou enxugando-te as lágrimas quando tateias a lousa ou lhes enfeita a memória perguntando por quê.
Pensa neles com saudade convertida em oração.
As tuas preces de amor representam acordes de esperança e devotamento, despertando-os para visões mais altas da vida.
Quanto puderes, realiza por eles, as tarefas em que estimariam prosseguir e tê-los-ás contigo por infatigáveis zeladores de teus dias.
Se muitos deles são teu refúgio e inspiração nas atividades a que te prendes no mundo,para muitos outros deles és o apoio e o incentivo para a elevação que se lhe faz necessária.
Quando te disponhas a buscar os entes queridos domiciliados no Mais Além, não te detenhas na terra que lhes resguarda as últimas relíquias da experiência no plano material.
Contempla os céus em que mundos inumeráveis nos falam da união sem adeus e ouvirás a voz deles no próprio coração, a dizer-te que não caminharam na direção da noite mas sim ao encontro de Novo Despertar.


Leia também, neste blog, as postagens “A Prece” e “Sintonia espiritual”.


Bons estudos!

Carla e Hendrio

Referências:

1. KARDEC, Allan. "O Livro dos Espíritos". 66ª ed. Rio de Janeiro: RJ, FEB: 1987.
2. KARDEC, Allan. “Revista Espírita de Dezembro de 1860”. 1ª Edição. São Paulo, SP: IDE. 1993. “O dia dos mortos”.
3. XAVIER, F. C. "Retornaram contando". Por Espíritos Diversos. IDE, 1984.